A Síndrome do Ninho Vazio



 


Capítulo 3: Síndrome do Ninho Vazio

Harry terminou de ler o arquivo que lhe tinham deixado sobre seu escritório aquela manhã e soltou um suspiro, enquanto que esfregava os olhos por trás das lentes dos óculos. A Oficina do Chefe de Departamentos de Aurores era bastante ampla e cômoda. E, além de seu escritório, havia outro. 

No escritório do lado ao do Potter, um homem de cabelos ruivos, olhos celestes e sardas o olhava com um sorriso divertido nos lábios.

- Muito divertido o caso Xivenus, verdade?- brincou Rony, que tinha as pernas apoiadas sobre a mesa e brincava com sua varinha entre os dedos. Harry riu levemente, enquanto se desesperava em sua cadeira.

- É terrivelmente entediante… 

-Sim, as coisas já não são como eram antes. Sinto falta de ação. – confessou Rony, baixando as pernas do escritório e apoiando seus braços sobre o mesmo. Harry não lhe respondeu imediatamente. Tinha que confessar que às vezes também sentia falta de ação. Seu trabalho de Auror era bastante tranquilo, inclusive ele sendo Chefe do Departamento.  Enfim tinham alcançado alguma segurança e, mesmo que sentisse alguma nostalgia ante a falta de emoções, lhe agradasse muitíssimo que as coisas tivessem alcançado esse equilíbrio tão harmônico. 

-Não sei você, mas eu tenho um campo de guerra em casa, ultimamente. Tiago voltou de Hogwarts e não para de deixar Alvo louco... Estão me desgastando. – falou Harry rindo. Rony acompanhou a risada.

- Já posso até imagina... Tiago inventando histórias sobre como as pessoas desaparecem nos corredores ou de como devem enfrentar um dragão durante a seleção. – brincou Rony.

- Ah, é ainda pior! Agora cismou de dizer ao Alvo que ele vai terminar na Sonserina.  – comentou Potter. Weasley bufou. 

-É impossível. – disse simplesmente Rony. Harry franziu as sobrancelhas diante da resposta de seu melhor amigo. Às vezes, tinha a sensação de que ainda eram adolescentes, de dezessete anos. 

-Não é tão terrível, Rony. – disse Potter. Rony simplesmente balançou a cabeça e soltou um riso suave. 

- Se você disse companheiro... – finalizou o ruivo. 

A porta do local se abriu de supetão, deixando entrar uma ocupada Hermione Granger, que há anos se havia convertido em Hermione Weasley. 

-Rony, amor, poderia me ajudar – pediu ela, um pouco exasperada. Rapidamente Rony  se levantou de sua cadeira e correu até ela para ajuda-la com o montão de bolsas e coisas que ela carregada.

-Hermione… Que diabos é isso tudo? – perguntou o ruivo, olhando com a sobrancelha levemente franzida de coisas que Hermione tinha comprado aquela tarde.

- Ah, bom, você já sabe, Rony. São coisas úteis para Rosinha. Hoje fui com Gina comprar tudo o que nossos filho precisavam para o primeiro ano... – explicou ela.

- E para quê vai precisar no primeiro ano o livro “Transfiguração 4 – nível intermediário”? – lhe interrompeu Rony, sorrindo de forma cúmplice para Harry. O homem teve que conter sua risada. Hermione pareceu corar levemente.

-Bom, pensei que talvez… Não fossem suficientes os livros que pediram e decidi fazer algumas compras extras, por via das dúvidas... Sabe... Para se Rosinha precisar consultar algo mais. 

- Incrível... – lhe disse Rony, arregalando os olhos enquanto sorria e voltava a guardar o livro na bolsa.

- O que a nós teria sido muito útil no momento ter esses livros que comprei para Rosa. – se explicou Hermione.

-Pois digamos então que nem Rosa nem Alvo precisem. Digamos que nossa passagem por Hogwarts não foi o que se diz... Normal. Nem sequer para o mundo mágico. – interveio Harry. Hermione pôde ler no rosto de seu amigo uma leva preocupação.

-Vão estar bem, Harry. – lhe disse finalmente.

- Ah, sim, sim, eu sei. Gina sempre me lembra. E eu por minha lhes dei alguns presentes para me assegurar que nada lhes passe.

- Você fez o que? – exclamou de imediato Hermione e Harry pôde ver novamente sua melhor amiga indignada diante o feito de que ele podia ter quebrado alguma lei. – Você não deu ao Tiago...? – começou ela, surpresa e chateada. Harry não pôde evitar corar um pouco. Tinha dado com a língua nos dentes.

- Bom sim, eu sei. É que pensei que poderiam ser úteis. Salvaram-nos várias vezes. – confessou Potter, tratando de se justificar.

- Então já não tem a Capa? – lhe perguntou Rony introduzindo-se na conversa. Parecia um pouco alarmado.

- Nem o mapa. – respondeu Harry tranquilo, enquanto voltava para seu escritório.

- Mas o que vai acontecer se precisarmos em alguma missão? Essa capa não nos ajudou só em Hogwarts, mas também como Aurores. – perguntou Rony, tentando manter um tom neutro.

-Acho que eles podem precisar dela mais. – ele disse simplesmente. – Nós já não precisamos de uma capa para sermos invisíveis, Rony.

- Harry... Você tem consciência que sendo como é o Tiago, com certeza vai usar a capa e o mapa para quebrar mais de cem regras?- perguntou Hermione, usando um tom muito similar ao que aplica uma pessoa quando acha que a pessoa pela qual ela está falando virou louco.

- Sim, com certeza. – confessou Potter.

- Por que?- perguntou Hermione, visualmente surpresa. Harry demorou a responder. Não sabia como se explicar. Mas algo dentro dele, chamando-se intuição ou não, lhe havia dito que a Capa e o Mapa deviam estar em Hogwarts, com seus filhos.

- Digamos que é uma medida de prevenção. Em caso de que meus filhos tenham herdado de mim o imã para problemas. – se limitou a dizer Harry, logo após de meditar um pouco. Hermione pareceu vacilar ante essa revelação.

-Bom, só esperemos que essas coisas tragam mais soluções que problemas. – finalizou Hermione.

- Fique tranquila. Tenho certeza que eles estarão melhor que nós. – assegurou Potter e um rastro de tristeza cruzou seus olhos.

- O que foi? – perguntou a mulher, perspicaz.

-Que nada... – tratou de mentir Potter, mas o olhar penetrante de sua amiga o obrigou a falar. – É só que... Com Tiago longe e agora também Alvo... A casa não será mais a mesma. 0 confessou Potter, e a pesar de que já era um homem, e de que conhecia aquelas pessoas há mais de 25 anos, sentiu que corava ao confessar aquilo.

-Síndrome do Ninho Vazio, irmão. – tirou sarro Rony, dando palmadas na costa. Mas Harry sabia que ao seu amigo passava o mesmo. Se Rony tinha sido protetor com sua irmã Gina, isso não se comparava com o que era com Rosa Weasley, sua filha mais filha.

- Ah, se cale, que você murmura em sonhos que Rosa está te abandonando. – lhe criticou Hermione e, como quando eram adolescentes, as orelhas de Rony pareceram incendiar. Harry, que via vir uma briga do casal, decidiu que era momento de empreender a partido.

- Já volto para a casa, garotos. Gina deve estar me esperando. – se apressou a dizer antes que Rony pudesse responder algo a sua esposa. – Lhes esperamos sábado para comer? – perguntou, enquanto colocava a capa sobre os ombros para sair de seu escritório. Hermione lhe dedicou um sorriso um assentimento, enquanto que se fazia de surda para algo que Rony estava lhe dizendo em um tom levemente elevado. Harry assentiu com a cabeça e saiu de sua oficina rindo de si mesmo. Tinham coisas que, não importando quanto tempo passasse, nunca mudavam.

-Adeus, Sr. Potter. Que tenha um bom dia.

-Boa noite senhor Potter.

-Sorte, Potter.

As pessoas o saudavam enquanto ele caminhava até o elevador. É que a apesar dos anos, Harry Potter continuava sendo Harry Potter.

O pó de flu o levou até sua casa no Godric Valley em poucos segundos. Sacudindo o pó dos ombros, olhou a sala pela qual ele havia chegado. Como gostava daquela casa! Havia comprando-a pouco depois de terminada a Guerra e um tempo depois Gina tinha ido viver com ele. O tempo havia confirmado que era a casa perfeita. Olhou-se no espelho que havia naquela confortável sala enquanto que tratava de pentear o cabelo.

Apesar de seus trinta e seus anos e do trabalho árduo de Auror, Harry se mantinha muito bem. Os anos pareciam apenas ter roçado sua pele e seu rosto conservava traços de um adolescente inocente. Seus olhos verdes brilhavam por detrás de seus infalíveis óculos e seu cabelo negro, grosso como sempre, caía despenteado e indomável sobre seu rosto. E, em sua testa, como tinha desde sempre desde que se lembrava, sua famosa cicatriz. Já quase como um reflexo levou sua mão a mesma, acariciando-a levemente. Sim, agora era só uma cicatriz.

 

Ouviu passos acelerados na escada e a coisa que viu a seguir foi  um cabelo ruivo que o envolvia. Sua pequena Lílian Lina, de nove anos, tinha se lançado aos seus braços. Harry a abraçou fortemente e lhe beijou com ternura. Lílian se separou um tempo para que seu pai pudesse a apreciar. 

- Mas está cada dia mais alta e mais linda! – lhe disse Harry, acariciando lhe os cabelos. Lílian olhos amêndoas, como se sua mãe e o cabelo longo e ruivo, que lhe davam graça e movimento. 

- E hoje Teddy ia vir! – exigiu Lílian, olhando seu pai fixamente aos olhos. Sim, tinha a personalidade de sua mãe.

 Sim, ao menos foi o que ele disse um dia desses. – lhe confirmou seu pai. E um sorriso de pura felicidade se desenhou na pequena. Segundos depois, a menina saiu correndo da sala, regressando as escadas de cima gritando “É verdade, Alvo, ele vem sim!”. Harry não pôde evitar sorrir também. A alegria de seus filhos sempre o fazia sorrir.

Dirigiu-se até a cozinha, aonde encontrou uma mulher ruiva, alta e magra, parada de costas a ele, movendo a varinha de um lado pro outro, fazendo voar garfos, facas e colheres. Aproximou-se dela e a abraçou por detrás da cintura.

- Cheguei em casa – sussurrou ao ouvido de quem segundos atrás movia a varinha de um lado pro outro, fazendo voar pratos e talheres.

- Chegou cedo. – se alegrou ela, girando entre os braços para ficar em frente com seu esposo e o beijou docemente nos lábios. Harry sentiu o cheiro suave de flores de seu cabelo e o contato suave com seus lábios e lembrou o quanto amava e desejava aquela mulher.

- Mal podia esperar te ver de novo. – confessou ele, a beijando novamente.

- Francamente, isso é desagradável. – uma voz soou em suas costas. Harry girou divertido para seu filho mais velho, Tiago Sirius Potter, que os olhava desde a outra parte da cozinha com uma expressão de nojo nos lábios.

- Algum dia você vai entender, filho. – explicou Potter, soltando de si sua esposa. Rapidamente, Gina retornou a cozinha. – E como você se prepara para teu segundo ano? – lhe perguntou, enquanto que se sentava na mesa da cozinha e pegava o Profeta Diário, que se encontrava sobre a mesma. Tiago também se sentou.

- É.... Calminho. – lhe respondeu Tiago. Harry levantou a visão do jornal e franziu as sobrancelhas.

- Calminho? – repetiu em tom cético. – Você, Tiago Sirius Potter, calmo? – tirou sarro Harry então. Tiago também riu levemente.

- É que ultimamente estou me entretendo com algumas coisas...

- Como irritar seu irmão, por exemplo. – interviu Gina com tom severo, enquanto que continuava cozinhando. Tiago pareceu corar suavemente, mas seu sorriso acentuou ainda mais. Tinha naquele sorriso uma malícia incapaz de esconder e Harry não pôde evitar o quanto lhe recordava Fred e Jorge.

- Não o perturbo... Ele me pergunta como é Hogwarts e eu conto o que sei. – mentiu Tiago descaradamente, aparentando inocência.

- Tiago... - lhe disse Harry, em tom de urgência. – Já te disse para deixar seu irmão em paz. Metade do que você conta são mentira e a outra metade é puro exagero.

-Vamos, papai... Um pouco de humor não faz a ninguém! – se queixou seu filho mais velho. E, de imediato, levou a mão até a cabeça e despenteou levemente os cabelos negros. Harry não pôde evitar lembrar-se desse mesmo jeito em seu pai e sorriu diante da semelhança.

- Vai chamar seus irmãos. Teddy chegará a qualquer momento e a comida está quase pronta. – ordenou sua mãe e Tiago se apressou em obedecer. Se havia algo que nunca se atrevia era contrariar Gina.

- É terrível. – suspirou ela, quando seu filho já tinha saído do local, mas Harry viu um sorriso em seu rosto.

- É um bom garoto. – lhe assegurou ele, enquanto que segurava sua mão.

- Queria que ficassem mais tempo em casa... Vou sentir falta quando estarão em Hogwarts. – confessou ela.

Alvo sentiu que a pressão no peito ia o asfixiar. Sabia que em pouco tempo seria a sua vez e, mesmo que sempre tivesse temido o dia da seleção, agora se encontrava em frente ao Chapéu Seletor esse medo não se aliviava. Sim, não tinha que fazer nenhum tipo de destreza. Mas a ideia de sentar-se ali, na frente de todos os estudantes do colégio, o deixava cheio de dúvidas.

Finalmente escutou a voz de Neville Longbottom, amigo da família e Professor de Herbologia, o chamar.

- Potter, Alvo Severo. 

Pode sentir os olhares nele. Sentiu como as mãos lhe temblavam levemente e as fechou fortemente em seus punhos, para evitar que isso se notasse. Sentou-se no banquinho e o último que viu antes de desaparecer embaixo do chapéu foi o rosto com expectativa de seu irmão Tiago.

- Hum… Mas olha o que temos aqui, outro Potter. – sussurrou em seus ouvidos uma voz e Alvo a reconheceu como a voz do Chapéu que acabou de falar. – Interessante... Muito interessante… Nada a ver ao anterior Potter, tenho que falar...

Alvo sentia que seus nervos, longe de amenizar, cada vez eram piores. E então lembrou a conversa com seu pai, na plataforma 9 ¾, nesse mesmo dia, e sentiu como seus nervos afrouxavam um pouco. “Não tem nada com Sonserina... Não tem nada de mal”  disse a si mesmo.

- Nada mal, não? Claro que não... Eu posso ver em ti. O desejo de ser diferente, de fazer a diferença. Há capacidade... E muita habilidade. Sim, acho que sim... Você pertence a... –

- Sonserina! – gritou o chapéu. E então Alvo sentiu que seu coração retorcia. Não era isso que ele tinha querido dizer! Ele não queria Sonserina! Ele queria Grifinória!

Pôde sentir como estranhos murmúrios cresciam no Salão Principal, enquanto que Longbottom demorava um pouco ao tirar o chapéu da cabeça. Alvo pôde ver a cara de surpresa no rosto de Neville e, enquanto que saía do banquinho acompanhado pelos aplausos na mesa da Sonserina, pôde ver o olhar de decepção no rosto de Tiago.

Sonserina! Não Grifinória, nem Corvinal, nem sequer a Lufa-Lufa. De todas as casas, o Chapéu havia o mandado para Sonserina.

Tomou um lugar na mesa da Sonserina e sentiu que o corpo inteiro inteira sentia a vergonha do que acabava de ocorrer. Ao seu lado, um garoto louro riu levemente.

- Nossa, que surpresa! – lhe disse o louro e Alvo levantou o olhar. O reconhecia desde a estação. Seu pai e seu tio haviam o mencionado como sendo Escórpio Malfoy.

- Está tirando sarro de mim? – lhe perguntou Alvo, tentando não soar agressivo. Não estava seguro sobre as intenções com quais aquelas palavras haviam sido pronunciadas. Escórpio pareceu se surpreender pela resposta de Alvo.

- Não, claro que não… Eu disse porquê… Bom... É uma surpresa, não é? Um Potter na Sonserina. – se explicou melhor o louro. Alvo demorou alguns segundos para responder, nos quais se dedicou a observar o garoto que estava sentado ao seu lado.

- Diga a mim. – disse Potter finalmente. Soltou um leve suspiro. – Minha família não vai poder acreditar. – confessou.

-Sim... Acho que entendo. Minha família tampouco entenderia se eu terminasse em outra casa que não fosse Sonserina. – tratou de fazer se sentir melhor Escórpio.

 - Sim, mas você não terminou. Está exatamente aonde quer estar. - as palavras que saíram da boca de Alvo foram mais agressivas do que realmente tinha desejado. Escórpio não respondeu, mas pela expressão que tinha, Potter se verdadeiramente esse menino estava  realmente aonde ele queria. Nesse momento Alvo se deu conta que a seguinte na fila era sua prima, Rosa.

- Weasley, Rosa – Chamou-a Neville. O chapéu esteve apenas alguns segundos sobre a cabeça da garota e finalmente girou:

- GRIFINÓRIA – a mesa dos leões explodiu em aplausos e festejos e Alvo pôde ver seu próprio irmão felicitando a sua prima enquanto ela se sentava em frente a ele. Alvo e Rosa cruzaram alguns olhares e ela gesticulou as palavras “sinto muito” até Alvo, que as compreendeu perfeitamente e assentiu agradecendo o gesto. Seu irmão nem sequer girou para olhá-lo.

- E... Não há ninguém de sua família na Sonserina?- se animou a preguntar Escórpio, depois que havia passado um tempo.

-No… minha prima Victorie está também na Grifinória, no sétimo ano. Meu Teddy esteve na Grifinória, se formou já faz dois anos. Dominique e Molly estão na Corvinal. Mas meu primo Louis e Fred. Além de meu irmão Tiago, eles estão na Grifinória também... E agora minha prima Rosa.

 - Bom, eles têm uma grande variedade, talvez não os chateiem que você caiu na Sonserina. – quis confortá-lo Malfoy e Alvo não pôde mais que se surpreender. Havia escutado seu pai e seus tios dos Malfoy algumas vezes e havia gerado uma imagem muito distinta do garoto que tinha ao seu lado. Imaginava alguém arrogante e convencido, orgulhoso e arisco. Mas esse jovem que tinha ali não podia ser algo mais diferente. Até lhe parecia amável.

- Sim, pode ser. – se arriscou a confessar Alvo e pelo que seguiu da noite já não se preocupou tanto com a casa pela qual tinha terminado. Permitiu-se comer tranquilamente, enquanto continuava sua tranquila conversa com Escórpio.

Escutou-se uma suave batida de uma taça e Alvo comprovou que a Diretora McGonagall se havia posto de pé. Recordava que seu pai lhe havia falado dela. Era uma mulher séria e severa, lhe tinha dito, mas também amável, justa e de bom coração. Alvo sabia que Harry tinha em muita alta estima a diretora. 

- Bem vindos, alunos, a um novo ano escolar em Hogwarts. Aos que voltam, já conhecem as regras. nada mudou. Aos novos, lhes comento que está proibido perambular pela noite pelos corredores de Hogwarts, fazer magia fora das classes, entrar no Bosque Proibido sem autorização ou sair dos terrenos do colégio. Qualquer um que não cumpra as regras será severamente castigado... E se não acreditam, podem se consultar com alguns alunos conhecidos e marotos... - e o olhar da diretora pareceu se seter por alguns segundos em Tiago Potter e Louis Weasley, que tinham se sentado juntos, fingindo inocência. - Amanhã pela manhã vocês receberão os horários das aulas. Sem mais o que dizer, os despeço para que vão até os respectivos Salões Comunais. Que descanssem! - e sem mais se escutou o ruido de numorosas cadeiras a se mover e começaram a se escutar os gritos dos monitores das casas, chamando os alunos. Alvo pôde ver Victoire, sua prima com ascendência veela, guiando os alunos do primeiro ano e intercambiando carinhosos gestos com seus outros primos. Um jovem alto e musculosos, que deveria estar em seu sexto ano, chamou aos alunos do primeiro ano da Sonserina e sem mais Alvo se viu obrigado a sair da vista de seus primos da casa do leão para seguir seu Monitor em direção às Masmorras.

Já em seu quarto, Alvo se sentiu estranho. Fora Escórpio, não conhecia os outros três garotos com quem compartilhava o quarto.

- Hum... Você é o garoto Potter, não?-  perguntou um dos garotos. Tinha o cabelo castanho claro e os olhos escuros. Parecia realmente nervoso ao se dirigir ao Alvo.

- Sim. - afirmou este. - E você é…? - ele quis saber.

-Dimitri Kurdan - se apresentou o garoto, lhe estendendo a mão. Alvo a apertou com cortesia. - E eles são Taurus Zabini e Portus Cardigan. - apresentou os outros dois garotos. Taurus lhe estreitou a mão em forma fria e rápida, se afastando do toque tão rápido quanto pôde, como se Alvo lhe tivesse dado uma descarga elétrica. Se tratava de um garoto de cabelo escuro e longo, feições delicadas e olhos castanhos.

O outro garoto nem sequer o cumprimentou, mas ficou olhando fixamente durante uns segundos e depois falou.

- É um grande erro que esteja aqui, Potter - disse Cardigan finalmente, com voz fria. Alvo não respondeu, mas ficou o olhando. Cardigan continuou. - Você não pertence a Sonserina, Potter... Com uma família como a sua, não entendo no que o chapéu pensava ao te mandar pra cá. - cuspiu as palavras. Alvo sentiu que a ira o invadia.

- E eu não penso como lhe ocorreu a seus pais quando pensaram que você tinha o suficiente cerebro como para poder vir a Hogwarts. - as palavras saíam dos lábios de Alvo antes que ele pudesse se dar conta. A cara de Cardigan se contorceu em um gesto de raiva.

- Não se atreva a insultar minha família, Potter…- o ameaçou Portus.

- E você não se atreva a insultar a minha, Cardigan - retrucou o garoto. Ambos se olharam durante alguns segundos. Cardigan tinha os olhos azuis, elétricos e penetrantes, mas ainda assim Alvo não desviou o olhar. Pareciam querer se matar com os olhos e o resto dos que estavam no quarto começaram a ficar nervosos.

- Bom, os dois fiquem calmos. - interveio Escórpio finalmente, parando entre ambos, para evitar qualquer conflito. Cardigan então o olhou.

- E você quem é? - lhe perguntou com um leve deixo de desprezo.

- Escórpio Malfoy - lhe respondeu esse e então Alvo pôde ver o deixo de orgulho e altivez da família Malfoy.

-E defende a ele? - voltou a perguntar Portus, entre surpreso e acusador.

-Não defendo a ninguém. - se apurou a dizer o louro. - Simplesmente me parece uma estupidez que briguem por isso.

-Estupidez? Por culpa de seu pai o meu avô está em Azcaban!- gritou Cardigan.

-Quem é seu avô? - preguntou Dimitri, falando pela primeira vez desde que havia feito as apresentações.

- Antonin Dolohov, é o pai da minha mãe- respondeu mordazmente.

-Pois lamento que seu avô foi tão estúpido como para seguir a Voldemort! - disse Alvo, se bem que havia tratado de manter a calma, sua voz tinha se elevado um pouco demais.

-Vou te mat..! - começou a exclamar Portus enquanto tirava sua varinha do bolso. Mas antes que pudesse dizer qualquer feitiço, saiu desparado no ar contra a parede que tinha atrás e sua varinha caiu de sua mão.

Todos giraram a olhar para Albus, que apenas havia levantado uma mão em direção ao jovem de olhos celestes e cabelo castanho que havia balançado ameaçadoramente. E Alvo soube que novamente, como sempre que se chateava, a magia tinha brotado dele sem que ele pudesse controlar.

A porta do dormitório se abriu y entrou por ela o mesmo Monitos que os havia guiado até seu Salão Comunal essa mesma noite.

-O que aconteceu, por que tanta gritaria? - perguntou o garoto.

-Ele é o problema. - espetou Cardigan, enfurecido, enquanto se punha de pé com dificuldade, apontando para Alvo. O Monitor olhou ambos durante alguns segundos e quando pareceu entender o que tinha acontecido se desenhou um sorriso maroto.

-Assim que Potter é o problema?- perguntou, fazendo ênfase especial no sobrenome do mencionado. Portus assentiu com firmeza. - Bom, recem chegou e já está dando problemas... Parece que você é uma caixa de surpresas, Potter. Duelando com um companheiro... Talvez não seja tão má adição para a Sonserina... Muito potencial. - o Monitor parecia muito divertido com toda a situação.- Você, garoto, Cardigan, não é? Trata de acalmar os neurônios. Conviverá com Potter durante sete anos, te recomendo que o trate com calma. - lhe disse Portus, que nesse momente se encontrava indignado com o que estava acontecento. - E você , Potter... Bem vindo a Sonserina. Não me cabe dúvidas que se sentirá em casa. - tirou onda o garoto. Mas Alvo sabia que não podia abusar da sorte e simplesmente assentiu com a cabeça. - Qualquer coisa, meu nome é Heros Morgan. - lhe informou e logo deixou novamente o quarto.

Cardigan já se encontrava n cama e as cortinas das mesmas estavam fechadas, de forma que o resto dos garotos não podiam o ver. Dimitri e Taurus não tardaram em o seguir, sem dirigir palavra nem a Potter nem a Malfoy. Depois de uns segundos, Alvo girou e se dispôs a buscar em seu baul um pijama para ir dormir também.

- Esse maldito arrogante... Merece o que acabou de passar. - escutou a Escórpio que murmurava de maneira que nenhum dos outros o escutava. Também buscava seu pijama no baú, que estava junto ao de Alvo. Escórpio estava na cama mais próxima a de Alvo e ambas as camas se encontravam um pouco longe das três trestantes. - Seu avô é um trate, como toda a família. Meu pai contou que gastaram mal toda a fortuna e que agora sobrevivem do sobrenome de sua mãe que pertence a uma família de sangue puro da Irlanda. - Alvo no pôde evitar bufar diante o comentario de "sangue puro".

-Que grande estupidez - foi tudo que Alvo pôde dizer do chateado que ainda estava. Ao seu lado, Escórpio rio suavamente ao notar a irritação com qual o garoto revirava suas propriedades do baú e tirava violentamente o pijama ao mesmo tempo, esperramando metade das coisas no chão.

- Suas coisas não têm culpa, sabe? - riu Malfoy. E quando Alvo olhou ao seu redor, o desastre que tinha armado, não pôde evitar de dar risada também por baico. Sentiu que a bronca e a irritação o abandonavam levemente. Um pouco mais tranquilo, terminou de se trocar e encostou na cama, esgotado.

Capítulo 2: Síndrome do Ninho Vazio


Harry terminou de ler o arquivo que lhe tinham deixado sobre seu escritório aquela manhã e soltou um suspiro, enquanto que esfregava os olhos por trás das lentes dos óculos. A Oficina do Chefe de Departamentos de Aurores era bastante ampla e cômoda. E, além de seu escritório, havia outro.


No escritório do lado ao do Potter, um homem de cabelos ruivos, olhos celestes e sardas o olhava com um sorriso divertido nos lábios.


- Muito divertido o caso Xivenus, verdade?- brincou Rony, que tinha as pernas apoiadas sobre a mesa e brincava com sua varinha entre os dedos. Harry riu levemente, enquanto se desesperava em sua cadeira.


- É terrivelmente entediante…


-Sim, as coisas já não são como eram antes. Sinto falta de ação. – confessou Rony, baixando as pernas do escritório e apoiando seus braços sobre o mesmo. Harry não lhe respondeu imediatamente. Tinha que confessar que às vezes também sentia falta de ação. Seu trabalho de Auror era bastante tranquilo, inclusive ele sendo Chefe do Departamento. Enfim tinham alcançado alguma segurança e, mesmo que sentisse alguma nostalgia ante a falta de emoções, lhe agradasse muitíssimo que as coisas tivessem alcançado esse equilíbrio tão harmônico.


-Não sei você, mas eu tenho um campo de guerra em casa, ultimamente. Tiago voltou de Hogwarts e não para de deixar Alvo louco... Estão me desgastando. – falou Harry rindo. Rony acompanhou a risada.


- Já posso até imagina... Tiago inventando histórias sobre como as pessoas desaparecem nos corredores ou de como devem enfrentar um dragão durante a seleção. – brincou Rony.


- Ah, é ainda pior! Agora cismou de dizer ao Alvo que ele vai terminar na Sonserina. – comentou Potter. Weasley bufou.


-É impossível. – disse simplesmente Rony. Harry franziu as sobrancelhas diante da resposta de seu melhor amigo. Às vezes, tinha a sensação de que ainda eram adolescentes, de dezessete anos.


-Não é tão terrível, Rony. – disse Potter. Rony simplesmente balançou a cabeça e soltou um riso suave.


- Se você disse companheiro... – finalizou o ruivo.


A porta do local se abriu de supetão, deixando entrar uma ocupada Hermione Granger, que há anos se havia convertido em Hermione Weasley.


-Rony, amor, poderia me ajudar – pediu ela, um pouco exasperada. Rapidamente Rony se levantou de sua cadeira e correu até ela para ajuda-la com o montão de bolsas e coisas que ela carregada.


 


-Hermione… Que diabos é isso tudo? – perguntou o ruivo, olhando com a sobrancelha levemente franzida de coisas que Hermione tinha comprado aquela tarde.


- Ah, bom, você já sabe, Rony. São coisas úteis para Rosinha. Hoje fui com Gina comprar tudo o que nossos filho precisavam para o primeiro ano... – explicou ela.


- E para quê vai precisar no primeiro ano o livro “Transfiguração 4 – nível intermediário”? – lhe interrompeu Rony, sorrindo de forma cúmplice para Harry. O homem teve que conter sua risada. Hermione pareceu corar levemente.


-Bom, pensei que talvez… Não fossem suficientes os livros que pediram e decidi fazer algumas compras extras, por via das dúvidas... Sabe... Para se Rosinha precisar consultar algo mais.


- Incrível... – lhe disse Rony, arregalando os olhos enquanto sorria e voltava a guardar o livro na bolsa.


- O que a nós teria sido muito útil no momento ter esses livros que comprei para Rosa. – se explicou Hermione.


-Pois digamos então que nem Rosa nem Alvo precisem. Digamos que nossa passagem por Hogwarts não foi o que se diz... Normal. Nem sequer para o mundo mágico. – interveio Harry. Hermione pôde ler no rosto de seu amigo uma leva preocupação.


-Vão estar bem, Harry. – lhe disse finalmente.


- Ah, sim, sim, eu sei. Gina sempre me lembra. E eu por minha lhes dei alguns presentes para me assegurar que nada lhes passe.


- Você fez o que? – exclamou de imediato Hermione e Harry pôde ver novamente sua melhor amiga indignada diante o feito de que ele podia ter quebrado alguma lei. – Você não deu ao Tiago...? – começou ela, surpresa e chateada. Harry não pôde evitar corar um pouco. Tinha dado com a língua nos dentes.


- Bom sim, eu sei. É que pensei que poderiam ser úteis. Salvaram-nos várias vezes. – confessou Potter, tratando de se justificar.


- Então já não tem a Capa? – lhe perguntou Rony introduzindo-se na conversa. Parecia um pouco alarmado.


- Nem o mapa. – respondeu Harry tranquilo, enquanto voltava para seu escritório.


- Mas o que vai acontecer se precisarmos em alguma missão? Essa capa não nos ajudou só em Hogwarts, mas também como Aurores. – perguntou Rony, tentando manter um tom neutro.


-Acho que eles podem precisar dela mais. – ele disse simplesmente. – Nós já não precisamos de uma capa para sermos invisíveis, Rony.


- Harry... Você tem consciência que sendo como é o Tiago, com certeza vai usar a capa e o mapa para quebrar mais de cem regras?- perguntou Hermione, usando um tom muito similar ao que aplica uma pessoa quando acha que a pessoa pela qual ela está falando virou louco.


- Sim, com certeza. – confessou Potter.


- Por que?- perguntou Hermione, visualmente surpresa. Harry demorou a responder. Não sabia como se explicar. Mas algo dentro dele, chamando-se intuição ou não, lhe havia dito que a Capa e o Mapa deviam estar em Hogwarts, com seus filhos.


- Digamos que é uma medida de prevenção. Em caso de que meus filhos tenham herdado de mim o imã para problemas. – se limitou a dizer Harry, logo após de meditar um pouco. Hermione pareceu vacilar ante essa revelação.


-Bom, só esperemos que essas coisas tragam mais soluções que problemas. – finalizou Hermione.


- Fique tranquila. Tenho certeza que eles estarão melhor que nós. – assegurou Potter e um rastro de tristeza cruzou seus olhos.


- O que foi? – perguntou a mulher, perspicaz.


-Que nada... – tratou de mentir Potter, mas o olhar penetrante de sua amiga o obrigou a falar. – É só que... Com Tiago longe e agora também Alvo... A casa não será mais a mesma. 0 confessou Potter, e a pesar de que já era um homem, e de que conhecia aquelas pessoas há mais de 25 anos, sentiu que corava ao confessar aquilo.


-Síndrome do Ninho Vazio, irmão. – tirou sarro Rony, dando palmadas na costa. Mas Harry sabia que ao seu amigo passava o mesmo. Se Rony tinha sido protetor com sua irmã Gina, isso não se comparava com o que era com Rosa Weasley, sua filha mais filha.


- Ah, se cale, que você murmura em sonhos que Rosa está te abandonando. – lhe criticou Hermione e, como quando eram adolescentes, as orelhas de Rony pareceram incendiar. Harry, que via vir uma briga do casal, decidiu que era momento de empreender a partido.


- Já volto para a casa, garotos. Gina deve estar me esperando. – se apressou a dizer antes que Rony pudesse responder algo a sua esposa. – Lhes esperamos sábado para comer? – perguntou, enquanto colocava a capa sobre os ombros para sair de seu escritório. Hermione lhe dedicou um sorriso um assentimento, enquanto que se fazia de surda para algo que Rony estava lhe dizendo em um tom levemente elevado. Harry assentiu com a cabeça e saiu de sua oficina rindo de si mesmo. Tinham coisas que, não importando quanto tempo passasse, nunca mudavam.


-Adeus, Sr. Potter. Que tenha um bom dia.


-Boa noite senhor Potter.


-Sorte, Potter.


As pessoas o saudavam enquanto ele caminhava até o elevador. É que a apesar dos anos, Harry Potter continuava sendo Harry Potter.


O pó de flu o levou até sua casa no Godric Valley em poucos segundos. Sacudindo o pó dos ombros, olhou a sala pela qual ele havia chegado. Como gostava daquela casa! Havia comprando-a pouco depois de terminada a Guerra e um tempo depois Gina tinha ido viver com ele. O tempo havia confirmado que era a casa perfeita. Olhou-se no espelho que havia naquela confortável sala enquanto que tratava de pentear o cabelo.


Apesar de seus trinta e seus anos e do trabalho árduo de Auror, Harry se mantinha muito bem. Os anos pareciam apenas ter roçado sua pele e seu rosto conservava traços de um adolescente inocente. Seus olhos verdes brilhavam por detrás de seus infalíveis óculos e seu cabelo negro, grosso como sempre, caía despenteado e indomável sobre seu rosto. E, em sua testa, como tinha desde sempre desde que se lembrava, sua famosa cicatriz. Já quase como um reflexo levou sua mão a mesma, acariciando-a levemente. Sim, agora era só uma cicatriz.


 


Ouviu passos acelerados na escada e a coisa que viu a seguir foi um cabelo ruivo que o envolvia. Sua pequena Lílian Lina, de nove anos, tinha se lançado aos seus braços. Harry a abraçou fortemente e lhe beijou com ternura. Lílian se separou um tempo para que seu pai pudesse a apreciar.


- Mas está cada dia mais alta e mais linda! – lhe disse Harry, acariciando lhe os cabelos. Lílian olhos amêndoas, como se sua mãe e o cabelo longo e ruivo, que lhe davam graça e movimento.


- E hoje Teddy ia vir! – exigiu Lílian, olhando seu pai fixamente aos olhos. Sim, tinha a personalidade de sua mãe.


Sim, ao menos foi o que ele disse um dia desses. – lhe confirmou seu pai. E um sorriso de pura felicidade se desenhou na pequena. Segundos depois, a menina saiu correndo da sala, regressando as escadas de cima gritando “É verdade, Alvo, ele vem sim!”. Harry não pôde evitar sorrir também. A alegria de seus filhos sempre o fazia sorrir.


Dirigiu-se até a cozinha, aonde encontrou uma mulher ruiva, alta e magra, parada de costas a ele, movendo a varinha de um lado pro outro, fazendo voar garfos, facas e colheres. Aproximou-se dela e a abraçou por detrás da cintura.


- Cheguei em casa – sussurrou ao ouvido de quem segundos atrás movia a varinha de um lado pro outro, fazendo voar pratos e talheres.


- Chegou cedo. – se alegrou ela, girando entre os braços para ficar em frente com seu esposo e o beijou docemente nos lábios. Harry sentiu o cheiro suave de flores de seu cabelo e o contato suave com seus lábios e lembrou o quanto amava e desejava aquela mulher.


- Mal podia esperar te ver de novo. – confessou ele, a beijando novamente.


- Francamente, isso é desagradável. – uma voz soou em suas costas. Harry girou divertido para seu filho mais velho, Tiago Sirius Potter, que os olhava desde a outra parte da cozinha com uma expressão de nojo nos lábios.


- Algum dia você vai entender, filho. – explicou Potter, soltando de si sua esposa. Rapidamente, Gina retornou a cozinha. – E como você se prepara para teu segundo ano? – lhe perguntou, enquanto que se sentava na mesa da cozinha e pegava o Profeta Diário, que se encontrava sobre a mesma. Tiago também se sentou.


- É.... Calminho. – lhe respondeu Tiago. Harry levantou a visão do jornal e franziu as sobrancelhas.


- Calminho? – repetiu em tom cético. – Você, Tiago Sirius Potter, calmo? – tirou sarro Harry então. Tiago também riu levemente.


- É que ultimamente estou me entretendo com algumas coisas...


- Como irritar seu irmão, por exemplo. – interviu Gina com tom severo, enquanto que continuava cozinhando. Tiago pareceu corar suavemente, mas seu sorriso acentuou ainda mais. Tinha naquele sorriso uma malícia incapaz de esconder e Harry não pôde evitar o quanto lhe recordava Fred e Jorge.


- Não o perturbo... Ele me pergunta como é Hogwarts e eu conto o que sei. – mentiu Tiago descaradamente, aparentando inocência.


- Tiago... - lhe disse Harry, em tom de urgência. – Já te disse para deixar seu irmão em paz. Metade do que você conta são mentira e a outra metade é puro exagero.


-Vamos, papai... Um pouco de humor não faz a ninguém! – se queixou seu filho mais velho. E, de imediato, levou a mão até a cabeça e despenteou levemente os cabelos negros. Harry não pôde evitar lembrar-se desse mesmo jeito em seu pai e sorriu diante da semelhança.


- Vai chamar seus irmãos. Teddy chegará a qualquer momento e a comida está quase pronta. – ordenou sua mãe e Tiago se apressou em obedecer. Se havia algo que nunca se atrevia era contrariar Gina.


- É terrível. – suspirou ela, quando seu filho já tinha saído do local, mas Harry viu um sorriso em seu rosto.


- É um bom garoto. – lhe assegurou ele, enquanto que segurava sua mão.


- Queria que ficassem mais tempo em casa... Vou sentir falta quando estarão em Hogwarts. – confessou ela.


 


Alvo sentiu que a pressão no peito ia o asfixiar. Sabia que em pouco tempo seria a sua vez e, mesmo que sempre tivesse temido o dia da seleção, agora se encontrava em frente ao Chapéu Seletor esse medo não se aliviava. Sim, não tinha que fazer nenhum tipo de destreza. Mas a ideia de sentar-se ali, na frente de todos os estudantes do colégio, o deixava cheio de dúvidas.


Finalmente escutou a voz de Neville Longbottom, amigo da família e Professor de Herbologia, o chamar.


- Potter, Alvo Severo.


Pode sentir os olhares nele. Sentiu como as mãos lhe temblavam levemente e as fechou fortemente em seus punhos, para evitar que isso se notasse. Sentou-se no banquinho e o último que viu antes de desaparecer embaixo do chapéu foi o rosto com expectativa de seu irmão Tiago.


- Hum… Mas olha o que temos aqui, outro Potter. – sussurrou em seus ouvidos uma voz e Alvo a reconheceu como a voz do Chapéu que acabou de falar. – Interessante... Muito interessante… Nada a ver ao anterior Potter, tenho que falar...


Alvo sentia que seus nervos, longe de amenizar, cada vez eram piores. E então lembrou a conversa com seu pai, na plataforma 9 ¾, nesse mesmo dia, e sentiu como seus nervos afrouxavam um pouco. “Não tem nada com Sonserina... Não tem nada de mal” disse a si mesmo.


- Nada mal, não? Claro que não... Eu posso ver em ti. O desejo de ser diferente, de fazer a diferença. Há capacidade... E muita habilidade. Sim, acho que sim... Você pertence a... –


- Sonserina! – gritou o chapéu. E então Alvo sentiu que seu coração retorcia. Não era isso que ele tinha querido dizer! Ele não queria Sonserina! Ele queria Grifinória!


Pôde sentir como estranhos murmúrios cresciam no Salão Principal, enquanto que Longbottom demorava um pouco ao tirar o chapéu da cabeça. Alvo pôde ver a cara de surpresa no rosto de Neville e, enquanto que saía do banquinho acompanhado pelos aplausos na mesa da Sonserina, pôde ver o olhar de decepção no rosto de Tiago.


Sonserina! Não Grifinória, nem Corvinal, nem sequer a Lufa-Lufa. De todas as casas, o Chapéu havia o mandado para Sonserina.


Tomou um lugar na mesa da Sonserina e sentiu que o corpo inteiro inteira sentia a vergonha do que acabava de ocorrer. Ao seu lado, um garoto louro riu levemente.


- Nossa, que surpresa! – lhe disse o louro e Alvo levantou o olhar. O reconhecia desde a estação. Seu pai e seu tio haviam o mencionado como sendo Escórpio Malfoy.


- Está tirando sarro de mim? – lhe perguntou Alvo, tentando não soar agressivo. Não estava seguro sobre as intenções com quais aquelas palavras haviam sido pronunciadas. Escórpio pareceu se surpreender pela resposta de Alvo.


- Não, claro que não… Eu disse porquê… Bom... É uma surpresa, não é? Um Potter na Sonserina. – se explicou melhor o louro. Alvo demorou alguns segundos para responder, nos quais se dedicou a observar o garoto que estava sentado ao seu lado.


- Diga a mim. – disse Potter finalmente. Soltou um leve suspiro. – Minha família não vai poder acreditar. – confessou.


-Sim... Acho que entendo. Minha família tampouco entenderia se eu terminasse em outra casa que não fosse Sonserina. – tratou de fazer se sentir melhor Escórpio.


- Sim, mas você não terminou. Está exatamente aonde quer estar. - as palavras que saíram da boca de Alvo foram mais agressivas do que realmente tinha desejado. Escórpio não respondeu, mas pela expressão que tinha, Potter se verdadeiramente esse menino estava realmente aonde ele queria. Nesse momento Alvo se deu conta que a seguinte na fila era sua prima, Rosa.


- Weasley, Rosa – Chamou-a Neville. O chapéu esteve apenas alguns segundos sobre a cabeça da garota e finalmente girou:


- GRIFINÓRIA – a mesa dos leões explodiu em aplausos e festejos e Alvo pôde ver seu próprio irmão felicitando a sua prima enquanto ela se sentava em frente a ele. Alvo e Rosa cruzaram alguns olhares e ela gesticulou as palavras “sinto muito” até Alvo, que as compreendeu perfeitamente e assentiu agradecendo o gesto. Seu irmão nem sequer girou para olhá-lo.


- E... Não há ninguém de sua família na Sonserina?- se animou a preguntar Escórpio, depois que havia passado um tempo.


-No… minha prima Victorie está também na Grifinória, no sétimo ano. Meu Teddy esteve na Grifinória, se formou já faz dois anos. Dominique e Molly estão na Corvinal. Mais meu primo Louis e Fred. Além de meu irmão Tiago, eles estão na Grifinória também... E agora minha prima Rosa.


- Bom, eles têm uma grande variedade, talvez não os chateiem que você caiu na Sonserina. – quis confortá-lo Malfoy e Alvo não pôde mais que se surpreender. Havia escutado seu pai e seus tios dos Malfoy algumas vezes e havia gerado uma imagem muito distinta do garoto que tinha ao seu lado. Imaginava alguém arrogante e convencido, orgulhoso e arisco. Mas esse jovem que tinha ali não podia ser algo mais diferente. Até lhe parecia amável.


- Sim, pode ser. – se arriscou a confessar Alvo e pelo que seguiu da noite já não se preocupou tanto com a casa pela qual tinha terminado. Permitiu-se comer tranquilamente, enquanto continuava sua tranquila conversa com Escórpio.


Escutou-se uma suave batida de uma taça e Alvo comprovou que a Diretora McGonagall se havia posto de pé. Recordava que seu pai lhe havia falado dela. Era uma mulher séria e severa, lhe tinha dito, mas também amável, justa e de bom coração. Alvo sabia que Harry tinha em muita alta estima a diretora.


- Bem vindos, alunos, a um novo ano escolar em Hogwarts. Aos que voltam, já conhecem as regras. nada mudou. Aos novos, lhes comento que está proibido perambular pela noite pelos corredores de Hogwarts, fazer magia fora das classes, entrar no Bosque Proibido sem autorização ou sair dos terrenos do colégio. Qualquer um que não cumpra as regras será severamente castigado... E se não acreditam, podem se consultar com alguns alunos conhecidos e marotos... - e o olhar da diretora pareceu se seter por alguns segundos em Tiago Potter e Louis Weasley, que tinham se sentado juntos, fingindo inocência. - Amanhã pela manhã vocês receberão os horários das aulas. Sem mais o que dizer, os despeço para que vão até os respectivos Salões Comunais. Que descanssem! - e sem mais se escutou o ruido de numorosas cadeiras a se mover e começaram a se escutar os gritos dos monitores das casas, chamando os alunos. Alvo pôde ver Victoire, sua prima com ascendência veela, guiando os alunos do primeiro ano e intercambiando carinhosos gestos com seus outros primos. Um jovem alto e musculosos, que deveria estar em seu sexto ano, chamou aos alunos do primeiro ano da Sonserina e sem mais Alvo se viu obrigado a sair da vista de seus primos da casa do leão para seguir seu Monitor em direção às Masmorras.


Já em seu quarto, Alvo se sentiu estranho. Fora Escórpio, não conhecia os outros três garotos com quem compartilhava o quarto.


- Hum... Você é o garoto Potter, não?- perguntou um dos garotos. Tinha o cabelo castanho claro e os olhos escuros. Parecia realmente nervoso ao se dirigir ao Alvo.


- Sim. - afirmou este. - E você é…? - ele quis saber.


-Dimitri Kurdan - se apresentou o garoto, lhe estendendo a mão. Alvo a apertou com cortesia. - E eles são Taurus Zabini e Portus Cardigan. - apresentou os outros dois garotos. Taurus lhe estreitou a mão em forma fria e rápida, se afastando do toque tão rápido quanto pôde, como se Alvo lhe tivesse dado uma descarga elétrica. Se tratava de um garoto de cabelo escuro e longo, feições delicadas e olhos castanhos.


O outro garoto nem sequer o cumprimentou, mas ficou olhando fixamente durante uns segundos e depois falou.


- É um grande erro que esteja aqui, Potter - disse Cardigan finalmente, com voz fria. Alvo não respondeu, mas ficou o olhando. Cardigan continuou. - Você não pertence a Sonserina, Potter... Com uma família como a sua, não entendo no que o chapéu pensava ao te mandar pra cá. - cuspiu as palavras. Alvo sentiu que a ira o invadia.


- E eu não penso como lhe ocorreu a seus pais quando pensaram que você tinha o suficiente cerebro como para poder vir a Hogwarts. - as palavras saíam dos lábios de Alvo antes que ele pudesse se dar conta. A cara de Cardigan se contorceu em um gesto de raiva.


- Não se atreva a insultar minha família, Potter…- o ameaçou Portus.


- E você não se atreva a insultar a minha, Cardigan - retrucou o garoto. Ambos se olharam durante alguns segundos. Cardigan tinha os olhos azuis, elétricos e penetrantes, mas ainda assim Alvo não desviou o olhar. Pareciam querer se matar com os olhos e o resto dos que estavam no quarto começaram a ficar nervosos.


- Bom, os dois fiquem calmos. - interveio Escórpio finalmente, parando entre ambos, para evitar qualquer conflito. Cardigan então o olhou.


- E você quem é? - lhe perguntou com um leve deixo de desprezo.


- Escórpio Malfoy - lhe respondeu esse e então Alvo pôde ver o deixo de orgulho e altivez da família Malfoy.


-E defende a ele? - voltou a perguntar Portus, entre surpreso e acusador.


-Não defendo a ninguém. - se apurou a dizer o louro. - Simplesmente me parece uma estupidez que briguem por isso.


-Estupidez? Por culpa de seu pai o meu avô está em Azcaban!- gritou Cardigan.


-Quem é seu avô? - preguntou Dimitri, falando pela primeira vez desde que havia feito as apresentações.


- Antonin Dolohov, é o pai da minha mãe- respondeu mordazmente.


-Pois lamento que seu avô foi tão estúpido como para seguir a Voldemort! - disse Alvo, se bem que havia tratado de manter a calma, sua voz tinha se elevado um pouco demais.


-Vou te mat..! - começou a exclamar Portus enquanto tirava sua varinha do bolso. Mas antes que pudesse dizer qualquer feitiço, saiu desparado no ar contra a parede que tinha atrás e sua varinha caiu de sua mão.


Todos giraram a olhar para Albus, que apenas havia levantado uma mão em direção ao jovem de olhos celestes e cabelo castanho que havia balançado ameaçadoramente. E Alvo soube que novamente, como sempre que se chateava, a magia tinha brotado dele sem que ele pudesse controlar.


A porta do dormitório se abriu e entrou por ela o mesmo Monitor que os havia guiado até seu Salão Comunal essa mesma noite.


-O que aconteceu, por que tanta gritaria? - perguntou o garoto.


-Ele é o problema. - espetou Cardigan, enfurecido, enquanto se punha de pé com dificuldade, apontando para Alvo. O Monitor olhou ambos durante alguns segundos e quando pareceu entender o que tinha acontecido se desenhou um sorriso maroto.


-Assim que Potter é o problema?- perguntou, fazendo ênfase especial no sobrenome do mencionado. Portus assentiu com firmeza. - Bom, recem chegou e já está dando problemas... Parece que você é uma caixa de surpresas, Potter. Duelando com um companheiro... Talvez não seja tão má adição para a Sonserina... Muito potencial. - o Monitor parecia muito divertido com toda a situação.- Você, garoto, Cardigan, não é? Trata de acalmar os neurônios. Conviverá com Potter durante sete anos, te recomendo que o trate com calma. - lhe disse Portus, que nesse momente se encontrava indignado com o que estava acontecento. - E você , Potter... Bem vindo a Sonserina. Não me cabe dúvidas que se sentirá em casa. - tirou onda o garoto. Mas Alvo sabia que não podia abusar da sorte e simplesmente assentiu com a cabeça. - Qualquer coisa, meu nome é Heros Morgan. - lhe informou e logo deixou novamente o quarto.


Cardigan já se encontrava n cama e as cortinas das mesmas estavam fechadas, de forma que o resto dos garotos não podiam o ver. Dimitri e Taurus não tardaram em o seguir, sem dirigir palavra nem a Potter nem a Malfoy. Depois de uns segundos, Alvo girou e se dispôs a buscar em seu baul um pijama para ir dormir também.


- Esse maldito arrogante... Merece o que acabou de passar. - escutou a Escórpio que murmurava de maneira que nenhum dos outros o escutava. Também buscava seu pijama no baú, que estava junto ao de Alvo. Escórpio estava na cama mais próxima a de Alvo e ambas as camas se encontravam um pouco longe das três trestantes. - Seu avô é um trate, como toda a família. Meu pai contou que gastaram mal toda a fortuna e que agora sobrevivem do sobrenome de sua mãe que pertence a uma família de sangue puro da Irlanda. - Alvo no pôde evitar bufar diante o comentario de "sangue puro".


-Que grande estupidez - foi tudo que Alvo pôde dizer do chateado que ainda estava. Ao seu lado, Escórpio rio suavamente ao notar a irritação com qual o garoto revirava suas propriedades do baú e tirava violentamente o pijama ao mesmo tempo, esperramando metade das coisas no chão.


- Suas coisas não têm culpa, sabe? - riu Malfoy. E quando Alvo olhou ao seu redor, o desastre que tinha armado, não pôde evitar de dar risada também por baico. Sentiu que a bronca e a irritação o abandonavam levemente. Um pouco mais tranquilo, terminou de se trocar e encostou na cama, esgotado.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.