A verdade



                “ ‘Como sabe disso?’ perguntei. Sei que é falta de educação responder uma pergunta com outra pergunta, mas foi a única saída que encontrei. ‘Ora, não é obvio? Já cuidei de outros que vieram até aqui.’ Respondeu Paul. Foi ai que notei que Paul estava apavorado. Ele não queria que ninguém soubesse que ele matara a garota, então qualquer pessoa que aparecesse lá (mesmo que, talvez, não soubesse de nada), ele simplesmente matava.


                “ ‘Mas você é um fantasma! Como você consegue matar as pessoas?’ perguntei. ‘Não sei. Eu simplesmente as mato. Alguns caem duros no chão sem eu nem ao menos ter tocado neles.’ Respondeu Paul um tanto pensativo. ‘Você consegue tocar nelas?’ perguntei, cada vez ficando mais confuso. Paul chegou mais perto de mim e tocou em minha testa, seu dedo gelado tão sólido quanto o meu. ‘Isso responde sua pergunta?’. A essa altura eu estava tão confuso que minha cabeça girava. Eu estava muito quieto, e Paul estava ficando impaciente.


                “ ‘Agora me diga: onde está Paola?’ perguntou Paul, aflito. ‘Gostaria muito se pudesse vê-la e pedir-lhe perdão. Dizer-lhe que o que fiz não foi intencional, e que eu ainda a amo.’ Olhei-o no fundo de seus olhos, e meu estômago deu uma volta quando eu vi que o que ele dizia era verdade. ‘Me conte a verdade’ pedi.


                “ ‘Desde que a vi pela primeira vez não fui o mesmo. Me apaixonei perdidamente por ela assim que vi seus lindos olhos castanhos cheios de vida e amor. Depois de semanas à bordo, decidi me declarar então, enviei-lhe uma carta, pedindo para que ela fosse até a minha cabine para conversármos. Passaram-se dias e mais dias, e a cada dia que passava meu coração se esfarelava mais, e eu sentia que estava morrendo. Pedi para as serventes me levarem um bom wiskey de fogo até a minha cabine, e então ela finalmente apareceu. Fiquei tão feliz! Mal conseguia acreditar que ela tinha aceitado o meu convite. Peguei em suas mãos e a trouxe para dentro da cabine e tranquei para que ninguém atrapalhasse o meu pedido de casamento. Enquanto estavamos um para o outro, ela se inclinou para mim e eu pensei que ela queria me beijar mas, quando eu a beijei, ela resistiu. E foi nesse momento que eu perdi o controle de meus atos. Eu a desejava tanto que não consegui me controlar, e óh, como me arrependo! Eu usei a força para... para...’ sua voz agora era um sussurro choroso, sua voz embarganhada pelas lágrimas que queriam lavar seu rosto.


                “Eu o encarava sem crer cem por cento no que ele me dizia, e ele notou isso. ‘Acredite em mim!’ implorou Paul ‘Eu a amava mais do que tudo, realmente não queria ter feito aquilo. Nossas vidas continuariam normalmente e nós nos casaríamos... Mas a coitadinha estava tão exausta... Eu nunca me senti tão mal quanto quando eu a vi naquelas condições. Levantei-me para ajudá-la, mas suas pernas não aguentavam seu peso, e ela caiu e bateu a cabeça, e o desespero tomou conta de mim imediatamente. Ela caiu novamente, não se mexia mais. Ela havia morrido. O que aconteceria a mim se as pessoas soubessem que eu a matei? Olhei em volta e tive uma ideia. Arranquei as tábuas do chão e a peguei no colo. Enrrolei-a em um cobertor velho para que ela ficasse mais confortável, mesmo sabendo que ela estava morta. Antes de esconde-la beijei-lhe a testa e orei para que ela ficasse protejida. Fiz um feitiço para que seu corpo continuasse preservado, não queria que seu corpo sofresse.


                — Você acreditou nele, Nick?


                — Claro que sim, Harry! Ele dizia a verdade. Estava cego de amor pela garota, seus olhos não mentiam. Mas a história não acaba ai. Ele ficou quieto por alguns segundos antes de continuar:


                “ ‘Eu não suportava a ideia de viver com a culpa de ter matado a mulher que eu amava. Decidi unir-me a ela no céu (mesmo que, parte de mim, soubesse que eu com certeza iria para o inferno) e então vim para cá, construi uma forca e então, com o sorriso dela brilhando em minha mente, eu me matei.’”

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.