A Chegada das Trevas
Capítulo um – A chegada das Trevas
Era uma noite de inverno escura e tempestuosa, daquelas em que ninguém gosta de se demorar fora de casa. Tudo parecia parado naquela madrugada londrina, como se a cidade estivesse à espera de algo. Ou alguém.
No orfanato municipal Wool, Grace Cole estava a cuidar de duas meninas acometidas de catapora quando, olhando pela janela úmida de neve notou um vulto de capa se aproximando lentamente, como se tivesse algum problema no caminhar. Grace estreitou os olhos. Parecia, pelos trejeitos, uma mulher, cuja barriga parecia estar a ponto de explodir. A jovem voltou sua atenção para as crianças, continuando a aplicar os medicamentos e pomadas em ambas. “Realmente”, pensava, “esse é um orfanato bem movimentado. Em plena madrugada! E já é a terceira moça que aparece em trabalho de parto aqui, desde que comecei...” Grace trabalhava ali há dois meses apenas.
Alguns minutos depois a campainha tocava no hall. Grace suspirou, murmurou algo para as meninas e desceu para atender a porta. Ela descia as escadas com calma, e a campainha tocou novamente, com mais insistência.
– Já vai, já vai! – resmungou, apressando-se.
Ao abrir a porta, deparou-se com uma moça um pouco mais velha que ela, trajando uma grossa capa cinzenta e enregelada. Tinha um rosto desprovido de traços marcantes, mas não chegava a ser feia. Ela gemia, tinha o rosto molhado de lágrimas e quando Grace abriu a porta, desabou nos seus braços atônitos.
– Meu filho... por favor... está quase na hora... por favor... ajude-me!
– Claro, claro... entre... – disse, um tanto hesitante, pois a mãe tinha os olhos arregalados, não de dor pelas contrações, mas de terror. Parecia um tanto tresloucada, como se estivesse a fugir de um animal qualquer – Acalme-se, por favor, você está segura aqui, nada vai lhe atacar... MARY!... CAROLINE! ... ajudem aqui, tem uma moça prestes a dar à luz...
Com a ajuda das outras duas enfermeiras, conseguiram levá-la para um quarto vago no andar térreo onde ela se deitou, respirando com dificuldade. Mary e Caroline saíram para buscar água fervida e panos limpos, e Grace se ajoelhou ao lado da mulher ofegante, segurando sua mão, dizendo palavras de consolo e incentivo. Perguntou-lhe quem era, de onde viera, se o pai sabia da criança, mas ela só sacudia a cabeça, incapaz de falar.
Mas por dentro, Mérope Riddle achava que teria muita sorte se o pai da criança um dia se interessasse, se preocupasse em saber que fim ela e o filho levaram. Na verdade pensava que teria sorte se sequer sobrevivesse ao parto. Quanto ao resto que a gentil moça lhe perguntava, pouca diferença faria, pois simplesmente não era relevante. De onde viera? Não fazia o menor caso de se lembrar, afinal não voltaria, voltaria? Fugindo para casar com Tom Riddle, assumira o papel de pária. Trouxa desgraçado.
Por que fora se apaixonar justo por ele? Tudo bem, não mandamos no coração, disse uma vozinha em sua cabeça. Mas seria possível ter escolhido alguém pior? E que idiota ela fora! Achando que sem a maldita Amortentia ele ainda a amaria? Bah! Ela se comportara como uma ridícula apaixonada, tão inconsequente quanto o pai e o irmão sempre a acusaram de ser.
Quem era ela, a outra lhe perguntava. Isso nem ela mesma sabia dizer. Trouxa? Aborto da natureza? Uma tola? Talvez tudo isso junto. O que ela tinha certeza era que não era bruxa, não mais. Nunca, em hipótese alguma ela voltaria a empunhar uma varinha, mesmo porque achava que a dor, a humilhação que sofrera tinham minado completamente seus poderes.
Grace secava o rosto de Mérope com um lenço. Estava febril; Grace pensava com seus botões que se a outra sobrevivesse estaria num apuro, em uma doença terrível. Depois de um instante, Mary e Caroline voltaram com tudo e começaram a trabalhar, ajudando Mérope e comentando que já era véspera de Ano Novo e a criança talvez só nascesse no ano seguinte. Não poderiam estar mais erradas, pois alguns minutos passaram e o parto já estava no meio.
Algo como uma meia hora correu e o bebê finalmente nasceu, saudável e com cabelos muito negros. Apesar de todos esses atributos, todas as presentes sentiram um arrepio correr, como um roçar e um sussurro gélido.
– Ele não está chorando – reparou Caroline – vocês acham que ele tem algum problema? –perguntou baixando a voz para Mérope não ouvir.
–Não sei – murmuraram as outras duas em resposta.
– É um menino? Perguntou Mérope baixinho, sem forças para abrir os olhos.
– Sim, um lindo garotinho.
– Ele deve se chamar Tom, em homenagem ao pai dele. Servolo, que era o nome de meu pai, e Riddle deve ser seu sobrenome. Por favor, suplicou ela, é importante para mim. Tom Servolo Riddle. – Houve uma pequena pausa, então Mérope completou: Espero que se pareça com o pai.
Então se calou. Grace parecia ter percebido que o pai não tinha ciência ou não se importava com a existência do filho, e simpatizou com a pobre mãe desconhecida à sua frente, mas ela estava realmente muito pálida e quieta, portanto Grace deixou-a descansar, saindo do quarto e indo falar com as outras duas no corredor.
Mérope sabia que sua hora tinha chegado e que não havia o que questionar. Mesmo assim ela se perguntou o que seria do filho. Só, completamente órfão neste mundo. Uma voz pareceu sussurrar em seu ouvido: “você sabe as palavras, Mérope. Sabe o que fazer e seu filho não crescerá sem mãe”. “Não, pensou ela, não recorrerei à magia. Se preciso for, ele a usará, não eu”.
Lentamente ela foi perdendo as forças, e seus últimos pensamentos foram que o filho tivesse mais sorte, fosse mais feliz do que ela fora. Devaneando sobre o futuro do filho, no qual ela não estaria presente, seu corpo foi sendo engolfado, ficando frio. Seu último pensamento foi que ele encontrasse um amor decente.
Mas a infeliz mãe estivera enganada. Seu filho nunca conheceria o amor, e se ela pudesse ver seu futuro ficaria horrorizada. Pois naquela véspera de Ano Novo fria e cinzenta, Lord Voldemort acabara de nascer.
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Bom, esse é o primeiro capítulo da minha primeira fic. Estou trabalhando em outra também, que postarei em breve. Tomara que voces não fiquem com medo de mim... mas é que sempre quis saber como foi que alguém podia se tornar tão ruim. Então decidi pegar alguns momentos citados pela Jo (meu objetivo é ser sempre o mais fiel possível à série) e tentar entender isso. Sei la, talvez eu simplesmente tenha vocação para psicologa... rsrs Enfim, espero que gostem da fic. Devo postar o proximo cap em breve. Comentem!
Bjs, Roxanne Prince
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