02 de Outubro

Raivoso Diário,

 

Flores idiotas! — Severo escreveu com o diário apoiado na mão. Respirou fundo, os olhos chamejantes de raiva que continham uma tristeza oculta, ele apenas jogou os livros que estavam em cima do seu malão no chão e continuou em pé, arfando. Finalmente jogou-se na cama, agarrando a pena negra com força — Pássaros idiotas! Como Lily pode aceitar ir com ele no Baile¿! Como Lily pode pensar que ele mandara as flores para ela?!... Como ela pode me dizer isto depois de tanto tempo?... Não importa! Nada mais importa! — Severo fitou a pena por um minuto, e deixou seu coração explodir — Eu sei que importa.

Os exames foram fantásticos, tanto Lúcio quanto os outros se deram bem às minhas custas, mas eu não ligo. Amanhã é o tal passeio à Hogsmeade... Mal posso esperar para ver o que eles tem a me oferecer.

 

Foi mais difícil do que sempre pensei que seria. Com Lily na porta do Três Vassouras era onde Tiago se encontrava; E eu ainda tive que ser forte para... Passar por eles, a caminho do Cabeça de Javali, deixando Lily para trás. Olhei para trás diversas vezes, mas parecia em que nenhuma delas nossos olhares se cruzaram... E não sei se foi melhor assim. Afinal, se pudesse olhar nos olhos, mesmo que de longe, de minha pequena ruiva bondosa, talvez não conseguisse dar apenas mais um passo à frente... Talvez nunca mais quisesse encontrar Malfoy no Cabeça de Javali... Talvez nunca tivesse interessado naquilo que me espera.

Mas ela não me olhou. Nem de esguelha.

Malfoy e os meninos de olhares cruéis eram o meu futuro. Ou não eram¿ Mas já estava ali: Os cabelos sobre o olho esquerdo, a varinha escondida no bolso das vestes, as mãos suadas esperando que a apertem como da última vez... E os instintos que sempre foram tão aguçados, gritando dentro de minha cabeça, mas recuso a escutar o que eles querem dizer.

 

— Ele chegou, Malfoy, ele chegou! — exclamou Dolohov em sussurros quase que doentes enquanto a porta se abria lentamente no Três Vassouras.

De longe, Severo hesitou quando viu os lábios de Malfoy sussurrarem um “Ótimo” em resposta.

 

Mas não era hora para fraquejo, Diário! Eu tinha que apenas seguir em frente.

 

— Olá — ele disse, tão trêmulo quanto a própria voz. A cena da entrada se repetia na cabeça e deixava-o frustrado e confuso.

— Vamos — ele disse, sentando-se na mesa e indicando para sentar. Severo sentou-se rapidamente e esperou até que tudo fosse falado.

— Gostaria de se tornar um de nós, Severo¿ — ele começou, causando um mar de perguntas na cabeça do garoto. Ele sussurrou bobamente “achei que já fossemos amigos” e foi recebido com risadas roucas e gostosas da parte de todos. Então, apenas esperou novamente calado, em procura de paz e tempo — Conheceu Lord Voldemort, suponho... — rodou os dedos no antebraço. Os flashes de um bruxo ofidioglota com fendas no lugar dos olhos encheram sua mente, e o fez concordar, o coração cada vez mais apertado — Temos observado-o, Severo... Todos nós acreditamos que tem o potencial para... — ele abaixou a voz — Ter sua total lealdade.

Severo estremeceu, mas os outros não perceberem.

— Vai doer pouco, eu prometo... — finalmente abriu os botões na camiseta quase social por baixo do uniforme e tirou de lá uma varinha. Severo entrou em pânico, e arrastou a cadeira rapidamente, pulando para trás. Os clientes em volta olharam, todos muito surpresos para desviarem os olhos. Malfoy rodou os olhos pelo ambiente e esperou um pouco, então, com a voz pouco elevada, ele disse: — Ratos! Deixem-nos conversar!

E os sussurros baixos, outros baixos, encheram a sala novamente. Malfoy olhou para Severo — Sente-se, não vou fazer nada com você. 

Severo obedeceu e sentou-se, esperando que algo fosse dito. Mas o silencio arrebatador fazia todos os trinta segundos virarem dez minutos, até que Lucio cuidadosamente colocou sua varinha sobre a mesa, a mão pálida agarrada nela. Com um sussurro quase inaudível, ele encostou a ponta da varinha do braço de Severo. Foi bem leve, mas o último sentiu uma pintada forte onde que a pele tocou. Ele baixou a cabeça enquanto reprimia um “ai!”, evitando os olhos sorridentes de Lucio.

— Eu avisei que ia doer. — ele disse, e sem dó, rodou a ponta da varinha pela pele de Severo, onde uma marca vermelha apareceu e se estabeleceu uma caveira que pareceu estar em movimento. Severo encarou-a, o braço antes dolorido agora já dormente, já havia se tatuagem em seu antebraço. O último sussurro foi falado, e a varinha deixou de percorrer sua pele. A dor voltara excruciante, Severo gania baixinho com a dor que o queimava, mas Lucio não sorriu dessa vez. Nenhuns dos que estavam a sua frente sorriram.

— Isso foi um teste — Lucio disse cuidadosamente —, você pode sofrer muito mais por aquele que agora é o seu Mestre. — Severo levantou a cabeça assustado, mas não confuso. Ele sabia o que estava acontecendo, não era bobo, mas sabia o significado. — Nós o chamamos de Milorde ou Senhor, nunca o chamamos de outra coisa. — Sua voz foi abaixando-se — Nunca pronunciamos seu nome, não por medo, por respeito. Ele é um perfeito Legilimente, nossa lealdade tem que ser maior do que apenas atos, Severo. — Lucio encerrou.

O sino da porta tocou lá atrás, e todos da mesa se viraram para ver quem entrara. Na frente de outros, Pontas e Lily se encontravam sorrindo e brincando. Mas quando os olhos de Lily encontraram os de Severo, já vermelhos e suplicantes, o brilho dos dela se apagara, e ela saiu do Pub correndo, as mãos no peito e as esperanças desfeitas.

 

Lily saiu chorando... E eu não pude fazer nada. Malfoy não se demorou a colocar a ponta da varinha no meu rosto, e mandar-me ficar aqui. Eu obedeci... Eu obedeci! Não acreditaria se não fosse eu mesmo naquele momento, se bem que eu não era. Tiago Potter me olhou com espanto, tentou correr atrás de Lily, mas bateu de costas na parede na saída do pub. Depois disso, ele saiu correndo. Eu me juntei a eles, agora, eu era um Comensal... Talvez o mais desonroso Comensal que o Lorde das Trevas já ousou aguardar em seu lado. Eu sou o sujo, eu sou o decepcionado, eu sou o desalmado... Eu sou Severo Snape.

 

                                                                                     Ou o Príncipe Mestiço; Você escolhe. 



FIM

 

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