Lágrimas
Hermione.
Depois que ele saiu, arrumei as vomitilhas com um feitiço só. Afinal, recolhê-las com a mão era só um pretexto para ficar perto dele, sozinha, por algum tempo. E estava dando certo, mais do que certo, se Verity não tivesse aparecido... Bem, agora era hora de eu falar com ele.
Saí do estoque e fui direto ao escritório dele. Ignorei Verity dizendo que a “Srta. Johnson” estava com ele. Eu sabia muito bem o que a Johnson queria, e não era nada inocente. E eu não podia deixar aquilo acontecer. Não mesmo.
Abri a porta, e vi uma cena que eu não esperava ver, por mais que eu soubesse das intenções da Johnson. Ela estava no colo dele, o beijando e tentando abrir seu zíper, enquanto ele estava de olhos arregalados me olhando, tentando se livrar dela. Eu vi no seu olhar que ele não tinha culpa daquilo e que ele não queria a Johnson. Então, perdi a razão.
Fui até atrás da Johnson, e a puxei pelos cabelos. Levei-a para frente da mesa de George, e a soltei.
- Srta. Johnson, a visita para o Sr. Weasley acabou. Pode ir embora. Já.
Ela me olhou com puro desprezo e foi embora. Me virei e o encontrei já de pé, me olhando com uma cara de assustado.
- Hermione... – Ele começou a tentar se explicar.
- Não, George, você não tem que se explicar. Eu que peço desculpas pelo vexame que dei... Perdi a razão... – E sentindo as lágrimas virem aos meus olhos, saí correndo de seu escritório. Desci as escadas correndo, esbarrei em clientes, pedi desculpas sem olhar quem era, na pressa e na vontade de sair dali.
- Hermione? O que houve? – Verity perguntou.
- Depois, Verity, depois! – Respondi, com a voz fraca.
Saí na rua e esqueci que era final de outono, e que estava começando a esfriar. O ar gélido me fez arrepiar, mas eu não queria voltar para dentro. Comecei a andar pelo Beco Diagonal, sem notar onde ia, devagar, acariciando meu braço e deixando as lágrimas rolarem. Afinal, porque estava chorando? Não sei.
- HERMIONE! ESPERA! – Era ele me chamando. Continuei andando sem virar para trás.
- HERMIONE! – Ouvi sua voz mais perto de mim. Sinto um puxão no braço, que me faz virar e ficar de frente para ele. Não ousei olhá-lo. Estava com muita vergonha.
- Hermione... Olha pra mim. – Olhei para cima e encontrei um ruivo esbaforido me olhando, com um olhar formado por um misto de preocupação, tristeza, dor. Ele levantou a mão e secou minhas lágrimas em silêncio. Abri a boca para falar, mas não pude. Ele me beijou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. O beijo começou tímido, inseguro. Aos poucos, fui relaxando e passando meus braços ao redor de seu pescoço, pousando minha mão sobre seus cabelos ruivos macios, dando-lhe um incentivo para intensificar o beijo. Ele passou o braço pela minha cintura, puxando-me para mais perto dele, colando meu corpo no dele. A outra mão dele passeava pelas minhas costas, acariciando-as.
Eu não me importava se estava no meio do Beco Diagonal. Não me importava se havia pessoas passando por nós e pensando “que lindo, um casal apaixonado” ou “que vexame”. Não me importava com nada. É só com ele que eu me importo, é só ele que eu quero. Só ele.
George.
Olhei boquiaberto e sem reação enquanto Hermione puxava Angelina pelos cabelos e a expulsava de meu escritório. Levantei-me devagar e continuei a olhando. Realmente, aquela garota era demais. Tinha atitude e era linda até com ciúmes. Ela se virou e me olhou.
- Hermione... – Comecei a falar.
- Não, George, você não tem que se explicar. Eu que peço desculpas pelo vexame que dei... Perdi a razão... – Ela disse, envergonhada, chateada, e pude ver as lágrimas se formando em seus olhos. Ela se virou e saiu correndo do escritório, deixando-me sozinho. Mas eu tinha que ir atrás dela.
Saí correndo atrás dela, sem fechar a porta do escritório, sem parar para nada.
- George, onde você vai?
- Depois, Verity, depois! – Gritei em resposta.
Saí porta afora da Gemialidades Weasley e olhei ao redor, a procurando. Não liguei se estava frio. Eu precisava encontrá-la. A avistei mais adiante, andando solitária, cabisbaixa, afagando o braço.
- HERMIONE! ESPERA! – Gritei, começando a correr atrás dela. Desviei de várias pessoas, batia em outras, pedia desculpas sem notar pra quem... Só queria chegar perto dela. Queria abraçá-la e explicar tudo o que eu sentia. Ela ignorou, nem olhou para trás, só continuou andando.
- HERMIONE! – Gritei pela segunda vez, dessa vez mais perto dela. Cheguei bem perto e dei um puxão que a fez virar de frente para mim. Notei que ela estava chorando e um aperto tomou conta de meu coração. Ela não olhou pra mim, continuou olhando para baixo. – Hermione... Olha pra mim. – Pedi.
Ela levantou a cabeça devagar e pude ver o sofrimento e a vergonha naquele olhar. Não entendi direito por que ela estava chorando, mas quem entende as mulheres? Levantei minha mão, e delicadamente enxuguei suas lágrimas. Olhei no fundo daqueles olhos cor de avelã que tanto me encantam. Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas então o coração, o desejo falou mais alto, e eu a beijei. O beijo, no início, era um tanto inseguro. Afinal, eu não fazia idéia se ela retribuiria. Mas senti seu corpo relaxar, e ela envolveu meu pescoço com seus braços delicados, entrelaçando seus dedos nos meus cabelos. Aquilo me deu a segurança que eu precisava para aprofundar o beijo. Passei um braço pela sua cintura fina, e a puxei mais para perto de mim. Queria sentir seu corpo bem colado ao meu, queria sentir seu calor, queria protegê-la do frio e do mundo. Minha mão passeava livremente por suas costas, em uma tentativa de esquentá-la.
Eu nunca senti nada igual como senti naquele beijo. Meu coração parecia que iria explodir a qualquer segundo, tamanha a alegria que o invadiu, parecia que ele pulava, gritava, dentro do meu peito. Era uma sensação que eu nunca tinha sentido antes. Meu coração batia tão rápido que chegava a doer. Mas era uma dor alegre, uma dor boa, não consigo explicar.
Então ouço uns trovões reboarem no céu e uma chuva pesada e fria cair sobre nós. Nos distanciamos imediatamente, sorrindo feito dois bobos. Ela olhou para cima, parecendo nem se importar com a chuva que já a tinha encharcado toda, deixando seus cabelos e sua roupa grudados em seu corpo. Peguei-a no colo de repente, de surpresa, e começo a correr com ela nos braços de volta a Gemialidades Weasley. Eu levava no rosto um sorriso de orelha à... buraco que antes era outra orelha, e a olhava de segundo em segundo.
Seus cabelos castanhos, agora lisos de tão molhados, estavam grudados em sua cabeça. Seus lábios exibiam um sorriso enorme e verdadeiro como nunca tinha visto. Seus olhos? Refletiam uma felicidade, uma alegria, uma emoção forte. Ela deixou a cabeça cair para trás, e uma risada linda e gostosa sair de sua boca. Pra mim, era a visão da perfeição.
Chegamos a loja completamente encharcados. Verity nos olhou com um olhar acusador, levantando uma sobrancelha como se perguntasse “o que houve com vocês dois?”. Soltei Hermione e sacudi meus cabelos, provocando-a e molhando-a mais um pouco, se é possível. Ela sacou a varinha e lançou um feitiço secante em mim e nela, nos secando completamente. Ofereci minha mão a ela, e ela entrelaçou seus dedos os meus.
Hermione.
- Como posso explicar algo inexplicável? O que senti quando George me beijou, colou meu corpo junto ao seu, não tem descrição. É uma coisa tão boa, um êxtase tão grande... Achei que meu coração iria parar de tão rápido que bateu! Minha alma? Saiu do meu corpo e foi dar uma voltinha no paraíso.
“A sensação de ter seus lábios sobre os meus, sua língua junto a minha, seus braços envolvendo-me... Nossa! Indescritível. E quando começou a chover? Não liguei se estava frio, não ligava se a chuva gelada iria congelar meus ossos, mas ele se importou. Me pegou no colo e saiu correndo, com um sorriso bobo e enorme no rosto, até a loja! Parecia que tinha ganho o presente que sempre quis sabe?”
- E ele não te pediu em namoro ainda? – Gina me perguntou. Estávamos nós duas trancadas no quarto dela, de madrugada, conversando. Ela estava boba com o que eu estava contando, mas ainda sim achava motivos pra criticar.
- Não! E por enquanto, não me importo sabe? Porque afinal eu tive a certeza de que ele gosta de mim! E eu o beijei! – Disse, quase saltando na cama. Gina ria abertamente da minha expressão.
- Sabe Mione, você é que tá parecendo uma criança que ganhou o presente que sempre quis!
- Vai dizer que não se sentiu quando Harry te beijou depois do jogo de quadribol, no sexto ano?
- Ah... É. Senti sim! – Disse ela, ficando vermelha, e me jogando um travesseiro. – Tá, mas me conta: vocês se beijaram depois disso?
- Não... Mas ficamos trocando olhares e sorrisinhos o dia inteiro.
- Mas vocês são tão sem graça! Imaginei que depois disso vocês ficariam se agarrando no estoque, em meio aquelas prateleiras, o fogo dominando...
- GINA! – A repreendi, rindo, e jogando o travesseiro de volta. – Eu queria saber é se o Harry sabe de todo esse fogo que a senhorita esconde.
- Ô se sabe... – Disse ela, me lançando um sorriso malicioso.
- Sério?
- Não né! – E riu abertamente. Eu começava a imaginar que dali a pouco a Sra. Weasley viria dar-nos uma bronca. Mas não veio... Gina e eu ficamos conversando a noite toda.
Na manhã seguinte, levantamos as duas com olheiras enormes e parecendo zumbis ambulantes. Mal havíamos dormido. A Sra. Weasley nos repreendia por ficarmos quase a noite inteira conversando. Imaginei se ela soubesse sobre quem estávamos conversando... A repreensão com toda a certeza seria maior.
Quando cheguei na loja, ele ainda não havia descido. Vi que algumas prateleiras estavam ficando vazias e fui para o estoque pegar mais. Estava pegando alguns cremes de canários, orelhas extensíveis e pó escurecedor instantâneo, e quando me viro, encontro ele, sorridente, me olhando. Levei um susto, e as caixas foram ao chão. Quando eu ia me abaixar para pegá-las, ele me prensa ente ele e a estante, e me beija. Me entreguei ao beijo sem pensar nem uma nem duas vezes. Assim que nos distanciamos, ele sussurrou ao meu ouvido:
- Que tal um encontro, hoje a noite?
Me arrepiei ao ouvir sua voz suave e sedutora em meu ouvido.
- Que horas?
- As oito, aqui na frente da loja.
Ele beijou minha bochecha e saiu, rindo. Com um feitiço peguei todas as caixas e as levei para a frente da loja, e comecei a repor as prateleiras. De vez em quando eu via olhares dele sobre mim, recebia piscadinhas e sorrisinhos tortos sedutores. “Caramba! Como esse garoto consegue me seduzir tanto?” pensei.
George.
Chamei-a para sair, depois de beijá-la atrás de umas estantes no estoque. Eu queria fazer uma surpresa à ela, e estava nervoso, não sabia se iria agradá-la. E era o que eu mais queria. Agradá-la. E eu planejava pedi-la em namoro. Não podia esperar mais. Não mesmo. Não depois que eu descobri que ela sente a mesma coisa que sinto por ela.
As oito, lá estava eu, nervoso, andando de um lado para o outro na frente da loja, a esperando. Ouço um estampido de aparatação e a vejo arrumando os cabelos. Ela estava linda. Realmente linda. Usava um vestido verde claro, com os cabelos soltos e bem controlados, não indomáveis como geralmente eram. Usava uma maquiagem básica, mas que destacava seus olhos. E o leve corar de seu rosto dava à ela um toque a mais de perfeição. Perfeita. É assim como eu a vejo. Mesmo com todos seus defeitos. Perfeita.
Ela se aproximou de mim, e me beijou. E lá estava eu indo voar novamente, e sem vassoura. Nos distanciamos.
- Oi George. – Ela me diz com uma voz suave e sedutora.
- Olá, Hermione. – A olhei dos pés a cabeça mais uma vez.
- O que foi? Estou feia? – Perguntou ela, olhando-se.
Eu ri brevemente e respondi:
- Você nunca está feia. Sabe por quê? Porque você é perfeita. Do jeito que você é. Pronta?
- Para?
- O encontro, oras.
- Ah, sim! – Ela riu. – Para onde vamos?
- Segure a minha mão, e você verá.
Ela fez uma cara intrigada e segurou minha mão estendida. E aparatamos.
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