Guerreiro Derrotado
| Do Nosso Jeito |
Capítulo Treze - Guerreiro Derrotado
"Por tudo aquilo que nunca morre
No meio da noite
O amor vai te encontrar".¹
Sua cabeça latejava com a falta de sono e comida. Mas sono e comida eram as coisas que ele menos pensava agora.
Assim que chegara no Cabeça de Javali, Albefort e Kingsley comandaram uma mudança para o Largo Grimmauld, que podia abrigar a todos com mais conforto.
Depois disso, estavam há horas a fio trancado numa reunião exclusiva com Harry, discutindo planos de Guerra fadados ao fracasso.
– Ainda acho que é loucura – tentava argumentar Harry, embora sua garganta estivesse seca de falar. – É muito arriscado. Denunciaria a nossa posição.
– O garoto está certo, Albefort – falou Kingsley. – A vida dele é muito importante para ser colocada em xeque assim.
– Não é, não – respondeu o outro bruxo, num rosnado. Olhou para Harry, e não haviam emoções em seus olhos. – Desculpe, Potter, mas com Voldemort morto, a sua vida vale tanto quanto a de um civil na rua.
Harry acenou com a mão.
– Minha vida, nem quando Voldemort vivia, valia mais do que qualquer outra. Digo que nos denunciaria porque Bellatrix Lestrange está atrás de mim.
– Deixe-me revisar sua história mais uma vez – dizia Albefort, olhando pra Harry muito desconfiado. – Tem certeza que Voldemort se foi?
– Positivo – respondeu, cansado.
– E você matou o Lestrange?
– Sim.
As costas de Harry pesaram quando ele respondeu a pergunta do velho; não aceitara completamente a ideia de que tinha matado outro ser humano, mesmo que este fosse tão asqueroso como Rodolfo Lestrange.
– Bem, você me dá mais orgulho agora do que nunca – resmungou Albefort. – Não temos espaço numa Guerra para feitiços de crianças.
Harry não respondeu; pretendia ganhar da forma mais limpa possível, mas não iria discutir.
– Suponhamos que seguiremos seu plano – começou Kingsley, como sempre muito calmo. – Qual o primeiro passo?
– Azkaban.
Havia um mapa velho estirado sobre a mesa que os três homens rodeavam. Harry apontou um lugar no meio de um imenso mar.
– Chegaremos pelo Mar do Norte... Estou completamente convencido que sabemos todos conjurar Patronos. Não há guardas na prissão, além dos Dementadores. Podemos facilmente afugentá-los, se estivermos em bom número.
– Azkaban fica no meio das águas geladas, não temos como aguentar muito tempo.
– Não iremos ficar muito tempo no mar. E Hermione conjura os melhores agasalhos do mundo.
– Aceito – falou Albefort, os olhos fixos no mapa, os braços cruzados sob o peito. – Libertamos nossos aliados.
Um sorriso escapou dos lábios de Harry.
– Sim. E bons aliados... – seus olhos brilharam de felicidade. – Rúbeo Hagrid, Pamona Sprout, Dédalo Diggle, Olivio Wood, Lino Jordan, Augusta Longbottom...
Kingsley também se permitiu sorriu, notando a alegria do jovem garoto. Quanto tempo não sorria? Mal conseguia se lembrar...
– Ótimo – disse, satisfeito. – Isso irá engordar a nossas fileiras. Está de acordo, Albefort?
– Estou pensando – respondeu o velho, sem muita alegria. – E depois disso? Qual seu grande plano?
Harry ergueu os olhos, encarando profundamente Albefort. O velho podia se fazer de durão, não demonstrando emoção alguma na voz ou na expressão, mas ele sabia que no fundo os dois queriam a mesma coisa.
– Depois, eu revirarei toda a Inglaterra à procura de Minerva McGonagall. Precisamos dela.
– Tenho uma ideia de onde ela pode estar. Acha que pode cuidar de Azkaban sozinho?
– Sim – respondeu Harry, com firmeza. – Após isso... – Suspirou fundo, seu coração aos saltos dentro do peito. – Encontraremos os Weasley.
Depois de pelo menos mais uma hora de planejamento, Kingsley finalmente disse que já bastava para ele, retirando-se para dormir. Harry permaneceu na sala, retirando o mapa da mesa e dobrando-o. Sabia que Albefort o observava.
– Sei que não confia muito em mim – falou, sem alterar o tom de voz.
– Nunca disse isso.
– Não precisou realmente dizer.
Albefort suspirou.
– Escute, garoto... Meu irmão – o velho fez uma pausa, dessa vez sua voz parecendo pesarosa. – Meu irmão costumava me dizer que esquecia o quanto você cresceu, e que ainda o via como o menino do armário debaixo da escada. Eu não o conheci criança, Potter, e talvez isso venha a ser uma boa coisa. Preciso que você seja homem a partir de agora. Preciso que seja um líder, um estrategista, um poderoso bruxo. Preciso que esteja pronto para comandar uma revolução, ou até o mundo bruxo, caso aconteça algo imprevísto. Entendeu, Potter? Preciso que você permaneça vivo. Não o preciso por amor; e sim porque você tem o poder de trazer esperança às pessoas.
Harry ficou calado por um instante, e o único som era o farfalhar das folhas na rua principal.
– Tem ideia do que está me pedindo? - Perguntou, por fim.
– Não é mais um menino, Potter. Está na hora de parar de agir como tal.
Harry teve vontade de dizer para Albefort que, se ele tivesse que escolher um dia, entre a vida de Hermione e o resto do mundo, não hesitaria em interferir a favor de sua amiga, e por isso – apenas por isso – não estava nem um pouco qualificado à cumprir as exigências do homem.
Ele se preocupava muito mais com a felicidade de Hermione do que com todo o resto do mundo, mais com a paz de espírito dela do que com seu plano, e mais com a vida dela do que com a vida que seriam perdidas caso seu plano falhasse.
De que lhe importavam as inúmeras pessoas e bichos sem nome nem rosto sacrificados num futuro difuso, se Hermione estava ali, viva e bem?
– Nunca sonhei que seria responsável por algo assim – disse apenas, quase sem voz.
Albefort não falou, dirigindo-se para a porta. Antes de sair, porém, repousou a mão no ombro de Harry, fazendo uma pressão. O garoto aceitou o gesto como compreensão e até afeição.
– Amanhã anunciaremos que você está vivo.
E saiu.
Sozinho, ali, com os olhos perdidos na parede, Harry sentiu-se cansado. Não tinha ideia do que aconteceria dali para frente. Se sobreviveria um dia, uma semana ou mais cem anos.
Enquanto encaminhava-se para o quarto, notou que os primeiros raios de sol despontavam pela fresta da janela.
Sem perceber, estava parado em frente à porta do quarto onde Hermione dormia. Tocou a porta, fazendo menção de abrí-la.
Porém não o fez. Com um suspiro, dirigiu-se ao seu próprio quarto. Antes de dormir, Harry Potter fez algo que há muitos anos não fazia: fechou os olhos e rezou, pelo bem de Hermione.
*
Vários pares de olhos o observavam, atentos e vidrados. Harry sentia sua mão suar, e sua garganta estava tão seca que ele achou que sua voz não iria sair. Olhou para Kingsley, em buscar de apoio, recebendo um sorriso reconfortante.
Soltou um pigarro.
– Tudo bem – começou. – Oi.
Hermione o encarava com atenção, o que tornava a tarefa dez vezes mais difícil.
– Como podem ver – disse, um pouco mais alto dessa vez. – Estou vivo. Estou muito feliz em ver tantos rostos, e alguns até familiares – sorriu para Simas Finningan, Susana Bones e Dino Thomas –, dispostos a lutar contra esse império do Mal.
“Sei que devem existir muitas perguntas... Começarei com as mais fáceis de responder. Sim, Voldemort está morto”.
Foi como se um calafrio estivesse passado pelas costas dos bruxos e bruxas ali presentes quando Harry pronunciou o nome.
– E ele não irá voltar. Vi seu corpo se transformar em cinzas. O responsável pela sua morte foi Ronald Weasley.
Ouviu-se um murmúrio de surpresa. Draco olhou para Astória, os olhos arregalados.
– Ron está morto – a voz de Harry saiu fraca. – Deu a vida para que nós estivéssemos aqui hoje.
Seus olhos procuraram o de Hermione, e nesse instante, ele parou de falar. Sustentou o olhar da menina, e sentiu como se estivesse penetrando na íris castanha. Não viu ali dor ou angústia; talvez um misto de saudade e orgulho, sentimentos novos para ambos.
– Iremos recompensar o seu sacrifício – falou, com muita firmeza, as órbes fixas em Hermione. Era para ela que ele falava. Era uma promessa. – Estou de volta, e quero retomar o Ministério.
– Qual o seu plano? – Perguntou um jovem bruxo, que Harry desconhecia. – Não estamos em bom número.
– Há outros, Harry – disse Simas. – Outros que não sabem da revolução, outros que estão fugindo.
– Sim – foi Albefort que respondeu. – Esperamos que a notícia que Harry está vivo e à salvo se espalhe, trazendo-os até nós.
– Além disso – completou Harry. – Temos planos de invadir Azkaban.
– Como? - Perguntou Dino Thomas, parecendo levemente preocupado.
– Não há guardas na prisão, com exceção dos Dementadores – explicou Harry. – Estou seguro de que podemos afastá-los com nossos patronos – ergueu os olhos, e encarou cada um dos olhos ali presentes. – Todos aqui sabem conjurar patronos corpóreos? – Não houve resposta. – Façamos assim... Levante a mão quem sabe conjurar um patrono corpóreo.
Todos os membros da Armada de Dumbledore ergueram as mãos, além de alguns bruxos mais experientes que Harry não conhecia.
– Tudo bem – ele olhou para Albefort. – Acho que temos um bom número aqui. Os que sabem conjurar um Patrono, irão comigo para o Mar do Norte, e os que não sabem, serão mais úteis ajudando Albefort a procurar Minerva McGonagall. Após a ceia, iremos treinar os Patronos algumas vezes... Tudo bem?
Aos poucos, as pessoas foram se dispersando pelos cômodos da casa. Na Casa dos Black, a comida eram sempre farta – provavelmente algum feitiço ilegal que fazia com que ela nunca faltasse, explicou-lhe Kingsley – e as pessoas já começavam a ganhar um tom saudável e corpos mais substanciosos.
Harry esperou que todos saíssem, para poder ficar sozinho com Hermione. Há algum tempo eles não conseguiam conversar, e ele realmente sentia falta dessa intimidade.
– Olá – disse, sem jeito.
– Oi... – Ela lhe ofereceu um sorriso tímido. – Como se sente?
– Cansado – respondeu, sinceramente. Coçou os olhos, e percebeu que estava com muito sono. – Não tenho dormido muito.
– Nota-se, Harry – Hermione mordeu o lábio inferior, parecendo ansiosa. – Precisa descansar.
Ele ficou em silêncio por um instante.
– Acha que nós podemos dar conta de Azkaban?
– Acredito na sua capacidade de olhos fechados.
Harry imediatamente sorriu. Ele andava se sentindo tão ansioso pela aceitação dos outros bruxos, apreensivo com relação ao seu plano de Guerra e, por vezes, tão solitário, que ouvir palavras gentis era como respirar uma lufada de ar fresco.
– Sinto saudade de conversar com você – confessou Harry.
– Eu também sinto – olhando para seus sapatos, Hermione segurou timidamente a mão de Harry. – Harry, preciso dizer algo.
– Sim? – Ele perguntou, ao mesmo tempo preocupado e satisfeito por sentir a pressão que a mão da amiga fazia na sua.
– Você reparou que Draco não ergueu a mão quando você perguntou quem sabia conjurar o Patrono?
– Não – respondeu, surpreso.
– Acho que ele está envergonhado. Ele gostaria de ir conosco a Azkaban, tenho certeza.
Harry coçou a cabeça. Estava cansado, precisava revisar os Patronos e, depois de tudo, ainda teria uma última reunião com Kingsley para repassar o plano de ataque.
– Acho que podemos ajudá-lo – comentou Mione.
– Sim... Farei o possível.
Ele ofereceu um sorriso doce à menina. Sentiu uma vontade desesperada de dizer que sentia saudade, mas não o disse; as pessoas começavam a voltar, aglomerando-se por ali, esperando por ele.
– Precisamos conversar – gemeu ele.
– Teremos tempo – a menina falou, embora não parecesse tão certa. – O que temos para falar não vai mudar em alguns dias.
– Não – concordou Harry. – Mas eu continuo aflito.
Não deixou ela responder, virando as costas para a garota e olhando para os bruxos ali presentes.
– Reúnam-se... Vamos começar.
A maioria que estava ali não sentiu dificuldade para conjurar os Patronos, mas, em face a dezenas de Dementadores, Harry sabia que a coisa poderia mudar de figura. Ajudou Neville, que não conseguia fazer com que o seu Leão durasse mais do que alguns segundos e alguns outros como Susana Bones.
De repente, então, um enorme Lince surgiu pela sala, passeando entre os alunos ali presentes. Todos olharam impressionados para Kingsley, que parecia divertido.
– Vocês sabiam que Minerva McGonagall é uma das poucas bruxas na Inglaterra que é capaz de produzir mais de um Patrono ao mesmo tempo?
Harry aproveitou a folga e olhou de esgueira para Hermione. A garota tinha acabado de conjurar o seu, uma Lontra magnífica, que rodava alegremente ao redor de sua dona, esguia, suave e graciosa.
Ele encantou-se com seu sorriso...
– Ei, Potter – alguém chamou.
Harry virou-se para encontrar um envergonhado Draco Malfoy.
– Será que pode me dar uma mãozinha aqui?
Harry ficou surpreso de que o sonserino estivesse realmente lhe pedindo ajuda.
– Pense em algo feliz. Mentalize algo o fato mais alegre de toda a sua vida. Não pense em mais nada, apenas focalize a lembrança e fale o feitiço.
Harry notou que Draco olhou pelo canto do olho para Astória. Não foi preciso muito para entender que a garota era responsável pela felicidade de Malfoy.
– Expecto Patronum!
Uma luz forte saiu da sua varinha, quase cegando a todos. Porém, Harry notou, a luz não tinha forma alguma definida.
Deu tapinhas no ombro do louro, que estava cabisbaixo, mostrando-se solidário.
– Não é um feitiço fácil. Eu mesmo demorei meses para realizá-lo. Treine... Irá conseguir.
Mas Draco Malfoy não seria capaz de produzir um Patrono corpóreo até o dia do nascimento de seu único filho.
*
Harry se esgueirou pela escada, pisando devagar, para não acordar toda a casa. Já passava das três da madrugada e só agora a reunião tinha acabado. Kingsley dera uma ideia que Harry não gostara nem um pouco, e que não estava nem um pouco disposto a realizar.
Sentindo-se cansado e esgotado, não queria pensar mais um segundo seguer naquela maldita guerra.
Chegou ao último degrau sem produzir som algum, mas, sem se conter, soltou um pesado suspiro.
Fitou a porta do quarto de Hermione, como de costume. Aproximou-se, tocando a maçaneta com a mão direita.
Sabia que não tinha direito algum de entrar, ou de acordar sua amiga – que também estava igualmente cansada -, mas seu desejo foi mais forte que a racionalidade.
Girou, adentrando no quarto mergulhado em escuridão. Como já tinha estado ali diversas vezes antes, não teve dificuldade em achar a cama onde Hermione se encontrava.
Olhando assim, para ela, ele sentiu-se mil anos mais velho. Gostaria de segurar sua mão, aparatar dali, escondê-la num lugar onde nem o próprio Mérlin a acharia.
Preocupava-se mais com a vida da amiga do que com a própria. Harry não tinha ideia se isso era saudável ou não, mas não podia evitar. O pensamento de perdê-la era-lhe inviável.
A ponta dos seus dedos formigaram quando ele pensou em tocar-lhe os cabelos.
Não o fez, desprovido de esperanças. Girou os calcanhares e rumou até a porta, tendo o cuidado de manter-se silencioso.
– Não vá – ele ouviu, quando sua mão ergueu-se para a maçaneta. – Fique comigo.
Quando olhou, viu as íris castanhas bem abertas o encarando. Harry voltou vagarosamente, sentando-se no chão à frente de Hermione, de pernas cruzadas.
– Por que não deita aqui? – Ela questionou, muito baixinho, oferecendo um lugar ao seu lado.
Harry suspirou, cansado.
– Não acho que devo.
– O que há? – A mão da menina fez uma carícia gentil no rosto de Harry. Ele fechou os olhos ao toque.
– A responsabilidade pesa, creio.
– Só isso?
– Preocupo-me também com a sua segurança. E um pouco com a minha sanidade, se quer realmente saber.
Hermione sentou-se na cama.
– Perturbo-o?
– Para falar a verdade, sim.
Ele não viu, mas ela enrubesceu.
– Já que estamos sendo sinceros um com o outro, Hermione, pode ser sincera comigo?
– Sempre fui.
– Sabe que não – interrompeu Harry. – De qualquer forma, já está ciente da forma como eu me sinto por você. Não escondo que esse sentimento é recente. Não sei se isso é bonito, justo, ou, por Morgana, se Ron iria um dia me perdoar por isso. Mas não posso controlá-lo. Não posso evitar, não posso lutar e, honestamente, já não sei se quero. Estamos numa maldita Guerra e tudo que eu consigo pensar é em traçar planos para deixá-la mais segura, ou se você está bem, ou no que está sentindo. O que eu sinto por você, Hermione, é muito diferente do que eu senti por todas as pessoas do mundo.
– Não consegue pensar que tudo isso pode ser um pouco de comodismo, Harry?
Harry riu, exausto.
– Assim me fere, Hermione.
– Desculpe – a voz dela saiu escandalizada. – Estou apenas tentando entender.
– Como pode tentar entender uma coisa que nem eu consigo? – Ele coçou os olhos. – Sempre tenta explicar seus próprios sentimentos, Hermione?
Ela não respondeu, e eles ficaram calados por vários minutos seguidos. Harry já começava a achar que entrar ali fora um erro, e que poderia passar a vida inteira ali ao lado dela, ela simplesmente nunca o veria.
Porém, já estava ali, tendo a conversa que ele ansiava há tantos dias, e não iria sair daquele quarto até ter uma resposta definitiva.
– Podemos continuar a ser sinceros um com o outro? – Ela perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
– Sim.
– Não acha que está levando a carta de Ron a sério demais?
– Carta? – Indagou Harry, sem entender.
– Sim. Na carta que lhe escreveu, Ron pede que cuide de mim.
– Desde quando preciso que alguém mande que cuide de você para eu realmente fazê-lo, Hermione? – Perguntou Harry, com paciência. – E eu duvido muito que Ron tenha pedido que eu cuidasse desse jeito.
Harry desviou os olhos da amiga, olhando para a janela. O céu era um quadro negro pintado de pontos brilhantes.
– Acha que não fico confuso? Pensa realmente que eu acho que está tudo certo em me apaixonar por você, sabendo que meu melhor amigo que morreu por mim também tinha esse sentimento?
– Não sabemos se Ron era apaix...
– Oh, Hermione, por favor – exasperou-se Harry. – Ele era louco por você, e você por ele. Sabemos disso.
O silêncio inundou o recinto novamente. Harry sentia-se em frangalhos, emocionalmente estraçalhado e traído pelo seu próprio coração.
– Ainda estamos sendo sinceros? - Ouviu-se a voz dela no breu.
– Mais até do que se pode ser – resmungou ele em resposta.
– Não sei bem quais os meus sentimentos com relação a Ron. Tampouco sei o que sinto com relação a você.
Harry pareceu surpreso.
– Não ama Ron?
Hermione ficava muito sem graça de comentar esse tipo de coisa. Certa vez, Fred perguntara para ela se ela gostava de Ron, e ela ficara tão nervosa que não conseguiu responder algo que fizesse sentido.
– Não tive tempo, Harry – respondeu, por fim, sem conseguir pensar em algo melhor para dizer. – Não com ele. E ainda não com você.
Harry, que estivera por anos certo de que os dois se amavam, estava visivelmente chocado.
– Não sei se você sabe – a menina estava muito vermelha nessa hora. Estava prestes a destrinchar sua vida para um outro alguém. Era algo inédito. – Mas, quando entrei em Hogwarts, não foi Ron que chamou minha atenção, e sim... Bem, você. Não posso explicar, digo antes mesmo que você me peça. Tinha um certo fascínio por você, nós nos parecíamos tanto, perdidos naquele mundo totalmente diferente, vindo de famílias trouxas. Sua humildade me encantava – e ainda encanta, devo ser justa.
Harry estava parado, de olhos vidrados, incapaz de pronunciar uma palavra. Jamais, nem em mil anos, teria imaginado...
– Fizemos tantas coisas juntos... Você e Ron me salvaram do Trasgo, e essa é a lembrança que eu uso para conjurar meu Patrono até hoje – Hermione deu um sorriso tímido. – Fiquei tão orgulhosa de você quando desvendou o mistério da Câmera Secreta... Jesus, era tão nova, que quase denunciei o que sentia por você diversas vezes – ela encarou os olhos do amigo profundamente. – Estamos sendo sinceros, sim? Estou te assustando?
– Não. Eu só não tinha ideia – respondeu Harry, com sinceridade.
– Quando começamos a crescer, as coisas ficaram um pouco mais confusas para mim. O fato de Ron não ter me chamado para o Baile de Inverno realmente me irritou. Ao mesmo tempo em que, sempre que estava com Viktor Krum, minha boca simplesmente não se cansava de mencionar você. Não sei, Harry, penso que quando somos crianças, é muito fácil misturar amor com raiva, e já ponderei mil vezes se não era por isso que brigava tanto com Ron.
“Depois disso, veio sua paixonite aguda por Cho Chang, e eu deliberadamente armei um encontro com você no Dia dos Namorados, sabotando sua saída com ela, e obviamente consegui. Só que, ao ver Ron agarrado com Lilá Brown, eu quis estrangulá-lo. Então, por favor, diga-me, Harry, como posso lidar com tudo isso? Como posso lidar com dois sentimentos tão distintos e ao mesmo tempo tão iguais? Como posso lidar com você agora, se todos os anos estive ao seu lado e você sequer notou-me?”
Harry não sabia o que responder ou o que pensar, preferindo permanecer calado. Não desviou, porém, os olhos do rosto da garota.
O silêncio não preenchia o vazio entre os dois.
– É a sua vez de ser sincero comigo – Ela falou, um sussurro tímido.
– Eu não posso te contar uma história de amor, não vou te falar o porque “deve” ficar comigo e tampouco tenho as respostas que tão avidamente procura – ele falou, por fim, cravando os olhos verdes nos olhos castanhos incisivamente. – Sei o que sinto e sei agora. Sei da angústia e dor que me assolam por sentir isso, penso em como Ron reagiria, fico repasando a imagem dele milhares de vezes em minha cabeça... E então, de repente, estou sozinho num quarto, olhando pro teto e criando um mundo de ilusões, querendo desesperadamente estar com você. Não tem sido fácil para mim também, você sabe? Tento pensar em maneiras de aceitar, tento ficar em silêncio... Pondero se devo fugir disso, se devo evitar os seus olhares... Mas porra, Hermione – ele desabafou. – Eu estou cansado da luta. Jamais imaginei que tinha tais sentimentos por mim. E por Ron. Muito menos por nós dois!
Harry levantou-se do chão, e os músculos da sua perna reclamaram.
– Talvez tenha sido um erro ter te pressionado.
Sem esperar por uma resposta, Harry virou-se de costas, dirigindo-se, pela segunda vez, para a porta.
– Achei que soubesse, Harry – Hermione falou, devagar, medindo o peso de cada palavra. – Eu jamais seria capaz de escolher entre vocês dois.
A garota ouviu o amigo soltar um suspiro pesado e suas costas tornarem-se tensas.
– Não vá – pediu mais uma vez, mordendo os lábios de apreensão. – Fique aqui comigo hoje.
Harry a encarou uma última vez, e seu semblante era de profunda tristeza.
– Não, minha Hermione – ele sorriu, sem emoção. – Ron está morto. Não seria um batalha justa.
E dizendo isso, finalmente saiu.
*
N/A:
¹ What About Now? - Daughtry
Oi gente, como estão?
Bem, eu não pretendia fazer essa DR entre Harry e Hermione, mas conforme fui escrevendo, ela foi saindo e deu nisso. Achei que era importante sabermos como Hermione se sente, para entender melhor as atitudes dela. Fiquei muito indecisa quanto a qualidade desse capítulo, mas resolvi postá-lo assim mesmo. Ele já estava pronto há alguns dias, mas estava esperando mais comentários para publicar (egocentrismo mode: on).
Por favor, me deem um feedback, preciso saber o que acharam.
Sei que pensaram que esse capítulo ia ser mais animado, sei que os últimos que postei estão meio mornos, mas prometo que no próximo mais ação - apesar de eu ser péssima escritora nessa categoria! Teremos a invasão de Azkaban, e a volta de personagens importantes (alguém viu cabelos ruivos por ai?!). Teremos mais Snape também em breve. Além de Minerva e seus vários Patronos, rs.
A fic não deve estar muito longe do seu final, btw.
PS: Fiz a PROEZA de apagar o capítulo anterior (12) sem querer, mas já repostei. Perdi os comentários e chorei largada :(
Enfim! MUITÍSSIMO obrigada a cada um que deixou um comentário aqui, vocês me deixam muito feliz com todo esse reconhecimento! SEUS LINDOS :P
Agradecimentos especiais: Tito - pela amizade, ajuda e paciência, Brunizinha, Laauras, Ta Granger, Márcio Black, Melissa Hashimoto, Venatrix, Gabrielly Potter, Nina Granger Potter, Bruna Behrens, Undiscovered, line silva e Lay Potter!
E...
LEIAM! : http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=45408
Comentários (12)
Nossa! o capitulo tá show! Parabens eu realmente amo sua fic!e essa DR do Harry e da Mione foi incrivel, serio me deu vontade de chorar! e o legal era que você não usou um motivo besta, apenas para eles ficarem com raiva um do outro! Realemnte parabens
2013-04-04Uma das DR's mais lindas q eu já li na vida! kkkkkkkkkkkSério, as palavras ditas pelos dois foram tocantes, tenho certeza q penetrou em cada leitor como um ensinamento! Sempre fiquei pensando se antes de tudo a Mione já tinha gostado do Harry, acho q sim, porém ele precisava vê-la antes de tudo, e como todos nós sabemos como ele é lento pra essas coisas, ao longo dos sete anos da saga desses bruxinhos, os sentimentos da Mione acabaram mudando, mas no fundo ela sempre amou o Harry.Amei tb o clima mistério em relação ao patrono do Draco!Bjão, espero q vc att logo!
2013-04-03