contra todas as probabilidades



Três meses. Esse foi o tempo necessário para que eu pedir desculpas ao Potter. Embora Liza me lembrasse diariamente da minha promessa, eu jamais achei que pudesse ser tão complicada essa tarefa. Não que eu seja egocêntrica a ponto de não admitir que estava errada. Ao contrário, eu mesma cheguei a essa conclusão sozinha. Desculpas eram necessárias e eu tinha de falar com Potter.



Falar com o Potter! Por que estava sendo tão difícil eu não sei responder. Talvez se ele tivesse colaborado, a missão teria sido mais fácil. Sim, porque pedir desculpas ao Potter e admitir àquele ser de super ego de que eu estava errada era uma missão. E das mais difíceis, para não dizer praticamente impossível.



Nos dias seguintes ao incidente, Potter se mostrou menos preocupado em torrar minha paciência. Milagrosamente, seus "Lily" se transformaram em "Evans", como a dois anos atrás. Desde que Potter teve a insânia idéia de me convidar para sair pela primeira vez, ele jamais voltou a me chamar de Evans. Era dado início aos seus tormentos que não cessaram mais. Não até aquela manhã de domingo, pós dia dos namorados.



Talvez ele estivesse bravo comigo e eu não o culpo por isso. Por essa razão, preferi não conversar com ele. Decidi então esperar até que o mal-humor de Potter terminasse. Mais hora ou menos hora ele estaria novamente às minhas sombras fazendo o que sabe melhor: me irritar. Ele sempre volta, certo?



Errado!



Potter não voltou. Semanas se passaram e eu continuava a ser Evans para ele e somente quando o necessário. Potter não estava com raiva. Estava indiferente. Confesso que dias de paz finalmente reinavam para essa pobre Lílian Evans. Sem mais "Sai comigo Lily", "minha ruivinha" ou "minha bruxinha".



Longe de mim admitir que me faz falta as pertinências de Potter, mas alguma coisa dentro de mim me culpava por seu comportamento. Merlin sabe o quando pedi para que esse ser esquece um pouquinho que fosse da minha mísera existência, mas que isso acontecesse em outras circunstâncias. Oh Merlin, porque eu tenho um coração tão bom? Além de aturar, preciso sentir remorso também?



Como se semanas não fossem suficientes, os meses também se passaram sem que eu ao menos percebesse. Março...Abril...Maio...e nada de Potter. E Liza se ocupava em não me fazer esquecer o motivo de tudo isso.



As minhas desculpas? Nada até então. A essa altura, já não fazia mais questão delas. Já havia me enquadrado em uma nova rotina onde não tinha mais a figura do Potter presente. Certa vez Marlenne fez o infeliz comentário de que eu estaria sentindo falta disso. Claro! Seria mais provável eu me juntar aos Sonserinos em uma confraternização.



Quando eu já não mais pretendia conversar com Potter, um fato estranho aconteceu.



A semana havia transcorrido na mesma monotonia de sempre. O fim de semana havia finalmente chego. Com a aproximação dos exames finais, eu reorganizei meus horários de estudos. Passava horas lendo na biblioteca e quando não mais era possível pelo horário, eu me transferia até a sala comunal e por lá ficava por horas. Na última noite de sexta-Feira as coisas não foram diferentes. Lá estava eu, enterrada em uma de minhas leituras na sala vazia. Sem perceber quando, o sonho chegou e eu adormeci na poltrona e somente quando os primeiros raios solares começaram a surgir pela janela eu despertei. Sentindo dores por todo o corpo, fechei meus livros e já estava a caminho do dormitório onde eu pretendia continuar a dormir.



Já no alto da escada eu ouvi o quadro da Mulher Gorda se abrir. Não contendo a curiosidade me voltei para ver quem estaria em pé nas primeiras horas da manhã de um sábado. Mas quem quer que fosse não estava saindo e sim entrando. Não fiquei surpresa em ver Potter, Black e Pettigrew. Onde é que aqueles três estiveram por toda a noite? Minha vontade era de descer e exigir explicações como monitora, mas eu me contive por um instante. Os três riam e falavam coisas desconexas aos sussurros como se soubessem que alguém poderia estar ouvindo. Seja lá o que estivessem conversando, eles queriam manter em segredo, aumentando ainda mais a minha curiosidade.



No mesmo instante em que entraram, Pettigrew subiu para o dormitório masculino deixando os outros dois no salão comunal. Potter e Black ainda riam de alguma coisa, jogados em duas poltronas. Esses três andaram aprontando alguma coisa pelo Castelo aproveitando que Remo está visitando a mãe doente. Assim o monitor não os impediria de aprontar pelos corredores.



Quando já não mais me interessava o papo entre os dois, me coloquei de pé pronta para voltar ao dormitório. Foi quando finalmente pude ouvir a voz de Black.



"Pontas, você ainda não me respondeu se topa aquele encontro duplo com a Fran e a amiga dela".



"Almofadinhas, não me leve a mal, mas eu não estou afim da amiga da Drewit".



"Como não? Vai dispensar uma garota daquela? O que há com você meu caro?".



Se Potter respondeu a essa pergunta, eu não sei dizer. Não consegui escutar. Logo Black falava de novo.



"Não me venha com "não é nada". Aposto todo o dinheiro que minha família tem no Gringotes que sei soletrar em 5 letras qual o seu problema".



"Não enche Almofadinhas".



"E-v-a-n-s".



Levei minha mão à boca me impedindo de fazer algum som. Procurei me aproximar para ouvir melhor a conversa. Talvez meus ouvidos tivessem me enganado. Talvez não passasse de surtos ilusórios da minha mente.



"Escutando conversa alheia Lílian. Que coisa mais feia!" (Sírius).



Eu não escutava a voz de Potter. Quanto a Black, esse não parava de falar com um tom de deboche nas palavras. A cada palavra eu me prendia às escadas para não correr e esganar aquele garoto. "A ruivinha te fisgou Thiago?". "Pontas tem uma queda por bruxinhas estressadas metidas a dar detenções".



Eu não seria louca a ponto de matar Black naquele momento. Isso seria a minha confissão de que estava ouvindo conversa que não devia. Ah, mas ele que me aguarde. A hora dele vai chegar, mais cedo ou mais tarde. Se ele acha que eu distribuo detenções, eu vou lhe dar uma detenção.



Black continuava a rir de Potter enquanto esse não pronunciava uma só palavra como se não tivesse ouvindo o amigo. E eu, escondida, contava até 300 para não estuporar Black de onde eu estava.



"Eu não sei, mas o que eu faço Almofadinhas. A Lílian nunca vai gostar de mim".



"Não fica assim Pontas. Você pode ter quem você quiser nesse castelo.”.



"Eu não tenho quem eu quero Sirius. Não importa o que eu diga a ela, o que eu faça por ela. Lílian Evans nunca vai acreditar em mim. O que me restou foi me afastar dela. Embora ela falasse constantemente, eu nunca achei que ela realmente me odiasse, mas depois do que eu ouvi no Três Vassouras eu passei a acreditar nela. A Evans me odeia".



Eu admito que diversas vezes disse ao Potter que o odiava, mas eu não era para que ele interpretasse ao pé da letra. Não, é mentira. Eu sempre quis que ele acreditasse nisso embora não fosse uma total verdade. De alguma forma eu procurava um meio de mantê-lo afastado de mim. Eu só queria que Potter desistisse de pegar no meu pé com tanta freqüência. Aparentemente eu fiz um bom trabalho. Potter realmente achava que eu o odiava. Mas quer saber? Eu não o odeio. Talvez eu não o suporte, mas odiar seria exagero.



"E eu achava que me afastar dela eu iria me sentir melhor. Sabe de uma coisa? Eu estou cada dia pior. Não sei mais o que fazer, cara!”.



"Pontas, você realmente gosta da Evans?”.



Não...eu não poderia ouvir aquilo. Chega! Era demais para os meus ouvidos. Inconscientemente, os tapei e corri, sem ruídos, para o meu dormitório. Burra! Repeti até cair no sono. Porque eu não continuei a escutar? Quem mandou eu sair de lá? Agora eu nunca irei saber. E porque eu estou tão preocupada em saber? Pouco me interessa os sentimentos do Potter. Apesar disso, não pude deixar de sentir pena por ele. Passei então a cogitar novamente pedir-lhe desculpas pela minha atitude de três meses atrás. Eu só queria que Potter soubesse que eu não o odiava. Pelo menos não na intensidade que ele imagina!



Foi com esse objetivo na cabeça que eu acordei perto da hora do almoço. Não havia mais ninguém no dormitório. Me troquei e, carregando meus livros, fui até o Salão Comunal. Com a primavera, poucos se encontravam dentro do Castelo. Nem mesmo a proximidade dos exames intimida os alunos de se divertirem num dia extremamente ensolarado. Aproveitando o ambiente praticamente vazio, fiquei a ler até a hora do almoço. Só então deixei o Salão Comunal e segui ao Principal que estava começando a aglomerar.



No centro da mesa da Grifinória estavam Liza, Alice, Marlenne entretidas em uma conversa cheia de risadas. Não muito longe vi Potter e sua gangue (com exceção de Remo, é claro) cochichando com as cabeças próximas, provavelmente escolhendo o próximo alvo de suas brincadeiras.



Me lembro de ter respirado fundo antes de fazer aquilo que eu poderia vir a me arrepender no futuro. Era chegada a hora de conversar com Potter e com Black também.



Eu fui. E eu parei poucos passos depois. Talvez não fosse exatamente a hora. Quem sabe depois do almoço, certo? Barriga cheia torna as coisas muito mais fáceis.



Desviei meu caminho até as garotas me sentando entre elas. Ficamos a conversar por todo o almoço. Foi relativamente longo o tempo que fiquei a conversar sem pensar no ocorrido da mesma amanha. Sem lembrar das palavras de Black. "Pontas, você realmente gosta da Evans?". Sem me martirizar por ter sido covarde demais para escutar a resposta.



E então os vi se retirando da mesa rumo aos jardins. Sem dar qualquer explicação me levantei e os segui aos passos apressados. Já estavam à porta do castelo quando os alcancei. Quando chamei por eles, percebi uma troca de olhares desconfiadas como se estivessem esperando serem repreendidos por algo que fizeram, mas que eu não sabia ainda o que era. Que isso ficasse para depois.



"Sim Evans?", foi Black quem respondeu.



"Posso dar uma palavrinha com você?", perguntei encarando Potter.



E mais uma troca de olhares. A desconfiança deu lugar à curiosidade e Black já ia se retirando quando o impedi.



"Com você também Black!”.



"Diga", falaram em coro.



"Eu quero muito me desculpar pelo meu comportamento no Três Vassouras.", disse olhando para o chão.



"Que comportamento?", Black perguntou com um tom que foi facilmente reconhecido como deboche.



"Não seja besta Black. A visita em Hogsmead. O meu surto com vocês e com a Liza.”.



"Ah, você está falando daquela visita!”.



"Está certo Black. Eu sei que estou um pouco atrasa com as minhas desculpas, mas é que...".



"Um pouco?", ele me interrompeu ainda carregando o tom irônico na fala.



"O tempo não importa. Eu só quero me desculpar com vocês dois por isso. Eu sei quando exagero e eu admito que exagerei. Não estou dizendo que vocês não mereceram, pois para mim o comportamento de vocês em relação ao Snape é inadmissível, mas ... bem... é que...."



"Já entendemos Evans", foi a vez de Potter responder.



"O que acha Pontas? Desculpas aceitas?”.



"Eu acho que sim Almofadinhas!", Potter sorriu.



"Ótimo!", eu disse sinceramente feliz. Há tempos não via aquele sorriso exagerado do Potter tão de perto. É irritante, confesso, mas ao mesmo tempo estranhamente belo.



"Então vamos Pontas?”.



"Ahn... eu não terminei Black".



"Tudo bem Evans. Pode continuar". Black se escorou na parede aguardando.



"Na verdade, agora o assunto é entre eu e o Potter, caso não se importe".



"Como assim? Agora que você me deixa curioso me despensa? (...) Ah, está certo. nos vemos no campo Pontas".



Esperei ele se distanciar para me voltar ao Potter. Ele me encarou e eu o encarei.



"Pontas, você realmente gosta da Evans?”



"Será que pode me dar um descanso, Black?".



"Ahn... está falando do que Evans? O Sirius já está bem longe.



Eu corei fortemente. Aquela frase não parava de repetir na minha cabeça, faltando muito pouco para o meu atestado de louca varrida. Nem discernir as vozes da minha cabeça com as das pessoas que estavam ao meu lado eu sequer conseguia. St. Mungus, aí vou eu!



"Evans?”.



"Uh?”.



"Você está calada a um bom tempo. Não tinha alguma coisa para me dizer?".



"Eu?... ahn.... certo!", respondi voltando à realidade. Ainda balancei a cabeça para que mais nenhuma voz me assombrasse durante o discurso, perigando que eu falasse alguma bobagem.



"Ok Potter", eu comecei. "Proponho um pacto".



"Um pacto?", ele repetiu com as sobrancelhas arqueadas.



"Chega de brigas entre a gente. Quer dizer, eu proponho um relacionamento mais pacífico sabe? Você para de me atormentar e eu paro de pegar no seu pé. Quem sabe não podemos nos tornar....".



"... namorados? Amantes?", ele me interrompeu.



"Amigos, Potter. Será que tudo o que estou falando está entrando por um ouvido e saindo direto pelo outro?”.



"Calma Evans, foi só uma brincadeira. Amigos brincam!”.



"Hm...", respondi desconfiada. "Certo... amigos!".



"Então agora nós somos amigos!", perguntou.



"Isso se você quiser!", eu disse.



"Por quê? Você não quer?", Potter retrucou.



"Eu quero se você quiser"



"Eu quero!”.



"Eu também quero!", finalmente assenti.



"Então você não vai mais ficar no meu pé?”.



"Desde que não confronte com meu papel de monitora, sim, eu prometo!”.



"Não é o suficiente!”.



"Como não? Eu estou lhe fazendo uma promessa".



"Você tem que jurar Lily!”.



"Eu juro Potter".



"Não, não!”.



"O que foi agora?", cruzei os braços. Ele não estava colaborando.



"Repita comigo então: juro solenemente que não mais pegarei no seu pé!”.



Não pude deixar de rir da cena.



"Juro solenemente não mais pegar no seu pé Potter".



"Ótimo, agora eu acredito. Mas tem mais uma coisa...”.



"Você está de brincadeira, Potter!”.



"A-há!... Potter! Amigos não se chamam cordialmente. Você terá que me chamar de Thiago a partir de agora e não ficará brava por eu chamá-la de Lily".



"Está certo Pot...", nesse instante ele erguei a sobrancelha “... Thiago...", remendei. "Está certo Thiago!".



"Amigos Lily?", ele estendeu a mão.



"Amigos Thiago!”.



Naquele mesmo dia eu me mantive dentro da sala comunal prevendo uma calamidade no mundo mágico. Esperei de tudo. Invasão de gigantes, revolta dos elfos domésticos, chuva de bombas de bosta. Claro que nada disso aconteceu. E agora é certo, eu e Potter, digo, Thiago, viramos amigos contrariando todas as probabilidades e pegando todos os alunos de surpresa. Os gritos, as discussões, os tumultos cessaram. Até agora temos mantido fielmente nossas palavras e quer saber? Eu aprendi que pode ser surpreendentemente agradável a amizade de Thiago. Não sei como isso vai terminar, afinal, ainda não o peguei aprontando pelo castelo. Surpresa? Pois é, para mim também!



Já faz algumas semanas que essa harmonia reina na Torre da Grifinória e eu sinceramente não gostaria que terminasse. Eu gosto! Sim, eu digo e repito: Eu, Lílian Evans gosto de ser amiga de Thiago Potter.



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