Capítulo VII



Leram o livro juntos e conversaram por algum tempo. Quando estava anoitecendo, Lorcan e Lílian terminaram a leitura e ficaram se olhando por alguns minutos, até que Lílian finalmente abriu a boca.

- Eu gosto muito de você, sabia?

Ela deu um selinho no garoto e saiu correndo, com as bochechas coradas, por entre o jardim, rumo à sala da Grifinória. Lorcan ficou praticamente imóvel, até que cerca de cinco minutos depois ele se deu conta de que estava parado, boquiaberto, no meio do jardim, e já era noite. Entrou no castelo e foi até a sala de sua casa também.

- Então, como foi? – Rose perguntou, animada.

- Perfeição define. – Ela sorriu e se deixou cair em uma poltrona. – Tudo de bom.

- Assim não dá. Eu quero detalhes!

Lílian contou tudo a prima, que ficou boquiaberta.

- Uau, rapidinha você, não?

- Não! Foi só um selinho, afinal!

- Mas você já tinha dado selinhos antes?

- Não. – Ela respondeu. – Não quero falar sobre isso, ok? Enfim, agora eu vou dormir, tive um dia perfeito demais, tenho medo que caia um asteroide na minha cabeça, porque essa perfeição toda é até suspeita.

- Vai lá. Boa noite.

No dia seguinte, Lílian foi tomar café da manhã na mesa da Corvinal, onde sorria alegremente com Lysander e Lorcan.

- Eles estão saindo. – Falou Rose para Scorpius.

- Isso vai dar em casamento. – Ele sorriu.

- Eles estão muito bobos. – Rose falou. –Sabe, a Lílian fica até sorrindo a toa agora.

- Espero que ela não se decepcione logo. – Disse Scorpius.

- Eu tenho medo dessas coisas perfeitas demais. – Rose falou tristemente, evitando os olhos do garoto.

- Não fala isso, Rose, tudo acontece como deve ser!

- Eu sei, mas... Deixa.

- Você tem medo, né? Não tá preparada?

- Isso.

- Não se preocupa, eu nunca vou deixar que isso aconteça. – Ele passou o braço ao redor do pescoço da namorada. Ela sorriu.



Lílian levantou da mesa da Corvinal e foi até a da Grifinória.

- A comida de lá é ruim. – Ela sorriu. – Os elfos são mais carinhosos conosco.

- Scorpius, posso te pedir um favor? – Disse Rose.

- Fala!

- Vai ali bater um papo sobre vassouras de quadribol com o David Jordan, por favor.

Scorpius a olhou com uma expressão confusa.

- Assunto de garotas. Vai! – Ela fez um gesto para ele ir, e ele obedeceu. Então,
como fica você e o Lorcan?

- Como assim?

- Vocês estão namorando?

- Não exatamente. – Disse Lílian. – Ele agora é meu “namigado”.

- Hã?

- Nós conversamos, e decidimos que ainda estamos novos. Vamos deixar pra
namorar quando estivermos mais velhos. Isso pode demorar um ano, ou dois...

- Uma sábia decisão. – Falou Rose. – Então, futuros parabéns.

- Obrigada.

- Mas nesse meio tempo, como vai ser?

- Vamos esperar um pelo outro, entendeu? Nada de namorar ninguém por enquanto.

- Ai, que lindo! – Rose falou. – Adorei!

- É. Uma coisa difícil, mas acho que dá pra esperar, não? – Disse Lílian.

- Isso mesmo, se vocês se gostarem de verdade. E aí, vai escrever pros seus pais?

- Não, Rose. Acho que ainda está cedo pra isso, afinal, por enquanto somos apenas muito amigos.

- Ah, entendo. – Rose sorriu. – Acho que você está certa. Não preocupe seus pais
antes do tempo. Agora que tal irmos... Não sei, estudar?

- Não era isso que eu queria fazer agora. Poderíamos ir pra sala comunal...

- Nem começa. Tenho aula de Trato das Criaturas Mágicas e não tô nem afim de escutar você falar do Lorcan por mais horas e horas. Agora vá, acho que você tem DCAT agora, não?

- É. – Lílian revirou os olhos. – Acho que não vou dar pro ramo de auror, eita aulinha
chata!

- Eu sei que é chato, pelo menos a teoria, mas você vai precisar. Viu só como eu
precisei no café da Madame Puddifott?

- Você não, foi mais o Scorpius, né?


- Tanto faz. O que quero dizer é que as aulas foram necessárias. – Rose levantou,
tirou a mochila do chão, acenou para Lílian e saiu junto com Scorpius rumo à cabana
do Hagrid.

- Que bizarrice será que vamos ver hoje? – Scorpius sorriu.

- Não sei, pode ser qualquer coisa. Aprendi a nunca duvidar do Hagrid. Hum... Que tal dragões? – Ela retribuiu o sorriso.

- Seria uma boa...

No meio do caminho, Rose viu sua prima, Lucy. Elas não se davam muito bem, Rose gostava bem mais de Roxanne e de Lílian, mas acenou para a prima mesmo assim.

- Quem é essa? - Scorpius perguntou.

- Minha prima.

- Afe, você é prima de todo mundo! - Ele disse. - E eu aqui, sem primo nenhum.

- Eu posso dar ela pra você se quiser, nem faço questão.

- Que ano ela é?

- Quarto ano.

- Como eu nunca a vi antes?

- Essa garota é muito estranha, Scorpius. Ela foi pra Sonserina, sabe, fica direto na sala comunal, não fala muito com ninguém.

- E não tem amigas por lá?

- Ter ela tem, mas não dá pra chamar de amigas as garotas da Sonserina. Elas só conversam com a Lucy às vezes, geralmente ela fica na sala comunal, ou no dormitório, e às vezes ela vai estudar um pouco, mas é raro se ver ela à toa pelo colégio.

Chegaram finalmente na cabana de Hagrid. O meio-gigante estava conversando com Lysander Scamander e mais uma garota da corvinal quando viu quem se aproximava.

- Olá, Hagrid. - Rose falou sorridente.

- Oh, Rose! Como vai?

- Ótima. - Ela tirou a mochila e colocou-a encostada na cabana. - E você?

- Estou bem. - Ele respondeu. - Bom dia, Malfoy. - Ele falou sem emoção.

- Bom dia, Hagrid. - Scorpius sorriu.

Hagrid forçou um sorriso como resposta, mas estava óbvio que ele não estava se sentindo agradável. Mesmo Scorpius tendo ido para a Grifinória, ele sempre dizia a Rose que ele era perigoso, por isso se tornou muito "íntimo" de Alvo Potter.

- Então, que vamos estudar hoje?

- Boa pergunta, Rose. Trouxe, por incrível que pareça, animais inofensivos.


- Ah, sei. - Rose sussurou para Lysander, que deu uma risadinha.

- Bom, recebi corujas de alguns pais de alunos. Andam reclamando das criaturas que trago. Oras, se é Trato de Criaturas Mágicas o certo é trazer coisas diferentes, não? -
Ele bufou. - Mas, enfim, eu trouxe coisas simples para hoje.

- E o que é? - Scorpius perguntou em tom curioso.

- São Agoureiros.

- T-tem certeza, Hagrid? S-são sinistros. - Rose falou, medrosa.

- Não se procupe, eles só têm má fama. São como os testrálios, sabe? Julgam muito
pela aparência, no caso dos testrálios, mas já com os Agoureiros julgam pelo seu canto. Teremos uma pequena aula de teoria com eles hoje, quem sabe depois eu deixe vocês se divertirem com eles, hein? - Ele deu uma piscadela.

- Hagrid!

- Tudo bem, Rose, só estava brincando. Abram seus livros na página trinta e dois. -

Ele falou, já que o restante da turma tinha aparecido. - Bem, é como diz aí. É extremamente tímido, faz ninho em moitas espinhosas, come grandes insetos e fadas, só voa sob chuva pesada e, no restante do tempo, fica escondido em seu ninho em feitio de lágrima, e blá, blá, blá. - Ele falou, impacientemente.

- Pelo jeito, teoria não é muito a praia dele. - Scorpius falou.

- Alguma pergunta? - O professor falou, olhando para Scorpius com um brilho no olhar.

- Não, professor. - Ele falou rapidamente.

- Eu tenho uma. - Disse Rose.

- Pois pergunte! - Hagrid entusiasmou-se.

- É verdade que o canto do Agoureiro anuncia a morte?

- Não, Rose, não é verdade. Há boatos, mas o canto do Agoureiro anuncia a chuva, o que é bem diferente da morte, sim? - Ele sorriu.

- Certo.

- Bom, o que podemos fazer agora? Sim, desenhem um Agoureiro. O dono do melhor desenho recebe dez pontos para a sua casa, o que acham?

Houveram vários murmúrios de concordância, então todos começaram a puxar pergaminhos das suas bolsas, e Hagrid mandou formarem duplas e entregou um Agoureiro para cada dupla. Ao passar por Scorpius e Rose ele ficou indeciso a quem entregar.


- Pode me dar, eu não vou contar pro meu pai e nem vou te denunciar no ministério da magia, isso não vai cortar meu braço. - Scorpius sorriu.


- Talvez você realmente seja diferente das suas... - Hagrid olhou Scorpius dos pés a
cabeça, em seguida deu um leve sorriso. - Origens.


- Claro, interiormente sim.


Ele entregou o Agoureiro a Scorpius e foi até Ketly e Diana para entregar o último da caixa.


- Bem, isso foi um avanço. - Disse Rose.


- É. Quem sabe ele conversa com seu pai e seu tio e eles se convencem que não sou o
fim do mundo?


- Eu quero apresentar você à eles dois, acho que nas férias, o que acha?
Scorpius congelou.


- Bem, eu imaginei que um dia teria de conhecê-los...


- Certo, então a gente marca um dia. Agora dá pra segurar direito esse Agoureiro? Já sou uma péssima desenhista, se ele ficar pulando em cima de você não ajuda muito.


- Ela sorriu.


O resto da semana se passou normalmente. As mesmas discussões entre Lílian e Hugo, os mesmos puns que o mini-pufe Joe de Rose soltava fazendo ela ficar mais vermelha que seus cabelos, os ensaios para a banda, cujo ia se tornando mais “rockeira” que nunca (Lílian estava começando a achar que teria que pintar mechas rosa pink no cabelo para poder se misturar com os outros melhor) e as mesmas aulas de sempre. Na terça-feira, Rose e Hugo estavam jogando xadrez bruxo, após meia hora de insistência do garoto, quando Scorpius e Lílian entraram na sala comunal.


- Boa-tarde. – Scorpius falou, se sentando em uma das poltronas. Parecia cansado.


- O que aconteceu com você? – Rose perguntou.


- Eu o desafiei. – Lílian falou, a voz cheia de confiança. – Quero ser apanhadora do time, só que ele insiste que não quer me mudar de posição. Então eu pedi pra ele soltar o pomo e cronometrar o tempo que eu passaria pra pegar.


- É, isso é cansativo, essa aí não desiste nunca. – Ele falou. – Mas, Lílian, vai ser uma
briga se você quiser trocar de posição...


- Tá, deixa pra lá, chatice! O Tiago vai ficar enchendo minha paciência pro resto da vida, eu posso continuar na posição atual mesmo. Agora licença todo mundo, vou
tomar banho.

- Ela é uma boa apanhadora? – Rose perguntou, assim que a prima saiu da sala.

- Ótima. Acho que ano que vem já sei quem vai entrar no lugar do Tiago, já que ele
terá terminado a escola.

- Legal. – Rose falou. – Espero que não me troquem de lugar também.

- Não, seu lugar é fixo até você se formar. – Ele respondeu, com um sorriso no canto
da boca.

- Ô Rose, presta atenção, você já ia fazendo burrice aqui, ó! – Hugo falou,
apontando para o tabuleiro de xadrez.

- Ah, eu esqueci. Xeque mate. – Ela falou, fazendo um movimento.

- Droga, até quando você não presta atenção você ganha.

- Eu sei, com um tempo você pega mais habilidade.

- Então, vai ter ensaio da banda hoje? – Hugo perguntou, se virando para Scorpius.

- Eu, hein. Tudo vocês acham que é comigo. Mas, não, não vai ter. O Alvo tem detenção pra cumprir hoje à noite.

- E por que ele pegou detenção? – Rose perguntou.

- Ele falou que estava andando pelo jardim quando o lembrol dele saiu rolando, aí
ele foi atrás e o Filch achou que ele tava indo pra Floresta Proibida. Enfim, ele tem detenção hoje de oito da noite, não vai dar pra ensaiar.

- Ok, a gente vê isso amanhã. – Hugo disse, um pouco desapontado. – É, que hoje
nem tenho nada pra fazer.

- Nem tarefa de casa? – Rose perguntou, erguendo as sobrancelhas.

- Nem começa, Rose. – Ele respondeu.

- É bom você fazer então. Eu vou fazer o meu trabalho de Transfiguração, você já fez, Scorpius?

- Já. – Ele respondeu. – Ontem eu fui na biblioteca e acabei fazendo o trabalho.

- Que coisa, você com um trabalho pronto e eu não. Eu vou passar lá, mais tarde eu volto.

- Tchau. – Scorpius falou, em seguida Hugo.


Os dois estavam sozinhos na sala. O clima era um pouco frio e já estava no fim da tarde, a lareira estava acesa e o fogo crepitava. Hugo estava ainda sentado na cadeira cujo jogava com Rose há alguns minutos, Scorpius ainda na poltrona.

- Como vão as coisas? – Scorpius perguntou para Hugo após alguns minutos de
silêncio.

- Que coisas?

- As coisas, ora. Em geral.

- Caminhando. – Ele respondeu, fitando fixamente o fogo da lareira.

- É a garota veela? – Scorpius falou. Hugo apenas olhou para o teto, respirou fundo e voltou a atenção à lareira. – Pode falar, desabafa.

- É difícil demais conviver com aquela menina! – Ele disparou, se endireitando na cadeira e olhando para Scorpius. – Ela é extremamente complicada!

- Isso é normal com garotas. Eu mesmo tive que esperar a Rose acordar por seis anos.

- Mas ela sabe que eu gosto dela, a Rose não sabia!

- E você acha que se ela soubesse faria diferença, Hugo? Se ponha no lugar da Danielle, ela realmente deve estar confusa, vocês têm treze anos!

- Na verdade, eu tenho treze, ela tem catorze.

- Você entendeu. São muito novos ainda, eu acharia estranho se ela não ficasse confusa. Dê um tempo pra ela pensar, daqui a alguns anos, ou meses, não sei, vocês podem se entender.

- Mas vê a Lily e o Lorcan mesmo...

- Eles ainda não têm nada. – Scorpius falou.

- Mas eles se entenderam. Nunca mais a Dani nem falou comigo. Ela me trata como
se eu fosse transparente!

- Eu já falei, ela precisa de um tempo... – Scorpius prosseguiu. – Deixe de ser cabeça
dura, tente conversar com ela, mais cedo ou mais tarde vocês vão ter que conversar.

- Diz isso pra ela! Ela nem me dá “oi”.

- Já vi que você não vai se convencer que você tem que esperar, então vamos mudar de assunto. Você criou alguma letra, ou alguma melodia na bateria?

- Melodias sim, letras nem pensar. Meu maior medo é de algo meloso.

- É só não fazer nada meloso, Hugo. Tenta algo mais bruto, sei lá.

- Como assim?


- Boa idéia. Alguma recomendação de bandas de punk?

- Nem sei, mas já ouvi falar em The Clash, em Green Day, em MXPX, não sei se são boas, mas que já ouvi falar é verdade.

- Ok, vou conferir depois.

- Vou dormir. - Scorpius falou. - Sério. A Lily me deixou enfadado! Quer dizer, primeiro eu tomo banho, depois eu durmo. Até amanhã, Hugo.

- Até.

Scorpius saiu da sala, deixando Hugo sozinho, com seus pensamentos. Foi então que, minutos depois de Scorpius saiu, Rose entrou correndo na sala comunal.

- Hugo! Onde tá o Scorpius? - Ela perguntou, ofegante.

- Ele foi tomar banho, o que é?

- Briga! Briga na biblioteca!

- Me fala que é de mulher? Adoro briga de mulheres! - Hugo pareceu entusiasmado com a notícia.

- Argh, seu idiota! São dois garotos do quinto ano da sonserina, a gente precisa de alguém pra separar os dois, só tem meninas lá, e eles são um tanto quanto grandes!

- Então procura outra pessoa, porque o Scorpius acabou de sair.

- Eu vou lá, talvez eu o encontre no corredor! - Rose saiu correndo.

- Eu, hein? Bem doida! - Hugo falou, assim que a irmã saiu.

Rose não encontrou Scorpius a tempo. Estava preocupada pois os dois estavam duelando, e se tratando de alunos da sonserina não era difícil que eles usassem até mesmo uma maldição imperdoável.

- Ei, Alvo! - Ela falou.

O primo dela estava sentado junto à Lysander Scamander, conversando. Assim que percebeu que tinha sido chamado, sorriu para Rose.

- Oi!

- Briga na biblioteca! Quinto ano da sonserina, dois garotos, vamos, ajuda! - Ela puxou o braço de Alvo, que logo levantou.

- Vamos. Até outro dia, Lysander.

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