Novas descobertas, novas chanc

Novas descobertas, novas chanc



N/A: pessoal, o nome do capítulo é 'Novas descobertas, novas chances' ok? O potterish tá cortando "//



‘Está certo, querida. Coma primeiro.’ – respondeu Elena pacientemente – ‘Se importa se eu me sentar aqui ao seu lado enquanto esperamos?’
‘-Não... Certamente não, Sra. Duncan.’ – e então a mulher lhe deu outro sorriso radiante e ela não pode fazer nada senão sorrir de volta. Era completamente difícil ser fria com Elena Duncan, até mesmo para Serena Snape.
‘-Você parece tão nova, Sra. Duncan...’ – Serena soltou, algum tempo depois.Ela não conseguia compreender a necessidade que ela parecia ter em falar com a mãe de Eliza, em ouvir a voz calma e confortadora dela e vê-la sorrir. Ela nem ao menos vira essa mulher antes! – ‘É alguma Poção para rejuvenescer?’ – perguntou, inocentemente.
‘-Não, Serena, eu sou mesmo nova, comparando com a maioria das mães que tem filhos da idade de Eliza... Mas também é uma característica da minha família, as mulheres aparentam ser sempre mais novas do que realmente são, minha mãe, minha avó, minha tia... todas elas parecem – ou pareciam – ter bem menos idade do que tinham.’ – explicou ela à menina.
Enquanto Elena explicava, nenhuma das duas notara a presença de negro que entrara silenciosamente, e parara um pouco distante da cama. Serena, quando a mulher acabara a explicação, olhara de relance para o canto em que Snape estava parado, segurando uma bandeja com comida. Quando recebeu o olhar da filha, se aproximou.
‘-Duncan’ – cumprimentou ele em voz baixa com um aceno de cabeça, e então virou-se para a garota – ‘Aqui está o seu café da manhã, Serena.’
A menina olhou feio para a bandeja com queijos e frutas frescas e alimentos leves.
‘-Eu gosto de ovos no café da manhã.’ – ela disse fazendo biquinho.
‘-Eu sei que sim, mas hoje você precisa de alguma coisa mais leve. Os elfos fizeram essa comida especialmente para você.’ – Severo não tinha emoção alguma na voz, mas Elena notara a preocupação dele com a menina durante aqueles dias.
Serena revirou os olhos e comeu de cara feia.


‘-Sra. Duncan?’ – Serena chamou – ‘Eu já acabei minha refeição, se a senhora quiser conversar...’
‘-Ah, meu bem, ótimo.’ – ela respondeu sorridente quando Madame Pomfrey chegou.
‘-Serena, eu avaliei o resultado dos seus exames’ – Papoula começou – ‘, está tudo em ordem e você terá alta, já pode arrumar suas coisas. Mas ainda é preciso repouso e descanso, e eu e o professor Snape avaliaremos seu estado. Você está dispensada das aulas de amanhã, tome a Poção para dormir hoje, e ficará ainda melhor.’
‘-Tudo bem.’ – ela respondeu, já pulando da cama.
‘-Professor Snape?’ – ela chamou, e o homem veio até ela silenciosamente – ‘Onde estão minhas coisas? Eu realmente gostaria de colocar uma roupa decente ao invés desta camisola.’ – Serena olhou torto para a roupa que trajava.
‘Estão ali, Serena.’ – ele apontou para uma prateleira com uma muda de vestes trouxas.
Serena vestiu seus jeans e seu suéter cinza claro, calçou os sapatos e escovou os dentes e cabelos, e só então notou que o vestido que usara na noite do baile estava ali, perfeito novamente.
Ela pegou-o e desdobrou-o, para verificar que estava mesmo tudo certo. Ela não entendia. Quando entrara na floresta, lembrava-se que tinha rasgado-o e com certeza absoluta ele estivera muito sujo de lama. Mas agora estava perfeito novamente, como se tivesse acabado de sair da caixa.
A garota dobou-o novamente e seguiu para a Ala principal da Ala Hospitalar, onde a Sra. Duncan a esperava.


‘-Agora que você teve alta, querida, será que poderíamos conversar nos aposentos em que estou? É com certeza mais quente e confortável para conversar do que aqui.’ – ela considerou, e como sempre fazia, sorriu, esperando uma resposta.
‘-Podemos, eu acho.’ – Serena disse, e depois virou-se para Snape – ‘Eu posso? Ou tenho que ficar em repouso absoluto?’ – ela arqueou uma sobrancelha, descrente.
‘-Pode, com a condição de retirar-se imediatamente para seu dormitório assim que terminar com a Srta. Summers.’ – ele respondeu no seu tom habitual e alfinetou Elena.
‘-Quem é Srta. Summers?’ – Serena perguntou, franzindo o cenho.
‘-É meu nome de solteira, Serena. Snape foi meu professor.’ – ela respondeu, dando um sorrisinho amarelo para ele –‘Vamos, meu bem?’
Elena indicou a porta e Serena seguiu, ela ia logo atrás, mas Snape segurara-a pelo braço e murmurara-lhe:
‘-Lembre-se do que combinamos.’
A mulher assentiu e soltou-se, indo ao encontro da menina.


Os aposentos de Elena eram claros, apesar do mau tempo que se instalara nos jardins, e eram grandes também. Havia uma lareira crepitante em um dos cantos, e junto dela, duas poltronas que pareciam confortáveis, os tapetes eram beges e felpudos, e diferentemente dos aposentos de Snape, este possuía apenas um cômodo e um banheiro. A alta e larga cama de casal se encontrava no canto oposto da lareira, próxima ao banheiro, e nela havia um dossel.
‘-Sente-se, Serena, e fique à vontade.’ – Elena indicou as poltronas próximas à lareira e a garota escolheu uma – ‘Quer tomar alguma coisa? Chá? Café? Chocolate quente? Água?’
‘-Não, obrigada.’ – recusou educadamente, observando o fogo e aproveitando o calor que de lá emanava.
‘-Sobre o que quer falar, Sra. Duncan?’ – perguntou Serena intrigada, franzindo a testa.
‘-Serena’ – Elena se ajeitou em sua poltrona de modo a poder segurar as duas mãos da menina e olhar em seus olhos – ‘Você não sabe o quanto eu esperei por este dia, em que eu pudesse te ver, falar com você, meu bem. E eu cheguei a pensar que isso nunca aconteceria.’
Os olhos azul-esverdeados da mulher estavam levemente marejados, mas Serena não percebeu.
‘-Eu conheci sua mãe, Serena, fui aluna dela’ – continuou – ‘ e também eu era a sobrinha dela.’
Serena estacou, e sua mente lhe trouxe imagens de uma garota, tão sorridente quanto sua versão adulta, de dezessete anos que abraçava Alexia. Elena Summers. Sim, ela se lembrava.
‘-Mas, mas... Então, eu so...’ – começou Serena, o desespero tomando conta de si.
‘-Deixe-me falar primeiro, Serena. Depois você pode tirar suas conclusões.’ – Elena cortou-a, a voz firme – ‘Nós, toda a nossa família achava que você estava morta... Que você tinha ido com Alexia’ – lágrimas começaram a molhar o rosto alvo da mulher – ‘, todo mundo pensava, e ainda pensa, que você está morta. Porque foi isso que Dumbledore anunciou naquele dia: que você tinha morrido. Minha mãe e minha avó nem mesmo sabiam com quem tia Alexia era casada... Vovó morreu sem saber, e eu soube no dia do enterro dela.’
Serena não tinha emoção alguma senão angústia. O modo como toda a dor transparecia na voz daquela mulher loira doía também nela. Por isso ninguém nunca fora atrás dela. Por isso ninguém nunca fora buscá-la. Ninguém nunca soube que ela estava viva.
‘-Snape estava acabado, como eu nunca sequer imaginei que ele poderia ficar, e eu soube que era ele o marido de tia Alexia.’ – o modo como Elena falava fazia Serena sentir inveja: ela conhecera Alexandra, falara com ela, fora abraçada por ela. E Serena não tivera nada disso . – ‘Eu rezava todos os dias, Serena, para que um milagre acontecesse e você estivesse viva em algum lugar. Nossa família já tinha tido perdas e desgastes demais, e você mal nascera e pensávamos que já tinha também partido. Vovó ficou arrasada, ela já tinha perdido uma filha antes e quase não agüentou perder outra.’
‘-Então eu tenho uma família? Mais alguém?’ – Serena perguntou, um pouco desconcertada.
‘-Sim, meu bem, você tem. Você tem a todos nós.’ – Elena sorriu, enquanto uma lágrima ainda escapava de seu olho. – ‘E não menti quando falei que queria conversar com você, eu estava tão ansiosa pelo seu regresso! Eu cheguei aqui naquela madrugada de domingo, e vi Snape com uma expressão muito preocupada, e ele estava sentado ao pé de sua cama. Aquilo não era normal, querida, você tem que concordar comigo. Então eu me aproximei e tive certeza que era você. Você é muito parecida com a sua mãe, Serena.’
Serena sorriu verdadeiramente. Havia pessoas que se importavam com ela, pessoas que sofreram durante aquele tempo todo por pensarem que ela estava morta. Pessoas que aguardavam ansiosamente para conhecê-la.
Elena então levantou-se e foi até a menina.
‘-Será que eu posso te abraçar, meu bem?’ – perguntou, a voz novamente embargada pelas lágrimas, guardando uma mecha de cabelo negro de Serena atrás de uma das orelhas dela.
Serena levantou-se e se deixou ser abraçada por Elena, e então lágrimas também escorriam por seu rosto.
‘-Eu não acredito que Snape fez isso com você, criança.’ – ela lhe disse maternalmente, separando o abraço para enxugar as lágrimas agora incessantes de Serena – ‘Se ele tivesse te deixado conosco tenho certeza que teria sido melhor.’
Serena concordou mentalmente, e chorou mais. Por que Snape não a deixara com a família que ela tinha? E a raiva que há algum tempo já não sentia por ele a dominou.
‘-Calma, querida, calma.’ – pediu Elena, abraçando-a novamente e acalentando-a.
‘-Snape idiota!’ – ela praguejou – ‘Se eu tinha uma família, por que diabos ele me deixou com aqueles trouxas malditos?’ – ela falou alto, e as lágrimas não paravam de escorrer.
‘-Venha, Serena, sente-se.’ – a mulher sentou-a na poltrona e abaixou-se para os olhares se encontrarem – ‘Depois de todos estes anos acho que Snape é assim mesmo. Você acredita que ele me torturou o ano todo com piadas de mau gosto porque eu estava grávida, no sétimo ano?’
‘-Eu não acredito...’ – ela suspirou – ‘Por que? O problema era seu, se você estava grávida...’
‘-Eu não sei, querida, sei que Sean, meu marido agora, tentava me defender e acabava sempre com detenções, e olhe que ele era sonserino. Snape faz coisas que devem fazer sentido somente na cabeça dele, então não se importe, meu bem. Eu, e Sean, e minha mãe, que é sua tia Olívia, estaremos sempre aqui caso você precise de algo, querida, de qualquer coisa que seja.’
‘-Obrigada’ - Serena agradeceu e enxugou as lágrimas restantes com a manga do suéter.
‘-E, Serena...’ – ela chamou a atenção da menina – ‘ainda tem algumas questões burocráticas. Você tem um cofre no gringotes, que era de Alexia, e bem, nossa família tem bastante dinheiro, e tudo o que está lá é seu. Vovó nunca deixou ninguém tocar no cofre de Alexia, e quando ela morreu, fizemos como ela queria e deixamos a parte que cabia à tia Alexia lá. Ela dizia que o dinheiro estaria sempre lá, e se não fosse para um descendente de Alexia, sobraria para a última geração da nossa família, no caso Elizabeth.’
‘-Eu não quero dinheiro nenhum, Eliza pode ficar com tudo.’ – ela disse, irritada com conversas burocráticas.
‘-Não é questão de querer, é tudo seu, querida. E o que nossa avó mais queria era que, por um milagre, isso ficasse para você. E Eliza não precisa de mais nada, ela tem muito mais do que o suficiente.’ – Elena sorriu para ela daquela forma confortadora – ‘Ah, deixe-me falar antes que eu esqueça. Snape me disse para não contar nada à Eliza, ele ainda teme que mais alguém descubra sobre o parentesco de vocês, então peço que você também não diga nada a ela, meu bem.’
‘-Ela vai se sentir traída quando descobrir.’ – Serena comentou sabiamente, já sem marcas de lágrimas no rosto, a expressão fria novamente e uma das sobrancelhas arqueadas.
‘-Talvez ela nunca saiba, meu anjo. E fico triste por isso, mas Snape ainda é seu pai e decide tudo que está relacionado a você.’ – ela suspirou – ‘Eu ainda quero conseguir com que Snape deixe-me te apresentar para minha mãe e para o Sean, ele também ficou arrasado com a sua, hum, morte, ele gostava muito de tia Alexia, apesar de ser sonserino.’
Serena somente sorriu de lado. Ela queria conhecê-los, faziam parte de sua família e conheciam mais sobre ela do que ela própria.
Um silêncio reconfortante tomou conta do ambiente enquanto as duas examinavam uma a outra: Elena era loira, como Eliza, e elas compartilhavam o mesmo sorriso, o sorriso de Alexia, Serena reparava, mas elas não se pareciam totalmente. Devia haver muito do pai de Elizabeth – Sean – na garota. Elena, por sua vez, notava que Serena era mesmo muitíssimo parecida com sua tia – fisicamente. Era claro que a personalidade, os trejeitos, o modo de falar, a frieza e o típico arquear de sobrancelha eram herdados de Severo Snape.
‘-Como minha, er, mãe era?’ – perguntou a garota após algum tempo, hesitante – ‘Digo, o que ela fazia, gostava... As únicas coisas que eu sei sobre ela são poucas que Snape me mostrou.’ – ela baixou a cabeça. Odiava falar sobre isso, e sentia-se humilhada por não saber ao certo nem de onde viera.
‘-Ah, querida, eu imaginei que Snape não tinha mesmo lhe dito muita coisa sobre tia Alexia...’ – ela suspirou e apoiou as mãos nos joelhos – ‘Ela era uma pessoa incrível. Mesmo. Alexia irradiava luz e alegria, sabe, Serena. Ela foi uma das únicas professoras que tivemos que não se importava realmente com as casas. Bem, ela era realmente orgulhosa por ter sido grifinória, mas em sua aula éramos apenas alunos, não grifinórios, sonserinos, corvinais, lufa-lufas...’ – Elena estava pensativa – ‘E ela estava sempre ali, para quem precisasse dela, quem quer que fosse; tia Alexia era uma pessoa terrivelmente boa, não que ela não tivesse defeitos, meu bem, não é isso, ela não era perfeita. Mas seus defeitos eram ofuscados por suas inúmeras qualidades, ela era um pouco impulsiva e às vezes brincava demais com algumas situações... E apesar de tudo, qualquer um que a conheceu consegue lembrar somente das partes boas, e do sorriso dela, é claro. Um sorriso inesquecível.’ – Elena tinha novamente os olhos marejados, mas tinha um sorriso aberto no rosto.
‘-As lembranças de Snape me deram a impressão de ela ser mesmo isso tudo que a senhora falou...’ – Serena falou, ainda encabulada por ter a necessidade de saber mais sobre a mãe – ‘Mas desse jeito ela parece menos real para mim... Não sei, acho que a senhora não compreende..’ – Serena chacoalhou a cabeça, tentando formular uma frase coerente – ‘Parece perfeita demais, um anjo, um sonho, uma ilusão...’
Elena riu leve, e tocou as mãos da garota, que estavam se contorcendo em seu colo – ‘Eu entendo querida. Você quer conhecê-la melhor, e ela realmente parece um sonho agora, que já faz tanto tempo desde que ela se foi...’ – a mulher olhou para cima, evitando chorar, e sorriu, parecendo ter uma idéia – ‘Hum, eu poderia te contar algumas histórias e te dar algumas informações sobre ela, meu bem? O que acha? Apesar de que eu penso que quem mais poderia te dar informações sobre tia Alexia é Snape...’ – ela considerou, pendendo a cabeça para um lado. Serena torceu o nariz.
‘-Acho ótimo. Snape não me diria nada.’
‘-Vocês não conversam? Nem o mínimo para pai e filha?’ – a mulher perguntou preocupada.
‘-Hum, a senhora não compreendeu. Não somos ‘pai e filha’... só biologicamente.’ – ela suspirou. Doía falar aquilo depois das coisas que sua mãe lhe dissera no sonho. Ela queria muito acreditar que Snape a queria bem, e gostava de imaginar se algum dia eles poderiam conversar sem aquela barreira que o passado formara entre eles. Mas não aconteceria. Snape era um Comensal, um Comensal da Morte, não seu pai. – ‘Será que podemos voltar para as histórias sobre Alexia?’
‘-Claro, meu bem, claro que sim.’ – ela olhou para cima, pensativa – ‘Vamos ver... Tia Alexia sempre esteve na minha vida, é difícil recordar momentos específicos. Bem, a lembrança mais fácil que tenho dela foi no dia que eu descobri que estava grávida de Eliza, pouco antes das férias de verão. Eu fiquei maluca, não sabia o que fazer, e ela foi a pessoa para quem eu contei primeiro. Ela me ajudou muito, sabe Serena? Acho que minha mãe me mataria se não fosse por tia Alexia, ela também estava grávida, e me ajudava com tudo em relação ao bebê. Ela sempre conseguia com que eu saísse das aulas de Poções, e livrou Sean de muitas detenções com o Snape; agora eu entendo o porquê. Tia Alexia me acalmou durante grande parte da minha gravidez – quando ela ainda estava viva – e dizia que nenhum bebê era um erro, e que eu poderia tranquilamente cuidar de Eliza, já que eu estava no último ano da escola e não precisava me preocupar em trabalhar. Ela queria muito você, Serena. Você sabe disso, não é mesmo?’ – ela dizia, o olhar vago, para somente depois focar na garota.
Serena não respondeu.
‘-Ela queria, querida.’ – Elena respondeu a própria pergunta – ‘E estava muito feliz porque você ia chegar. Não compreendo, sinceramente, como ela pôde casar-se com Snape, não por ser Snape, o professor carrancudo e odiado de Poções. Mas eles eram tão diferentes, em tudo... Ele nunca chegou bem-humorado para uma aula, ao contrário de tia Alexia, que estava sempre radiante. E, bem, havia muitas outras diferenças entre os dois, você com certeza deve ter notado.’ – ela disse, o olhar agora fixado na menina, que estava em uma confusão de sentimentos – ‘Hum, Alexia adorava Feitiços. E Transfiguração. Mas principalmente, DCAT. E ela adorava ensinar, mas gostava ainda mais de ver os alunos aprendendo de verdade, sem dúvidas. Ela transformava uma matéria complexa em algo extremamente simples; era um dom. Ela sempre foi boa escritora, e foi Monitora Chefe em seu tempo em Hogwarts. Tia Alexia adorava livros e bibliotecas, almoços em família... E ela jogava quadribol!’ – exclamou Elena, lembrando-se subitamente – ‘Por lazer, em casa ou com os amigos. Nunca quis entrar para a equipe da escola,apesar de jogar realmente bem como artilheira. Foi ela quem me ensinou a voar.’
O vazio dentro de Serena aumentou. Ela mesma não sabia voar.
‘-O que houve, querida?’ – perguntou, e lembrou-sedo que estavam falando – ‘Não deve ser fácil para você me ouvir falando dela, não é? De coisas que vivemos juntas...’ – ela ponderou, e suspirou – ‘Vamos mudar de assunto, então? Vou te contar sobre nossa família, está bem?’
Serena concordou com a cabeça.
‘-Hum, vovó tinha um irmão – Giullian Hill. Ele ainda está vivo, é nosso tio avô, mas é surdo demais para qualquer tipo de conversa. O nome da vovó era Celine, e o vovô se chamava Charlie, Charlie Spring; ele se foi antes dela, era muito novo ainda. Eles tiveram três filhas: Amélia, a mais velha, Olívia – minha mãe, e Alexandra. Amélia morreu muito jovem; ela era uma Auror, e estava em uma missão na Bulgária quando se foi. Alexia estava no sexto ano de Hogwarts, e minha mãe já tinha deixado a escola. Vovó e mamãe contaram-me o quão horrível foi.’ – então, pensou Serena, ela tinha tido mais uma tia – ‘Sobrou pouco de nossa família, minha mãe, eu, você e Eliza. Podemos contar meu pai e Sean também – o que não aumenta muito o número’ – ela sorriu, triste – ‘Vovó tinha sobrinhos, portanto nós temos primos,mas há muitos anos não os vemos...’ – ela completou, e Serena a olhou profundamente.
‘-É , são realmente poucas pessoas.’ – foi o único comentário de Serena – ‘Posso perguntar onde a senhora trabalha, Sra. Duncan?’ – ela disse, polidamente, porém era uma educação fria.
‘-Trabalho para o Ministério, meu bem. Relações com Trouxas.’
Serena sorriu de lado, e pensou que Elena era mesmo uma mulher boa.
‘-E você pode me chamar de Elena, querida. Nós somos primas, não são necessárias formalidades.’ – a garota concordou com a cabeça, mas parecia estranho chamá-la de Elena, ela era mãe de Eliza, afinal! Era a Sra. Duncan.
‘-Sra. Duncan, er, Elena’ – Serena corrigiu-se – ‘, acho melhor voltar para o meu dormitório antes que Madame Pomfrey e Snape venham me tirar daqui.’
‘-Tudo bem, querida. Eu adorei te conhecer, Serena... Isso representou tanto para mim! Você pode passar as férias e os feriados na minha casa, sempre que quiser, está bem?’
‘-Eu também gostei de te conhecer, Elena.’ – a garota disse, e foi sincera, aceitando o abraço da mulher loira.
‘-Eu prometo que não vamos perder contato, querida. Eu vou dar um jeito. Posso te mandar uma coruja de vez em quando?’ – Elena parecia preocupada com ela, e isso parecia ótimo à Serena: ela nunca tinha tido alguém para se preocupar com ela.
‘-Pode, claro.’ – então Elena apertou a garota mais uma vez e caminhou até a porta, com seu porte elegante e adulto, e acenou para Serena.
‘-Tchau, Serena.’


Serena caminhou calmamente para as masmorras, notando os olhares curiosos sobre si, porém não entendia-os. Parecia a ela que tinha dormido um pouco demais. Só isso. Não que muita coisa tivesse mudado enquanto estava desacordada, não é?
O Salão Comunal não abrigava ninguém a essa hora. Os sonserinos ainda assistiam suas aulas e logo depois iriam para o Salão Principal, onde o almoço seria servido. A garota acomodou-se em uma poltrona confortável próxima à uma das lareiras. Ali estava – com toda certeza – mais quente que qualquer dormitório. E, sem perceber, caiu no sono.


Serena resmungou. Mãos pequenas a chacoalhavam. Quem diabos seria? Ela piscou, uma, duas, três vezes, e então finalmente abriu os olhos. Uma figura loira estava na sua frente, chamando seu nome.
‘-O que foi, Eliza?’ – resmungou Serena, sendo um pouco mais clara agora – ‘Por acaso está tendo uma revolta dos elfos domésticos aí fora?’ – sim, ela estava mal-humorada.
‘-Você acordou! Finalmente! Você tem dormido por quatro dias!’ – comemorou a loira, ignorando o mal-humor da amiga.
‘-Não, ilusão sua, ainda estou dormindo.’ – a garota morena bufou, irônica.
‘Você está bem? Está sentindo alguma dor? Quer que eu te ajude a ir até o dormitório?’ – Elizabeth disse tudo de uma vez, chacoalhando Serena um pouco.
‘-Estou, estou. E não, aqui estou bem.’
Houve um pequeno tempo de silêncio, e então Serena lembrou-se de algo importante. Provavelmente Dumbledore, Snape ou alguém do Ministério a interrogaria sobre o dia do Baile, e ela precisava confirmar a versão de Eliza dos fatos. Provavelmente a versão dela a salvaria de ser associada a Malfoy.
‘-Er, Eliza, o que você disse à Dumbledore sobre a noite do Baile?’ – perguntou.
‘-Hum, que vi você e Malfoy brigando e foi atrás de vocês. Que não consegui usar magia na floresta e te vi sendo estuporada.’ – concluiu a garota, pensativa.
‘-OK, está certo...’ – Serena considerou as palavras da amiga.
‘-Por que você e Malfoy estavam brigando?’ – perguntou Eliza em um lapso de memória. Queria perguntar aquilo à outra desde que entraram na floresta.
‘-Por que ele é um Malfoy idiota.’ – aquela era uma resposta típica de Serena Snape, e Eliza não questionou mais. Sabia da tendência agressiva da amiga; qualquer coisa era motivo para implicar com o garoto sonserino.
‘-Você está bem mesmo? Sério, quando acordei e vi que Snape não saía do lado de sua cama, achei que você tinha morrido – ou estava para morrer, na melhor das hipóteses.’ – ela estava séria, e parecia repentinamente preocupada.
‘-Está tudo certo, Eliza. De verdade.’ – ela disse, as palavras sonolentas se arrastando.
Então Eliza pulou sobre a amiga e a abraçou apertado – talvez apertado até demais, comemorando com gritinhos o despertar da garota. Serena iria repreende-la, não gostava muito de abraços e demonstrações de afetos demais, mas não o fez. Eliza, afinal, era sua prima também, e a morena estava feliz por isso , e então a abraçou de volta: depois de falar com Elena, abraçar Elizabeth era como estar em casa.


‘-Só passei aqui para ver como você estava, agora preciso ir para o Salão Principal almoçar... E depois tem as aulas da tarde...’ – Eliza disse, a preguiça tomando conta de sua voz – ‘Você vai almoçar lá também?’
‘-Não, não... acho que agora vou para o dormitório. Se eu tiver fome pego alguma coisa na cozinha com os elfos domésticos.’
‘-Está certo, então. Bom descanso.’ – a loira disse, e saiu em seguida.


Serena tinha se arrastado até o dormitório, e estava agora deitada de barriga para cima, as mãos atrás da cabeça e as cortinas da cama estavam abertas. Havia algumas coisas a ser consideradas ainda. Como, por exemplo, Malfoy.
Então Malfoy, ao contrário do que alegava, tinha também se tornado um Comensal da Morte. Era a única alternativa plausível. Lá estavam, naquela noite, os mascarados e encapuzados Comensais, ela sabia. E eles tinham chamado Draco, o que tornava o rapaz um deles.
Talvez, só talvez, ela procurasse Malfoy mais tarde para esclarecer os fatos.
Malfoy idiota!, Serena pensou com um ímpeto de fúria. Será que ele estivera usando-a durante esse tempo? Ou será que ele até mesmo sabia que ela era filha de Snape? O que estivera realmente acontecendo? Por Merlim, ela queria desesperadamente saber!


Toc, toc. Duas batidas pacientes e firmes na porta.
Serena sentou-se na cama, mas não precisou levantar-se. Quem estivera batendo à porta entrara, e seguia para sua cama.
‘-Seu almoço.’ – ele anunciou, e pousou a bandeja sobre a cama da garota, deixando um pacote pardo sobre o criado-mudo – gesto que Serena não notou.
‘-Obrigada.’ – ela agradeceu sonolentamente, e repentinamente lembrou-se.
‘-Ahn, Snape... Eu não agradeci pelo vestido do baile. Eu gostei muito.’ – agradecimentos definitivamente não eram a especialidade da menina.
‘-Não há de que.’ – ele respondeu displicente, mantendo sua compostura – ‘Achei que ficaria bem em você.’


Depois de algum tempo em silêncio – Serena olhando fixamente a bandeja com seu almoço e Snape observando-a, o homem falou:
‘-Serena, olhe para mim.’ – ele pediu, e uma emoção quase deixou ser transparecida – quase, pois quando a garota passou a mirá-lo era o mesmo rosto impassível de sempre – ‘O que você fez foi uma estupidez. Espero ouvir depois seus motivos, mas quero que você me prometa que nunca mais vai entrar na Floresta Proibida de novo, ou se arriscar assim.’ – seu olhar era duro, impenetrável, e não mostrava a preocupação e inquietação que internamente sentia.
‘-Desculpe, professor, mas não posso prometer o que não tenho certeza que vou cumprir. Não farei as coisas dessa maneira novamente, seria realmente estúpido se eu fizesse de novo, nessas condições. Mas, se for preciso entrar lá, entrarei.’ – ela também mantia a compostura e a distancia, e, graças a Merlim, as palavras saíram firmes.
‘-Você deve estar tentando me provocar, garota...’ – ele rosnou.
‘-Não me importo com o que você pensa, Snape.’ – ela retrucou. Odiava quando ele falava daquela maneira – ‘Eu só não quero ter que descumprir promessas.’ – e dessa vez o brilho de raiva sumiu de seus olhos, e ela falou com sinceridade.
Severo suspirou e teve que relevar aquilo. Não queria discutir com a menina, não depois de tudo. – ‘Então que tal me deixar a par do que aconteceu naquela noite? Sua amiga não parece saber de muita coisa. Ou não quer contar. Dumbledore não me deixou usar oclumência...’ – ele disse, frustrado.
‘-Não seria necessário’ – ela rugiu, defendendo a prima – ‘, Eliza não poderia saber mesmo de muita coisa.’
‘-Será que a senhorita podia me contar o que houve, então?’ – ele disse, o sarcasmo deixando-se ser percebido.
‘-Elizabeth me viu brigando com Malfoy, e viu que eu o seguia, em direção da floresta proibida, então deve ter ido atrás de mim. Malfoy não sabia que eu o seguia, e nós dois não sabíamos que Eliza vinha atrás. Quando ele entrou em uma clareira, fui estuporada, várias vezes, como você deve saber. E acho que um feitiço atingiu, sem propósito, Eliza. E nós não conseguíamos usar magia na Floresta. Tentei usar um lummus.’ – ela declarou, e Snape observava-a atentamente, atentando como as versões dela e da Srta. Duncan batiam.
‘-E por que mesmo você foi atrás do Sr. Malfoy?’ – ele especulou, e Serena, ardilosa, mentiu bem.
‘-Por que ele é um idiota. Nós brigamos, ele fugiu, e eu o segui.’ – ela disse, com uma das sobrancelhas arqueadas para sustentar a mentira – ‘Eu achei que ele estava fugindo de mim e queria continuar a briga, desculpe, não sabia que ele também era um dos seus, digo, Comensais.’ – ela disse, irônica.
Serena estava simplesmente provocando-o demais, pensou Severo, ela era só uma adolescente e ele era o adulto ali, precisava controlar a situação – e a si mesmo, completou mentalmente – ‘Está bem, mas aprenda a nunca mais seguir Malfoy. E Serena, já disse-lhe mais de uma vez: você sabe que sou um Comensal da Morte, mas estou ao lado de Dumbledore com a Ordem da Fênix. Você poderia, por favor, dar atenção a essa informação? Você tem noção que isso é tão secreto e tão importante para o mundo bruxo que só Dumbledore, e agora você, sabem?’ – ele disse, olhando fixamente para a menina. Serena nunca havia pensado por aquele lado.
‘-Se é tão secreto, por que você me contou?’ – Serena perguntou, com inocência na voz.
‘-Porque não queria que também você me julgasse como Comensal da Morte. Queria que você soubesse a verdade, uma vez na vida.’ – ele suspirou, e então Serena recordou-se de algo importante.
‘-Se queria que eu soubesse de alguma verdade poderia ter me contado que eu tenho uma família.’ – ela disse, e apesar de saber que as palavras agrediriam o homem à sua frente, sua voz não demonstrou raiva, ou ódio, apenas um sentimento diferente.
‘-Do que você está falando?’ – ele perguntou, sentando-se na outra extremidade da cama da garota, ignorando a bandeja com a comida que agora esfriava: daria um jeito com magia depois.
‘-Estou falando de Elena. Elena, Eliza, Olívia.’ – ela disse calmamente – ‘Por que você me fez pensar que eu não tinha ninguém? Você poderia ter me deixado com eles, Snape!’ – seu tom agora era de súplica – ‘E ninguém desconfiaria da minha ligação com você. E eu teria conhecido todos eles.’ – ela pontuou, baixando a cabeça depois. Queria que Snape tivesse feito aquilo.
Ele respirou fundo, e pensou um pouco antes de responder. Sua resposta podia mudar muita coisa – coisas a longo prazo. Optou, então, pela verdade. Serena realmente não precisava de mais mentiras em sua vida.
‘-Eu sabia que sua avó logo se mudaria. Ela sempre fez mudanças, e eu tinha um palpite de que não seria para perto, e não foi: ela se mudou para a França três anos depois da morte de Alexia.’
‘-E o que tem demais nisso? Eliza fez seu primeiro ano em Beauxbatons, e também eu faria.’ – ela disse, e seus olhos expressavam algo diferente naquele momento. Não pareciam cristais de gelo, estavam quentes e vivos.
‘-Sim, Serena. Mas eu não queria que você se afastasse. Não muito, pelo menos. Você não consegue entender que deixar você com sua avó era te perder para sempre?’ – ele disse, olhando para sua menina – ‘Se ela não tivesse morrido, sua tia e suas primas teriam ficado por lá.’
Serena estacou. Não tinha pensado nesse lado. E uma dúvida corroeu sua mente: preferiria ela ter ficado com a avó e nunca ter conhecido seu pai, ou conhecê-lo e ter morado em um orfanato trouxa? Sabia que a vida teria sido bem melhor e bem mais fácil se ela tivesse morado com a família, ela teria carinho, amor, e era, afinal de contas, uma família rica. A garota não conseguiu se decidir por qual era o melhor. Afinal, agora, depois de muitos anos, conhecia também a existência daqueles parentes.
E, embora não admitisse, parecia estranho a ela uma vida sem Snape – apesar de ter vivido sua vida toda sem ele por perto. E sentia alguma coisa por ele. O quê, ela não sabia.


Quando Serena virou-se novamente para onde Severo estivera, teve uma surpresa: ele não estava mais lá. Seu almoço estava aquecido , provavelmente obra do mestre de Poções.
Ela sentia alívio e inquietação. Era um alívio não ter que responder nada ao professor de Poções. Mas um sentimento estranho crescia dentro de seu peito – era quase tristeza. O que teria acontecido se ela tivesse dado uma resposta? Nos filmes trouxas que Serena costumava assistir esse tipo de conversa terminava sempre em abraços e conciliações.
Mas na vida real não era assim.
Serena tentava ser dura e racional consigo mesma, mas sua mente fazia uma pergunta constante à sua própria afirmação: Por que não?
                                                                       
                                                                        ***

Severo chegou exausto aos seus aposentos. Queria ter tido coragem para ficar lá, sustentar o olhar de sua filha, e conversar. Quem sabe aquilo tivesse terminado bem?
Mas ele era sonserino, infelizmente. Ele fugia e se esquivava.
E também Serena era. Ela não dizia, nem tampouco demonstrava o que sentia, e isso complicava a situação dos dois.
Naqueles momentos, Severo devaneava, pensando se algum dia ele seria, na íntegra, pai de Serena. E acabou percebendo que tudo que ele teve medo no passado quanto a isso era o que mais desejava agora.
Como uma simples adolescente impetuosa podia bagunçar tanto a sua vida?
Descongelar, de repente, seu coração, e fazê-lo crer que havia, ainda, uma chance à ele. Era isso que Serena representava: mais uma chance que a vida lhe dera para ser feliz, para viver, e não vegetar como ele fizera durante todos os anos.
E ele queria essa oportunidade mais do que nunca. E acabou percebendo que sempre quis Serena em sua vida. Mas as circunstâncias os separaram. Porque era isso: o amor sempre mostra caminhos diferentes, e cabe às pessoas escolhê-los. Severo escolhera o caminho mais difícil e menos feliz: para ele e para Serena, mas era a melhor escolha. Ela estava ali, sã e salva, e principalmente livre de Voldemort.


Esgotado de pensamentos, Severo se acomodou em sua poltrona, com uma taça de vinho na mão. Ficou ali, bebendo e admirando sua vasta coleção de livros.
Repentinamente, uma coruja piou em seu ouvido, vindo detrás da poltrona e pousando em suas pernas esticadas. Severo revirou os olhos e pegou o bilhete que a coruja tinha em sua perna.

Caro Severo,

Gostaria de vê-lo em meu escritório depois do jantar. Precisamos conversar.
- Alvo Dumbledore

Era tudo o que continha no bilhete. Então o homem saiu rumando à cozinha de Hogwarts; já estava quase na hora do jantar, e ainda precisava levar o jantar de Serena. Talvez mandasse algo elfo doméstico deixá-lo no dormitório dela.


Depois de um jantar torturante com todos aqueles pivetes barulhentos, Severo Snape seguiu só para os aposentos do diretor. Dumbledore sempre tinha algo novo para lhe falar. E não esperava que fossem assuntos sobre a escola ou os alunos pelo modo como o homem se dirigira à ele no bilhete. Poderia ser algo sobre a Ordem. Ou sobre Serena.
Ele dissera a senha para a gárgula que guardava a porta e seguiu para a sala do diretor. Bateu na porta, e entrou. Dumbledore o esperava com um sorrisinho bondoso, e Snape sentou-se.
‘-Olá, Severo. Como está Serena?’ – perguntou
‘-Está bem, descansando em seu dormitório.’ – ele respondeu, se perguntando que rumo teria esta história.
‘-Que belo susto ela nos pregou, não é, meu caro?’ – Alvo disse cordialmente.
‘-Pois sim.’ – foi a única resposta que ofereceu, porém Severo concordava plenamente com o que o diretor dissera.
‘-É justamente sobre ela que quero falar, Severo.’ – ele disse, e apoiou ambas as mãos em sua mesa escura, olhando fixamente para o homem, sério.
Snape somente acenou com a cabeça para o diretor prosseguir.
‘-Nós dois sabemos que você está cada vez mais próximo dela, professor.’ – quando Severo ameaçou fazer uma objeção, o homem mais velho continuou – ‘Emocionalmente. Sei que esse sentimento cresce dentro de você, Severo, e não é preciso negar. Mas a cada passo que você dá em direção à isso, é um passo dado em direção à sua responsabilidade para com a menina.’ – ele ajeitou os óculos de meia lua ‘- Vai chegar uma hora, meu caro, em que você vai querer essa responsabilidade. Mas você sabe que tudo o que se refere à Serena, legalmente, é de poder do orfanato trouxa, não sabe?’ – perguntou, inclinando-se um pouco mais para frente.
Severo quase se esquecera disse. Quase. Parecia que não havia mais orfanato trouxa; parecia que aquilo vinha de um passado muito, muito distante. Tão distante quanto o tempo sem Serena, que agora parecia nada mais que um borrão em sua vida. Como quinze anos poderiam ter sido apagados daquela maneira, apenas pelo retorno da jovem á sua vida?
‘-Perfeitamente.’ – ele mentiu.
‘-Sabe também que ela terá que voltar para o orfanato dentro em pouco, não é? Para o feriado de Natal.’
E Snape fora pego de surpresa novamente. Absolutamente não queria que Serena voltasse para lá, via como ela não gostava do lugar. Na verdade, uma idéia tinha lhe passado pela cabeça há algum tempo, mas era algo ambicioso demais.
‘-Ela não pode ficar no castelo, senhor?’ – perguntou, imaginando outras alternativas.
‘-Pode, Severo. Mas não é aconselhável. Seria melhor que ela voltasse para lá no Natal, para não apegar-se tanto ao castelo e conseqüentemente não sofrer mais nas férias de verão, quando ela terá que passar a estação toda naquele lugar.’
O que havia com ele? Desde que podia recordar-se, Severo Snape nunca esquecera-se de nada, muito menos de coisas importantes. E aquilo era importante. Ele teria que fazer Serena voltar para o orfanato depois daqueles meses no castelo? Parecia torturador.
Severo respondeu ao diretor com um aceno de cabeça.
‘-Eu ainda posso pedir a guarda dela.’ – Snape soltou, concentrado em seus pensamentos – ‘Mas então ela teria que ficar comigo durante todas as férias, e eu seria novamente o seu responsável legal, porém acho que Serena não iria gostar de nada disso.’
Snape suspirou pesadamente. Era uma lástima que a melhor solução fosse ficar com ele. Ele podia apostar dez galeões que Serena preferiria ficar no orfanato trouxa.
‘-E você estaria disposto a isso? A receber a menina em sua casa? E a ser responsável por ela até a maioridade?’
‘-Obviamente, diretor. É a casa dela.’ – ele disse, não percebendo o quanto isso significava – ‘E Serena já é minha responsabilidade, mesmo com o orfanato envolvido.’ – ele admitiu, sério.
‘-Sim, concordo plenamente com você, Severo. Quero alertá-lo somente porque é uma coisa definitiva, você não poderá devolvê-la ao orfanato depois.’
Snape ficou ofendido com o alerta. Quem Dumbledore pensava que ele era para pensar isso? E pior: o que ele pensava que Serena era? Um objeto?
‘-Diretor, eu tenho plena noção de tudo isso.’ – ele disse, entre dentes – ‘Eu sou o pai dela, e sei das conseqüências dos meus atos.’
‘-Eu sei disso, meu caro.’ – agora o homem ostentava um sorriso satisfeito – ‘E acho que faria mesmo bem para Serena passar um tempo com você fora da escola.’ – ele observou.
‘-Não posso reivindicar nada antes de conversar com ela, Alvo.’ – disse Snape sabiamente – ‘Tenho de perguntar a ela antes de qualquer coisa, e ver se ela aceitaria. Tenho plena noção de que não mereço ser pai dela.’
‘-Faça isso, professor. Serena é uma menina inteligente, e tenho certeza de que já passou tempo demais com trouxas. Não diga isso; apenas se esforce um pouco mais, e tudo se resolverá.’ – ele disse, primeiro brincando com os próprios dedos enquanto falava, depois repreendendo o homem com o olhar – ‘Mas me comunique depois, Severo. Quero saber qual foi a decisão dela, e se ela optar por ficar com você, temos que encontrar um advobruxo que cuide do caso.’
‘-Está certo, diretor, eu o manterei informado.’ – Snape disse, ainda com um pouco de raiva pela afirmação aparentemente grosseira de Dumbledore.
O mestre de Poções satirizava o que o velho dissera: como poderiam as coisas se resolver? Ele deu uma risada amarga. Não chegaria o dia em que ele seria algo parecido com um bom pai. Porque os filhos são o reflexo dos pais, e tendem a fazer as coisas da maneira como eles fizeram. Não era isso?
Alexia lhe disse por diversas vezes que ele não seria como o pai, como Tobias Snape; disse-lhe que não faria nunca coisas como as que o pai dele fazia. Mas quem poderia arriscar? Snape tinha medo.
Então Severo virou-se e deixou a sala redonda.



N/A: Aqui está gente, bem rapidinho! haha Larissa, obrigada por estar acompanhando a fic, e dessa vez fui realmente rápida não?
Eu queria dizer também que não estou tendo o tempo que eu gostaria para escrever um pouquinho antes da fic, falar com vocês, explicar algumas coisas... Mas vou agradecer aqui sempre que puder, inclusive a Anne Monic Bell, que deixou um comentário mega fofo e eu não consegui responder!!!
E se alguém quiser dar uma olhada nos meus comentários e explicações sobre a fic, dá uma passadinha lá no fanfiction (http://www.fanfiction.net/s/7300911/1/bLoves_b_bways_b) e aproveita pra deixar uma review (: Comentários e reviews são sempre bem vindas!
Beijo, L. 

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