Epilogue
Lily, depois de constatar o sumiço de James, deitou-se na cama e chorou por horas. Ela se sentia afogada em culpa, porque nunca vira o quanto era egoísta. Ela se perguntava se era sempre assim ou se apenas acontecia quando ela estava brigando ou sob pressão.
As palavras de James rodavam em sua mente, mas havia uma frase que não sairia nem com um feitiço: “eu estou cansado de você explodir sobre mim como se eu fosse o culpado de tudo isso porque, sabe, eu não sou”.
Ele estava certo. Lily lembrava agora – sempre que ela estava triste, nervosa, furiosa ou qualquer coisa assim, ela sempre descontava em James. E ele sempre aguentava. Então, ela via o quanto tinha sido uma megera durante todos os esses anos.
Deu-lhe vontade de pular de um edifício depois disso. James desperdiçara tantos anos de sua vida correndo atrás de uma garota estúpida e orgulhosa e injusta e...
Lily pôs o travesseiro no rosto para abafar o grito. Remorso era pouco para descrever o que ela estava sentindo.
Talvez isso seja mal de Evans, pensou ela. Não sou tão diferente da Petúnia, afinal. Daqui a pouco, nós duas estaremos mugindo em algum pasto por aí.
James se cansou de ficar sentado no parque e decidiu, enfim, ir para a casa. Teria que ver Lily. Teria que conversar com ela. E, se as coisas dessem errado de uma vez por todas, pelo menos ele já tinha a mala pronta.
Aparatou perto de casa, escondido dos trouxas e andou devagar até a porta de casa. A porta não estava trancada. Ele não tinha tido tempo de fazê-lo porque estava consolando Lily e ela não fizera porque, provavelmente, tinha a cabeça muito cheia de coisas para se lembrar disso. Mas James sabia que era como se convidasse o próprio Voldemort para um chá, com aquela porta aberta. Relevou isso, para não ter mais o que brigar com Lily.
– Lily? – James chamou, sem ouvir nenhum sinal de que havia alguém na casa.
Porém, passos rápidos ecoaram no andar de cima, de alguém correndo e logo ele pôde ver uma mancha acaju descendo as escadas. Lily quase caiu ao tropeçar nos últimos degraus, mas se segurou no corrimão. Tirou o cabelo do rosto ao olhar para James. Eles ficaram em silêncio, se avaliando.
Lily tinha o rosto vermelho e inchado. Havia lágrimas secas em seu rosto e seus olhos estavam marejados. Ela mordia o lábio, o que fazia sempre que estava ansiosa. James parecia dez anos mais velho, cansado como se tivesse participado de uma luta de trouxas. Os cabelos pareciam mais desgrenhados que o normal, mas talvez aquilo devesse ser culpa do forte vento.
– James. – Ela sussurrou.
– Oi, eu... Hum, nós precisamos conversar. – Ele falou, constrangido.
Aquilo não era tão fácil de fazer. Perdoar uma pessoa, mas sem querer fazer isso muito fácil e sem saber se as desculpas seriam pra valer ou da boca pra fora.
– C-claro. – O brilho de esperança que nascera no peito de Lily morreu assim que ouviu James falar. A coisa não seria do mesmo jeito que sempre fora antes.
– Lily... – Ele começou, mas parou. James realmente não sabia o que fazer e gostaria que Lily começasse.
Seu rosto devia estar gritando isso, porque Lily começou a falar:
– James, eu sei que tenho sido uma imbecil com você. Eu percebi isso assim que você subiu por aquelas escadas.
– E por que você não disse logo? – Ele deixou escapar.
Ela baixou a cabeça.
– Porque eu tive medo de falar mais idiotices para você. Eu poderia me expressar mal, que, você sabe, é o que eu mais faço na minha vida. Eu não queria ferrar tudo logo de uma vez.
– Lily... – James suspirou. – Eu realmente quero te perdoar, mas... É difícil. Quero dizer, isso sempre aconteceu. Quem me garante que você não vai explodir em mim sem razão de novo?
Ela soluçou, levantando a cabeça.
– Eu não posso garantir. Mas, James, é diferente dessa vez, sabe por quê? Porque, dessa vez, eu sei o que eu faço. Eu percebi que eu brigo com você e desconto em você todas as minhas mágoas e raiva. Eu percebi que você correu atrás dessa estúpida aqui há anos – Ela sorriu. –, e você não merecia nada disso. Você merecia algo melhor que eu, Jay.
Ele sorriu por um momento, mas era um sorriso triste, sem humor.
– Depois disso, o que eu geralmente faço é correr pra você e então tudo fica bem. Mas eu não quero que o "geralmente" ocorra de novo, Lils. Quero dizer, eu não sei como ter sangue-frio com uma pessoa que eu amo. Qualquer um que fale as palavras certas, mesmo que sejam mentiras, eu acabo perdoando.
– Não diga que não pode me perdoar. Ninguém é perfeito. – Ela resmungou, baixinho.
Os dois ficaram em silêncio, sem saber o que falar. Lily olhou para baixo mais uma vez, sem ter coragem para encará-lo. Na verdade, ele estava certo. Deveria mesmo era dar as costas a ela, pois o máximo que James conseguiria era desperdiçar sua vida ao lado dela.
– Eu queria ter um frasco de Veritasserum agora. – Ela murmurou, ainda sem olhá-lo.
James soltou uma risada fraca e caminhou até Lily. Os braços dela estavam cruzados e ela estava encolhida, com frio. Bem, qualquer um teria frio se estivesse em pleno inverno com aquela camisola curta. Mas era a favorita dela, James sabia. Ele descruzou os braços dela e isso a fez encará-lo.
– Eu não quero ouvir a verdade por força de uma poção. Quero a verdade saindo da sua boca por conta própria. – Ele disse, com um sorriso pequeno.
– Eu não estava mentindo quando disse que percebi meus erros, Jay. Eu realmente me arrependo de tudo o que disse e vou tentar ser menos vaca quando estiver nervosa. Não vou tentar, aliás, eu serei. – Lily ergueu a cabeça, decidida.
– Você estava mentindo quando disse que eu merecia mais. Eu tenho exatamente o que mereço bem aqui. – James sorriu largamente.
Lily sentia como se tivesse tirado o céu das costas. Seu sorriso quase rasgava seu rosto e, assim que James terminou de falar, ela fez questão de pular em seu colo, abraçando-o forte.
Porque a melhor sensação é ser perdoada pelos seus erros, principalmente por aquele erro que poderia fazer dois amores ficarem separados.
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