O Ano Letivo Começa
Havia acabado.
Não havia mais nada para ver naquela lembrança. Ainda assim ele ficou ali, parado, no meio da sala de Dumbledore, seus olhos verdes esquadrinhando o rosto do diretor.
Dumbledore suava frio.
Ele remexeu alguns pergaminhos em sua mesa, até encontrar um em branco, onde começou a escrever apressadamente, a letra borrando de vez em quando.
Peter aproximou-se para ler o que estava escrito, mas antes que terminasse a primeira linha, ele ouviu.
Dumbledore está aqui. Volte. Kate falou, impaciente, para sumir em seguida, tão rapidamente quanto havia chegado.
Suas asas esticaram em contrariedade, estava a tanto tempo preso e agora teria de voltar a ficar novamente, mal tivera tempo de usufruir de suas asas e aproveitar a magia que corria em suas veias.
Além disso, não procurara o Maleficarum. Ficara tão curioso e abismado em assistir a lembrança que esquecera completamente o que havia ido fazer ali. A raiva pulsou em seus olhos verdes. Cerrou os punhos e bateu com força na mesa do diretor, fazendo alguns pergaminhos pularem de lugar. Maldição, como ele deixara a sua curiosidade sair assim do controle? Teria de se controlar da próxima vez.
Balançou a cabeça e respondeu à irmã.
Estou indo.
Seus olhos se fecharam, as asas estremeceram, como se estivessem tentando impedir a magia de correr através delas, de modo a não voltar para o corpo que agora as abrigava.
Esticaram e lutaram como se tivessem vida própria, mas foram vencidas e seus espasmos foram diminuindo, enquanto as feridas nas costas de Peter abriam passagem.
A dor não era tão forte, não em comparação com a saída. Ele sabia que doeria mais selar a magia do que retrair as asas.
Começaram a fazer seu caminho de volta, destruindo e reconstruindo o interior de Peter, os órgãos do rapaz se deslocavam, dançando dentro dele. A dor era incessante e o fogo em seu peito ia sendo domado lentamente, sendo preso pela magia, que ia novamente sendo selada em cada um dos pontos vitais.
Seu coração voltou a bater no ritmo normal de um humano, o que fez com que sua cabeça girasse de tontura pela falta de oxigênio necessário para alimentar um cérebro ainda draconiano.
Pulsos nervosos correram pelo seu corpo enquanto o cérebro tentava abrigar a magia que lutava para continuar percorrendo seu corpo, causando espasmos e contrações que o fizeram cair no chão, se debatendo, batendo contra a mesa do diretor, que não se abalou e continuou na escrita que o mantinha ocupado.
Levantando-se, ele deixou que uma gota caísse por seu nariz, espatifando-se no chão.
Hora de ir. Deixar a lembrança para lá. Voltar para o presente.
Seus olhos piscaram e ele focalizou em algum ponto entre o professor e a janela que brilhava atrás dele e então balbuciou um feitiço na língua dos dragões.
Tudo começou a esmaecer, embaçar, sumir e esfumaçar ao seu redor. Toda a realidade se desdobrou e caiu ao redor dele, enegrecendo tudo, soltando-o no buraco negro pelo qual parecia ter sido tragado no início, para chegar até aquele ponto.
Então algo que parecia luz veio acima de sua cabeça, ofuscando sua visão quando tentou olhar diretamente. Vinha rápido e parecia estranhamente sólida. Haveria sido uma pancada muito dolorosa, se ela tivesse ocorrido. Mas o encontro nunca aconteceu. A única coisa que ocorreu quando ele se deu por conta de onde estava foi que acreditou não ter saído do lugar onde se encontrava anteriormente.
Não havia mudado nada, é fato. Dumbledore continuava debruçado sobre um pergaminho em sua mesa e a sala parecia a mesma bagunça que ele havia presenciado alguns anos antes.
Mas Kate estava lá e Fawkes também, então era o futuro. Ou melhor, o presente.
- Que bom que você decidiu aparecer, irmão. Achei que ficaria mais tempo perdido nas suas lembranças. – Kate estava sentada em frente à Dumbledore, seus cabelos agora presos num rabo de cavalo.
Ele lançou-lhe um olhar irritado e sentou ao seu lado, numa cadeira vazia que esperava. Dumbledore levantou os olhos, fixando-os no rapaz.
- Bryan. – Peter acenou com a cabeça, sendo minimamente educado com o bruxo, como sua irmã pedira.
- Olá Peter, já faz muito tempo que não nos vemos. Você não mudou nada. – Um sorriso misterioso transpareceu em seu rosto.
- E você apenas está mais perto da morte, velho. – Ele ignorou o olhar repreensivo da irmã. – Porque não diz o que quer logo para que eu possa sair e ir atrás do que eu quero?
Dumbledore se recostou confortavelmente na cadeira, franzindo o cenho.
- O Maleficarum, creio. Você descobriu que está aqui e agora irá atrás dele, para que possa alcançar seu nobre objetivo de ressuscitar a raça draconiana de seu declínio.
Os dentes de Peter apareceram enquanto ele grunhia de forma ameaçadora.
- Não brinque comigo, bruxo tolo. Não me provoque. Você sabe onde ele está, não sabe? Diga-me! – Peter levantou-se, jogando o corpo contra a mesa, apoiando as mãos nela e se inclinando. Seu rosto parou a centímetros do de Dumbledore.
A mão esquerda do diretor se contraiu assustadoramente rápido ao redor da varinha que pousava sobre a mesa, embora o próprio Dumbledore soubesse que não fosse usá-la.
- Diga-me ou eu arrancarei à força! – As mãos de Peter pressionaram a mesa com mais firmemente, fazendo a madeira estalar.
- Peter! – Kate segurou a roupa do irmão e o puxou de volta para a cadeira, embora seu corpo não tenha se movido um milímetro. – Deixe-o, vamos ouvir o que o Dumbledore tem a dizer, chegaremos a um acordo, tenho certeza.
- Sinto dessa vez não ser possível, minha cara princesa. – O diretor tentava sustentar o máximo o olhar do rapaz sem ser tomado pelo medo. – Mesmo que eu soubesse onde o Maleficarum está corretamente, eu não poderia eu mesmo ir pegá-lo, ou mesmo dizer onde está, pois sou guardião de tal segredo como foram todos os outros diretores antes de mim.
Peter abriu um sorriso maléfico e sádico.
- Então eu vou arrancá-lo de sua cabeça. – Com um movimento mais rápido e imprevisível do que seria capaz de ser pensado, o rapaz pulou a mesa que o separava do diretor, pondo a mão ao redor do pescoço do velho. – Legilimens!
O grito de Dumbledore subiu ao ar e foi sufocado pelo grasnar de Fawkes que esbravejou e se rebelou, arranhando as costas do rapaz, sem que ele parecesse sequer se importar.
Não, Peter não iria se importar, ele iria até o fim para pegar o Maleficarum. Passaria por quantos cadáveres fossem necessários e aniquilaria tudo e qualquer um que se impusesse no seu caminho, até o maior dos bruxos.
A mente de Dumbledore foi se tornando mais clara quando Peter passou por cima da dor e pressionou mais a magia para quebrar as barreiras que o diretor tentava erguer para evitar sua passagem.
Uma paixão avassaladora.
Um trauma inigualável.
Um medo incorrigível.
Onde está?
Peter Não conseguia encontrar o que queria, sabia como o Maleficarum era, ele ajudara a escrever, mas não encontrava nada parecido na cabeça do velho, apenas baboseiras pessoais. A morte da irmã nojenta, a amizade com um bruxo das trevas, a chegada a Hogwarts.
Maldição! Onde está, seu velho maldito? Onde está? Mostre-me! Peter intensificou a procura, fazendo os pensamentos mais dolorosos se repetirem na mente do diretor.
Dumbledore lutava... Mas não contra o rapaz, lutava contra as lembranças. As lembranças mais dolorosas, a morte de sua irmã. Grindelwald. Harry. As imagens se repetiam em sua mente, aprisionando o ar em seu peito. Gosto de sangue chegou-lhe a boca e ele sabia que era de seu próprio lábio, da ferida que havia aberto com o próprio dente, tentando se conter.
Pare! Dumbledore lutou, mas o dragão era mais forte, muito mais forte.
Peter se alimentou da dor do diretor, da súplica em sua voz, do medo em seus olhos. Uma crueldade inimaginável tomou seu peito e a vontade de matar aquele velho idiota subiu à sua cabeça. Seus dedos comprimiram o aperto, forçando o fraco ar que corria na garganta de Dumbledore voltar a seu peito. Logo iria acabar, já não haveria ar em seus pulmões. Um sorriso se abriu no rosto de Peter, enquanto ele grunhia uma prece draconiana para o diretor.
Então, forçando as barreiras das magias mais antigas, ele viu.
A sala estava muito escura, uma luz saída do teto iluminava, formando um circulo no chão. A fúnebre luz iluminava um pedestal que parava à altura do peito de Dumbledore. Aquela havia sido a única vez que havia visto o livro, estava sozinho. Aproximou-se. O livro era lindo. Grande, com um rubi incrustado no centro, a capa em couro negro e letras líquidas prateadas que brilhavam à luz bruxuleante. Arkanum Maleficarum. Estava escrito em Draconiano, mas Dumbledore entendia o seu significado.
As mãos do diretor apareceram no pensamento, estendidas para tocar o livro. Estavam bem próximas. Então o fogo consumiu toda a lembrança com suas cores fortes.
Acabara.
Seus dedos afrouxaram involuntariamente e, com um impulso que ele não soube de onde vinha, seu corpo foi arremessado para trás, para longe do bruxo, em direção à parede cheia de quadros de diretores. Vidros se espatifaram às suas costas, penetrando nas feridas feitas pelas garras da fênix, banhando-as com sangue prateado. Quadros caíram no chão, enquanto os bruxos pintados gritavam em protesto e espanto. Peter escorregava em direção ao chão, batendo seus joelhos com força no piso de madeira, jogando-se sem ar, que parecia haver fugido no impacto contra a parede.
- Seu louco, animal, monstro, ASSASSINO!!! – Katherine gritava com sua mão erguida na frente do corpo, faíscas azuis de magia ainda brilhando na mesma. – O que você pretende, matá-lo?
Peter ergueu-se, pingos de seu sangue manchavam o piso da sala do diretor. Sua mão formou uma palma que se ergueu acima de sua cabeça antes de desferir um golpe no rosto da irmã, que caiu sem jeito sobre o chão, o rosto escondido pelo cabelo negro.
- Nunca mais... NUNCA MAIS... Use sua magia contra mim! – Ele esbravejou. Kate teve a leve impressão de ter sentido o chão tremer ante as palavras do irmão. – Ou eu farei com você o mesmo que faço com meus inimigos de guerra. E lembre-se Katherine Draconiam: quem escolheu estar aqui, hoje, ao meu lado, foi você.
A garota, ainda espantada com o golpe, só teve coragem de dizer uma única coisa.
- Para protegê-lo de você mesmo, meu irmão.
Peter ficou sem palavras, apenas balançou a cabeça, não querendo pensar no arrependimento que sentia por ter tocado o rosto de sua irmã de maneira tão... Rude.
Virou-se, indo em direção à Dumbledore, suas feridas já não doíam, pois já cicatrizavam a esse ponto. O velho diretor agora tentava se apoiar em seu joelho, sem muito sucesso.
- Enervate! – Peter sibilou o feitiço, fazendo o diretor se encher com vigor, deixando-o forte o bastante para que pudesse se erguer e se manter de pé. – Agora me diga: onde está aquele livro?
A cabeça de Dumbledore balançou negativamente enquanto ele se sentava novamente sobre a cadeira que ocupava anteriormente.
- Eu não sei. Eu apaguei o caminho até ele da minha memória. Sabia que um dia você viria buscar.
Todo o castelo tremeu quando o dragão, em sua raiva, rugiu para o alto.
MALDIÇÃO! O rapaz virou-se correndo em direção à porta, atravessando-a e sumindo na escada que o levaria até os corredores.
Katherine virou para o diretor, o olhar vazio, frio e impassível que ele lhe dirigia.
- Desculpe-me, Dumbledore.
Ele apenas sustentou o olhar e disse umas poucas palavras que ela não teria ouvido se fosse uma humana.
- Chame seu irmão, leve-o para o Grande Salão, vocês devem passar pela seleção antes de se mudarem para algum dormitório.
- Me desculpe, Dumbledore, por favor.
- A culpa não foi sua. Eu estou bem. Agora vá. Falaremos depois, à sós.
Ela ergueu-se e, com um ultimo olhar piedoso para o diretor, atravessou a porta, indo atrás do irmão.
...
Os passos continuavam ecoando em seus ouvidos, mesmo quando ele havia parado. Idiota! Completo idiota! Ele quase pôs tudo a perder. Se matasse o velho nunca mais saberia onde poderia estar o Maleficarum.
Suas costas tremeram ao pensar no livro que estivera tão perto, embora intocável.
Sua mão tocou a pedra escura e pressionou. Estava muito irritado, podia ouvir o coração bater como louco.
Dumbledore tinha o caminho até aquele lugar em algum ponto de sua cabeça, ele só precisava arrancá-lo. Mas como? Conseguira ver um dos pensamentos do diretor sobre o lugar, mas só por que ele havia quebrado as barreiras da magia antiga, dando brecha para que sua irmã pudesse parar o ataque.
Alguns pontos do seu corpo queimavam, como se o seu sangue fervesse em suas veias, um fiapo de sangue prateado desceu pela sua testa e ele limpou-o com raiva.
O vento passou pelo corredor e seus olhos verdes, conhecedores de batalha procuraram ao redor, mas o único movimento era das aranhas que subiam pelas paredes. Uma delas subiu pela sua mão, vasculhando a nova superfície recém-descoberta.
Ele sorriu, sarcástico.
Animal estúpido.
A aranha se agitou quando o rapaz tirou a mão da parede e aproximou-a do rosto. Ela moveu-se rapidamente, passeando pela palma e voltando pelo caminho de onde viera.
Ele tinha de se acalmar, havia se agarrado com muita força à primeira oportunidade que aparecera, precisava esperar. Ainda haveria outras vezes, outras chances. Ele encontraria o Maleficarum, de um jeito ou de outro.
Concentrou a magia em sua mão, fazendo faíscas verdes saltarem por ela. A aranha agitou-se, cada vez mais rápido tentava fugir daquele lugar que se mostrou tão ameaçador. Mas ela não foi rápida o bastante. A mão do rapaz encharcou-se de chamas verdes, incinerando o pobre animal, até que só sobrassem cinzas, que foram varridas pelo vento
...
Quando Katherine o encontrou, ele já havia percorrido mais da metade do caminho até o Grande Salão. Ela não lhe disse nada, nem sequer o olhou, apenas caminhou ao seu lado, até que chegassem à porta de entrada. Do outro lado, burburinhos e conversas foram cessados quando a voz de Dumbledore se fez ouvir, alta o bastante para que pudessem escutar claramente o discurso do professor.
Este ano... Peço que me desculpem por interromper-lhes rapazes Weasley, mas temo que o que eu tenha a falar seja mais importante que suas brincadeiras, pela primeira vez. Ele fez uma pausa, limpou a garganta e voltou a falar, a voz abafada pela porta de madeira. Este ano o quinto ano receberá convidados especiais, que passarão o ano, e talvez mais alguns, conosco. Uma série de burburinhos atravessou a sala. E, em vista de que o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas permanece em aberto, um amigo meu, grande pesquisador das Artes das Trevas, virá em alguns dias para ocupar o cargo temporariamente, até que eu consiga encontrar alguém para manter permanentemente. Portanto, na próxima semana não haverá aulas dessa matéria. Uma série de vivas, assobios e palmas cessou a voz de Dumbledore. Acalmem-se, acalmem-se. Agora se me permitem, peço que os dois alunos convidados entrem para que façamos uma seleção um pouco tardia e depois possamos, enfim, comer.
As portas em frente a eles abriram-se lentamente, enquanto todas as cabeças dos alunos sentados às mesas viravam-se para ver os dois entrando e à medida que o fizeram, uma nova serie de cochichos e conversas espantadas atravessaram o Salão.
Os passos do casal foram emudecendo os alunos, que começaram a parecer hipnotizados pela maneira como o movimento dos dois se desenrolava, mesmo que fosse apenas uma caminhada, aos olhos mortais parecia uma dança. Embora toda a magia estivesse conspirando a favor deles, causando a Sedução, nenhum dos presentes foi capaz de deixar passar a maneira como o fogo dos candelabros e velas que enfeitavam pareciam atraídos pelo garoto e a garota, em referências futuras a palavra que usaram para descrever esse fenômeno foi: reverência.
- Katherine Draconiam! – A professora McGonagall chamou.
Peter desacelerou o passo, deixando a irmã passar à frente quando se aproximaram do Chapéu Seletor, parando à alguns metros enquanto ela continuou e sentou-se à cadeira, pondo o Chapéu na cabeça.
- Sim... – O chapéu murmurou, mal tocando a cabeça da moça. – Vejo bem... Não, de maneira alguma... Sim, pensamentos interessantes... Muitas qualidades... Coragem, fidelidade e sabedoria... Seria muito difícil selecioná-la se não fosse... É, eu entendo... Creio que esteja certo de toda maneira... GRIFINÓRIA!
A mesa da extrema esquerda rompeu em aplausos, principalmente da parte dos rapazes, que apreciaram sua mais nova companhia feminina.
Katherine levantou-se e passou ao lado do irmão, indo em direção à mesa, com um sorriso no rosto ao ouvir o grunhido que ele lançou-lhe.
Cuidado minha irmã, eu não terei medo de machucar nenhum desses pivetes que se aproximarem de você. Ele falou-lhe, em pensamento.
Nem eu terei de machucar você, irmãozinho. Ela piscou para ele e sentou-se à mesa, ao lado de uma garota ruiva amiga do Potter.
- Peter Draconiam! – A voz de McGonagall saiu um pouco mais alto do que ela pretendia, deixando transparecer raiva e ressentimento.
O dragão sorriu, era o momento do seu showzinho particular.
Os passos foram silenciando cada um dos jovens no recinto, emudecendo até mesmo o som do crepitar das chamas. Seu sorriso cambaleou um pouco quando lembrou que por pouco não entrara no Salão com suas roupas rasgadas e sujas de sangue prateado. Ainda bem que Katherine o lembrara de usar magia para ficar apresentável.
Sentou-se na cadeira, esperando.
- Ora, ora, ora, o que temos aqui? – O chapéu falou para todos, uma calma excessiva na voz. – Não vejo uma mente assim desde... Você, professor Dumbledore.
Na mesa dos professores, ao olhar de todos, Dumbledore lançou um olhar impassível para a nuca de Peter, embora sua mão direita apertasse a saia das vestes com certa força.
- Sabedoria, astúcia... Uma crueldade que Salazar ficaria orgulhoso, mesmo com o pequeno impasse... Ouso dizer que vejo Riddle quando vasculho sua mente, a mesma determinação sádica e a mesma ousadia. As duas maiores mentes fundidas numa só, sem o prevalecimento de nenhum dos lados. É definitivamente difícil selecioná-lo, rapaz, mas já que insiste... SONSERINA!
Não houve aplausos, em nenhuma mesa.
Peter levantou-se e dirigiu-se à porta de saída. McGonagall fez menção a de chamá-lo, mas Dumbledore acenou, deixando claro que o rapaz poderia ir, se quisesse. Ele mesmo já havia se cansado demais aquele dia. Lentamente passou a mão no pescoço, até encontrar a pequena queimadura, perto da nuca, onde o dedo do rapaz pressionara com mais força. Sim, deixe-o ir, seria melhor daquela maneira, pelo menos por enquanto.
Peter abriu a porta e saiu, sem olhar para fora. O que foi, sem dúvida, um erro, pois trombou com algo poderosamente mágico no meio do caminho.
- Maldição! – Ele gritou do chão, a porta ainda aberta, chamando a atenção de todos os que já não estivessem olhando para ele. – Mas o que diabos...!
- Você tá legal?
- Idiota, olhe por onde anda seu... – Ele falou, levantando-se para encarar a garota. – Ah, é você, a garota McFusty. – Seus olhos correram a encontrar o chão.
- Sinto muito. – Ela disse erguendo a mão para ajudá-lo.
- Esqueça. – Ele desvencilhou-se da mão da garota e continuou no caminho que estava, batendo contra o ombro dela quando passou ao seu lado, o cabelo da garota tocando em seu rosto.
Monique deu de ombros quando o garoto sumiu na esquina do corredor. Voltando-se para o Grande Salão, ela olhou diretamente para a mesa dos professores, para o lugar vago ao lado de Dumbledore.
Meu pai, ele não chegou ainda. Ela sorriu, lembrando-se do pai, como estava animado para ensinar em Hogwarts. Mas Dumbledore dissera que ele iria ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas e ela havia tido a nítida lembrança de seu pai ter mencionado Trato de Criaturas Mágicas, afinal, era o esperado de um tratador de dragões. Bem, de toda maneira, o diretor poderia estar esperando mais de um amigo.
Ciente dos olhares curioso sobre ela, atravessou o Salão a passos largos, indo em direção a Dumbledore, que lhe lançara um olhar amável. Numa oportunidade anterior, em conversa com seu pai, ele revelou que a chegada de Monique havia sido um tanto proveitosa naquela ocasião, mesmo que não tivesse explicado o que quisera dizer.
- Creio que esteja preocupada com seu pai. – Dumbledore alargou o sorriso. – Ele disse que chegaria amanhã pela manhã, estava resolvendo a burocracia comum de um tratador de dragões que queira deixar sua ilha.
Ela assentiu, sorrindo e saindo de perto da mesa, dirigindo-se para onde os grifinórios se sentavam. Alguns minutos antes fora selecionado para a casa de Griffindor, por isso, mal conseguia se conter de felicidade.
Vasculhando a mesa, onde todos já se alimentavam e cada vez mais comida aparecia, ela encontrou a garota que havia visto no escritório de Dumbledore. Katherine, se ela não estivesse enganada. Havia um lugar vago ao seu lado, embora muitos dos garotos estivessem disputando uma guerra fria para ocupá-lo. Ela preferiu deixar as coisas no empate para os garotos e sentou-se ao lado da garota de olhos azuis, que virou-se para ela como se tivesse levado um choque.
- Olá! – Kate disse, um sorriso se estendendo em seu rosto.
- Oi, de novo!
- Desculpe pelo meu irmão, ele é sempre idiota assim mesmo. – Kate maneou a cabeça em direção à porta, para indicar que vira o que aconteceu.
- Que nada, sem problema. De onde você é Kate? Quer dizer, posso te chamar de Kate?
A princesa dragão alargou seu sorriso. Naturalmente, sua espécie tinha uma disputa de longa data com todos os bruxos, por isso viviam reclusos e escondidos, alguns, como seu irmão, esperando só uma oportunidade para separar cada bruxo de sua existência, outros, por outro lado, como ela mesma, sentiam uma leve admiração por aquelas criaturas, tão frágeis em carne.
- Chame-me assim se quiser. Eu nasci na Grécia, se é isso que você está perguntando. Mas... Você é do clã McFusty, certo? Os criadores de dragões?
Foi a vez da garota McFusty sorrir. Sim, seu pai trabalhava com dragões assim como todos na família.
- Sim, meu pai é um dos criadores de dragões das Ilhas Hébridas e...
- WOW!!! – Um ruivo que estava sentado em frente às duas atrapalhou a conversa. – Seu pai é Darius McFusty, o criador de dragões? O Carlinhos não para de falar que o cara é um gênio! Por falar nisso meu nome é Rony, Rony Weasley. – As garotas mal entenderam o que o rapaz quisera dizer tão cheia estava sua boca. – Ai!
Rony esfregou a lateral do corpo, que acabara de receber uma pancada da garota que estava ao lado dele, os cabelos castanhos caindo pelos ombros.
- Sua falta de educação me espanta Rony. – A garota de cabelos castanhos balançou a cabeça e depois voltou-se para as duas outras. – Meu nome é Hermione Granger. Eu li sobre seu pai no Profeta Diário ontem, será incrível aprender com ele.
Rony arregalou os olhos para Hermione e em seguida para Monique.
- Seu pai vai ser professor da gente? É ele quem vai ensinar Defesa Contra...! Ai!
- Não, Rony! É claro que não! – Hermione deu outra cotovelada nas costelas do garoto. – Como o Hagrid está fora por um tempo... – Ela olhou profundamente nos olhos do ruivo. – ...Ele vai ensinar Trato de Criaturas Mágicas.
- Mas...!
Rony não conseguiu dizer o que pretendia, pois nesse momento o Monitor da Grifinória anunciou que o jantar estava terminado e que deveriam todos ir para a torre se deitar.
O estardalhaço de centenas de alunos, das quatro casas, interrompeu a continuidade da conversa, que só foi retomada mais tarde, no Salão Comunal, pouco tempo antes de todos irem se deitar para o novo dia
...
Peter caminhou pelas masmorras, acompanhado pelas sombras na parede e os fantasmas que povoavam os corredores.
Até a suavidade do cabelo dela. Ele fechou os olhos e tocou mais uma vez em sua bochecha onde o cabelo da garota McFusty roçara.
O fogo que batia em seu coração o impedia de sentir o frio que pairava ao redor, enquanto ele ia mais fundo no castelo, seus olhos atentos para qualquer sinal ou pista do local do Maleficarum.
Naturalmente, ele sabia que uma procura assim iria ser inútil, primeiro teria de buscar na biblioteca qualquer pista que pudesse encontrar nos livros e diários que sabia que estavam guardados numa área reservada, depois teria de se certificar de que as pistas batiam e que nada mudara desde então, para só então aplicar na prática os caminhos que descobrira.
Ele parou, irritado. Seria tão mais fácil se Bryan tivesse simplesmente deixado a informação em suas mãos, tão mais fácil se ele tivesse arrancado, se sua irmã não tivesse interrompido.
Ele desferiu um murro contra a parede, tentando extravasar a raiva, causando um buraco de cerca de trinta centímetros de raio.
Ofegante, balançou a cabeça rapidamente, tentando controlar os sentimentos que pareciam ter se tornado inconstantes desde que chegara naquele castelo imundo. Com um suspiro, voltou a andar, caminhando em direção ao som dos alunos que iam para o dormitório da Sonserina, sua nova casa.
Aquela noite lhe cansara.
O outro dia seria ainda pior.
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