Duelo



A manhã de domingo amanheceu como sempre nublada. Eu acordei no dormitório pensando que estava de noite, de tão escuro que estava o dia.


Não encontrei Maria na cama, então imaginei que ela já fora pro Salão Principal tomar o café da manhã.


De fato, ela estava lá, e pra minha felicidade estava conversando entusiasmada com Dougie, que parecia mais feliz do que nunca.


- Bom dia! – falei, sentando defronte a eles.


- Olá! – cumprimentaram eles.


- Maria estava me contando o ocorrido de ontem, Lílian. – comentou Dougie com um sorrisinho, enquanto eu me servia de cereal.


- Fofoqueira. – falei para ela, brincando.


- Que nada, a escola inteira já está sabendo. – ela comentou.


- Ah, não. – gemi.


Com certeza chegara ao ouvido de Sev também. Olhei pra mesa da Sonserina. Ele não estava lá.


A manhã passou depressa. Eu e Maria ficamos na sala comunal, fazendo os deveres atrasados de Defesa Contra as Artes das Trevas.


- Quer uma ajudinha? – murmurou uma voz em meu ouvido.


Fiz um risco enorme do pergaminho de susto.


- Potter! – eu disse, arfando. – Não faz mais isso!


- Desculpe, não resisti. – ele disse rindo. – Oi, Maria.


Era duro reconhecer, mas Potter era bom na matéria. Ele nos ajudou a resolver questões complicadas sobre feitiços Anti-trouxas, mas logo teve que sair pra um treino de quadribol.


Por volta da hora do almoço, Maria teve a ideia de dar uma volta ao redor da propriedade pra sair um pouco do castelo. Hoje não estava tão frio quanto ontem, mas era aconselhável vestir casacos.


Decidimos visitar Hagrid, já que tanto tempo se passara e a gente não tinha falado com ele ainda.


Ele estava na sua horta de abóboras cuidando pelo que eu reconhecia de uma quantidade razoável de tronquilhos.


- Olá Hagrid! – cumprimentei.


- Lílian! Maria! Que bom ver vocês! – disse ele sorrindo atrás da sua barba negra. – Onde está Dougie?


- Fazendo deveres atrasados. – respondeu Maria. – O que é isso no seu braço?


O braço de Hagrid estava amarrado com o que me parecia ser uma tentativa de curativo do tamanho de uma toalha de mesa, meio suja.


- Ah, pois é. – ele disse desconsolado. – Centauros.


- Centauros? – exclamei surpresa. – Os da floresta?


- É. Eles estão meio revoltados ultimamente. Nunca foi aconselhável entrar na Floresta, agora menos ainda.


Ficamos um tempo conversando com Hagrid até que nos deu fome, e decidimos subir para o almoço antes que ele nos oferecesse um de seus biscoitos.


Estávamos andando no pátio, em direção ao Saguão de Entrada, quando avistei Sev andando em minha direção, com cara de poucos amigos.


- Oi, Sev. – cumprimentei.


- Que história é essa de você sair com Potter? – ele perguntou sem rodeios, gritando. Eu fiquei assustada com esse comportamento. Alguns alunos ali presentes viraram para observar a cena, curiosos.


- Pare de gritar! – exclamei. – Quem você pensa que é pra...


- Não muda de assunto! – ele aumentou o tom de voz. – Você disse que nunca sairia com aquele idiota, você disse!


- Cale a boca Snape! – exclamou Maria.


- Não me lembro de ter te chamado na conversa, McDonald. – falou ele com rispidez e depois voltou a gritar comigo. – Agora dá pra você me explicar?


- Não tenho que explicar nada...


- Você o convidou! O pior é que você que o convidou! Porque fez isso Lílian? – ele continuou a gritar.


Sev tinha perdido a cabeça. Eu não sabia que ter passeado com Potter ia transtorná-lo tanto assim. Tentei manter a calma.


- Você é igual as outras! – ele disse, cuspindo as palavras e abaixando o tom de voz, fazendo que só eu e Maria o escutasse. – Eu tenho nojo, nojo disso. Nojo de você.


Eu pestanejei, ao mesmo tempo em que Maria ofegou.


Por mais que eu não quisesse admitir, meus olhos se encheram de lágrimas. Maria abraçou meus ombros. Agora uma verdadeira platéia estava nos rodeando.


Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, alguém gritou.


- O que está havendo aqui?


Era Potter, ainda com os uniformes de quadribol, acompanhado dos outros jogadores.


- O que houve? – tornou ele a perguntar.


Ele olhou pra mim e depois para o Sev, a compreensão invadindo seu rosto.


- Seu Ranhoso...


Ele sacou a varinha, no mesmo instante que Sev.


- Impedimenta! – gritou Potter, ao mesmo tempo em que Sev lançava um feitiço escudo.


Vários raios dispararam pra todos os lados. Maria me puxou para um lado para evitar que eu fosse atingida.


Muita gente se afastou, aterrorizada, e ao mesmo tempo excitada com o duelo.


Os feitiços deles ricocheteavam nas paredes e nas estátuas de pedras. Alguns presentes começaram a gritar "Briga! Briga! Briga!".


Suas varinhas se movimentavam rápido, tanto que pareciam borrões.


- Estupefaça! – exclamou Potter. Sev se escondeu atrás de uma estátua, e não fora atingido por pouco.


- Parem! Parem! Por favor! Parem! – exclamei, aterrorizada.


- Saia daí Ranhoso! Venha lutar! – berrou Potter.


Sev saiu de trás da estátua e lançou um raio que bateu no escudo que Potter acabara de lançar.


Eles voltaram a lançar vários feitiços, e eu decidi interferir, puxando a minha varinha.


- Não, Lílian! – disse Maria, me segurando.


Um feitiço atingiu Sev no peito, e ele voou para longe, mas rapidamente se levantou, sua cara vermelha de raiva.


Ao mesmo tempo em que Potter apontava sua varinha para Sev ele gritou:


- SECTUMSEMPRA!


O feitiço não atingiu totalmente Potter, mas passou de raspão pelo seu braço, que agora sangrava violentamente.


Potter cambaleou e caiu no chão.


- NÃO! – gritei e corri até ele.


Ajoelhei ao seu lado. O corte não estava muito fundo, mas o sangue escorria pela suas vestes.


Os dentes de Potter estavam trincados, não sei se de dor ou de raiva.


- Episkey. – murmurei para o ferimento, que logo se fechou.


Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, Potter já estava se pondo de pé.


- Não! – falei, segurando seu braço.


- Me deixe, Lílian! – ele exclamou e com facilidade se desfez da minha mão que o segurava.


Os dois pareciam que iam começar a duelar novamente quando uma voz gritou:


- CHEGA!


Era a Professora McGonagall, vindo em nossa direção com sua cara severa e contorcida de fúria.


- Os quatro! Na sala do diretor, agora! – ela disse, se dirigindo a nós.


Potter tinha as narinas infladas e com a cara enfurecida, enquanto Sev parecia atordoado, intrigado e parecia ter se arrependido do que fizera.


Maria correu para me fazer companhia. Sev foi atrás da professora seguida por Potter e depois eu e Maria.


Foi um trajeto silencioso. Potter ainda segurava com força o punho da varinha, os ombros rígidos.


Quando chegamos à gárgula de pedra, a professora McGonagall falou a senha "Sorvete de limão" e a estátua revelou uma escala circular de pedra que levava a sala do professor Dumbledore.


A porta se abriu, revelando a sala cheia de objetos estranhos e retratos de vários ex-diretores por toda a parede. Na escrivaninha encontrava-se o professor Dumbledore com sua barba branca gigantesca e uma expressão anormalmente calma no rosto.


Maria olhou aterrorizada para mim, e eu apenas assenti.


McGonagall parou e virou-se para nós.


- Como alunos do sétimo ano foram causar esse tipo de cena na frente da escola inteira? – começou a professora, com a voz embargada.


Nenhum de nós respondeu.


- Como um aluno é capaz de duelar assim feito dois tigres felinos, destruindo tudo o que viam pela frente?


Mais silêncio.


Ela suspirou e então disse:


- Dá pra um de vocês explicarem o que aconteceu? – falou, finalmente a professora.


- Eu falo, professora. - adiantou-se Potter. – Esse aqui – ele apontou Sev com a cabeça, com maior desprezo possível na voz – humilhou Lílian na frente de toda aquela gente!


- O que tem a dizer, Snape? – perguntou a professora, rígida.


- Eu... eu... – murmurou Sev, atordoado. – Eu sinto muito.


- Lamentável, lamentável a atitude de vocês. – disse a professora, balançando a cabeça.


- Receio – começou Dumbledore. Apesar de ele ser o diretor, não fiquei totalmente amedrontada. – que o senhor Snape tenha uma explicação plausível sobre o ato cometido contra a senhorita Evans.


Sev arregalou os olhos. Olhou para os lados e apenas balançou a cabeça.


- Mas, isso também não é motivo para o senhor Potter começar a atacá-lo. – disse McGonagall.


Dessa vez, Potter calou-se.


- Cinquenta pontos serão retirados de cada Casa e mais uma semana de detenção para cada um. – finalizou McGonagall.


- O quê? – exclamou Maria, não contendo-se. – Mas eu e Lílian não fizemos nada!


- Mas estavam envolvidas. – respondeu ela. – É uma vergonha para a casa Grifinória um comportamento feito esse. E eu pensei que você estava começando a sossegar, Potter.


Ninguém fez nenhum comentário a mais.


- Podem se dirigir às suas salas comunais. Eu avisarei quando será suas detenções.


Caminhamos em silêncio até a porta, Sev à frente.


Quando terminamos a descida, Sev foi para o outro lado, sem dizer mais nada.


- Eu sinto muito. – falou Potter. – Não queria que vocês estivessem no rolo também.


- Tudo bem, Tiago. – falou Maria. – Culpa daquele Snape! Você viu o que ele fez à Lílian?


Eu continuava sem reação. Lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto.


- Você está bem, Lílian? – perguntou Potter, olhando para mim preocupado.


Assenti com a cabeça.


- Obrigado por ter curado o ferimento. – ele disse, enquanto íamos até a sala comunal.


Assenti outra vez.


A sala comunal, para o nosso desapontamento, estava cheia de estudantes curiosos sobre o que realmente acontecera. Dougie estava lá no meio, mas nem eu e nem Maria estava a fim de contar nada. Vi Potter subindo depressa o dormitório dos garotos, com Black, Aluado e Rabicho nos calcanhares.


Eu e Maria fizemos o mesmo, porém com dificuldade para se desviar de todos.


Tanto eu quanto ela não tinha o que falar.


Eu estava literalmente sem palavras.

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