A Foto

- O que eu queria entender, era que feitiço é esse que o Snape usou. – comentou Dougie, no café da manhã do dia seguinte. – Eu nunca ouvi falar dele. Qual o nome dele mesmo?

- Sectumsempra. – respondeu Maria, comendo uma torrada. – Eu também não conhecia esse feitiço, mas com toda certeza é Arte das Trevas.

- Ah, sem dúvida. – falou Dougie. – Se não tivesse acertado Tiago de raspão poderia até ter o matado.

- Você está bem, Lílian? – perguntou Maria pela terceira vez só naquela manhã.

Eu ainda estava arrasada, é claro. As palavras de Sev ecoavam em minha cabeça: "Eu tenho nojo disso! Nojo de você!" Eu sei que com certeza ele se descontrolou e botou tudo pra fora, mas está difícil achar mais motivos pra continuar nossa amizade. E aquele feitiço? Por pouco não acertou Potter em cheio.

- Tô. – respondi simplesmente.

Por toda a escola, naquele dia, as pessoas olhavam para mim e Maria curiosas, e por vezes até cochichavam. Isso era muito desconfortável, então passei a andar pelos corredores mais vazios.

As aulas tinham sido normais. Eu estava cada vez melhor na prática de feitiços, assim como Maria e Dougie também. O ruim seria a aula de Poções, onde Sev estaria presente.

Meio trêmula, fui para as masmorras aquele dia. Fui uma das primeiras a chegar ao corredor, a espera que Slughorn abrisse a porta.

- Oi, Lílian. – cumprimentou Potter. Ele estava com seus amigos de sempre.

- Olá. – falei.

- Tudo bom, Lílian? – perguntou Aluado.

Assenti com a cabeça e a porta se abriu, revelando Slughorn trajando vestes verdes esmeraldas.

- Quer se sentar comigo? – perguntou Potter.

- Quero. – falei e ele sorriu, feliz.

Aos poucos a sala se encheu de alunos e com eles as conversas.

- Olha, sobre ontem... - começou Potter.

- Não quero falar sobre isso, por favor. – interrompi.

- Ok, tudo bem. - disse ele, apanhando seu material.

- E o braço? – perguntei.

- Ah, está bem. – disse ele erguendo a manga das vestes mostrando seu braço intacto. Me deti observando um pouco; não era nada mal. Balancei rapidamente a cabeça.

- O seu feitiço foi realmente bom. – continuou ele, abaixando a manga.

Assenti, com um sorrisinho.

- Chega de conversas turma! – falou, entusiasmado, o professor Slughorn. – Hoje vamos aprender apenas a teoria da Felix Felicis. Se formos realmente prepará-la demoraremos meses aqui!

Ele riu da própria piada.

Parte da aula tivemos que copiar o que ele havia passado no quadro negro. Era uma poção realmente difícil, porém a teoria era mais fácil do que a que estava no livro.

Olhei pra outro lado da sala; Sev estava concentrado no que escrevia, de cabeça baixa. Soltei um suspiro.

- O que foi? – perguntou Potter, curioso.

- Nada. – falei depressa, mas ele logo entendeu o que eu estava olhando.

- Vai continuar amigo dele depois do que ele te fez? – perguntou Potter; notei que ele estava apertando com muita força a pena que segurava que quase a rachou no meio. – Essa já não é a primeira vez que ele deixa escapar ofensas pra você.

- Não precisa me lembrar. – falei baixinho, concentrando-me no que eu escrevia.

Foi tão horrível quanto ontem a vez que Sev me chamara de sangue-ruim. Ficamos um bom tempo sem conversar depois disso, mas agora parecia que seria pra sempre. Senti uma dor no coração.

- Eu sei que vocês eram grandes amigos. – comentou Potter enquanto caminhávamos para a torre da Grifinória, depois da aula. – Mas chega uma hora que os caminhos se separam.

Eu não respondi. Estava muito ocupada olhando para meus pés enquanto caminhava.

- Eu sei que você não quer falar sobre isso, Lílian. – ele falou. – Mas o que você esperaria de um legítimo sonserino que anda com aquele tipo de gente?

- Eu o conheço antes mesmo de entrar pra escola, Potter! É isso que me deixa triste. – eu disse agoniada.

- As pessoas mudam. – ele comentou.

Eu não tinha como discordar dele. Sev mudou. E muito.

Tirei logo Sev da cabeça. Não valia a pena ficar por aí sofrendo.

- Eu esqueci de dizer, Potter. - falei, sorrindo pra ele. – Obrigado por ter me... defendido.

Eu não sabia se essa era a palavra certa, só sei que ele ficou muito satisfeito.

- De nada. Está me devendo essa.

Dei uma risada baixa.

- Você não perde uma oportunidade, não é?

Foi sua vez de rir.

- Bem, quando você está de bom humor não dá pra desperdiçar nada.

- E quando estou de mau humor? – perguntei, curiosa.

- Prefiro enfrentar o Aluado em noites de Lua Cheia.

Eu ainda estava gargalhando, quando encontramos Maria saindo pelo buraco do retrato.

- Olá gente! – ela cumprimentou. – Vamos jantar?

- Estamos indo. – respondi. – Só vou guardar o material.

- Te encontro lá então. – ela acenou e saiu para o Salão Principal.

- Então, posso te fazer companhia? – ele perguntou, sorrindo torto.

- E seus amigos? – indaguei quando entramos na Sala Comunal quase vazia.

- Eles podem ser seus amigos também, não? – ele disse. – Você já é amiga de Rabicho e Aluado, falta o Almofadinhas.

- Você já é ruim, imagine o Black também. – falei, rindo.

Ele fez um beicinho.

- Eu não estou tão chato.

- Não mesmo. – concordei. - Vou lá em cima guardar minha mochila, te encontro aqui.

Subi apressada, e inusitadamente animada, para o dormitório das garotas.

Quando voltei ao Salão Comunal Potter não estava lá, então decidi ir chamá-lo no dormitório dele.

Subi cautelosamente as escadas. Nunca tinha ido muito lá, apenas algumas vezes chamar o Dougie.

Quando entrei no quarto vi uma bagunça geral. Roupas de cama e vestes jogadas por todos os lados, penas, livros e pergaminhos.

- Homens. – murmurei, quase pisando em uma camisa jogada por ali. Nas paredes tinham pôsters de dois times de quadribol: Falcões de Falmouth e Chudley Cannons.

O ar exalava um perfume masculino. Identifiquei o de Potter no meio de outros. Desde quando Potter tinha perfume? Balancei a cabeça outra vez.

Um malão estava jogado num canto, aberto e exibindo mais roupas, penas e tinteiros. Mas o que me chamou atenção foi um papel jogado ali. Eu não sabia de quem era o malão, mas obviamente era de um torcedor dos Cannons, pois estava encostada no pé de uma cama perto do pôster do time.

Eu não devia mexer ali e sim deveria descer e procurar por Potter lá. Mas a curiosidade me coçou então decidi ler a carta.

Quando peguei o papel, porém, não era uma carta, era uma foto.

Ela era colorida, e exibia uma garota de aproximadamente quinze anos, ruiva e de olhos verdes vivos. Com um sobressalto vi que a garota daquela foto era eu. Meus olhos se arregalaram de surpresa.

Fiquei um tempo observando e tentando entender porque diabos alguém teria uma foto minha no meio das roupas. Reconheci aquela foto: foi tirada para entrar na coleção particular de Slughorn.

A questão é: porque foi parar ali? E de quem pertencia aquele malão? Seria de Edgar Bones, o garoto que dividia o dormitório com Potter e seus amigos Marotos?

Ouvi passos subir a escada. Devolvi correndo a foto onde ela estava e a porta se abriu.

Potter estava ali, ainda com sua mochila nas costas e com a cara surpresa.

- Lílian? – perguntou ele, meio constrangido. – O que você está fazendo aqui?

- Eu vim te procurar. – falei naturalmente. – Que bagunça isso aqui, hein?

Ele corou e eu fiz força para não rir.

- Ah, tudo bem. – eu disse, disfarçando minha voz. – Vamos jantar, estou morta de fome.

Ele jogou sua mochila num canto, sem falar nada, ainda envergonhado.

- A professora Minerva mandou avisar pra você e Maria que as detenções vão ser na sala dela. Vai começar amanhã, às oito. – ele disse com a voz ainda abalada.

- Foi isso que você foi fazer, antes de vim pra cá?

- Sim.

Foi um alívio sair do quarto. Era estranho ficar num lugar tão fechado e vazio com Potter.

- Quem é o torcedor dos Cannons? – perguntei, fingindo ser uma pergunta despreocupada, enquanto avançávamos pelo corredor depois de passar por uma estressada Mulher Gorda.

- Eu. – ele disse, sorrindo e parecia aliviado por eu não ter tocado no assunto de sua bagunça outra vez.

- Você? – perguntei surpresa, alto demais.

- É. – ele franziu a testa. – Por quê?

- Eu não sabia. – murmurei.

Quando cheguei ao Salão me sentei ao lado de Maria. Dougie não se encontrava ali.

- Oi. – cumprimentou ela e então me avaliou. – Porque você está com essa cara?

Eu estava um pouco surpresa, e senti que meu rosto tinha se ruborizado um pouco.

Eu precisava desabafar logo. Olhei para os lados vendo se alguém estava escutando, mas não tinha muita gente, pois já estavam saindo depois de ter terminado de comer.

- Você não sabe o que eu vi no meio das coisas do Potter. – sussurrei pra ela, me servindo de sopa. – Uma foto minha.

- O quê? – ela exclamou, alto demais.

- Shhhhh. – fiz pra ela. – Fale baixo.

- Tá. – ela disse, com uma mistura de surpresa e malicia no rosto. – E o que a foto estava fazendo lá? E como você mexeu nas coisas dele?

- Eu fui no quarto dele e vi a foto lá.

- O que você foi fazer no quarto dele? – perguntou Maria, com a voz nitidamente maliciosa.

- Não é nada disso que você está pensando. – apressei a dizer, corando. – Eu fui procurar por ele, mas ele não tava lá, então acabei encontrando.

- Uau! – disse ela, rindo. – Tiago está mesmo obcecado por você! Onde ele arranjou a foto será?

- É uma das fotos do Slughorn. – eu disse tomando a sopa; ela estava tão quente que queimou minha língua. – E ele não está obcecado. Só está...

- Apaixonado. – ela disse, rindo mais entusiasmada ainda.

- Não! – reclamei. – Nada disso!

Mas o comentário de Maria me deu muito que pensar.

Quando deitei na minha cama de dossel naquela noite tive um sonho esquisito: Sev se transformava em um lobisomem e Potter o estuporava, e então eu corria a ele e o abraçava feliz; mas então ele vira um cervo e começa a me atacar.

Acordei assustada, tentando lembrar do sonho, porém convenci a mim mesma que havia acordado com o barulho da chuva batendo violentamente na minha janela.

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