Sirius Black



O vento não passava em minha cela, e quase não tinha oxigênio. Eu respiro com dificuldade e dor, não sinto mais vontade de viver. É como se tivesse levado um beijo de dementador, mas ainda podia lembrar-me dos momentos ruins de minha vida, então, eu sei que estou vivo.
Mal os dementadores sabem que aprendi a Oclumencia quando jovem, então, ainda guardo alguns ouros no subconsciente... Como o casamento de Tiago e Lilian... E o dia em que descobri que ia ser padrinho... Minha primeira paixão, a Lene...
O que mais me incomodava – além da minha sede e minha raiva por injustiça – era o fato que minha existência passava despercebida. Talvez, porque a única pessoa que eu tinha uma relação familiar, não sabia nada a respeito. Esse lugar... Ele toma todas as minhas esperanças de que um dia encontraria Harry. Mas com minha experiência, eu já devia saber disso... Eu tenho flashes dos piores momentos de minha vida sempre que um dementador se aproxima de mais. Prestes a me dar um beijo... Eu me espanto com minha capacidade de resistir. 
Eu fecho meus olhos, e penso em como seria só... Ir embora. Ir embora... Seja deste mundo, seja deste lugar. Mas sempre que essas coisas chegam perto de mim, eu me pergunto o que Tiago faria. E então, eu resisto. Eu resisto por Tiago, que foi morto em vão, porque eu não deixaria me render.
A luz... Naturalmente queima meus olhos. Quando amanhece, parece que nunca acaba. Minha barba estava por fazer, já que não tenho nenhum tipo de lamina ou qualquer coisa que possa servir, por perto. Meus cabelos estavam sujos e desgrenhados, cansei de dormir no chão. Minha cela é espaçosa, o bastante para me alongar quando necessário. Meus companheiros são pouco barulhentos... Quando eu grito, significa que alguns já gritaram antes. E quando eu choro, não é por fraqueza.
Hoje, o amanhecer não era quente, estava razoável pela primeira vez desde que cheguei aqui. À tarde, foi calma. O que significa que os dementadores estavam alimentados. Mas a noite... Foi minha fuga.
Tinha acabado de chegar um novo detento em Azkaban. Ele estava cheio. Cheio de esperança, cheio de lembranças felizes, cheio de tudo que nenhum que nós tínhamos. Os dementadores não hesitaram. Os da minha cela, foram os primeiros a chegar, depois, foram se juntando lentamente dois a dois em torno do homem. Escutava seus gritos, e depois, escutava seu silencio. Tinha certeza que levaria um beijo ainda hoje, mas tinha pouco tempo.
Eu queria realmente ajudá-lo. Abaixar meu campo de força mental e os deixar levarem tudo o que tinha... Mas eu já fiquei aqui por muito tempo. Pensei em quantas pessoas ele torturou para chegar até aqui... Um pensamento egoísta é claro, considerando que podia ter acontecido quase o mesmo que aconteceu comigo... Mas eu não liguei.
Muitos dos meus visinhos desejariam ter feito o mesmo. Mas todos se encontravam acabados, no fim obscuro de suas celas. Alguns famintos, alguns magros, mas todos com o mesmo olhar de inveja no rosto. Os dementadores não olharam para trás quando saí. Não tinha nada para farejarem. Desta vez, eu viveria como mereço.
Eu iria atrás de Harry... É... Eu iria atrás de Harry. 

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