Na estufa



- Na verdade, a culpa não é minha se ela me pegou de surpresa. - Charlotte sussurrava para Cedrico de trás de um pé de agrimônia. 
- Eu sei, mas acho que você meio que acusou ela. - ele sussurrou em resposta. - Talvez ela tenha ficado sentida. 
- Eu sei que eu fui grossa, mas por favor! - o sussurro de Charlotte ficava cada vez mais audível aos demais da estufa. - Aquela desculpa dela...
- Desculpa? - perguntou Cedrico olhando para os lados para ver se alguém estava prestando atenção. - Você acha que ela é culpada?
- Não sei, Cê. - ela falou parando de podar a planta e o olhando séria. - Ela estava muito estranha ontem à noite. 
- Talvez você deva falar com ela. - Cedrico falou olhando para Alicia que parecia cansada e desorientada. - Ela não parece muito bem hoje. 
Os dois ignoraram a planta que se contorcia ao lado deles e ficaram observando Alicia. Ela tinha olheiras roxas profundas. Estava pálida, como se estivesse doente, e parecia realmente fraca. Será que a pequena discussão que elas tiveram na noite anterior havia a deixado daquele jeito? Charlotte mordeu o lábio inferior se sentindo culpada, não gostava de ver a amiga daquele jeito. 
- Será que é culpa minha? - Charlotte falou em voz alta os pensamentos que a atormentavam. 
- Você só vai saber se for lá falar com ela. - Cedrico falou antes de voltar sua atenção para a agrimônia. 
- Talvez você tenha razão. - falou Charlotte olhando distraída para Alicia. 
- Você tem alguma coisa na cabeça. - Cedrico falou rindo. 
- O que? - perguntou Charlotte agitando o cabelo começando a ficar desesperada. 
- Eu tiro. - falou Cedrico rindo da cara de desespero que Charlotte fazia. 
- Tira logo, Cê! - Charlotte guinchou. 
- Era só uma folhinha, sua boba. - Cedrico falou rindo. 
- E você me deixou desesperada daquele jeito.
- Seu cabelo é macio, tem cheiro de lichia. Eu gosto de lichia. - Cedrico falou casualmente mas segundos depois se arrependeu de ter falado pois os dois ficaram com o rosto de um tom de rosa vivo. 
Do outro lado da estufa, Jorge fuzilou Cedrico com todo o seu ódio. Distraído, Jorge cortou um grande pedaço da planta que reclamou com um chiado agudo chamando a atenção de Charlotte. A garota sorriu para o amigo e levantou uma mão para cumprimentá-lo, mas o garoto virou o rosto irritado e tentou acalmar a planta conversando com ela gentilmente. Quando o sinal tocou lá fora, os alunos marcharam para dentro do castelo. Charlotte alcançou Alicia que estava adiante:
- Alicia! - chamou a garota fazendo a amiga se virar. 
- Ah, oi, Charlie. - falou Alicia simpática como sempre. - Como vão as coisas?
- Bem. - falou Charlotte confusa. - Olha, me desculpa por ontem, ok? Eu fiquei irritada e eu não tenho dormido direito, tenho tido pesadelos, então ando meio mal humorada mesmo. 
- Ontem? - perguntou Alicia fazendo uma careta de confusão engraçada. 
- É, discutimos ontem a noite, lembra? 
- Na verdade eu não lembro de nada de ontem. - Alicia fez uma cara como quem se esforça pra lembrar de algo. - Só lembro de estar na biblioteca e depois eu não lembro de mais nada.
- Estudou muito? - perguntou Charlotte andando ao lado de Alicia. 
- Na verdade não fui para lá estudar, fui para lá entregar um livro e já ia voltar para o salão comunal quando minha mente apagou e quando eu voltei, eu estava dentro de um armário de vassouras do segundo andar. - Alicia falou pensativa parando na frente da porta da safa de Transfiguração. 
- Entendo. - Charlotte então entrou na sala, mas não sem antes perguntar: - Você lembra a senha da sala comunal?
- Claro. - falou Alicia rindo. - Barba de Merlin, mas por que você me perguntou isso?
- Por nada não. - falou Charlotte e entrou na sala.

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