PREPARATIVOS PARA O BAILE
CAPÍTULO 7 - PREPARATIVOS PARA O BAILE
A próxima reunião da AD foi logo na segunda-feira. Hermione estava impaciente para reunir os estudantes e disseminar a idéia do manifesto silencioso o mais rápido possível, e ela estava certa – agora eles só tinham uma semana para treinar, estudar, conseguir seus pares e providenciar as vestes negras, caso concordassem em fazer parte do manifesto.
—E é isso o que nós, criadores da AD, sugerimos que vocês façam. – ela disse por fim, ao lado de Harry e Rony, quando toda a Armada estava reunida na Sala Precisa às cinco horas da tarde.
Não houve murmúrios de dúvida, todos concordaram imediatamente com a idéia e alguns até vibraram com o fato de poderem usar negro sem culpa. Luna foi uma dessas pessoas.
—Que ótimo! Porque o meu vestido já é negro mesmo, sabe? Não vou precisar tingi-lo antes do baile... – comentou com Gina ao lado dela, em sua usual voz sonhadora.
Estando todos satisfeitos (ou quase todos, pois Marieta estava chiando ao lado de Cho, irritada em não poder mais usar seu esplêndido vestido prateado. Lia neste momento teve uma imensa vontade de pisar no pé da garota), Harry deu início à segunda reunião falando muito brevemente a respeito do feitiço estuporante e suas vantagens contra o inimigo. Tina, que estava ao lado de Neville, o ouviu resmungar algo como "Eu ainda nem consegui o de desarmamento" e sentiu uma imensa compaixão por ele.
—A fórmula é Estupefaça. Concentrem-se e a pronunciem com força. Vamos nos dividir em pares de novo e treinar um de cada vez, para não haver acidentes. – Harry disse, andando entre eles.
Harry formou duas filas, fazendo com que cada pessoa de cada par ficasse de frente um para o outro, dando assim forma a um corredor de alunos. Hermione e Cecília arrumaram várias almofadas coloridas em cada extremidade da sala, para que ninguém precisasse cair no chão.
—Eu posso treinar com você, se você quiser, Neville. – Tina disse solícita ao garoto, quando passou por ele.
—Tudo bem, obrigado. – Neville respondeu, corando.
Os dois se colocaram de frente um para o outro na fila. Hermione e Cecília fizeram menção de fazer o mesmo, mas Rony aproximou-se, colocando-se de frente para Hermione. Ao lado dele vieram Fred, Jorge e Simas. Jorge ficou de frente para Cecília, e Fred e Simas formaram outra dupla.
Não houve tempo nem necessidade de discutir o assunto, pois Harry pediu para que se afastassem um pouco mais dos colegas ao lado e começassem o treinamento.
—As damas primeiro. – chamou Rony, abrindo os braços como quem diz "manda ver".
—Você não quer tentar ao mesmo tempo? – sorriu Hermione, com uma expressão de diversão estampada no rosto, típica de quando ela queria competir.
—Não. – anunciou Rony. – A gente treina primeiro e depois disputa pra ver quem é mais rápido.
—Eu nem falei em disputar... – começou Hermione.
—Sei. – concordou Rony ironicamente, posicionando-se e fazendo um cumprimento com a cabeça.
A garota parou e o encarou por cinco segundos. Sorriu para ele e no segundo seguinte Rony estava plantado no meio das almofadas coloridas, do lado oposto da sala precisa. Segundo depois, Jorge juntou-se a ele e lá ficaram os dois desacordados.
Hermione e Lia caminharam na direção das almofadas, com varinhas em punho, com o intuito de usarem o contra feitiço Enervate para reanimá-los.
Cecília fitou Jorge por um momento ou dois e virou-se, para encontrar Hermione olhando da mesma forma para Rony. Ela, ao olhar para o lado, ficou nitidamente sem graça ao perceber que Lia a observava.
—Enervate! – Hermione exclamou, reanimando Rony prontamente.
Ele levantou-se sorrindo, para a diversão de Harry, que observava tudo de longe. Era preciso muito bom humor para uma pessoa que acabara de ser atingida por um feitiço estuporante levantar-se com toda aquela satisfação.
Jorge foi reanimado logo em seguida e levantou-se como se tivesse acabado de cair, quando na realidade estava desacordado há uns quinze segundos. Cecília riu ao se aperceber disso.
—Que? – ele perguntou, olhando para os lados.
—Nada...
Os quatro caminharam de volta para a fileira e entraram em posição para treinarem novamente. Hermione juntou as mãos e mimetizou o mesmo cumprimento que Rony havia feito antes dela estuporá-lo. Lia apenas jogou os cabelos para trás, num movimento rápido de cabeça.
Rony e Jorge mal se entreolharam e em um piscar de olhos, Lia e Hermione foram parar no meio da almofadas, exatamente ao mesmo tempo.
Eles andaram com um ar falsamente displicente em direção ao outro lado da sala, onde as meninas repousavam com as articulações em ângulos estranhos. Ambas tinham a expressão tranquila de alguém que havia caído pesadamente no sono.
Houve certa hesitação em trazê-las de volta à consciência tão rapidamente. Fazê-las levantar-se tão de pronto parecia algo muito nobre a ser feito quando, na realidade, haviam muitos detalhes a serem captados e que exigiam mais tranquilidade.
Jorge pegou a mão de Lia entre as suas e a beijou com delicadeza. Rony pensou bem se teria coragem de fazer o mesmo, mas os dois acabaram por dizer "Enervate" ao mesmo tempo, apenas alguns segundos depois. Rony e Jorge voltaram aos seus lugares com a nítida sensação de estarem abrindo mão de um prazer que raramente lhes seria oferecido novamente.
Enquanto isso, Lia e Hermione levantaram-se um tanto quanto esbaforidas. Lia catou a varinha distante alguns passos do lugar onde havia caído, e Hermione demorou um outro tanto para encontrar a sua própria. Voltou a tempo de notar as bochechas coradas de Jorge ao sorrir de volta para Lia, em uma demonstração clara de ter sido pego fazendo algo repreensível.
A garota mirou Rony de maneira suspeita, e prendendo os cabelos volumosos em um longo rabo-de-cavalo, esperou até ele voltar a encará-la, uma vez que ele parecia subitamente interessado em algo até então insignificante bem do outro lado da sala.
No instante em que o olhar dos dois se encontraram novamente, Hermione lançou o feitiço, acertando Rony bem no peito e recolocando-o precisamente no mesmo ponto onde ele havia caído anteriormente. Ainda houve tempo da garota lançar um olhar carrancudo para Jorge antes dele ser atingido pelo feitiço de Lia e também cair desacordado no meio das almofadas.
Harry viu quando antes de se dispor a reanimar os dois, Hermione chamou Cecília e cochichou algo em seu ouvido. As duas lançaram um feitiço discreto de luzes amarelo-cintilantes uma na outra e só então seguiram em direção aos meninos. Ele viu Fred fazer uma careta em sua direção e retornou um olhar reprovador que deixava clara a sua posição sobre o assunto.
Apesar de compreender perfeitamente as razões de Jorge e Rony, ele queria que suas aulas no AD. fossem vistas de maneira séria por todos, tanto alunos quanto alunas. Aquela estranha e ao mesmo tempo maravilhosa sensação de responsabilidade pesava em seus ombros e ele imediatamente viu que deveria circular pela sala tomando as devidas precauções para que incidentes daquele tipo não acontecessem entre duplas de sexos opostos.
Voltou suas atenções para Dino e Angelina, reanimando a menina ele próprio quando percebeu que Dino estava demorando mais do que o normal para realizar o feitiço por si mesmo.
—Ei, Harry... – ele cumprimentou, sem-graça e obtendo como resposta um aceno de cabeça suficientemente sério para que a mensagem fosse compreendida.
Neste momento ele notou que Marieta estava há bastante tempo desacordada, mas pela simples razão de que sua dupla, Cho Chang, o observava em sua ronda. Apesar de estar perfeitamente ciente de estar fazendo a coisa certa, ele não pode deixar de se sentir envergonhado e por alguma razão desenvolveu uma súbita coceira no nariz que o impediu de encarar a menina por mais tempo.
Voltou suas atenções para Tina, que neste exato momento mirava um Neville inconsciente com um sorriso gentil. Por um segundo, o garoto se sentiu na dúvida se deveria repreendê-la ou não; mas sentiu que estava exagerando em sua guarda e que não poderia considerar aquilo como nenhum tipo de "assédio".
Sentindo-se observada, Valentina riu divertida para Harry, ainda sem decidir se deveria se sentir envergonhada ou não pelo seu ato.
E desta forma, com um número de repreensões cada vez menor no decorrer do tempo, Harry viu a aula chegar naturalmente ao fim.
—Muito bem... Vocês foram ótimos... – ele disse, acenando positivamente, mas sem sua usual expressão amistosa no rosto. O garoto achou que havia a necessidade de se impor como professor e responsável pelo AD e preferiu adotar a postura firme de um mestre que havia visto pessoas se comportarem de maneira incorreta durante o curso de sua aula. – Poucas foram as pessoas que não conseguiram realizar o feitiço... e eu tenho que parabenizar especialmente o Neville e a Tina, que foram muito bem hoje!
Houve uma salva de palmas e tanto Neville quanto Tina sorriram abertamente para seus companheiros de AD. A garota agora parecia muito mais simpática e receptiva do que aquela sonserina introspectiva que entrara em Hogwarts alguns meses antes. Ela se sentia absolutamente em casa no meio de todas aquelas pessoas.
—Quando houvermos marcado uma nova data para a próxima aula, os galeões esquentarão em seus bolsos, como de costume... – Harry continuou. – Então estamos todos dispensados por hoje.
Houve o usual burburinho de final de aula, e as pessoas foram cada uma pegando seus pertences e saindo aos poucos da Sala Precisa. Harry viu Rony conversando com Hermione, em um ponto mais isolado da sala.
—Mas você vai comigo, sim ou não? – Rony perguntava, de uma forma excessivamente casual.
—Não quero falar com você agora, Rony...
—Mas porque não? Que foi que eu fiz? – ele perguntou, cinicamente, na opinião de Harry.
—Rony, eu não quero falar com...
—Você vai, sim ou não?
Hermione parou para encará-lo, e respirou fundo. Quando respondeu, foi com uma indiferença que Harry reconheceu como bastante forçada.
—OK. Tudo bem. – e abanou um dos braços em um movimento de "tanto faz".
A garota virou as costas, para sair juntamente com Cecília, que a esperava mais próximo da porta. Rony permaneceu plantado com a mão na cintura, observando-a ir embora. Quando as duas desapareceram através da saída, ele não conseguiu segurar o sorriso. A expressão de contentamento, entretanto, desapareceu imediatamente após ele perceber que Harry o observava e foi substituída por uma cara séria e fingida.
Enquanto isso, Valentina esperava Neville pegar sua mochila e alguns livros de Herbologia.
—Você pegou estes na biblioteca? – ela perguntou.
—Sim...
—Tem um aqui que está com o prazo vencido... Madame Pince vai matar você!
O garoto fez uma expressão de terror.
—Ai, meu Deus! Tinha me esquecido deste...
Tina riu.
—Neville.
Ele parou, com um sorriso pendurado no canto da boca.
—Er... vamos ao baile? Quero dizer, juntos?
O sorriso do garoto foi substituído por uma expressão boquiaberta.
—Como amigos... – Tina sentiu-se na necessidade de frisar.
Neville sorriu, aparentando até mesmo certo alívio. Quando ele estendeu a mão para cumprimentá-la num aperto, foi com uma expressão de compreensão amistosa.
—Claro que vamos!
—Então combinado!
E os dois deixaram a Sala Precisa juntos, conversando animadamente até o ponto onde tiveram que se separar. Um para seguir para o Salão Comunal da Grifinória, a outra para o Salão Comunal da Sonserina.
—Quero só ver a cara da Umbridge! Só tenho pensado nisso quando olho para o meu vestido! Vou me divertir demais! – disse Tina, muito animada.
—É... Foi uma ótima idéia, esta... a de irmos todos de preto.
—Vou indo, então, Neville... Até mais!
—Até! – ele respondeu, simpático, virando-se e começando a seguir sozinho o caminho para o quadro da Mulher Gorda.
—Neville! Ei, Neville!
O garoto virou-se, para dar com Rony, Harry e os gêmeos.
—Espera a gente...
Os quatro chegaram sorridentes ao lado do garoto.
—E aí? – perguntou Rony.
—E aí o que?
—Como assim "e aí o que"? – disseram Fred e Jorge juntos, rindo. – Convidou ou não convidou? – continuou Fred.
—Ah! – Neville pensou um pouco, talvez se decidindo se valia a pena detalhar que, de fato, era Tina quem o havia convidado. – Convidei...
—E? – continuou Harry.
—Tenho um par para o baile, não é? – respondeu Neville, parcialmente satisfeito e parcialmente incomodado com o interesse que o assunto estava causando.
Percebendo que o garoto não estava gostando de responder tantas perguntas, os cinco avançaram um pouco mais, sem nada falarem. Foi quando Harry quebrou o silêncio.
—No nosso próximo encontro do AD, dêem o exemplo, e me ajudem a impedir que a aula vire uma bagunça onde ninguém respeita ninguém. – ele reclamou, secamente.
—Quem desrespeitou quem? – perguntou Rony, realmente surpreso.
—Não seja cínico, Rony. – Harry rebateu.
—Não estou sendo. Eu não desrespeitei ninguém. Você está sendo muito rígido, Harry, pelo menos na minha opinião.
—Também não me lembro de ter feito nada de errado. – continuou Jorge, unindo-se ao coro.
Harry parou e encarou bem os dois. Foi Neville quem falou desta vez.
—Ora, Harry! Ninguém desrespeitou ninguém! O que houve foi apenas um atraso que naturalmente acontece quando algum garoto estupora uma garota. Você pode até tentar, mas não vai conseguir impedir isso. Mas fácil deixar de treinar feitiço estuporante.
Os quatro olharam com uma certa surpresa para Neville.
—Mas é verdade! – ele reafirmou.
—Neville, eu pensei que você me ajudaria! – disse Harry, estupefato.
—Neste caso, não, Harry... Nós somos todos muito bem intencionados. Só que demora alguns segundos até a gente se decidir pela coisa certa a fazer depois de tantas oportunidades!
—É, Harry... Elas caem muito "bonitinho"... – continuou Rony, fazendo todos caírem na gargalhada.
—Caem bonitinho, né? Entendo. – disse Harry, não podendo deixar de se juntar aos outros e rir também.
Ao chegarem no quadro da Mulher Gorda, os cinco rapazes preferiram dar o assunto por terminado.
A semana passou como um raio, como sempre acontecia quando Harry queria adiar ao máximo possível algum evento indesejado. Mas apenas ele parecia ainda nutrir algo contra o baile, afinal Rony parecia muitíssimo satisfeito em poder usar suas novíssimas vestes de gala que Fred e Jorge compraram para ele – não se sabia como eles tinham conseguido dinheiro, mas Rony na verdade não se importava com esse detalhe – e o fato de Hermione ter aceitado o convite para ser seu par havia feito com que ele andasse de peito estufado pra cima e pra baixo.
Por algum motivo, Hermione também andava mais risonha do que o usual, agora agradavelmente preocupada em como tingiria o seu vestido branco perolado. O que a menina menos queria era estragar o tecido fluido e leve do vestido, por isso fora até a biblioteca procurar algum livro que desse instruções confiáveis de como modificar cores de peças de roupas de luxo. Hermione e Cecília também passavam as horas livres do fim do dia discutindo qual feitiço usariam nos cabelos. Cecília queria deixá-los com cachos bem definidos e brilhosos, enquanto Hermione parecia decidida em deixar os seus cabelos lisos e, mais uma vez, presos em um bonito coque.
Por falar em Cecília, ela e seu par, Jorge Weasley, pareciam mais juntos do que nunca agora que o baile estava bem próximo. Jorge era mais visto na companhia da menina do que na companhia de seu irmão gêmeo Fred, e pelo andar da carruagem, eles já tinham se despreocupado em fingir que não estavam interessados um no outro. Contudo, se lhes fosse perguntado, jurariam que não eram mais do que bons amigos.
Ela também havia pesquisado uma maneira eficiente de tingir seu vestido de baile, e já tendo tudo pronto para o grande dia, agora se preocupava em escrever para a loja de máscaras que ficava no povoado de Hogsmead para fazer o seu pedido. Ela, Tina, Hermione e Gina haviam pegado um catálogo das máscaras que a loja vendia, para escolher aquela que mais combinava com a personalidade de cada uma. Com alguma infelicidade elas constataram que as máscaras femininas eram muito mais caras do que as masculinas, mas pelo menos eram as mais bonitas.
Valentina, por sua vez, estava muito feliz em ir com Neville, embora soubesse que seria muito mais saudável ao seu ego que não tivesse sido ela a convidá-lo. Tudo bem que Neville fosse só um amigo, mas ainda assim... Contudo, a menina acabou percebendo, para a sua agradável surpresa, de que não era totalmente insignificante aos rapazes da sua própria casa. Draco Malfoy fora o primeiro a lhe convidar formalmente. A menina achou que ele devia ter se preparado especialmente para aquela ocasião, tendo os cabelos tão bem presos daquela forma e estando tão cheiroso como estava. Mas ela negou, pela primeira vez, de modo sinceramente educado. O rapaz bonito com porte de príncipe também chegou a convidá-la. Chamava-se Sean. Ele falava baixo e de modo contido e tinha a postura de um lorde pomposo. Valentina se surpreendeu em ver que Sean sabia o nome dela e que podia falar, pois além de nunca o escutar conversando com outra pessoa, tampouco o vira olhando para ela. Acabou negando seu convite, desta vez sentindo-se bastante infeliz.
Por fim, Harry finalmente conseguiu convidar Cho Chang. Talvez fosse porque depois de um Baile de Inverno no ano passado, ou porque desta vez os dois andavam mais próximos por causa das reuniões da AD, Harry achou relativamente mais fácil – ou menos complicado – convidar a menina. Harry também sentira que com a aproximação do baile ele estava sendo contagiado pelo nervosismo onipresente que pairava não apenas sobre os seus amigos, mas por todos os outros alunos e alunas de Hogwarts.
O sábado do baile chegou, trazendo consigo muitas meninas histéricas e rapazes falsamente tranqüilos. Harry, Rony e os gêmeos se uniram a Neville, Simas e Lino nos jardins para uma amigável guerra de bolas de neve. Naquela noite havia nevado pela primeira vez no ano.
Hermione, Gina, Cecília e Valentina preferiram assistir à guerra sem tomar partido. Luna ainda se animou em participar, mas vendo que as amigas não se moveram dos bancos de pedra, resolveu por sentar e se unir a elas.
Passaram o dia e parte da tarde nos terrenos gelados, quando em certo momento Hermione deu o aviso de que era melhor voltarem para o castelo para começar os preparativos do baile. Elas se despediram dos meninos e se dividiram entre os caminhos para as salas comunais da Grifinória, Corvinal e Sonserina.
Cecília, Hermione e Gina adentraram o salão comunal e subiram ligeiras para o dormitório feminino. Em cima das camas de cada uma delas estavam preparados os seus vestidos, todos cuidadosamente esticados para não ficarem amarrotados. Os sapatos estavam ao lado a cama, as jóias em cima dos vestidos, e as máscaras, reinando soberanas, em cima dos travesseiros. As cortinas estavam puxadas ao redor das camas, pois todas queriam fazer suspense quanto ao que iriam usar, não suspense entre elas, mas sim entre as outras meninas da casa.
Elas tomaram banho, se perfumaram e começaram a trabalhar nos penteados. Enquanto Gina enfeitava os seus cabelos cor de fogo com pérolas aqui e ali, formando um arco mágico, Hermione alisava os dela com bastante poção alisadora. Ao mesmo tempo, Cecília encontrava-se sentada em cima de sua cama, de pernas cruzadas e de frente para um espelho redondo. Ela passava uma poção cremosa nos cabelos, mecha por mecha, e depois enrolava as mechas na varinha e murmurava um feitiço. Esse procedimento estava deixando seus com lindos cachos grandes e brilhosos que lhe desciam graciosamente pelas costas.
Após estarem penteadas, elas se maquiaram, colocaram as jóias e, por último vestiram os vestidos negros.
Gina arrumou um vestido delicado que consistia de um fundo acetinado cor-de-rosa e uma renda fina, preta por cima. Ela havia perguntado inúmeras vezes se manter o cor-de-rosa não quebrava o manifesto, mas recebeu muito encorajamento para mante-lo como estava, uma vez que o tom do vestido era de um preto levemente cintilante, que mostrava explicitamente o rosa apenas na sua barra. Ajustado apenas abaixo do busto, ele descia levemente solto até os pés. As alças eram de pedrinhas cor-de-rosa e as pérolas e a máscara em tons de rosa mais escuro e mais claro, onde haviam lindas borboletas pintadas completavam seu visual.
—Seus sapatos, Gina... – apontou Cecília, mostrando que os scarpins rosa-pink da garota estavam indo parar embaixo da cama dela.
—Ah, obrigada!
—Você está muito linda! Eu amei este vestido!
—Era de uma prima minha... Louise. Já está casada, e ele não cabe mais nela. Espero que ela nunca o tenha usado em nenhum baile aqui no castelo...
—Ora, não seja boba! – disse Hermione, saindo de trás da cortina de sua cama.
—Ah, eu adorei isso! – apontou Cecília, sorrindo abertamente, enquanto fechava suas altas sandálias douradas.
—Gostou? – perguntou Hermione, levando a mão ao alto da cabeça, onde pairava magicamente uma auréola de plumagens brancas. A garota deu um rodopio ao redor de si mesma e Cecília e Gina puderam ver que as plumagens combinavam com pequenas asas brancas de anjo, que também permaneciam suspensas magicamente nas costas da menina.
Elas imaginaram que a versão branca do vestido de Hermione comporia melhor o visual de anja, mas que o tom negro aveludado que ele tinha agora não fizera feio. Era um vestido que lembrava as vestimentas das deusas gregas, de um tecido fluido que torneava seu pescoço com alças torcidas e um decote V. Na cintura um fio de couro envernizado dava algumas voltas no vestido e a saia descia até os pés, onde ela arrastava levemente no chão, mostrando apenas através de uma fenda discreta um pouco da sandália também de fios de couro negro que subiam trançadas até seus joelhos.
Parvati Patil veio andando desde o outro lado do dormitório para bisbilhotar as três a se arrumarem.
—Mas você está escandalosamente bonita, Hermione! – ela disse, com um sorriso de verdadeira admiração. – Como conseguiu colocar esta auréola assim?
Hermione corou, mas não pode deixar de perceber os olhares de implicância de Gina e Cecília, que visivelmente não aprovavam este súbito arroubo de simpatia da parte de Parvati.
—Ah, depois eu te ensino o feitiço... Ou se você quiser, eu posso fazê-lo para você, caso você esteja precisando agora...
O sorriso de Parvati se alargou ainda mais.
—Sério? Você faria isso por mim? Eu estava com umas idéias... vem aqui... – e puxou Hermione pelo braço, afastando-a das outras duas amigas.
—Não acredito nisso... – sibilou Cecília, acompanhando as duas desaparecerem atrás das cortinas da cama de Parvati.
—Quem acredita? – concordou Gina. – Ainda bem que Hermione já está pronta... Só falta a máscara... – e ela sentou-se na cama de Hermione e puxou a máscara da garota para si. – E você? Já está terminando?
—Sim...
—Você se importa se eu já descer? É que preciso encontrar com Zacharias Smith lá embaixo. Ele é da Lufa-lufa...
—Não, não... Não precisa ficar me esperando... Eu até prefiro descer sozinha.
Gina olhou para Cecília fixamente, e ao perceber o que tinha acabado de dizer, a garota corou fortemente.
—Quero dizer... – gaguejou. – Quis dizer que não me importo de descer sozinha...
—Eu compreendo... – disse Gina, de uma maneira animada, mas com um toque do que Cecília podia reconhecer como ciúmes. —Nos vemos lá embaixo, então...
—Tudo bem! – Lia acenou positivamente com a cabeça, vendo Gina desaparecer pela escada abaixo.
Olhou-se no espelho e conferiu o vestido, as sandálias e a máscara. Ela havia escolhido o sol como tema para sua fantasia. A máscara, portanto, tinha o astro-rei pintado em tinta dourada sobre um fundo branco com aspecto de porcelana e a impressão era a de que ele brilhava com uma iluminação fosca magicamente em diferentes direções dependendo do ângulo em que fosse observado.
De sol, somente mesmo a máscara, as sandálias e a longa fita dourada que amarrava o corselete. Isto porque o vestido em si era todo preto como deveria ser, um tomara-que-caia de cetim e renda que tinha uma longa saia pregueada atrás, fazendo um volume de tecido que lembrava os modelos do início do século XIX, só que mais discreto.
Somados a tudo isso, os cabelos artificialmente encaracolados e a maquiagem estavam fazendo Cecília se sentir confiante o suficiente para descer correndo até o salão e se exibir para quem realmente importava naquela noite.
Deu uma última volta em torno de si mesma e resolveu descer de uma vez.
—Hermione? Você já vem? – ela perguntou, já com um pé no primeiro degrau da escada.
Foi Parvati quem respondeu.
—Ela já vai! Só mais um momento!
Bufando de indignação, Cecília fez o resto do caminho sozinha, encontrando finalmente os tapetes felpudos e vermelhos do salão comunal, onde ansiosamente alguém já a esperava.
—Oi! – ela cumprimentou, simplesmente.
Jorge abriu um sorriso quase sem graça. Estendeu a mão para ela e girou-a uma vez mais, reparando ele próprio no vestido.
—Uau! – foi o que ele disse.
Foi a vez de Cecília sorrir sem graça. Apesar de não muito extenso, ela e seu grande ego sabiam que o elogio era verídico e bem merecido.
Como não poderia deixar de ser, Jorge estava com uma máscara de Joker. E Cecília sabia que Fred deveria estar também, apesar dela não o estar encontrando ali. Em uma poltrona, ela conseguia delinear, pela altura, que Rony esperava, já com uma certa dose de irritação por Hermione, que estava presa contra sua vontade no dormitório com Parvati.
—Rony, Hermione já vem... Ela já está pronta, mas Parvati ainda não está.
O garoto virou-se para encará-la da poltrona onde estava, com uma cara de interrogação.
—Elas tem que descer juntas?
Cecília se aproximou, para poder falar sem ser ouvida por outras pessoas presentes no salão comunal. Jorge a acompanhou.
—Não, mas a Parvati é uma inconveniente aproveitadora!
Sentindo que a indignação de Cecília era quase do tamanho da sua própria, Rony sossegou novamente na poltrona.
—Espero que ela dê um jeito de sair logo de lá. Harry já desceu faz tempo e agora vocês estão indo também... Não quero perder a chegada da Umbridge...
—Vamos? – perguntou Jorge, dando o braço para Cecília.
—Vamos! – ela respondeu. – Nos vemos lá embaixo, Rony...
—Até mais... – ele respondeu, emburrado, recostando-se mais profundamente na cadeira.
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