tire os seus olhos dos meus, e



"Nada ainda?", Rony surgiu à beira da escada.



"Nada!", Jorge respondeu desapontado.



"E aí, nada?", foi a vez de Hermione que apareceu segundos depois.



"Nada!", Jorge mais uma vez responder sem tirar sua atenção das orelhas extensivas



Gina ia se aproximando quando os gêmeos em uníssono se prontificaram



"Nada!"



"O que foi?", ela perguntou sem entender.



"Economizando nosso tempo antes que você perguntasse também".



"Huh....nada mesmo, então?"



"O que é nada?", foi a vez de Harry perguntar unindo-se ao grupo



"Como assim Harry. Você não percebeu?", Gina estranhou a alienação do garoto.



"Nunca uma reunião demorou tanto", Jorge se adiantou. "Estão desde o final do jantar de ontem".



Já era manhã. Os dias continuavam conturbados no mundo mágico e principalmente para os membros da Ordem. Conversaram noite a fora trancados entre quatro paredes. Estavam todos lá. Dumbledore também estava lá. Seria isso uma coisa boa ou ruim? Ninguém saberia responder. As orelhas extensivas dos gêmeos não apresentavam nenhuma utilidade para a infelicidade geral do quinteto. Sim, quinteto pois até então, Harry não se mostrava muito interessado com os últimos acontecimentos.



À essa altura já não lhe importava tanto a fissura de certo bruxo pancada da cabeça que tinha uma idolatria por ele. Havia se esquecido que estava no meio de uma guerra. Como foi que pôde esquecer isso? Andara tão absorto nos últimos dois dias que se esquecera do mundo à sua volta. Remo previra isso ao entregar o diário a ele. E Harry havia prometido que não esqueceria do mundo à sua volta. E ele se esquecera. De tudo e de todos. Não conversava mais com os amigos, não mais procurava saber de detalhes importantes das reuniões. A muito contragosto ele descia para as refeições. E também tinha as vezes que o maldito sono chegava e ele não mais resistia. De resto, Harry só vivia para o diário. Nos raros momentos que não o tinha em suas mãos, seus pensamentos eram monopolizados por ele.



No fundo Harry se culpava por estar tão distante, mesmo sabendo que não deveria. Ou deveria? Afinal ele não estava sendo o exemplo de amigo desde que voltara para a mansão. Felizmente, mesmo considerando-se o pior dos amigos naquele momento, ele tinha os melhores amigos que podia querer, pois mesmo sem entender o motivo, que davam espaço a Harry, sem que fosse necessário pedir.



Harry supunha que eles imaginassem que seu comportamento estaria relacionado com a morte de Sirius. Indiretamente, tinha.



Ainda não sabia dizer o porque de manter segredo sobre o diário, afinal Rony e Hermione eram seus melhores amigos. Nada escondia dele. Talvez quase nada.



"Isso ainda vai demorar", Hermione previu. "Vou para o quarto ler".



"Que tal uma partida de Xadrez?", Rony virou-se a Harry.



A recusa já estava pronta, mas surpreendeu-se, e até o próprio Rony, ao aceitar o convite do amigo.



"Vamos lá!", assentiu.



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"Harry, isso é um recorde. Menos de trinta minutos e eu já derrotei você nove vezes. Devo estar no meu dia de sorte".



"Parece que sim Rony".



"Quer uma revanche?", perguntou recolocando as peças no tabuleiro.



"Ah, eu desisto"



"Imaginei. Já estava ficando feio para você!", Rony apresentava um semblante metidamente orgulhoso no rosto. "E o que quer fazer agora?"



"Ahm... acho que vou ler um pouco".



"Legal, deixa eu... o quê?!", Rony parou assim que a frase alcançou seu cérebro. "Ler? O que é que Hermione fez com você, cara?".



O moreno riu da cara do outro amigo e, ajeitando os óculos que insistiam em escorregar para a ponta do nariz, levantou-se.



"Não precisa se preocupar Rony. Não cheguei ao estado de Mione".



"Então o que vai ler?"



"Ahn..."



"Harry, o que é que você anda aprontando?"



"Do que você está falando?"



Rony hesitou um pouco e Harry pode perceber as orelhas do amigos ficarem tão vermelhas quanto os cabelos, denunciando o seu nervosismo.



"Ok, eu prometi a Hermione que não iria perguntar, mas eu sou seu amigo e quero saber o que está acontecendo com você. Está tão distante, vive trancado no quarto. Olha Harry, eu não posso dizer que sei o que está sentindo, mas eu também gostava muito do Sirius... ele era um cara.......".



"Rony, não precisa disso. Eu estou bem".



"Não, você não está Harry".



"Estou sim. Eu só estou meio disperso ultimamente".



"E não adianta perguntar porque não é mesmo?".



"Olha eu prometo que vou contar ok?".



"Ah é? Quando?".



Harry hesitou por um instante.



"Depois do almoço". A resposta foi rápida, despontando um sorriso de satisfação no rosto de Rony. "Então conversaremos depois do almoço, certo?".



Rony assentiu e Harry, terminado de ajudar a recolher as peças do jogo, voltou para o quarto, jogando-se mais uma vez em sua cama. Automaticamente, seus braços buscaram o caderno debaixo do travesseiro.



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07 de Setembro de 1974.



Ohhh que saudades de você. Nunca achei que fosse sentir tanta saudades suas. Que tipo de pessoa eu sou? Que alma desnaturada eu tenho? Como fui capaz de deixá-lo todo esse tempo? Você não sabe a falta que senti de você.



Ah diário. Uma semana! Eu entrei em parafusos sem poder escrever todo esse tempo. Ainda puxo meus cabelos toda vez que lembro de você esquecido naquela casa, correndo sérios perigos sob os grandes olhos bisbilhoteiros de Petúnia.



Aqui fica a minha promessa. Nunca mais iremos nos separar. Palavra de Lílian Evans. Vou carregá-lo debaixo do braço até eu ficar bem velhinha. Sim, a partir de agora, onde eu for, você também vai. Não irei mais correr riscos. Eu não quero mais passar o que passei nessa última semana. Eu fiquei desesperada... sem rumo... desorientada...



Ainda estava no Expresso quando percebi sua ausência. Assim que entrei na cabine abri minha mala procurando por você. Estava ansiosa por escrever sobre o primeiro dia do meu último ano em Hogwarts. Era a última vez que estava embarcando naquele Expresso. Bem, não a "última vez" pois eu ainda tenho que voltar para casa não é mesmo? Porém, não mais dormirei ansiosa em meu quarto aguardando a manhã em que voltaria para a Plataforma nove e meia, doente de saudades de Marlenne, Liza, Alice e Ana.



Esse ano não foi diferente. Pontualmente ás onze da manhã, estava eu contemplando aquela enorme máquina que jorrava fumaça. Centenas de alunos iam e vinham. Dentre tantos rostos, alguns desconhecidos, dos pequeninos que iniciavam essa aventura pela primeira vez. Alguns primeiranistas aterrorizados, outros entusiasmados. Pequenos e grandões dando seus adeus. Lembro-me de estar apavorada no meu primeiro ano. Olhando tantas pessoas diferentes, com corujas piando, mães dando os últimos conselhos aos filhos, adolescentes gritando, risadas e mais risadas se misturando com choros de despedidas.



Corri os corredores até a nossa cabine de direito na qual dividi os últimos seis anos com minhas amigas. A penúltima cabine, lado esquerdo do corredor. Já estava perto quando uma pancada me levou ao chão, junto com tudo o que carregava.



"Por Merlin, não olha por onde anda", urrei de nervoso.



"Está falando comigo, sangue-ruim?"



Era Snape, um dos piores Sonserinos do castelo. Embora noventa por cento do meu sangue estivesse concentrado em minha cabeça, eu evitei responder. Recolhi minhas coisas sem olhar para o infeliz, entrando rapidamente na cabine.



"Lily, você está sangrando." Marlenne olhou assustada.



Só então reparei uma mancha de sangue em minha blusa.



"Não foi nada. Trombei com a porta da cabine". Afirmei sentando-me.



Nas próximas horas, colocamos os assuntos em dia, matando a saudade uma da outra. A essa altura, Sirius, Tiago, Remo e Pedro se espremiam em nossa cabine também, enquanto a deles permanecia vazia mais à frente. Foi então que decidi escrever no meu queridíssimo diário.



"Logo cedo Lily?", Sirius comentou quando me viu remexer a mala prevendo o que eu procurava.



"Pronto, agora ela vai pôr-se a escrever até chegarmos ao Castelo", Liza completou.



"Eu não consigo evitar", respondi na inocência. E não deixa de ser verdade. Esse diário se tornou um vício para mim. A não ser que ocorram situações de força maior, eu jamais deixo de escrever nele... digo... em você... ahn... deu para entender né.



"Eu abriria mão de tudo. Minha fama, minha beleza, minha nata inteligência, de todas as garotas para saber o que você tanto escreve aí".



Todos olhamos para um Sirius extremamente cínico.



"Jura Sirius? Então sente-se aqui. Eu deixo você ler um pouquinho", eu disse vendo Sirius fechar a cara espantado.



"Ahn... eh... eu não quis dizer que abriria mão de tudo mesmo. Foi uma força de expressão".



"Imaginei", todos ríamos.



"Ainda posso lê-lo?"



"Claro que não Sirius", respondi ainda mexendo em minha mala que já estava praticamente do avesso.



"Ahh Lílian! Quando você menos esperar, você terá todos os seus segredos revelados".



"Eu não contaria com isso meu caro. A não ser que você queria ficar com as mãos cheia de pus que nem as de Tiago", disse rindo.



"Admito, você foi esperta Lílian Evans, mas eu estou trabalhando nisso. Aguarde-nos!".



"Droga!", grite fechando o malão com força. A cabine inteira pulou de susto.



"Por Merlin, o que foi Lily?", Alice foi a que mais se assustou pois se entretinha com uma revista.



"O diário. Eu não o acho".



Instantaneamente, olhei de Sirius para Tiago e então eles se entreolharam.



"O que foi?", perguntaram em uníssono.



"Cadê o meu diário?".



"Como é que nós vamos saber?"



"Foram vocês dois. Eu tenho certeza! Tiago Potter, pelo amor que você tem por Merlin, devolva o meu diário".



"Isso é uma injustiça Lily. Eu não o peguei".



"Eu não acredito", respondi brava ainda encarando os dois.



"Eu juro! Juramento de maroto. Nós não pegamos".



"Lily, eles ficaram o tempo todo às nossas vistas. Como é que eles iriam pegar o diário dentro da sua mala?", Marlenne perguntou.



"Mas então porque ele não está...... Ai meu Deus!", gritei levando a mão a boca.



"O que foi?", todas as vozes da cabine perguntaram juntos.



Então passei a relatar desde o momento que cheguei na plataforma, entrei no Expresso e trombei em Snape.



"Só pode ter sido ele. O diário deve ter caído e eu não vi".



Comecei a sentir minhas pernas fraquejarem, as vistas escurecerem, o coração parar, tudo o que fosse possível. Se meu querido diário estivesse com Snape eu estaria morta. Meus segredos, minhas confissões. Oh Merlin.



"Deixa comigo Lily. Se estiver com Snape, você o terá de volta. Vamos almofadinhas!"



Tiago e Sirius saíram da cabine.



"Calma Lily. Você não coloca um feitiço nele ou coisa assim?



"O diário só repele os curiosos do Sirius e do Tiago. Nunca me preocupei com mais ninguém que pudesse querer pegá-lo. Sempre o guardei tão bem e ninguém além dos alunos da torre Grifinória me vê escrevendo no diário. Eu suava frio. Mais e mais. Snape já deveria ter lido não todo, mas boa parte dele. Coisas da minha vida, meus sonhos, meus desejos... Tiago! Droga, porque é que eu tenho essa mania besta de escrever tanto sobre ele?



"...tudo nele me soa superficial. O seu sorriso exagerado..."



"Suas mãos ainda me seguravam próxima ao seu corpo. Seus olhos caíam de forma pesada sobre mim"



"...eu não o odeio..."



"Há tempos não via aquele sorriso exagerado do Potter tão de perto. É irritante, confesso, mas ao mesmo tempo estranhamente belo".




Tiago chegou aos sorrisos



"Sinto muito Lily. Não está com o Seboso!", Tiago disse rindo.



"Tem certeza?"



"Ah sim. Usamos todas as formas necessárias para recuperá-lo e nada", seu semblante de felicidade aumentou exageradamente. Pela primeira vez, sendo monitora, eu não me importei com o que teria acontecido. "Almofadinhas foi perguntar cabine pr cabine se alguém o viu".



Foi quando comecei a pensar no pior. Eu teria perdido? Teria sido roubada. Oh merlin... coisas horríveis passaram pela minha cabecinha ao imaginar nas mãos de quem você estaria. Não só Snape, mas agora qualquer aluno de Hogwarts poderia estar se deliciando às minhas custas.



"Ninguém o viu Lily!", Sirius chegou.



E Então Alice cogitou a possibilidade de que eu pudesse tê-lo esquecido em casa. Eu não acreditava que pudesse ter sido capaz, mas não deixava de ser uma possibilidade que conseguiu me deixar menos tensa. Pelo menos um pouquinho.



Logo chegamos ao castelo e assim que a cerimônia de seleção das casas pôs-se ao fim, a primeira coisa que fiz foi correr até o corujal para mandar uma carta aos meus pais perguntando se eu havia deixado meu diário. E então, só me restou esperar. Uma espera longa, cansativa, que me deixava desgastada. Eu não imaginava o quanto estava ligada sentimentalmente à esse monte de papel (com todo o respeito, diário!).



Dia após dia eu ia ficando mais desanimada. Não havia mais esperanças para mim. Eu tentava me conformar. Como? Minha vida poderia estar nas mãos de qualquer pessoa. O que me confortava era ter tantos amigos bons. Amigos que eu não sabia o quanto eles fariam por mim. Todos estavam dispostos a me confortar e a me animar. Liza, Marlenne, Aninha, Alice, Remo, e até mesmo Pedro, Sirius e Tiago. Esse se propôs a me animar como se fosse um desafio para ele. Quer saber? Foi bom... muito bom ter sua presença constante dia a dia.



Já havia passado uma semana que estávamos em Hogwarts. Já passava da hora do jantar. Poucos alunos restavam no Salão Principal. Eu ainda estava lá, assim como Tiago e Marlenne que me forçavam a comer.



"Vamos Lily. Você anda muito fraca Não me obrigue a fazer aviãozinho. Você já passou da idade mocinha".



"Estou sem fome Tiago".



"Deixe Tiago. Você não conhece essa menina teimosa?", Marlenne resmungou enquanto observava a tarefa de Tiago tentar fazer eu comer.



"Eu vou voltar para a Torre".



"Não vai não. Você não sai daqui enquanto você não esvaziar esse prato".



"Potter você está parecendo a minha mãe".



Ele riu.



"Sabe, eu também estou parecendo a minha mãe", ele disse com uma cara que alternava o divertimento e o espanto.



"Eu estou indo. Boa sorte aí Tiago. Lily, come mulher, só um pouquinho", foi o último pedido de Marlenne antes que ela deixasse o Salão Principal.



Olhei Tiago por um instante. Ele sorria de forma reconfortante para mim, como se, apenas com os olhos, me dissesse que tudo iria ficar bem. Eu queria acreditar nisso. Por um segundo, seus olhos de cores indefinidas (vezes castanhos escuro, vezes castanho esverdeados) se soltaram dos meus.



"Lily, olhe!", ele apontou para uma das janelas do Salão, com um sorriso.



Quando me virei vi uma coruja em nossa direção. Como se ouvisse meu pedido desesperado ela se aproximou de nós dois soltando o pacote que tinha em suas patas. Não precisei abrir o pacote para que o sorriso se abrisse. Era o diário. Meu tão querido diário. Abri a carta de meus pais onde minha mãe dizia que o havia encontrado caído na sala de televisão. Imagino que tenha sido arte de Petúnia. Ela ainda me paga por isso.



"Eu não disse que tudo iria se resolver". Tiago disse. Eu sequer tinha condições de responder, tamanha a minha alegria. No impulso, apenas o abracei.



"Obrigada Tiago".



"Pelo o quê Lily?"



"Por ser meu amigo".



A situação passou então a ficar constrangedora e eu o soltei, corando disfarçadamente.



Magicamente, a fome acumulada de uma semana surgiu e eu passei a comer como uma morta de fome, uma sem teto, como se tivesse ido de casa a Hogwarts a pé. Tiago ainda me acompanhava.



"É Lily, não será dessa vez que toda Hogwarts ficará sabendo do seu amor por Tiago Potter", ele debochou de forma irônica, com o seu sempre ego inflado.



Eu o cutuquei rindo e continuei a comer. Ele fez o mesmo.



"Ainda bem Tiago", pensei logo em seguida olhando-o despercebidamente.

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