Laura Tion



Fiquei chocada com a revelação de Laura. Ela parecia ser a pessoa mais normal do mundo dentro daquela sala. Tirando o fato de que éramos bruxos. Só isso. Fiquei boquiaberta por uns três segundos até Laura baixar a cabeça.

— Mas... Existe alguma razão, é, como posso dizer? Especial, isso. Existe alguma razão especial pra ele ter feito aquilo, sabe? Odiei aquilo, os testes. — disse gaguejando enquanto Laura colocava uma mexa da franja atrás da orelha.

— Existe. Ele me expôs na frente de todos, meus planos para esse colégio eram ser invísivel. E ele vasculhou todas as minhas lembranças, as mais pessoas. E me humilhou na frente de todos, ditando todas as minhas lembranças palavra por palavra pra os calouros que estavam perto de mim... — Laura enxugou uma lágrima, e recompondo-se voltou a falar — Desculpe. Eu não queria... Eu acabei desabafando. Se não quiser mais se sentar comigo, eu vou entender.

Assentí, tentando confortar Laura com minha mão em seu ombro direito. Preparei minhas palavras e soltei algo inesperadamente confortante:

— Não. Acha que só por isso não vou querer mais me sentar com você? — ufa! — Mas, Laura, por que ele fez isso? Ele não o faria á toa. Eu sou muito boa em guardar segredos.

— Sou decendente de Savannah. Prima daquele bonitão intercambista daqui. A única vantagem.

— O que acontece com a senhorita Tion, posso saber do que se trata? — era a professora Morganna. — Está com alguma dor, Laura? Pode ir para enfermaria se quiser.

Morganna era jovem e tinha longos cabelos loiros, um sorriso cativante para óbviamente quem merecia. Eu revidei tentando fazer com que Laura permanecesse na aula.

— Um feitiço dela, é... Ele falhou, e ela começou a chorar e então voc-você chegou. Senhorita Hector.

— Oh, pra que timidez? Podem todos me chamar de Morganna Hector! — disse ela abrindo os braços em um símbolo de grandeza. — Enfim, todos estão com seus exemplares deUma Pena Para Um Rato?

Havia despistado ela.

— Ogonnos — disse apontando a varinha para os olhos de Laura. O inchaço diminuiu. Havia sido o primeiro feitiço que testara dentro da Capa de Merlim, e ele fora bem sucedido. Estava orgulhosa de mim mesma. Mas ainda em choque. Como Laura Tion? Por quê ela?

 — E então, Sofia. Vai ou não fazer os testes para quadribol? — perguntava Morganna gentil, no fim da aula empilhando os livros emprestados dos alunos nascidos trouxas. — Alguém me contou sobre isso.

— É... Eu realmente ainda não sei. Por curiosidade, quem foi que te disse isso? — ora, que tipo de pessoa vasculharia tudo só pra descobrir sobre um mísero teste de quadribol.

— Amélia. Ela é da Galileu, sabe? Então... Ela já entrou pro time, disse que ouviu você e aquela sua amiga. Como ela se chama mesmo? — o rosto de Morganna parecia contorcer-se em um ponto de interrogação. — Ah, sim, Danah. Ela parece ser bem legal.

Nesse momento, a maçaneta da porta foi girada... Por Henrico.

— Sofia Witthing Bonist. Ah, olá professora Morganna! — srta. Hector acenou — Sofi, você não quer perder o horário dos testes pra quadribol, quer? — Henrico me puxou drasticamente pelo pulso, levando-me até ao campo de Quadribol da escola.

Danah acenava sorrindo com sua Firebolt 2.0, avistei uma placa Os alunos que não possuem vassouras, favor coletar uma no fundo das vassouras. lá haviam diversas Nimbus 2000, cujo eu e Henrico apanhamos uma cada um. A professora de voo era Mabel Barres. 

Olhei para a direita. Laura estava lá.

Ela me fuzilou com o olhar penetrante.

Sorrindo e acenando. Automaticamente, retribuí.

— Oi. Sou Amélia. — disse uma garota dos cabelos castanhos e olhos cor de mel. — Já conhecí a Danah.

A noite caía e eu e Henrico estávamos sentados na mesa do jantar dos Carmem. Especificamente, nossa mesa era a mais farta de todas. Asas de frango, peitos de peru, pizza, lasanhas, canelone, coxinhas, saladas, frutas caramelizadas, panetone, macarrão ao molho vermelho em uma farta travessa de ouro. Ainda me encontrava conturbada com o segredo de Laura. Não que isso afetasse em algo na nossa quase-amizade. Danah esforçava-se para conseguir outro "olá" de Cameron. Ivy voltou com uma entrega.

— Mas que é isso? — perguntou Henrico devorando um pedaço de pizza de calabresa. — Qual o nome dela? — disse Henrico acariciando a cabeça de Ivy, que o bicou. — Ai! Que isso? Má garota!

Rí da situação enquanto desamarrava a carta da pequena pata de Ivy. Que tentara abocanhar um pedaço da asa de frango de Avão Lincoln, que olhou indignado á mim. Minha desculpa foi Ela está com fome, acabou de voltar de uma viagem, sabe? Ah, viagens! acabei parecendo meio idiota mas se não impedisse Avão provavelmente gritaria ao mundo inteiro que Ivy tentou abocanhar um pedaço de sua asa de frango. Tirei o selo da carta com pergaminho meio amassado, e com as iniciais de papai e coloquei-me a ler.

Querida Sofia,

Está gostando da Capa de Merlim? Me desculpe por não ter escrito antes, não tive tempo. Aquela nossa vizinha trouxa apedrejou as janelas da cozinha e me ameaçou dizendo que se não chamasse um vidraceiro e arrumasse os cacos o que ela chama de abracadabra, ela iria chamar o padre da cidade para nos visitar. Depois ela atirou um pedaço de alho nos meus sapatos e tentou jogar-me água, alegando que bruxos derretiam com água. Concertei a janela com magia, e coloquei um Obliviate nela. Mas enfim, Sofi, pra qual casa foi? Espero que Benjamim...


Definitivamente, não iria contar á ele que havia ido para á Carmem. 

Muito menos que tinha um amigo mestiço. Nem que fui selecionada para a equipe de quadribol. Da Carmem. Não, eu precisaria contar. Ele saberia da verdade. De qualquer jeito, não importava ele descobriria e era melhor cortar o mau pela raiz. Terminei meu jantar e subí para a sala comunal da Carmem, não havia um sinal de vida por lá. Tirei da minha mochila meu tinteiro e minha pena. Comecei a escrever.

Querido papai,

Aquela velha não tem jeito mesmo! Já tentou jogar a maldição Imperio nela? Brincadeira! Eu queria te contar algo. Muito sério. Espero que não se desaponte comigo. Por que dos dois jeitos, sei que vai me amar, eu fui para


Parei de escrever por alguns segundos deitando minha cabeça na mesa. Peguei a pena e continuei.

Para a Benjamim, sim, é demais aqui!

Não, isso não estava certo! Apoiei minha mão em parte do pergaminho enquanto rasgara a última frase que escreví.

Eu fui para a Carmem, papai. Sei que não vai gostar muito, mas, quero que saiba que se quiser me punir eu aceitarei o castigo. Por favor, me desculpe! O teste... É, o teste era meio estranho, muito. Acho que ele errou na seleção, eu juro, eu queria muito ir para a Benjamim, mas eu não conseguí. Espero que me entenda. Sua filha, Sofia.

Dobrei a carta ao meio colocando-a em um envelope com os selos disponibilizados pelo colégio. Descí até o corujal. Era o certo á se fazer, e eu teria que contar á ele. Eu o amava muito e sabia que haveria castigo, com certeza. Mesmo que não entendesse, bem, minha parte estaria feita. Minha consciência limpa, certo. Contar a verdade é sempre o melhor. Mas não no momento. Sei disso. Ivy colocou as patas em meu dedo indicador quando terminara de tomar um gole d'água, amarrei a carta a sua pata direita e Ivy voara na calada noite. Estava com medo. Muito medo. 

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