Espelho De Dois Sentidos
| Do Nosso Jeito |
Capítulo Onze - Espelho De Dois Sentidos
"Nós estamos indo para terras novas
Então segure minhas mãos
Vai ficar tudo bem
Isso é muito mais brilhante
Então fique perto do fogo
Vai ficar tudo bem
Sim, as estradas ficam dificeis
Mas não muito mais longe
Vai ficar tudo bem
Você sabe que não é fácil
Por favor, acredite em mim
Vai ficar tudo bem".
O inverno estava chegando novamente.
Os primeiros centímetros de chão começava a ganhar um tom esbranquiçado, transformando-se numa fina camada de gelo que, futuramente, ameaçaria-os de tropeços feios.
Astória estava, pela terceira vez, abrindo todos os armários do Chalé à procura de sal. Era costumeiro jogá-lo no gelo, pois aumentava a temperatura de fusão da água, ajudando o gelo a derreter.
Harry sabia que provavelmente a menina não encontraria nada de novo. O frio estava de rachar, e ficar tão perto do mar não estava ajudando. De certo que o mar é um regulardor térmico, não permitindo que as temperaturas perto dele variem muito, mas o vento que era originado ali na linha do horizonte era mais do que gélido.
Vento esse, que acertava o rosto de Harry, os flocos de neve como mil facas pequenas penetrando pelos seus ossos enquanto ele observava a praia.
Mas ele não queria entrar no Chalé. As coisas seriam mais difíceis agora... Plantas congeladas e difíceis colheitas, a falta de agasalhos grossos e pesados de lã, e a porcaria do vento frio uivando nas suas janelas de vidros quebrados.
Sem contar, claro, em toda a Inglaterra querendo a cabeça dos seis.
E, embora estivesse com incontáveis problemas, Harry não conseguia parar de sentir uma inveja rugindo em seu peito, como uma fome. Todos – todos – tinham alguém para se aquecer. Luna, que se mostrara muito boa em produzir fogueiras, passava quando todo o tempo junto a ela com Neville, esquentando as mãos e conversando sobre coisas que ninguém poderia entender, senão os dois.
Draco e Astória gostavam de ficar enrolados no cobertor, brincando de enroscar os pés gelados, e enchendo o Chalé com risadas.
Enquanto isso, Hermione resolvera se enclausurar em um dos quartos, enquanto Harry preferia ficar do lado de fora, sendo perfurado pelo vento que vinha do mar até seus lábios ficarem roxos e seus dedos dormentes.
Ele sequer sabia se Hermione estava com raiva dele, ou não... Eles mal se falaram desde que ele contara que fora o responsável pela morte de Ron. Trocaram meias palavras aqui e ali, mas não conversaram realmente sobre o assunto.
Suspirando, resignou-se a voltar para dentro do Chalé.
O calor do fogo na lareira, tomando seu corpo como um abraço caloroso.
Observou o Chalé atentamente. Os movéis de madeira, escolhidos cuidadosamente por Fleur, as paredes pintadas por Gui, a lareira de pedra com o fogo crepidante de Luna.
Harry imaginou passar a vida inteira debaixo daquele teto. Anos de silêncio confortável entre amigos. Haveria conforto, pensou. O alívio de saber como seria, a cada manhã, o dia.
Contentamento.
Razões para se isolar do mundo.
Claro, se ele não estivesse sendo perseguido.
Neville estava fazendo movimentos na varinha, e as chamas se transformavam animais, fazendo Luna rir; Draco estava sentado num sofá apertado com Astória, o braço esticado em seus ombros, as mãos grandes espalmadas sob a pele da menina.
– Vocês viram a Hermione por ai? – Perguntou Harry, mesmo sabendo onde a garota estava.
– No quarto, Potter – respondeu Malfoy.
Harry acenou a cabeça em agradecimento e dirigiu-se até o local.
Draco observou Potter andar vagarosamente, sem nenhuma emoção. Virou-se para os cabelos negros de Astória, aspirando levemente o cheiro deles. Beijou-lhe a testa com ternura, sentimento que jamais pensara sentir por ninguém.
– E então? - Sua voz saiu menos que um sussurro. - Pensou no que eu te propus?
Astória ergueu os grande olhos, surpresa.
– Você já quer uma resposta?
– Bom... - Draco pareceu meio sem jeito. – Quanto mais rápido, melhor. Digo, teremos mais chances.
– Draco, honestamente... – Astória pareceu triste. – Eu não acho que nós teremos a menor chance hora nenhuma.
Draco se impertigou.
– Como você pode falar assim? - Abaixou um pouco a voz, olhando de esgueira para Neville e Luna, certificando-se de que eles não os escutavam. – A cada dia nossa chance de sobreviver diminui!
– E o que te faz pensar que, sozinhos, lá fora, vamos sobreviver? – Astória o olhou com olhos suplicantes. – É suicídio, Draco.
– Suicídio é ficarmos aqui, parados, esperando a morte! Escute, Astória, você não conhece minha tia. Ela é louca, completamente insana. Se Potter é o alvo, ela não vai descansar até ter a cabeça dele numa bandeja de prata.
– Alguém no mundo não conhece Bellatrix Lestrange, Draco? Sei muito bem com que estamos lidando.
– Não, não sabe. Se soubesse, obviamente concordaria comigo!
– Então essa é a sua solução pra tudo? - Ela se afastou um pouco dos braços dele. – Fugir? Ir embora quando as coisas ficam difíceis? Porque se for, Draco Malfoy, trate de me dizer agora. Eu não vou a lugar nenhum. Eu ficarei aqui, com os meus amigos, lutando pelo que eu acredito que seja o certo.
– Você acha que é isso, então? - Inquietou-se Draco. – A única coisa que eu quero, Astória, é manter você à salvo!
– Mas estamos à salvo!
– Por enquanto! - Draco quase cuspiu, frustrado. – Quanto tempo você acha que nós podemos nos esconder? Quanto tempo teremos vivos até minha tia arrebentar aquela porta com cem bruxos ao seu lado?
Astória segurou o rosto fino do garoto, deixando as mãos de cada lado de suas bochechas. Draco estava lívido de medo, e ela podia dizer simplesmente pelo temor em seus olhos cinzas, antes tão determinados.
– Meu amado, minha vida, me escute – ela murmurou, com toda a doçura que conseguiu reunir. Sentiu um assomo de amor por Draco, quando notou que sua respiração foi se acalmando pelo tom de suas palavras. – Estamos à salvo, estamos em paz. Pelo menos neste exato momento – acariciou o cabelo dele. – E qual seria o ponto de fugir, nessa altura do campeonato? Para vivermos uma vida de fugitivos, nos escondendo nas entranhas de Londres, ocultando quem nós realmente somos, proibidos de viver uma vida normal e, além de tudo isso, solitários? Você realmente acha que vale a pena?
– Qualquer coisa vale a pena pra te manter viva.
Astória se viu, por um segundo, sem palavras. Pensou ter visto o brilho perolado de lágrimas nas orbes do namorado. Conseguia entende-lo. Certamente faria qualquer coisa para mantê-lo à salvo, também.
Amava-o.
Amava a cor dos seus olhos pela manhã, o jeito que sorria, suas mãos grandes de ossos proeminente, seu abraço acolhedor e sua expressão de preocupação.
Aproximou-se de Draco, colando suas testas. Sentiu súbita vontade de chorar.
– Se for para eu morrer... Não me interrompa... – Disse, baixinho. – Se isso tiver que acontecer, eu quero que seja ao lado das pessoas que eu amo, lutando pelo que eu acredito. E se eu tiver que levar uma Maldição Imperdoável pelo Potter pra impedir que a nossa última esperança se esvaia... Eu irei fazer. E eu preciso que você esteja ok com isso.
Draco não conseguiu impedir que uma lágrima solitária escorregasse do seu olho. Apertou as mãos geladas de Astória.
– Se você pular na frente de um feitiço pelo Potter, eu te mato.
Os dois riram.
Astória encarou a profundidade da expressão no rosto do namorado e imediatamente o reconheceu como o antigo Draco. Sabia que ele pularia na frente de feitiços também, se isso significasse salvar a vida de qualquer um daqueles que estavam debaixo do teto do Chalé das Conchas.
Perto dali, mas completamente alheio a conversa do casal, Harry estava parado em frente à porta fechada do quarto de Hermione.
Suspirou, repassando mentalmente o que iria falar. Ergueu a mão até a maçaneta, mas deteve-se.
Suas unhas estavam sujas, e uma delas estava mostrando claros sinais de que iria cair dali a alguns dias. Criou coragem e empurrou a porta.
Hermione estava lendo silenciosamente, sentada na cama, aproveitando o feixe de luz do sol que vinha da janela entreaberta.
– Podemos conversar?
– Aconteceu alguma coisa? - Perguntou a garota, muito calmamente, sem tirar os olhos das páginas. Harry se aproximou, e tocou a aba do livro, obrigando-a a encará-lo.
– Por favor, Hermione. Você sabe que aconteceu.
– Eu não acho que nós precisamos ter essa conversa – ela fechou o livro.
– Pois eu penso o contrário – Harry sentou-se na cama. – Você tem agido... Você está... Bem, você está distante de mim.
– Preciso de um tempo sozinha, para clarear a mente.
– Está com ressentida comigo, Hermione? – Harry perguntou, muito baixo, como se não quisesse realmente saber a resposta.
– Não – a resposta dela foi categórica.
Tamanha frieza, Harry quase resignou-se a ir embora e deixá-la sozinha mais uma vez, mas não conseguiu desistir; já que estava ali, iria resolver seus problemas com Hermione, ela querendo ou não.
– Você amava o Ron – disse Harry, engolindo a seco quando a frase saiu da sua boca. - É natural o que está sentindo.
– Você não sabe o que eu estou sentindo – respondeu Hermione, cerrando levemente os olhos.
– Então me diga o que está pensando! – exasperou-se Harry. – Por que eu não consigo descobrir o que está ali dentro!
Ela o encarou com olhos incisivos.
– Não há nada, Harry. Eu já lhe disse.
– Bem, eu não acredito.
Os dois ficaram em silêncio por vários desconfortáveis minutos. A cabeça de Harry estava uma confusão, mil pensamentos horríveis cruzando sua mente. Ele apertou uma mão na outra, nervoso.
– Ok, eu entendo, certo? Você o amava, preferia que ele estivesse aqui, preferia que ele não tivesse feito essa burrice sem tamanho...
– Oh, burrice sem tamanho? - Interrompeu Hermione, com raiva na voz. – Pois eu acredito que nunca vi Ronald tão corajoso em toda minha vida!
– Não é isso que eu estou querendo dizer!
Mas nem mesmo Harry sabia o que estava querendo dizer. Tinha algo horrível na ponta da língua, mas estava segurando... Não conseguia deixar de pensar...
– Então o que você está querendo dizer?
– Estou querendo dizer que você tinha sentimentos... Você tinha sentimentos românticos por Ron, e bem, preferia que eu tivesse morrido, ao invés dele, e por mim, isso está tudo bem, quer dizer, eu posso entender!
Harry parou de falar um segundo para olhar para a amiga. Hermione parecia que tinha sido esbofeteada.
– Eu posso entender! – Repetiu Harry, nervoso. – São sentimentos diferentes! Eu quero dizer, posso viver com isso, só não posso aguentar você me ignorando o tempo todo...
– Então é isso que você acha? – Hermione disse, num grito estrangulado. – Que eu era apaixonada por Ron, e por causa disso, está tudo bem achar que você deveria ir no lugar dele?
– Não! – Embananou-se Harry. Seus olhos procuraram a porta desesperadamente; desejou não ter entrado naquele quarto. – O que eu quero dizer é que você me culpa pelo que aconteceu, e eu aceito isso!
Dessa vez, os olhos de Hermione não estavam cerrados, ou mostrando impaciência; dessa vez, quando Harry a encarou, pesadas lágrimas brotavam na íris castanha.
– Não acho que você seja culpado, Harry! Não acho que ninguém seja culpado! Ron sabia muito bem o que estava fazendo, e eu honro sua memória aceitando a sua decisão! – Sua voz era de uma súplica desesperada. – Ele era meu melhor amigo, e eu o amava, e isso não tem nada a ver com o amor romântico, e sim que eu estou de luto! Eu estou de luto... Por favor, Harry...
Ela não conseguiu terminar, ou fazer com que a frase fizesse sentido. Harry tomou-a nos braços, segurando-a com força, seu corpo tremendo. Suas lágrimas caíam livremente, escorrendo para o braço dele e queimando-o como se fosse ácido.
– Por favor, não chore... Não suporto te ver assim...
– Por que ele tinha que ir, Harry? – A garota fungou. – Ele foi antes que pudesse lhe dizer que o amava!
Harry desejou enfiar facas nos próprios ouvidos, só pra não ter que ouvir aquilo. Doía demais, machucava em lugares dentro dele que ele sequer imaginara existir.
– Mas eu não vou – num surto de coragem, ele a segurou pelos ombros, fazendo com que ficassem frente a frente. – Acho que eu estou ficando louco, Hermione.
– Por que diz isso?
– Eu acho que... – Sua coragem vacilou por um momento. Ele parou. – Acho que eu tenho sentimentos por você.
– Do que está falando, Harry? Eu também tenho sentimentos por você...
– Não! O que eu quero dizer... O que eu quero dizer é que eu acho que estou... Hum... Estou meio que apaixonado por você...
Porém, antes que Hermione pudesse responder ou sequer raciocinar sobre o que tinha acabado de escutar, Harry se levantou num pulo brusco. Seus olhos estavam fixos na parede a sua frente, onde o espelho de dois sentidos Sirius fora pendurado na parede por Hermione e Astória, a fim de se olhar após os banhos matutinos.
– Hermione! Hermione! Venha cá! Você precisa ver isso!
Ela se levantou da cama rapidamente. Seus olhos foram da expressão boquiaberta de Harry até o espelho na parede.
Hermione reprimiu um gritinho. Um único olho azul perolado refletido do outro lado do espelho os encarava. Harry correu para o espelho.
– Dumbledore? – Esganiçou Hermione.
*
N/A:
Trecho no início do capítulo = More Time, Needtobreathe
Capítulo mal escrito, demorado, sem edição e sem criatividade. :( Nem consigo pedir desculpas pela demora... Desculpa mesmo, se é que ainda irão existir leitores para essa jovem autora que vos fala.
PS: Esse capítulo é dedicado ao Tito! Amigo querido e incentivador!
Gente, sei que é pedir demais, mas comentários são muito bem-vindos! Eu escrevo por eles, e sem eles, não tem tesão pra escrever fic não, ok? Então, se ainda tiver alguém ai lendo, COMENTEE \o/ ajuda muito a autora que vos fala.
Leiam minha fic com o Tito, é uma short H/Hr:
1 de Setembro
[ http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=45082 ]
Comentários (11)
Poxa... Imagina quando o próximo capítulo for escrito com criatividade! Por favor, não demore tanto a atualizar...
2013-02-25