A cabine
“Desesperado, olhei em volta em busca de algo que me ajudasse a arrancar as tábuas do chão da cabine. Não havia nada. Me ajoelhei onde a garota indicava e logo notei que as tábuas ainda estavam ligeiramente soltas, mas com alguns pregos a mais do que as outras. Arranquei-as e não tardei a encontrar o corpo da garota enrrolado em um cobertor surrado, exatamente como a garota me dissera. O curioso é que o corpo ainda não havia se decomposto, então deduzi que Paul jogara um feitiço para que ninguém descobrisse o corpo maltrapilho da garota.”
— Puxa, Nick! – exclamou Harry – E o que houve com a garota?
— Para ser sincero, achei que assim que eu tirasse seu corpo daquele lugar sua alma descansaria em paz. Mas isso não aconteceu. Havia algo errado. E eu sabia o que era: Paul tinha que pagar pelo o que fez. Tinha sim.
— Mas Nick, por que ela não escolheu outra pessoa para fazer isso? Por que você?
— Há anos ela pedia ajuda para os homens que entravam naquela cabine, mas a maioria era covarde demais para ajudá-la. Acho que o Rei me mandou para aquela cabine de propósito. Isso me encomodou muito, e eu pensei em largar mão de ajudá-la, só para mostrar ao Rei que não era assim que as coisas funcionavam, sabe? Mas a cada vez que eu olhava para aquela garota meu coração me dizia para ajudá-la, e foi o que fiz (ou ia fazer). Meus dias eram normais, e por vezes eu esquecia de procurar informações sobre Paul.
— Mas a garota era um fantasma! Ela com certeza sabia sobre a vida de toda a tripulação.
— Na verdade não, Harry. Talvez fosse por causa do feitiço ou por causa de seu corpo naquela cabine, mas ela não conseguia vagar para mais longe do que um corredor de distância da cabine. Ela simplesmente não conseguia. Apenas no instante em que seu corpo pútrido foi libertado que ela adquiriu tal "dom". Mas ela preferiu não ficar vagando pelo navio. Não queria causar mais medo.
— Então, você teve que começar do zero? Sozinho?
— Sim, Harry. Mas, francamente, eu não estava muito preocupado. Mas as coisas aconteceram de repente, sem eu saber.
“Eu estava com meus camaradas tomando um bom wiskey envelhecido. Nós gostávamos muito de fazer isso. E então, sabe-se lá como, entramos no assunto de assombração. ‘Essa ilha em que iremos ancorar... Dizem que há uma assombração lá. Todos os homens que desceram para lá nunca mais voltaram.’ Disse Marcus. É claro que eu me interessei, então perguntei se ele sabia algo mais sobre essa tal assombração.
“ ‘Dizem que ele era um cara apaixonado e algo aconteceu com sua amada’ contou-me ele com um tom sombriu. ‘Ele foi para a ilha e se matou, pensando que descansaria em paz. Tamanha foi sua raiva quando soube que teria que concertar algo aqui, em vida ou em morte, ele escondeu seu corpo para que ninguém o encontrasse, e desde então atormenta todos que vão até lá.’ E então, uma ideia veio a minha mente. Eu já sabia por onde começar, e isso me animou”
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