Aula de Poções



No dia seguinte, eu e Maria descemos pro café da manhã. Dougie não estava no Salão Comunal, então pensamos que ele já estava a nossa espera no Salão Principal. Porém, quando chegamos à mesa ele não estava lá.


- Ué, cadê ele? – perguntou Maria, olhando de cada lado da mesa.


- Não sei. – falei, me servindo de torradas.


- Se estão procurando pelo McKinnon, ele já tomou café e foi para a biblioteca. – disse uma voz. Me virei e deparei com o Potter do meu lado. Ele havia se esquivado para o lugar assim que um garoto do segundo ano se levantara.


- Eu não havia te chamado na conversa. – falei rispidamente. – Mas mesmo assim, obrigada.


- Por nada Evans. – ele disse com uma piscadela. Revirei os olhos.


- Porque será que ele não esperou a gente? – perguntou Maria, com a boca cheia de pudim.


Dei de ombros, então Potter falou novamente.


- Ele estava meio aborrecido. – disse ele. – Estava quase passando suco de abóbora na torrada ao invés da geléia.


- Continuo a dizer que não te chamei na conversa. – falei, embora rindo; Dougie era muito temperamental em certas ocasiões.


- Lílian, ele só está sendo simpático. – falou Maria.


- É. – apressou-se a dizer o Potter. – Sua amiga tem razão. Só quero conversar com você feito duas pessoas civilizadas.


- Uma coisa que você não é. – eu disse me servindo de suco de abóbora.


Neste instante, a professora McGonagall começou a distribuir os horários da aula ao longo da mesa.


- Dois tempos de Defesa Contra as Artes das Trevas seguidas! – reclamou Maria, olhando o seu horário. – Depois Herbologia, Transfiguração e Adivinhação. Espero que o novo professor seja bom.


- Não sei por que você continua com Adivinhação. Em minha opinião é uma matéria inútil. – falei.


- É uma aula divertida. Consigo passar nos exames só inventando previsões.


- Concordo com a Evans. – respondeu Potter. – Adivinhação é um saco.


- Francamente Potter! – reclamei. – Por que você insisti em entrar na nossa conversa?


- Só não quero que pense que sou um idiota. – respondeu ele. - Mas eu cresci, caso você não percebeu. – ele acrescentou, quando eu bufei.


- Você pode até ter crescido alguns centímetros, mas sua arrogância continua a mesma.


- Não continua. E vou provar isso pra você.


- Ah tá. Com coisa que você vai resistir a sair por ai azarando todo mundo que vê pela frente! – disse com sarcasmo.


- Claro que vou.


- E o Sev também?


- Continua conversando com aquele cara? – perguntou ele, irritado.


- Você não respondeu minha pergunta.


- Só se você responder a minha.


- Mas eu perguntei primeiro! – protestei.


- O Ranhoso é uma exceção. Mas só ele.


- Pois então vai ser difícil você me convencer que mudou. E pra sua informação, sim, continuamos amigos.


- Ele está se tornando um Comensal da Morte! Como continua a conversar com ele?


- Quem é meu amigo ou não já não é da sua conta.


Maria acompanhava a discussão com ar de riso. Potter que ainda olhava incrédulo para mim, voltou seu olhar para seu horário.


- Meu horário é praticamente igual ao seu, Maria. Só que eu tenho Poções no lugar de Adivinhação. – falei comparando nossos horários. – Sinceramente, você foi burra de deixar Poções.


- Fale isso por você. – ela disse, beliscando um bolo de chocolate. – Não sou tão boa quanto você. Sem falar que a bajulação do Slughorn por você é irritante.


- Ele é legal. – eu disse, rindo. – Só é um pouco...


- Irritante. – ela completou.


- Nossos horários são iguais Evans. – disse Potter alegre, espiando o papel que eu segurava.


Soltei um suspiro alto e impaciente.


- Vamos logo pra nossa primeira aula, Maria. – eu disse me levantando. - Tem gente aqui que não sabe o que a palavra "menosprezado" significa.


Quando eu e Maria estávamos indo para a Torre da Grifinória pegar nosso material, uma voz distante me chamou.


- Lilian!


Era Sev. Ele também saia do Salão Principal. Me senti culpada por não o ter cumprimentado.


- Posso falar com você a sós? – ele disse, lançando um olhar significativo e irritado para Maria.


- Nos vemos na aula. – ela disse fazendo uma careta.


- Dá pra parar de tratar ela desse jeito? – perguntei.


- Desde quando conversa com Potter? – ele perguntou, ignorando minha pergunta.


Dei o segundo suspiro alto do dia.


- Eu não estou conversando com Potter, Sev. – tentei me controlar. – Quero dizer, conversei com ele, mas estava xingando ele, como sempre. Só isso.


- Vi você rindo. – ele disse. Esse seu tom autoritário estava me dando nos nervos.


- Eu ri porque ele falou algo engraçado sobre o Dougie. Tecnicamente eu ri do Dougie. – falei, fechando os olhos tentando me acalmar. – E pare de tentar me controlar, Sev! Não sou sua propriedade para você ficar me espionando!


- Não estou tentando te controlar! Só quero que você fique longe dele!


- Sabe, ele anda falando a mesma coisa.


- Então vocês conversaram.


- E isso é crime por acaso? – perguntei, cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas. – Quer saber de uma coisa, Sev? Eu converso com quem eu quiser. Eu não falo dos seus amigos Comensais e você não fala do Potter.


Dei as costas pra ele antes de ele poder responder.


Andei em direção a Torre da Grifinória pisando forte; era uma injustiça o Sev ficar me atormentando com essa idéia ridícula entre mim e o Potter. É claro, eu já percebi que Potter está um pouco mudado esse ano, mas nada vai fazer eu me aproximar dele: tudo o que ele já fez seis anos atrás já compensou a vida inteira.


- Cerveja amanteigada! – eu disse ao retrato da Mulher Gorda.


Assim que o retrato girou, deparei com Maria.


- Peguei seu material pra você. – ela disse entregando minha mochila. Começamos a caminhar ao longo do corredor. – Então, o que o Snape queria?


- Encher o saco de novo sobre o Potter.


Maria riu.


As primeiras aulas do professor novo de Defesa Contra as Artes das Trevas foram tranquilas. Ele era legal, mas meus conceitos mudaram um pouco quando ele passou toneladas de tarefas sobre Inferius.


O professor Beery começou a aula falando sobre Visgos do Diabo. Na verdade, todo ano ele falava sobre eles e passava trabalhos complicados para fazer. Corria o boato que ele fora atacado por um quando criança, portanto fazia questão de repassá-lo a turma todos os anos.


Como sempre a professora McGonagall era severa e nesse ano não foi diferente: fez um grande discurso sobre os N.I.E.M's e começou a ensinar Feitiços de Comando.


- Sinceramente, acho que senti meu livro se arrastar um pouco sobre a mesa. – comentou Maria pra mim e Dougie, enquanto saíamos da sala de aula. Ele dissera que foi na biblioteca pesquisar um termo que ele leu em um livro. Claro que é mentira, ele só queria ficar longe de Maria. Por sua vez, Maria desconfiou, pois Dougie nunca era de ler os livros sem ter um exame ou lição de casa à vista.


- Precisa de capacidade para fazer um feitiço desses. – disse Dougie com desdém. – Com certeza foi uma ilusão de ótica sua.


Maria parou de andar de repente.


- Qual é o seu problema? – ela perguntou a Dougie.


- Problema? – perguntou Dougie, com falsa inocência.


- Bom, vou para as masmorras. – falei depressa, antes que sobrasse para mim. Maria pediu para Dougie fazer Adivinhação com ela, mas agora era provável que ele logo desistiria.


Ouvi as vozes deles discutindo distante, enquanto eu caminhava para a parte mais fria do castelo.


Quando eu entrei na sala, já estava cheia. Não sabia que tinha me atrasado.


- Lílian! – exclamou Slughorn. – Pensei que tinha desistido de poções! Ora, sente-se, sente-se!


O único problema era que não tinha lugar livre a não ser...


- ... tem um lugar livre ao lado de Potter. Acomode-se! – continuava Slughorn.


Potter estava ali sorrindo. Com certeza armara essa arapuca para mim. Hoje era meu recorde de suspiros impacientes. Não tive escolha e me sentei. Me senti desconfortável ao lado dele e ao redor do resto de seus amigos. Ele continuava a sorrir pra mim, mas lhe lancei um olhar de desprezo.


Já do outro lado da sala, percebi com certo aperto do peito, Sev olhando para nós, arrasado.


Tirando o fato de eu estar ao lado do cara mais idiota do mundo e seus amigos bobos, a aula foi interessante. Tínhamos que fazer uma Poção para Rejuvenescer.


- Como foi as aulas de hoje, Evans? – perguntou Potter em tom educado quando a sala se encheu de fumaça dos caldeirões e barulhos de páginas dos livros Estudos avançados no preparo de Poções.


- Tirando a de agora foram bem agradáveis. – respondi rabugenta.


Black riu atrás de nós. Ele se debruçou na mesa a fim de sussurrar para Potter. Mesmo não querendo, acabei ouvindo:


- É melhor tentar outra tática, Pontas.


Os dois riram baixinho. Lupin estava sentado na nossa frente, ao lado de outro aluno que eu conhecia por Stephan Forward. Ele se virou para mim:


- Pode me emprestar sua faca, por favor? Acho que a minha está meio cega.


Com boa vontade e um grande sorriso, passei minha faca para ele.


Potter parecia abobado.


- Por que com o Aluado você é tão educada? – ele perguntou.


- Porque nunca o vi azarando ninguém. – respondi, voltando para a minha poção.


- Mas eu já parei!


- Mas antes azarava. É um crime perpétuo.


Sua expressão era indignada. Black, e agora Pettigrew, riam descaradamente.


Pelo resto da aula continuei ignorando Potter. Por fim a sineta tocou, e com alívio entreguei a amostra da minha poção ao Slughorn.


- Sua poção deve ser a melhor da sala! – ele disse feliz, coçando o seu bigodão. – Seu talento para poções é extraordinário! Assim como o de Snape, não é mesmo, Severo?


Sev não respondeu. Estava entregando sua amostra também, mas não olhou para mim.


Todos começaram a se dirigir a porta da sala.


- Tchau, Evans! – disse Black. Pelo visto Potter já tinha ido embora, ainda questionando meu comportamento com Lupin.


Corri para alcançar Sev, quando ele ia caminhando em direção ao Salão principal.


- Sev! Sev espera!


Ele se virou.


- Fala. – disse simplesmente.


- Eu sei o que você está pensando, e sinceramente não estou com um pingo de vontade de ouvir. Mas saiba que eu não queria ter que aturar a aula inteira com o Potter e seus amiguinhos Marotos.


Ele não respondeu.


- Eu o acho um idiota. – insisti. – E não quero que pense que eu sentei com ele porque quis.


Ele continuou sem responder.


- Fala alguma coisa! – eu disse, exasperada.


- Já entendi, Evans. – ele disse simplesmente, e me dando as costas me deixou pregada no chão.

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