Chapéu Seletor
Estava no trem conversando com Suzana quando um menino da nossa idade branquinho e com bochechas rosadas abriu a porta do vagão perguntando se tínhamos visto seu sapo. Tadinho, pensei, tem um sapo como bicho de estimação e perdeu o bicho...ainda bem que eu tenho uma coruja. Falamos que não tínhamos visto, mas que se encontrássemos o animal guardaríamos para entregar pra ele.
Continuamos nossa conversa, agora falávamos do Beco Diagonal, das coisas maravilhosas que tinham lá, da nova Nimbus 2000 – sempre gostei de quadribol, em muito por influência do meu pai, que foi batedor na época da escola – e de como o Seu Olivaras era um homem engraçado. Ela me mostrou sua varinha, mogno 27 cm, flexível com núcleo de corda de dragão, nada extraordinário ou diferente, mas era sua varinha e ela exibia feliz enquanto me pedia pra mostrar a minha à ela. Abri minha bolsa com um sorriso - eu amava cada centímetro da minha varinha, ela era diferente de todas as varinhas que eu já tinha visto – e pela reação de Suzana, também era a mais distinta que ela já vira.
- Noooosssaaa! Ela é meio prateada! De que ela é feita?
- A madeira é de Araucária, uma árvore que dá muito na parte sul da América do Sul – repeti o que Seu Olivaras tinha me dito – por isso que ela tem essa cor meio prateada, 32 cm, levemente flexível, e o núcleo dela é duplo, feito de uma pena de pavão albino e um fio da cauda de um filhote de unicórnio.
- Poxa! Nunca tinha ouvido falar em uma varinha dessa madeira estranha...E núcleos duplos são raros não são?
- Seu Olivaras me disse que essa foi a única varinha que ele conseguiu fazer deste material, que essa madeira é muito difícil de trabalhar. Até onde ele sabe é a única varinha no mundo feita desse material, e o núcleo duplo é raro sim, mas mais raro ainda é o fio de unicórnio ser de um filhote e não de um adulto..
- Eles são lindos né? Dizem que quando pequenos são todos dourados.
Quando ia começar a falar sobre unicórnios – sou apaixonada por eles, e fico muito feliz que existam nos dois mundos, ainda que no trouxa sejam apenas “seres imaginários” – uma menina com cabelos castanhos e dentes grandes abriu a porta do nosso vagão interrompendo a conversa.
- Vocês viram um sapo? Neville perdeu o dele...
- Não – respondemos juntas – e ele já passou por aqui procurando o bichinho.
Seus olhos recaíram sob minha varinha, e um ar curioso tomou seu rosto.
- Que varinha diferente essa sua... Nunca li sobre varinhas assim, prateadas.. Do que ela é feita?
Sorri para Suzana, que contou para a menina tudo o que eu havia acabado de lhe explicar. A morena sorriu e achou incrível a idéia de uma única varinha ter sido feita deste tipo de madeira.
- Qual o nome de vocês?
- Suzana, Suzana Bones.
- Giulia, Giulia Rosier. E o seu?
Ela me encarou como se eu fosse um fantasma, ficou vermelha, fez uma cara que era uma mistura de susto, nojo e apreensão, a mesma que aquele menino ruivo tinha feito na estação ao ouvir meu sobrenome. Meus olhos se encontraram com os dela, que baixaram no momento em que ela respondia quase que num sussurro:
- Hermione, Hermione Granger.
Era a nascida trouxa mais inteligente de Hogwarts, futura melhor amiga de Harry Potter, eu sabia quem era essa menina! Sua imagem apareceu bem mais velha, com cabeças ruivas a cercando na estação 9 ½ a chamando de mãe, o rosto do tal Ron da estação pairava ao seu lado dando tchau para os filhos. Sorri, era o primeiro momento que essas lembranças do futuro me mostravam algo positivo, eles iriam se casar... Só para confirmar perguntei:
- Você é nascida trouxa não é?
Percebi que isso foi um erro quando Hermione ficou pálida, assentiu e saiu da nossa cabine. Ela certamente lera a história da família Rosier em algum livro antes de ir pra escola, eu sabia que quase tudo sobre minha árvore genealógica por parte paterna poderia ser encontrada em livros – a por parte da minha mãe também, mas não no mundo bruxo. Me levantei depressa - sem nem explicar pra Suzana - abrindo a porta da cabine e apertei o passo no corredor tentando alcançá-la, vi seus cabelos cheios ao vento e falei:
- Espera Hermione! Desculpa! Não quis te ofender – falei esta última parte baixo, pois certamente ela já havia decidido que não iria falar comigo.
Voltei andando pelo corredor pensando em deixar de usar o Rosier como sobrenome para me apresentar. Mas que droga! Só por que eu tinha parentes estúpidos não significa que eu também pense que nem eles. A imagem de Draco não veio na cabeça, mas bateu de frente comigo no corredor do trem, nem pedi desculpas. “Olha por onde anda mestiça imunda” foi a única coisa que eu ouvi antes de entrar na cabine.
- Giu, por que ela ficou daquele jeito? Por que você saiu correndo daqui?
- Eu me apresentei como Rosier e perguntei se ela era nascida trouxa. – Suzana ainda me fitava sem entender – No mundo trouxa – continuei – sempre me apresentei como Rosier, pois o sobrenome não dizia nada, era muito mais importante ser uma Smith, e eu nunca gostei de ser paparicada por ter simplesmente nascido. Minha família por parte de pai, Rosier, é cheia das frescuras de sangue-puro etc, então muita gente acha que eu sou assim só por ter o mesmo sobrenome.
- Mas Smith não é trouxa? Sua mãe não é uma nascida trouxa? Isso significa que você não é sangue-puro, é mestiça...
- Exatamente! Mas as pessoas muitas vezes nem querem parar pra prestar atenção....só me julgam direto pelo sobrenome idiota do meu pai. Ele não tem preconceitos poxa vida, casou com a mamãe que é nascida trouxa, eu sou mestiça...
- Esquece isso Giu! Quando eles te conhecerem na escola vão ver como essa história de sangue puro não tem nada a ver com você!
Suzana tentava me animar, acho que como isso não pareceu adiantar muito ela partiu para o método da distração.
- Vou tentar te mostrar um feitiço que eu treinei durante as férias! Não sei se vai sair muito bom, eu só consegui umas duas vezes...
Arregaçou as mangas e apontou para a caixa de Feijõeszinhos de Todos os Sabores, sacudiu a varinha em um movimento circular e muito concentrada disse:
- Vingardium leviosA!
Nada aconteceu... Então: “É leviOsa, e não leviosA” parecia que Hermione estava do meu lado me dizendo aquilo, mas eu sabia que as palavras não eram pra mim. Resolvi arriscar:
- Acho que é leviOsa, com o “o” mais forte que o “a”. Deixa eu tentar..
Peguei minha varinha cor de prata e fiz o movimento.
- Vingardium leviOsa
Imediatamente a caixa começou a flutuar e todos os Feijões se espalhavam pelo chão, pois levantei a caixa aberta de cabeça para baixo. Nós duas sorrimos diante do sucesso. Agradeci Hermione em pensamento e decidi que guardaria essas “previsões” para mim, quem sabe eu não poderia tirar vantagem disso em aulas?
Fizemos tudo levitar pela cabine, rindo muito enquanto sapos de chocolate se debatiam no ar. Percebemos então que tínhamos que trocar de roupa e colocar nossos uniformes. Catamos os Feijões do chão usando vingardium leviosa – o que facilitou bastante, pois tinham uns escondidos de baixo do banco – não queríamos deixar o nosso vagão sujo. O trem parou, pegamos nossas bolsas e saltamos.
O enorme guarda-caças – já sabia que se chamava Hagrid, tinha o visto em minha mente – chamava os alunos para a beira do lago para entrarmos nos barcos e finalmente alcançarmos o castelo. Fazia uma noite linda, o céu azul bem escuro estava salpicado de estrelas muito brilhantes e uma lua cheia iluminava o trajeto do barco pelo lago. No momento em que se tornou possível ver o castelo escutei um “ohhhhhh” geral por parte dos alunos; realmente era uma visão muito bonita.
Hagrid nos encaminhou até uma senhora que usava um chapéus cônico com cabelos bem presos. Professora McGonnagall, diretora da Grifinória. Ela dirigiu a todos um olhar rígido, podem nada grosseiro, apenas mostrava que ela era alguém que deviam obedecer, mas não temer. Explicou que dentro de instantes ela voltaria e estaríamos entrando no salão principal para sermos selecionados para as casas: Sonserina, Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa. Logo que a professora saiu, ouvi a voz arrogante do meu primo confirmando aquilo que eu já sabia: Harry Potter começaria a estudar em Hogwarts aquele ano (pelo o que eu vi, ele estava bem perto do Ron).
A professora voltou e nos levou para o salão principal cujo teto havia sido enfeitiçado para parecer o céu, isso estava em Hogwarts: Uma história – eu nunca tinha lido, mas tinha a lembrança de Hermione dizendo isso, assumi que era verdadeiro. Paramos depois de todas as mesas, um banquinho de madeira e um chapéu velho nos aguardavam para a seleção que seria feita por ordem alfabética*. Suzana foi selecionada para a Lufa-Lufa sem demora, Hermione Granger foi rapidamente colocada na Grifinória. O Neville do sapo foi pra Grifinória também. Meu primo nem precisou colocar o chapéu, obviamente foi para Sonserina. Reparei que os Sonserinos recebiam poucos ou quase nenhum aplauso das outras mesas, e também não aplaudiam as outras pessoas. No momento em que Harry Potter foi chamado o salão praticamente parou, ele se sentou no banquinho sob o olhar atento de todos e ficou lá, muito mais tempo do que qualquer um tinha ficado e por fim o chapéu falou alto: Grifinória! Eu sabia que tinha cogitado enviar Harry para a Sonserina e que o menino havia que pedido para ir para outra casa. Perdida em pensamentos, só percebi que me chamavam quando Mc Gonnagall disse meu nome pela segunda ou terceira vez. Sentei no banquinho e o chapéu se afundou na minha cabeça.
“Hmmm família tradicional...Que mente distinta, quanta confusão..interessante. Corajosa...enfrenta seus medos e encara os outros de frente, será que faria isso pelos outros além de por si mesma? Grifinória seria uma boa opção...Mas é dotada de uma inteligência extraodinária...hum...resta saber pra que lado vai desenvolver...hmm...Corvinal talvez... Lufa-Lufa definitivamente não é a sua casa... Seu lado Sonserina é bastante forte, é esperta e ambiciosa, mas não é arrogante... o que é bem estranho...”
Sentia o calor de todos os olhos do salão sobre mim...Será que seu eu pedir “sonserina não” ele aceita? Decidir não fazer o pedido. Uma casa não definiria quem eu sou, meu pai era um sonserino sangue-puro que se casou com uma corvinal nascida trouxa. E o chapéu continuou tagarelando na minha cabeça. Mesmo assim meus ombros estavam tensos diante da possibilidade de ir para a casa da serpente.
“Seu lado Grifinória não entra em conflito com seu lado Sonserina, você tem o que unia Salazar Slitheryn e Godricc Gryffindor... As duas casas correm no seu sangue,- Como assim? Grifinória? Talvez tenha algum grifinório na família, não sei...para mim meu sangue era parte Sonserina e outra Corvinal, devia ser algum rebelde da família do meu pai -o ideal seria ser possível que você ficasse em duas casa e não em uma só... Sua criação é diferente da maioria dos sonserinos... Acho que já cheguei a minha decisão. Sua casa será ...”
Apertei os olhos ainda mais esperando o chapéu falar alto o nome da minha casa.
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