Novo Ano
Peter Draconiam entrou irritado no vagão mais ao fundo do Expresso, em seu rosto havia a expressão de ódio mais furiosa que ele era capaz de fazer.
Bruxos! Muitos deles e jovens ainda! Como ele seria capaz de agüentar aquilo por muito mais tempo? Conviver com a raça que mais detestava? Se não estivesse tão algemado às Leis todo o trem já estaria consumido em chamas.
Estava se sentindo um idiota, quando escolheu o momento para quebrar as regras ele estragou tudo, matando um bruxo de nível médio, quase um estudante ainda.
Desperdiçara seu tempo, um tempo muito precioso agora.
Sua irmã entrou com movimentos graciosos, sentando em frente a ele, seus olhos cintilavam felizes de ver o irmão naquele estado.
Ele bufou ao ver um sorriso se estender no rosto da garota.
- Sua diversão me deprime, mana. Você deve me odiar. – Ele tentou focalizar algum lugar além dos montes por onde o expresso passava.
- Não, eu não odeio, Peter. Mas, neste exato momento, apreciar seu sofrimento está sendo como beber o éter dos deuses.
Os olhos verdes do rapaz ficaram frios e duros por um instante. Ela tinha aquele direito. Desde que haviam assumido corpos humanos Peter tentou mantê-la afastada de relacionamentos sem futuro, era a segunda vez que havia chegado a um fim tão drástico.
Ele odiava machucá-la, mas parecia que não havia outra maneira.
- Você vai superar, já fez isso uma vez. – Um sorriso cínico apareceu no canto de sua boca, fazendo a felicidade da irmã queimar em raiva.
- Eu devia ter matado você há muito tempo. – Ela grunhiu, virando-se para a janela.
- E quem daria o toque de aventura a sua vida? Além disso, você sabe que não pode viver sem mim, pode?
O silêncio pairou entre os dois enquanto a irritação tentava se dissipar de dentro da garota.
- Me diz mais uma vez porque estamos indo para um colégio de bruxos, já que eles são a coisa que você mais odeia. – Ela falava tão baixo que até as moscas se aproximaram para ouvir.
Peter se aconchegou em sua cadeira e apontou o dedo indicador para a porta da cabine em que estavam. Palavras incoerentes ou numa língua estranha saíram de sua boca, apressadas e rudes.
- Assim ninguém nos ouvirá. – Ele encontrou os olhos da irmã, o azul-gelo triste o fez tremer por um instante. – Estamos indo para lá por causa do Arkanum Maleficarum.
Ela manteve a mesma posição, como se as palavras não a afetassem, uma expressão indiferente passeando pelo seu rosto.
- Você é louco, Peter. O Arkanum é inalcançável, antes que você chegue a dez metros dele já terá virado cinzas. Além disso, ninguém pode provar que ele ainda está lá, depois de tanto tempo.
- Ele está. Eu estudei a região, a história local e, principalmente, o diretor daquele lugar. Eu posso lhe garantir, ele não deixaria ninguém tirar o Arkanum de lá, onde está mais seguro em todo o mundo bruxo.
Kate coçou a cabeça e arrumou as mangas da camisa, seus pensamentos bem longe dessas amenidades.
- Certo, vamos supor que ainda esteja lá, como você fará para chegar até ele? Deve estar tão bem escondido e com tantas magias poderosas o protegendo que nem nós vamos conseguir entrar.
Peter fechou os olhos por um instante, ponderando as palavras da irmã. Ele havia pensado nisso, é claro, mas, vindo da boca dela, parecia uma meta impossível de se alcançar.
- Katherine. Eu matei um bruxo ontem, como você bem viu. O Conselho já havia me alertado da ultima vez, agora eles não vão mais me avisar. Virão atrás de mim. Minha cabeça está a prêmio, a única maneira de pará-los vai ser encontrar o Arkanum antes que eles me encontrem.
Ela sabia disso, e era uma das coisas que mais a assustava. Ela tinha ódio do irmão, de certa forma, por tudo que ele havia feito, as pessoas que tinha tirado dela, mas, ainda assim, o amava mais que tudo. Era sua única família, jamais conseguiria viver sem ele.
- Você vai me ajudar?
Era a primeira vez que ela ouvia súplica na voz do irmão.
- Se eu tivesse alguma outra escolha, eu poderia até pensar no assunto, mas você me deixa sem muitas opções.
- Ótimo.
Ele abriu um sorriso e, em seguida, se levantou.
- Onde você está... Indo? – Kat levantou-se ao mesmo tempo, não era uma boa ideia o irmão dela andando sozinho pelos corredores.
- Calma, maninha, só quero esticar as pernas. – O sorriso cínico característico se fez presente. – Além disso, que mal pode haver, são só bruxos.
A garota segurou o punho do irmão por um instante, inspirando fundo e concentrando sua magia naquele local. Por mais que ele lutasse, a magia foi mais forte e quebrou as barreiras que erguia. A mente dele abriu as portas para que ela entrasse.
- Não acredito! – Ela gritou, depois que deixou a mente do irmão livre. – Você é muito paranoico, não acha?
- Eu vi a maneira como você o olhou. Além disso, pensa que eu não notei a semelhança?
- Peter, olhe o que você está falando!
- Se ele for o que eu penso que é, é melhor ficar avisado.
Com um movimento rude soltou o braço, se dirigindo para fora da cabine.
...
O cheiro daquela magia fraca já estava deixando-o nauseado, enquanto cruzava o corredor apinhado de gente.
Afinal, porque o Potter ficou logo no primeiro vagão? Poderia ter ficado mais perto, pouparia muito trabalho.
Ele realmente ficara surpreso da primeira vez que vira o garoto, parecia outro bruxo qualquer, sendo que ainda mais fraco. Mas a sensação de que havia algo de diferente nele foi crescendo à medida que fazia uma sondagem, na estação.
Sem contar a aparência dele, é praticamente impossível que exista uma similaridade tão grande entre duas pessoas com duas famílias tão diferentes. Em relação a isso, precisava tomar cuidado, se as suspeitas dele se tornassem verdade, teria um inimigo muito poderoso para enfrentar.
As vozes vindas de todos os lados enchiam a sua paciência, ele só precisava de uma faísca para explodir.
Atrás dele Katherine olhava preocupada com o que aquela “esticada de pernas” poderia acarretar.
Ele percebeu que havia batido em algo apenas quando ouviu o grunhido de irritação vindo do chão.
- Você não olha por onde anda, não, idiota?
- Não quando estou no meio de vermes. – Katherine passou a mão no rosto ao ouvir a resposta do irmão. Belo lugar para iniciar uma briga.
- Quem você pensa que é para me chamar de verme? – O garoto de cabelos louros, quase brancos, foi levantado por outros dois, mais gordos e de alturas um pouco diferentes. Ele aparentava ter a mesma idade que o Potter e que o corpo humano que Peter vestia.
Não crie confusão. A voz de sua irmã palpitou em sua mente.
Não sou eu quem vai criar confusão.
- Saia da minha frente, eu quero passar. – Uma imagem da sua irmã com raiva apareceu em sua mente. - Por favor.
O louro tapou ainda mais a passagem com os outros dois que o ladeavam.
- Retire o que disse.
A essa altura, todos os vagões e cabines já haviam sido avisados que haveria uma briga mais cedo ou mais tarde e o corredor ficou ainda mais cheio, embora dessa vez mantivessem uma distância segura do foco da briga.
Pare!
- Eu não vou pedir de novo. – Peter fechou os olhos, tentando apagar o grito desesperado da sua irmã de dentro da sua cabeça.
- Ótimo, então vamos ficar aqui o resto da viagem, eu não me importo, vocês se importam? Crabble, Goyle? – Os dois “guarda-costas” assentiram. – Mas se você pedir desculpas pelo seu insulto, nós sairemos com muita boa vontade.
Aquela foi a gota d’água para Peter.
Num segundo ele ergueu a mão direita, deixando menos de meio centímetro entre ela e o peito do outro. Uma expressão sádica pulsando em seu rosto.
Uma luz branca e forte brilhou em sua palma por um instante, ofuscando a visão de todos ao redor e iluminando parcialmente a escuridão que começava a surgir no horizonte.
O louro gritou em surpresa e em seguida prendeu a respiração, uma dor dilacerante invadindo seu cérebro abruptamente. Ele sentia como se cada um de seus membros estivessem sendo retirados lentamente, por alguém que aprecia a dor e como ela se manifesta. A sensação de vida e alma se esvaindo atormentava seus pensamentos. Eu vou morrer. Ele pensou.
E não estava errado.
Pare! Vai matá-lo dessa maneira! Ele não tem tanto poder mágico para ser sugado assim! Pare agora ou eu mesma vou pará-lo!
A luz começou a diminuir lentamente à medida que Peter percebia o que estava fazendo. Ali não seria um bom lugar para matar alguém, principalmente se os pais do rapaz fossem algum tipo de autoridade, eles poderiam ser descobertos. Peter poderia tomar conta de um bando de adolescentes, eram mentes fáceis de dominar, mas todo o ministério bruxo era outra história.
A luz se esvaiu por completo tão rapidamente quanto apareceu.
- Suma. – O moreno murmurou enquanto fazia uma pequena pressão no peito do outro, que parecia muito zonzo.
O rapaz voou – não existe outra palavra que defina – por três metros, até cair aos pés da pequena multidão que se atulhava naquela parte do corredor, arrastando-se um pouco pelo chão, sendo obrigado a passar pelos pés e pernas que obstruíam o caminho.
- O que diabos é você?! – Ele perguntou, do chão, enquanto seus dois companheiros olhavam abismado do lugar onde ele estava para o lugar onde fora parar com o empurrão do moreno. Sua voz arfante e cansada demais.
- Seu novo professor de Boas Maneiras. Espero que você tenha aprendido algo com essa nossa primeira lição. – Peter fez uma pequena reverência desdenhosa. – E, é claro, eu gostaria muito de saber o nome do meu mais novo aluno.
O outro esperou, hesitante, com medo de responder, mas o que viu naqueles olhos verdes o assustou tanto que ele preferia morrer a experimentar aquilo novamente.
- Draco... Draco Malfoy.
Desdém e surpresa tomaram conta de Peter ao ouvir o primeiro nome do garoto.
- Pois bem, Draco, espero vê-lo na nossa próxima aula e… – Aqui ele começou a falar alto, para que todos ouvissem – …Todo e qualquer outro bruxo, que esteja se sentindo superior ou melhor que seus iguais deveria vir até mim e experimentar uma pequena sessão pela qual o Sr. Malfoy passou. Posso garantir-lhes que será muito… Inspiradora.
Nesse momento seus olhos verdes captaram outro par de olhos verdes do lado oposto do corredor, olhando atentamente para ele.
Ele acenou com a cabeça para Harry, seu sorriso cínico brincando nos lábios.
E, para a sua surpresa, Harry acenou de volta. Nesse momento seu sorriso sumiu e ele lembrou o que pretendia fazer ao ter saído da sua cabine.
- Esqueça. Não acha que já causou muita confusão, Pete? – Kate se pôs em seu caminho, tapando a passagem.
- Uma a mais, uma a menos, que diferença vai fazer? – Ele tentou tirá-la do caminho, mas seu corpo rígido não cedeu tão facilmente quanto o de Draco.
- Volte para a cabine… Agora.
O garoto grunhiu, com raiva. Ele queria ao menos deixar o recado dado. Alertar o Potter.
Katherine pôs a mão em seu ombro, empurrando-o para trás, seu corpo, embora tão forte como o da irmã, acabou rendendo-se à força da garota e ele terminou dando um passo para trás.
- Ok. Eu vou, mas não vai ficar assim, você não vai conseguir me impedir sempre.
- Eu posso tentar. – Ela estreitou os olhos para a ameaça do irmão. Pela primeira vez estava desafiando Peter cara a cara. Isso o assustou um pouco, mas ele não deixou a surpresa transparecer.
Ele virou-se e começou a andar em direção ao fundo do trem novamente, mas havia dado dois passos apenas, olhou por cima do ombro, visualizando o par de olhos verdes mais uma vez.
Não se aproxime dela. Você não a merece. Nunca mereceu.
A última frase não havia sido de fato para Harry, mas servia.
Ele se arriscou muito falando através da mente com o bruxo. O outro poderia acabar querendo vir tirar satisfações.
Ao ter esse pensamento, Peter riu, divertido.
Que venha. Ele havia gostado bastante da idéia.
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