Culpa
A chuva tinha cessado um pouco; na verdade fora apenas chuvisco. Houve o tumulto de sempre de vozes quando todos desembarcaram, mas nenhuma superava uma em especial:
- Alunos do primeiro ano! Por aqui! Alunos novos, por aqui!
Rúbeo Hagrid era o guarda-caça da escola, e vivia num casebre na orla da floresta proibida. Ele já estudou em Hogwarts, mas por um motivo que ninguém sabe fora expulso, mas Dumbledore o arranjara o emprego.
- Olá, Hagrid! – eu o cumprimentei.
- Olá Lílian! – disse ele por trás de sua barba bagunçada. – Olá Dougie, Maria!
Hagrid acompanhou os alunos do primeiro ano até onde deveriam usar os barcos para a passagem no lago. O resto dos alunos já ia de carruagens ao longo da estradinha, que agora estava meio lamacenta. Dougie, Maria e eu arranjamos uma carruagem só para nós, e começamos a subida íngreme.
- Tenho pena da Kate Lynch, aquela quintanista da Lufa-Lufa. – comentou Maria. – Pelo que se sabe, um Comensal da Morte matou sua irmã, e por pouco não foi a vez dela, se não fosse a chegada dos aurores. Agora ouvi dizer que ela viu os Testrálios.
- Nem chegamos em Hogwarts direito e você já vem distribuindo fofocas, Maria? – perguntou Dougie com uma voz irritada. É a primeira coisa sã que ele fala desde o trem.
Maria olhou para ele admirada, mas depois franziu a testa.
- Sinto muito Dougie McKinnon, não queria te chatear, mas na verdade eu estava falando com a Lilian, não é? – ela virou para mim me fuzilando com o olhar, assim como Dougie.
- Ah, parem com isso vocês dois. – eu estava com um pouco de fome, sonolenta e com saudade da minha cama de dossel e por isso não estava com vontade de ouvir discussões. A lembrança que eu ainda tinha que ajudar os alunos novos me deu mais preguiça ainda.
Ficou um silêncio desconfortável. Dougie olhava para a janela e Maria olhava para ele com uma cara nada amigável. Enfim, a carruagem parou. Já dava para ver as diversas torres da escola, com algumas das luzes nas milhares de janelas.
Subimos a escadaria até chegarmos ao Saguão de Entrada e, ainda em silêncio, chegamos ao Salão Principal já lotado. Fiz questão de sentar bem longe de Potter e seus amigos, que discutiam sobre o primeiro jogo de quadribol da temporada.
O céu encantado estava nublado, com as habituais velas flutuantes e os professores já estavam sentados na mesa mais adiante. Vi a irreconhecível barba branca do professor Dumbledore, o professor Flitwick de feitiços, o Professor Slughorn de poções, o professor Beery de Herbologia, a professora Burbage de Estudos dos Trouxas, o professor Kettleburn de Trato das Criaturas Mágicas, entre outros, mas o que me chamou atenção foi um bruxo ligeiramente calvo, meio magricela e bigodes enormes para sua cabeça.
- Ei, aquele deve ser o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. – comentei com Maria.
- Com certeza é, já que a professora Walkíria aposentou no ano passado. É incrível como nenhum professor dura muito, não é mesmo?
Concordei com a cabeça, mas antes que pudesse fazer outro comentário, a professora Minerva entrou com vários alunos novos. Uns estavam trêmulos, amedontrados e chegavam até a estar pálidos. Outros pareciam entediados.
O Chapéu Seletor, posto no banquinho para selecionar os alunos, cantara sua nova música, que agora dizia que devíamos nos manter firmes, fortes e unidos, mas também não é a toa: com Você-sabe-Quem rondando por aí é realmente perigoso ficar sozinho.
A Seleção ocorria e meu estômago roncava com mesmo ritmo.
Quando "Zacarias, William" foi mandado para a Lufa-Lufa e a professora recolheu o banquinho e o Chapéu, os pratos se encheram de batatas, ovos e rosbife.
O Salão ecoou de conversas e barulhos metálicos vindo de pratos e talheres. Chegou a sobremesa. Eu e Maria tivemos uma pequena briga com quem ficaria a cereja do sorvete de chocolate. Nessa hora tive a impressão de que estava sendo observada; e lá estava Tiago Potter me secando. Ele deu um sorrisinho, que eu não retribui e virei a cara.
Ao fim da refeição o salão silenciou assim que Dumbledore se levantou para dar os avisos anuais: que a Floresta era proibida para todos os alunos; que o zelador Filch pedia para não usar mágicas nos corredores; e para avisar que o novo professor de DCAT, era, afinal aquele calvo de bigodes grandes, que se chamava Rocco Martim.
Dougie e eu fomos ajudar os alunos novos a encontrar o Salão Comunal, e depois encontraríamos Maria.
- Caramba! – eu disse me jogando na poltrona em frente a lareira, uma hora depois. – Aqueles alunos estão meio... travessos.
Maria riu, mas ainda absorta no Semanários da Bruxas. Depois de um tempo, ela jogou a revista na mesa mais próxima e olhou para mim.
- O que houve com o Dougie?
- Acho que ele estava meio cansado da viagem. – inventei na hora, mas acho que saiu natural.
- Ah, nem vem com essa Lílian! Ele estava incomodado com alguma coisa, que tem eu no meio.
- Olha aqui, Maria. Seja o que for que esteja acontecendo é melhor você perguntar para ele, não acha? - bocejei. - Bom, é melhor irmos dormir, amanhã tem aula cedo.
Maria me acompanhou um tanto desconfiada, e eu um tanto culpada por não ajudar ambos a se entenderem.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!