O Vencedor
| Do Nosso Jeito |
Capítulo Dez - O Vencedor
"Tua flor me deu alguém pra amar".
Harry crispou os lábios, observando a gosma verde borbulhar no prato à sua frente. Tentou não fazer careta, porque Neville o observava atentamente, ansioso para um aval positivo.
Levou a colher cheia até a boca, e imediatamente sentiu saudade das sopas de cogumelos de Hermione.
A garota, por sua vez, permanecia parada, o seu prato intocado.
–Você tem certeza que é uma planta comestível, Neville? – Ela perguntou, parecendo muito temerosa.
–As plantas são muito auspiciosas. Ponha uma errada na boca, e você estará morto.
–Não se preocupe – se apressou Astória em responder. – Neville é particularmente bom nessas coisas de botânica.
–Sim – disse Luna, comendo com o prazer de quem come uma torta de abóbora. – Neville nunca erra.
–Está muito bom, Neville – mentiu Harry descaradamente, tentando engolir a comida sem mastigar, antes mesmo de conseguir sentir o gosto.
Hermione pareceu se convencer, e começou a comer, mas Harry podia dizer, pela expressão no rosto da amiga, que ela também estava se esforçando para não decepcionar Neville. Ele riu baixinho, enchendo mais uma colher e levando-a à boca.
A noite encontrou um Draco e uma Astória sentados à beira do mar. Harry observava, de longe, a Lua iluminar o casal. Draco estava com a mão pelos ombros da menina, num abraço protetor. Eles pareciam conversar baixinho. Era a primeira vez que Harry via Draco Malfoy ser sinceramente carinhoso com alguém.
A porta se fechou às suas costas, e Hermione apareceu ao seu lado. Eles se permitiram ficar em silêncio por um minuto, apenas observando as ondas, que iam e vinham, sem jamais alcançar o Chalé das Conchas.
–Onde estão Neville e Luna? – Perguntou Harry, embora não sentisse realmente a falta dos dois.
–Na sala de estar – um sorriso pequeno iluminou o rosto da menina. – Eu saí quando notei que eles estavam de mãos dadas.
Harry sorriu também, mas não pôde deixar de pensar que até Neville Longbottom parecia ter mais jeito com as garotas do que ele. Sentindo uma coragem súbita, ele agarrou a mão de Hermione.
–Venha cá.
Ele se aventurou pela praia, mas teve o cuidado de se afastar de Draco e Astória. Conjurou uma toalha grande, e a estirou na areia. Deitou de barriga para cima, e instruiu Hermione a fazer o mesmo.
Ali, longe dos prédios, carros e luzes de Londres, o céu parecia milhões de vezes mais estrelado, os pontinhos brilhando intensamente, iluminando o infinito negro em várias cores.
Hermione segurou a mão de Harry, e apertou.
–Você sabia – começou ela. – Que “Sirius” é o nome da estrela mais brilhante do céu e uma das mais próximas da Terra?
–Não – reconheceu ele, lembrando-se vagamente das antigas aulas de Astronomia. – Não sei como você consegue recordar essas coisas, Mione.
–Eu guardei na memória, pois achei que talvez, um dia, eu precisasse te dizer isso. Para fazer com que você se sentisse melhor.
–Você sempre me faz sentir melhor, Mione – confessou ele, honestamente. –Até mesmo quando não diz nada.
Ele apertou os dedos dela com gentileza, sabendo que chegara a hora de contar tudo que acontecera no dia da Batalha Final.
–Precisamos conversar.
–Precisamos?
–Sim – suspirou, reunindo toda a sua coragem, antes que ela se dissipasse. - Quero que você leia uma coisa.
Harry enfiou a mão no bolso do jeans e tirou um pergaminho velho. Desamassou de qualquer jeito, esticando as pontas com os dedos. Soltou um suspiro pesado, antes de entregá-lo a Hermione.
Os olhos treinados da menina leram rapidamente, a íris passeando pelas palavras em alta velocidade.
Quando Hermione finalmente terminou, ela ergueu os olhos. Eles estavam mais brilhosos que normalmente, banhado por lágrimas.
Quando ela falou, sua voz saiu estranhamente contida e rouca.
–Harry? O que exatamente aconteceu?
Ele esperou que todas as estrelas do céu se apagassem, que a Lua explodisse, ou que o mar se transformasse numa onda gigante, tudo – ou qualquer coisa – que evitasse que eles conversassem sobre aquele assunto.
Mas nada aconteceu. A Terra não tremeu, foi apenas seu coração, disparado. Ainda eram apenas os dois, Harry e Hermione, deitados sobre um teto de estrelas.
–Eu ia morrer, Hermione – Harry não a encarou, os olhos fixos no céu acima. – Eu estava acabado, derrubado.
–Mas você não morreu – disse ela, muito devagar, como se incentivasse ele a falar.
–Não – um nó enorme se desenvolveu na garganta de Harry. Aquela era, de longe, uma das coisas mais difíceis que ele tivera que fazer na sua vida. – Por causa dele. Por causa de Ron.
–Você vai ter que fazer melhor do que isso, Harry – a apreensão apareceu, pela primeira vez, na voz de Hermione.
–Eu estava sangrando. No chão. Minha varinha estava a metros de mim... Eu... – as cenas vieram como um flash em sua cabeça, a os olhos de Harry desfocaram. – Eu não sei de onde ele saiu... Talvez estivesse me seguido, eu não sei, Hermione, eu juro que não sei...
Ela não disse que estava tudo bem, e, embora ele não esperasse por isso, a ausência do conforto o incomodou.
Tentou engolir tudo que estava sentindo, mas os sentimentos rasgaram-lhe a garganta.
–Voldemort lançou a maldição da morte, foi tudo rápido demais... Eu fechei os olhos e esperei, mas ela nunca veio. Ao invés disso, Ron se meteu na minha frente, recebeu toda a carga, e estava lá, estirado no chão da Floresta Proibida. Voldemort me encarou por um segundo, e então, foi como se seu corpo estivesse perdendo todas as energias, definhando e definhando até finalmente sumir.
“Imediatamente, eu me estirei sobre o corpo de Ron. Ele estava segurando essa carta com tanta força, que eu demorei quase dez minutos para conseguir recuperá-la. Assim que minha mão se fechou no pergaminho, ele sumiu”.
Harry conseguiu olhar para Hermione pela primeira vez.
–Por favor, não chore, Hermione! – Pediu, os próprios olhos enchendo-se de lágrimas. A angústia inundou seu peito, sugando suas forças. – Ele pediu que eu cuidasse de você, você não pode chorar, tudo que ele me pediu foi que cuidasse de você... Por favor...
As lágrimas escorriam livremente agora pelo rosto dos dois amigos. Harry não conseguiu falar, e achou que, mesmo se conseguisse, não seria capaz de encontrar palavras que conseguissem confortá-la.
Eles se abraçaram com força. O único conforto que poderiam ter, era aquele: um nos braços dos outros. Sem palavras, sem complicações. Só os dois.
Harry se afagou mais em Hermione, e pôde sentir seu coração bater com força. Ele teve certeza, naquela fração de segundo, que o seu próprio batia por ela.
*
Harry,
Se estiver lendo isso, quer dizer que eu morri, e, meu plano, provavelmente, deu certo.
Eu andei pensando, desde aquele infortunado dia, em que nós brigamos por causa do Medalhão de Slynterin, no que eu podia fazer para reparar o dano que eu causei em você, e em Hermione.
Observei os fatos do seu passado, o jeito que Voldemort foi derrotado na primeira Guerra, e, juntando as peças, tirei simples conclusões. Você confirmou minhas idéias, quando eu te perguntei sobre o sacrifício que sua mãe fez. Percebi que foi esse sacrifício que fez com que o Lord das Trevas padecesse. Sacrifício que Lily fez por amor.
Voldemort não entendia o amor, e isso fez com que ele fosse derrotado.
Essa Guerra vem arrastando muito mais do que a paz. Ela vem arrebatando vidas e mais vidas, sonhos, futuros. Eu simplesmente não posso mais deixar isso acontecer.
Isso é maior do que eu, do que você. Mas eu ainda lembro-me das palavras de Dumbledore: “Confiem em Harry. Ele é a nossa melhor chance”.
Se eu estiver certo, meu grande amigo, Voldemort cairá exatamente como caiu da primeira vez.
Eu gostaria de ter compartilhado meus planos com você, mas sei que você me coibiria de fazê-lo. Foi algo muito difícil, e que eu pensei por bastante tempo, e tenho a certeza de que você e Hermione fariam o mesmo por mim.
Como no nosso primeiro ano, eu assumo a posição do Cavaleiro, para que você seja o Bispo, e a Hermione a Torre, e assim, juntos, seus movimentos serão capazes de cobrir todo o tabuleiro. Eu me sacrifico aqui, para que vocês possam seguir em frente.
Cuide-se.
E mais importante: cuide de Hermione.
Seu coração bate por todos nós.
Do seu irmão,
Ron Weasley
*
N/A:
Trecho no início do capítulo = A Flor, Los Hermanos
Comentários (23)
Se eu falar que tô chorando, você acreditaria? Sem palavras, tocou lá no fundo cara... De verdade, muito lindo.
2012-02-12TENHO QUE DIZER QUE O RON MANDOU MUITO BEM!!! Capitulo lindo, e a carta do Ron foi esclarecedora. Comida do Neville foi meio tensa né? Pq o Harry não cozinha? Sabe aposto que ele pode faze algo melhor que cogumelos e gosma verde. Bem agora com toda a verdade sobre o incidente da morte do Ron é seguir em frente, planejar a revolução e botar pra quebrar! Ele podem começar por países livres que não tenham sucumbido a guerra, e ir juntando exércitos e reconquistando territórios, mais isso é só uma idéia. Amei o capítulo curiosa pela continuação, att assim que der, por favor. Beijos...
2012-02-11E eu chorando junto com os dois... :')Foi lindo!! Rápido, bem explicado e... emocionante!! *------------*O sacrifício de Rony por Harry... A maior prova de amor que ele poderia dar ao amigo e à sua amada... (ai, meu Deus, que lindo!! )E tenho que confessar... só agora, com a carta do Rony, que eu entendi o nome do capítulo 1 (A Torre e o Bispo)... Nada mais é do que um capítulo da Hermione e do Harry... como no jogo de xadrez, no primeiro ano... :')Aaahhhh!! Lindo demais! Lindo demais!!Parabéns, você me deixou emocionada só com esse capítulozinho!! Está perdoda!! =DContinua, por favor. A fic tá PERFEITA!!
2012-02-11