Ataque ao nº4



De todos os anos em que viveu naquela casa, não se lembrava de uma tempestade tão violenta e nem de um céu tão negro como o daquela semana. Fazia três dias que a chuva não amenizava. Três irritantes e cansativos dias de frio e ventos fortes que castigavam as janelas do quarto.


Harry já havia perdido a noção de quanto tempo estava estirado em cima da cama. Edwiges, sua coruja das neves dormia tranquilamente enquanto o garoto olhava para o teto pensando em tudo aquilo que já havia passado. Desde seu retorno de Hogwarts, ele havia entendido definitivamente qual era o seu destino. Dumbledore havia morrido, Sirius havia morrido e agora ele sabia que enquanto não se afastasse de todos, mais daqueles que amava teriam o mesmo destino de seu padrinho e seu mentor.


O mundo mágico estava em guerra, e como se as coisas já não parecessem ruins o suficiente, agora parecia que Voldemort e seus comensais estavam cada vez mais interferindo na vida dos trouxas. A todo o momento chegavam noticias de pessoas desaparecidas, assassinatos, lojas, casas e comércios em geral que eram destruídos ou incendiados. Jornais de todos os cantos insistiam em noticiar estas catástrofes como situações comuns, ou alguma conspiração de grupos revolucionários. Seja lá o que estivesse acontecendo no Ministério da Magia, certamente não estava sendo suficiente para evitar que a tragédia se espalhasse.


Harry precisava fazer alguma coisa. Ninguém o informava dos acontecimentos, seus amigos o haviam abandonado, ele não recebia cartas e parecia que por conta de toda a pressão que estava sofrendo do Ministério, a Ordem nada podia fazer para evitar mais desgraças. Era certo que enquanto Cornélio Fudge, o incapaz ministro da magia insistisse em reprovar as ações da Ordem, as coisas continuariam de mau a pior.


Quando já havia perdido a noção do tempo, os devaneios de Harry foram interrompidos por um estrondoso grito no andar de baixo.


“Merda” pensou o garoto, esses infelizes não cansam de gritar e berrar toda a vez que uma nova noticia chega pela televisão.


Fazia tempo que os Dursley’s não o incomodavam. Na verdade parecia que a melhor saída que haviam encontrado era simplesmente fingir que o garoto não estava ali, o que na verdade era ótimo para Harry.


Enquanto ele voltava a encostar-se aos travesseiros, outro grito ecoou pelo andar de cima da casa e pela fresta da porta Harry enxergou um clarão bem familiar.


“Merda” pensou de novo, mas dessa vez com certeza não estavam sendo apenas notícias ruins acontecendo na sala. Harry apanhou a varinha em cima da cama e correu para a porta que nesse momento explodiu em estilhaços que fizeram o garoto ser lançado contra o armário. Atordoado, Harry recolocou os óculos no lugar e sentiu um fiapo de sangue correr pela testa. Alguém explodira sua porta, então com certeza iriam entrar e acabar de vez com toda essa tortura. “Como foi que esses safados conseguiram entrar?” a proteção que sua mãe havia lhe dado, impedia que qualquer um ligado a Voldemort entrasse na casa. O que estava acontecendo? Onde estavam os Dursley? Rapidamente Harry pensou. Passos vinham em direção ao quarto do garoto que correu ainda atordoado pela explosão da porta e se atirou pela janela. Caiu com um baque surdo em meios as flores e plantas exóticas que sua tia tanto se orgulhava. Aquilo não era coisa para se pensar naquele momento, mas Harry não pode deixar de pensar em como estava contente por ter destruído aquele jardim.


Pelo breve momento que ficou estendido sobre as rosas e orquídeas, Harry percebeu o quanto a rua estava escura. Ele devia ter percebido que alguma coisa havia acontecido, todas as casas estavam escuras e só o numero 4 da Rua dos Alfeneiros continuava com luz. A chuva fria rasgava o rosto de um Harry atordoado que tentava pensar no que fazer o mais rápido possível. No meio de um devaneio, outro grito veio de dentro da casa, um grito de homem que parecia estar enfurecido, o grito se seguiu de outros clarões e parecia que metade do quarto do garoto havia se despedaçado e voado pela janela.


- O infeliz está aqui – berrou alguém que havia acabado de surgir da porta lateral da casa


Harry não teve tempo de olhar, rolou para fora do jardim que era incendiado pelo feitiço que chegou a chamuscar o casaco ensopado. Enquanto o garoto dava a volta pela casa, outros gritos de comando eram ouvidos e mais um feitiço estourou em cheio o vaso que o garoto pulava no meio do caminho. Alguém definitivamente tentava alcançá-lo sem sucesso, uma vez que Harry conhecia a casa como ninguém. Estava chovendo e a noite já havia caído. Harry parou bruscamente e se atirou atrás da mureta que separava a casa lateralmente. A chuva dificultava a visão do garoto que tentava desesperadamente enxugar os óculos. Tentava ficar em silencio e ouvir os passos molhados de seu perseguidor e por isso não podia pronunciar nenhum feitiço antes do tempo. Harry se rastejou para mudar de posição, a única forma de saber quem o estava atacando era fazer de conta que realmente estava sem saída atrás da mureta. Os passos se aproximavam e pela fresta da madeira Harry pode ver uma calça jeans surrada e uma capa de chuva cinza que caia esfiapada pelo corpo do atacante.

 “Não estão vestidos com as capas de comensal? Então quem são estes miseráveis”.


Quando ainda pensava na situação, uma varinha surgiu pela beirada da mureta bem devagar. Era agora!


- Expelliar....ahhh!! – o feitiço morreu na garganta de Harry, enquanto sua varinha era atirada no chão e uma mão grande e poderosa agarrava o garoto pelo pescoço e o levantava devagar.


- Ia usar sua varinha para que pequeno verme? – perguntou o homem com o rosto meios escondido pela capa de chuva que escorria água pelas bordas – e você infeliz, saia daí! Se eu não tivesse aparecido você teria sido estuporado e não teria percebido.


O homem deu a volta calmamente pela mureta com a varinha apontada para o peito de um Harry ainda mais tonto e agonizante.


 - Estava tudo sob controle – falou o encapuzado com o sorriso aparecendo por de baixo do capuz – Agora solte ele antes que você o mate


O homem largou Harry que caiu desesperado no chão tentando respirar novamente. Ele sabia que precisava sair daquela situação, para isso era preciso que os dois homens achassem que eles estava indefeso demais para reagir.


- Quem são vocês? – perguntou Harry tentando sorver o ar frio que vinha junto com a chuva incessante – onde estão meus tios?


- Cale a boca Potter! Não quero ouvir nada...logo você vai saber onde estão os trouxas, agora cale-se ou eu farei questão de deixar que o meu amigo aqui termine de esmigalhar sua garganta.


Na momento em que o homem parou de falar, Harry teve um estalo de consciência que o deixou ainda mais preocupado. Ele conhecia aquela voz! Com a capa cobrindo o rosto, a chuva que não parava e a escuridão da noite, impediam que ele identificasse o homem, mas ele com certeza já ouvira aquela voz, mesmo que não fosse um comensal, aqueles dois homens poderiam já ter matado seus tios, e na certa o levariam para Voldemort.


Na rua, tudo continuava escuro. Ninguém aparecia nas janelas procurando entender o porque da queda de energia. Na verdade era melhor assim, se alguém visse homens com varinhas na mao, lançando jorros de luz para todos os lados, com certeza as coisas iriam ficar piores.


O homem que havia perseguido Harry pela casa continuava com a varinha apontada para ele, enquanto o outro se preocupava mais em continuar lhe segurando no chão.


- Gael! – gritou o homem magro que apontava a varinha


No instante seguinte um outro homem encapuzado aparecia mancando na varanda lateral da casa dos Dursley


- Estamos prontos para sair A’hal – respondeu ele com voz rouca e embargada pelo que parecia ser uma gripe das grandes


O gigante que agarrara Harry deu uma breve risada enquanto soltava o garoto e se levantava espalhando água da capa para todos os lados.


- Viu verme! Os trouxas que moram com você vão viver, e com certeza nunca mais vão se lembrar de você....


Harry recebeu a informação como algo que nunca havia pensado. Então era isso, seus tios estavam vivos, mas haviam sido enfeitiçados para que nunca mais se lembrasse dele. Ele estaria livre para sempre, não precisaria mais viver com o peso de ter uma família que o conhece, mas fazia questão de não lembrar em momento algum.


- Vocês apagaram a memória deles? – Harry perguntou enquanto tentava se levantar do chão empoçado – Por quê?


A’hal, o homem que ainda apontava a varinha para um Harry, sorriu por debaixo do capuz enquanto pensava na estratégia perfeita que havia montado para capturar o menino que sobreviveu.


- Nós vamos levá-lo garoto. Nesse momento, vários aliados estão prendendo a atenção daqueles imprestáveis amigos que você tem na Ordem da Fênix – falou o homem calmo – e nós estamos aqui, livres! Capturando você, e fazendo com que seus tios não se lembrem de nada. Assim não corremos o risco de que eles resolvam chamar um de seus amigos para reclamar seu sumiço.


Gael que ainda respirava profundamente encostado na varanda gargalhou abertamente enquanto olhava um confuso Harry que tentava entender toda aquela situação.


- Quando aqueles bruxos incompetentes derem falta de você, tudo terá terminado!


- Agora chega – disse A’hal – vamos sair daqui antes que alguém apareça!


Harry não podia ir com eles, precisava fazer alguma coisa absurda para fugir. Não faria diferença agora, correr para salvar seus tios, eles ficariam bem e depois ele se preocuparia com a memória deles.


Harry se concentrou. Dumbledore várias vezes o havia dito que ele tinha muita magia concentrada dentro dele, aquela magia era canalizada em momentos de fúria e para que conseguisse fazer feitiços sem utilizar a varinha, eram necessários décadas de treinamento. Ele não tinha o que fazer, a não ser que...


O gigante pegou novamente Harry pela gola da camisa e olhou bem dentro dos olhos do garoto. O homem tinha o rosto enorme e coberto de cicatrizes, por um momento Harry lembrou de Olho-Tonto.


- Acabou para você verme! Tem alguém ansioso para te ver.


Era isso que ele precisava, Harry pensou na realidade que estava vivendo, pensou no sofrimento que havia passado para chegar até ali. Desde que havia descoberto que era um bruxo, passou por provações mortais todos os anos. Inúmeros bruxos das trevas sonhavam com o dia em que ele seria morto. Era crucificado pela única família que lhe restava, havia perdido o maior mestre que poderia querer, além de ter visto o padrinho sumir para outro mundo bem diante de seus olhos. No mesmo instante em que tudo passava pela sua cabeça, Harry pensou nas situações em que passava por muita fúria, as horas em que tinha demonstrações involuntárias de magia mesmo sem perceber.


Quando o gigante o jogou por cima dos ombros, Harry fechou os olhos e se concentrou o máximo que pode. Em um momento, um ruído agudo rasgou os ouvidos dos dois homens que se encolhiam de agonia, no instante em que Harry abria os olhos para ver o que estava acontecendo, os vidros das janelas laterais da casa explodiram em estilhaços que despencaram do primeiro e segundo andar. O homem imenso largou Harry no chão com força enquanto tentava se proteger da chuva de vidro que caia sobre ele.


Uma onda de fúria desceu sobre o garoto que também se encolhia no canto da casa. Harry levantou a procura de uma varinha quando um faixo de luz roxa passou rápido por ele, indo em cheio de encontro ao peito de A’hal. Sem tempo de ver o que havia acontecido, Harry correu até o gigante que se contorcia devido ao ruído intenso e apanhou sua varinha das vestes esfarrapadas.


- Avada Kedavra – Harry ouviu Gael, o homem que havia pulado da sacada para o chão na lateral da casa gritar enquanto um faixo de luz explodia o vaso que Harry havia acabado de se abrigar.


Na parte da frente da casa, de onde havia vindo o feitiço que derrubara A’hal, uma luta aparentemente violenta estava sendo travada. “eles vieram me ajudar” pensou Harry.


- Harry! – o garoto ouviu alguém gritar desesperadamente por seu nome – Harry!


A chuva não o deixava ouvir o que estavam tentando dizer, enquanto isso, Gael lançava feitiços intermitentes contra o garoto que se atirava de um lado a outro das muretas que separavam a casa dos Dursley. Por entre os destroços de muro que se estilhaçavam e voavam pelo ar, Harry podia ver A’hal que havia sido atingido, sentando no chão enquanto balançava a cabeça devagar. Outro feitiço se chocou contra o abrigo de Harry que cortou o rosto com um pedaço de pedra.


“Droga” pensou ele. Eu preciso me livrar desses dois. Os feitiços continuavam a estourar ao redor enquanto o segundo assassino tentava recobrar os sentidos e se levantar devagar.


Na frente da casa estavam precisando dele. Harry ainda não sabia quem tinha vindo em seu auxilio, mas ele precisava ir ajudar. Com força Harry segurou a varinha e saiu de trás da proteção de tijolo que o cercava. No instante em que localizou seu atacante, um feitiço laranja flamejante veio em sua direção.


- Protejo! – sussurrou Harry com calma


Outro feitiço veio e foi bloqueado por um escudo da rainha que Harry conjurou sem pronunciar uma única palavra. Irritado, Gael berrou furioso enquanto conjurava um Avada Kedavra negro que disparou contra o bruxo.


Harry não tinha poder suficiente para bloquear um feitiço da morte pronunciado com tamanha fúria. Num gesto de instinto e agilidade, Harry se atirou no chão rolando para o lado com uma velocidade impressionante e já apontando a varinha para o oponente.


- Bombarda.... – falou ainda com calma. O feitiço percorreu o caminho entre eles devagar como se tudo estivesse em câmera lenta. Gael brandiu a varinha com destreza enquanto um escudo tênue surgia de sua varinha, mas era tarde demais, o jorro de luz vermelha de Harry foi repelido pelo escudo, mas não completamente e explodiu sobre o homem que foi atirado contra a parede da casa.


Harry levantou rápido a tempo de ver A’hal que recobrara os sentidos, apontar a varinha para ele. Harry bloqueou o feitiço e conseguiu responder com um feitiço estuporante que atingiu de raspão o ombro do homem. A’hal sorriu por entre os dentes enquanto com agilidade também lançava um estupefaça que foi rápido demais para Harry que foi lançado por cima da cerca viva da casa.


Harry sentiu a cabeça se chocar contra o chão e olhou para cima atordoado. Estava prestes a desmaiar enquanto a chuva batia fria contra seu rosto entorpecido. Pelo canto do olho ele viu A’hal se aproximar com a varinha em punho. O homem balbuciava algum feitiço que o garoto não conseguia entender, ele não ouvia nada, tudo estava escurecendo quando o homem foi levantado do chão por alguma força invisível. Enquanto seu corpo era envolto em cordas firmes, A’hal berrava de dor, e logo em seguida desfaleceu na grama ensopada do jardim. Harry tentou fazer força para ver quem havia feito aquilo, que feitiço havia sido aquele que o garoto nunca havia visto.


Por detrás da cerca, Harry viu três figuras envoltas em capa e máscara branca surgirem por entre a cerca de plantas. Um dos vultos se abaixou ao lado de Harry enquanto outro conjurava um guarda chuva sobre o garoto que já não reconhecia mais nada a sua volta


- Ele é mesmo Harry Potter – falou uma das figuras – nunca vi ninguém resistir por tanto tempo a um feitiço estuporante com aquela força.


A pessoa abaixada ao lado de Harry levantou a máscara, mas Harry não conseguiu enxergar seu rosto, a única coisa que notou foi longos cabelos vermelhos que encostaram levemente no rosto de Harry.


- Você conseguiu Harry, está tudo bem – falou com uma voz dura e ao mesmo tempo delicada


- Meus tios, Rony, Hermione – Harry fazia seu ultimo esforço


- Seus tios estão bem e seus amigos não estão aqui, apenas nós – ela falou novamente recolocando a máscara sobre o rosto – pare de resistir Harry, vocês está a salvo agora.


Depois daquelas palavras, Harry sentiu o corpo estremecer e percebeu que estava desmaiando, seus olhos fecharam e a sua volta tudo era escuro.

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