Desagrados Natalinos



O trem apitou, e no momento seguinte estava ganhando velocidade.


Andei pelo vagão à procura de um lugar vazio, Felix no meu colo.


Achei um compartimento livre, e me sentindo meio solitária, sentei-me no banco.


Minha cabeça estava longe. Muito longe. Eu ainda estava pensando em Tiago e imaginando o que ele estaria fazendo uma hora dessas em Hogwarts.


Eu acariciava despreocupadamente a cabecinha peluda de Felix, sem saber o que estava fazendo, pensando. Eu queria estar lá em Hogwarts agora, mas também queria estar em casa, com meus pais. Eu estava dividida entre os dois destinos.


- Posso me sentar? – perguntou alguém; eu pulei no banco, sobressaltada.


Olhei para a porta; Sev estava ali, me olhando indeciso.


- Pode. – respondi. Acho que já estava na hora de desculpá-lo.


Ele entrou no compartimento, meio desajeitado, e sentou-se na minha frente.


- Tudo bem, Sev? – perguntei, sorrindo. Ele pareceu aliviado com meu relacionamento amigável.


- Sim, Lílian. – ele respondeu, radiante. – Você me perdoou?


- Suponho que sim.


Ele riu.


- Obrigado. Como vão as coisas? - seu tom de voz era de alguém que estava longe e acabara de chegar.


- Tudo ótimo. E sua mãe? Seu pai voltou?


Ele suspirou longamente.


- Não. Ele sumiu de vez, acho. Mas é melhor assim. Acho que esse vai ser o melhor natal em casa. Na verdade, eu nunca passei o natal lá, só por causa da ausência do meu pai essa vai ser a primeira vez.


- Isso é bom.


- É. – ele disse feliz.


As janelas do trem estavam totalmente embaçadas. Eu passei a mão para ver por onde passávamos agora; as arvores estavam todas cobertas de neve.


- Lílian. – chamou Sev. – Eu... eu preciso te perguntar uma coisa.


Continuei olhando pra janela.


- Pergunte. – respondi sem olhar pra ele.


- Você e Potter...


- O quê?


- São realmente amigos?


Eu o fitei. Sua expressão era calma e hesitante.


- Sim.


Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça.


- Não quero brigar com você, Sev.


- Nem eu Lílian. – ele respondeu, sem erguer a cabeça. – Eu só... acho isso uma...


Ele não terminou.


- Vamos mudar de assunto Sev, por favor.


Ela assentiu.


- Você não sabe – comecei. – Eu consegui soltar um Patrono na segunda aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.


- Sério? E qual forma é?


- Uma corça. Você já sabe lançar um?


- Na verdade, não. – ele disse, meio desanimado. – Não consegui pensar numa lembrança feliz.


Eu senti um pouco de pena quando o ouvi dizer isso.


- Faz igual a mim. Pense na sua mãe. Ela é a pessoa que você mais ama, não é?


- É. – ele disse refletindo, e não sei porque ele corou um pouco. – Mas com certeza faria mais sentido se eu lembrasse do dia em que meu pai foi embora.


Ficamos conversando e colocando as notícias em dia pelo resto da viagem. Era bom finalmente conversar com Sev; tudo o que aconteceu naquele dia já não me afetava.


Um pouco mais tarde a mulher do carrinho de comida chegara e eu e Sev nos apressamos a comprar.


O tempo passou depressa pela janela e logo já estávamos descendo do trem carregando as malas.


Eu e Sev atravessamos correndo a plataforma.


- A gente se vê Lílian. – falou Sev e então sumiu no meio das outras pessoas, que olhavam curiosas para mim com aquele malão gigante.


Não foi fácil achar meus pais. Eles estavam conversando encostados na plataforma 10, pois sempre confundia com a nove e meia.


Foi bom revê-los; eu estava com muitas saudades deles e sinceramente fiquei decepcionada que Túnia não estivesse ali.


Era bom estar em casa de novo. O jardim tão bem cuidado pela minha mãe estava totalmente coberto de neve.


Túnia estava vendo TV na sala de estar, ao lado de seu namorado – e agora noivo – Válter Dursley. Ele era demasiado gordo; seus olhinhos eram fundos e banhas saltavam pra fora de sua calça jeans apertada.


Túnia ainda me tratava com desagrado, ainda mais com seu namorado por perto. Eu não me incomodei muito, rindo comigo mesma e pensando que eu também já tinha o meu. Na verdade, eu não sabia o que eu era do Tiago. Por isso "namorado" é uma palavra meio provisória.


E me lembrando de Tiago, eu precisava comprar um presente de natal para ele. O que eu daria?


Essa dúvida permaneceu na minha cabeça pelo resto do dia.






Os dias se arrastaram rápido. Hoje era véspera de natal. Era quase impossível sair de casa com a nevasca violenta, mas eu e minha mãe combinamos de ir à Londres comprar os presentes de natal. Túnia se recusara a ir; em geral ela estava me menosprezando nesses últimos dias, e na verdade, eu já estava começando a me acostumar.


A ceia de natal foi agradável, exceto pelo fato de Petúnia ter falado o tempo todo sobre os preparativos do seu casamento.


Eu já havia decidido o que dar à Tiago. Eu li certa vez no Profeta Diário que lançaram um novo livro chamado Quadribol através dos séculos, e como ele era apaixonado no esporte talvez gostasse. Eu dei à Maria um perfume que me chamara a atenção em uma vitrine de Londres e à Dougie dei uma camisa do time de futebol Liverpool, já que ele simplesmente era fascinado por esportes trouxas. E para Sev, uma caixa com várias balas e doces da Dedosdemel que eu sabia que ele gostava.


Eu não havia notado que faltava apenas dois dias para meu retorno para Hogwarts, algo que eu estava muito excitada e feliz. Digamos que as férias não estavam tão boas assim por causa da atitude de Túnia.


A coruja de Maria, Marta, demorou a entregar a correspondência. Maria me deu uma grande caixa cheia de produtos Zonko's, Dougie um livro chamado Poções: o guia do preparador e Tiago me mandou uma grande caixa de sapos de chocolate.


No meio dos três presentes, havia uma carta.


Olá Lílian


Espero que esteja gostando de suas férias aí, já que você foi bastante ingrata de não passar o natal aqui com a gente. Tiago me contou o que aconteceu naquela noite, e eu não posso dizer que não estou pulando de alegria. O natal aqui foi esplêndido e tomara que você esteja passando muito tédio para aprender a não dar atenção pra mim. Dougie lhe manda lembranças e Tiago – beijos. Estou muito feliz por vocês e volte logo ou se não faço questão de ir aí te buscar.


Eu adorei o presente que você me mandou e Dougie também; ele realmente apreciou a camisa do Literpool, ou Liverfool, sei lá que time é esse. Tiago também gostou especialmente do seu presente, e Almofadinhas me disse que não larga do livro por nada.


Até o dia de sua volta


Maria


Terminei a carta com ar de riso. Tive que concordar com Maria. Com certeza o natal em Hogwarts teria sido bem melhor do que eu passei aqui.

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