o chantagista
13 de Fevereiro de 1973
Liza está bastante chateada comigo. Segundo ela, eu arruinei a sua vida. Ó, céus, o que fiz para merecer isso? Não preciso nem dizer que essa raiva excessiva de minha amiga só tem uma resposta: Black e seu imprestável amigo Potter. Desde o Baile de Inverno, a minha implicância com Potter se resumiu ao simples fato da sua existência. Eu só queria esquecer um pouco de que, nesse imenso castelo, há a figura de um ser tão arrogante com a deficiência intelectual de se achar o todo poderoso de Hogwarts. E eu não preciso dizer que não se trata de nenhum sonserino.
Os dois últimos tempos de sexta-feira foram Transfiguração. Embora eu não estivesse integralmente concentrada no que dizia a Profª. McGonagall, alguns relances de sua voz ainda passavam por meus ouvidos enquanto eu me esforçava ao máximo em armazená-las em minha cabeça. Parte de minha atenção, devo admitir, estava sutilmente voltada a uma suspeita troca de bilhetes entre Black, Potter e Liza logo atrás de mim. Por que eu tinha a sensação de que boa coisa não seria? Conheço meus instintos. Eles raramente falham. E pude provar o que digo quando a aula foi encerrada. A voz de Liza se sobressaiu entre os murmurinhos de excitação pelo fim da última aula da semana:
"Lily, me espera!", pude ouvir quando já saía porta afora. Encostei-me na parede em frente à sala que havia acabado de sair e fiquei esperando. Nesse meio tempo, Potter saiu da sala junto com os outros amigos, carregando, além do seu pesadíssimo ego, aquele detestável sorriso exagerado o suficiente para me levar aos nervos. Pelo amor de Merlim, quem é que consegue sorrir vinte e quatro horas ao dia? Ele deve sofrer de sérias dores na musculatura da boca, porque nunca vi trabalhar tanto um músculo como Potter, que não faz questão de esconder seus dentes belamente alinhados, pude perceber. Mas não que eu quisesse. Há dentistas na família, sabe como é!
"Até amanha, Lily", ele disse enquanto passava a mão pelos cabelos escuros. Ainda pude notar uma piscada de olho antes que desse as costas para evitar outra explosão de raiva. Não que eu ligasse para gritar com ele, mas eu estava realmente cansada.
Atrás da turma, veio Liza extremamente afobada e com um sorriso que não me parecia bom sinal visto que eu já comentei com quem ela conversava, minutos antes.
"Ué, cadê as meninas?", ela perguntou enquanto terminava de fechar a mochila.
"Foram na frente", respondi. "Vamos?”.
Liza assentiu e logo ficou em silêncio. Eu não quis incentivá-la a falar seja lá o que ela fosse falar. Embora nada tivesse comentado, eu sabia que se tratava de algum assunto.
"E então, Lily", ela começou, como se estivesse pisando em chão coberto de cacos, tamanha a cautela. “Você já tem programado alguma coisa para amanhã?”.
"Você diz sobre a visita a Hogsmead?", perguntei e ela concordou. "Oras, o de sempre. Por que pergunta?”
"Imaginei que fosse querer fazer alguma coisa diferente, afinal, é dia dos namorados”.
"Eu não tenho um namorado e nem um encontro, Liza."
"Imaginei, Lily, e, como Alice e Marlenne já têm com quem sair, então sobramos nós duas, não é mesmo?”
"Suponho que sim", respondi enquanto atravessávamos a passagem para a Torre da Grifinória.
Percebi os olhos de Potter e Black em nossa direção, o que fez Liza estremecer. Ela então pediu para que subíssemos ao dormitório, o que me fez ficar bastante preocupada, afinal de contas, quando é que Liza iria perder a oportunidade de se exibir para Black se ela tinha a atenção dele voltada para nós? Eu já comentei também quanto a meus pressentimentos ruins? É, eles também não falham.
"Liza, você está legal?”
"Ah?... Eu?... Ah, sim. Estou, Lily", ela disse jogando a mochila em sua cama e sentando-se.
"Você está tentando me dizer alguma coisa?", perguntei compreensiva. "Qual é, Liza, pode me dizer", sorri tentando incentivá-la.
"Prometa que não vai ficar brava."
"Teria algum motivo para isso?", eu disse, fingindo manter o controle.
"EUCOMBINEICOMOSIRIUSDESAIRMOSNOSQUATRO", ela disse de uma só vez.
"Como é que é? NÓS QUATRO, QUEM, LIZA?", já previa o pior.
"Eu, você, Sirius e Potter", ela respondeu sem jeito.
"COMO É QUE É? LIZA, QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ NÃO DEVIA TER FEITO ISSO!”.
"Ah, Lily, me deixe explicar, por favor”.
"Explicar o quê? Que você me arranjou um encontro com a pessoa que VOCÊ SABE o quanto eu me esforço para evitar uma aproximação de menos de dois quilômetros e por mais de 20 segundos?”.
"Lily, me escuta!”.
Eu sentei, extremamente irritada. Procurei sequer responder, pois minha fúria estava fora da minha autonomia de controle. Liza entendeu meu silêncio como um consentimento.
"Na aula de Transfiguração, o Sirius me mandou um bilhete perguntando se eu já tinha um acompanhante para amanhã e eu respondi que não. Para a minha alegria, ele perguntou se eu não gostaria de ir com ele, mas tinha um problema, pois o coitado do Potter estava triste, já que não tinha ninguém para acompanhá-lo e o Sirius disse que estava com dó de deixá-lo sozinho. Então ele perguntou se você já tinha com quem ir e sugeriu que fôssemos todos juntos.”
"Potter coitado? Potter sem ter companhia? Black com dó? Liza, como é que você pode ser tão inocente?”
"Ah, Lily. Vamos, por favor! Se você se recusar a sair com a gente, ou o Potter vai sobrar, ou o Sirius vai cancelar o nosso encontro." A cara de Liza era de dar dó, pedindo desesperadamente por amparo.
"Liza, você sabe o quanto eu amo você, não é mesmo? Eu faria qualquer coisa que me pedisse, mas isso é demais para mim. Eu não posso te ajudar.”
"Você não pode, ou não quer?", perguntou com um tom grotesco. Eu fiquei em silêncio. "Desculpa, Lily. Eu não devia ter te pedido isso", Liza estava extremamente chateada, prestes a chorar. "Eu só achei que seria uma oportunidade para mostrar para Black quem eu sou", ela chorava timidamente, "Sabe, eu sei que ele pode gostar de mim. Você não acha?”
Achar eu não achava, né? Black por acaso tinha a capacidade de gostar de alguém?
"Sim, eu acho, Liza", eu menti.
Merlim sabe que nos encontraremos no céu.
"Tudo bem, Liza. Eu vou com você”.
"Você vai?", ela perguntou surpresa. Embora as lágrimas ainda rolassem, já estampava um sorriso bobo no rosto.
"Eu vou. Mas só porque eu gosto muito de você, sua chata, mesmo você me aprontando umas dessas para cima de mim. Mas com uma condição."
"Todas!", ela respondeu animada.
"Essa é a oportunidade de Black ver a pessoa maravilhosa que você é. Se, depois disso ele não te der valor, eu não vou mais participar desses encontros que eles armam e você vai tratar de esquecer ele.”
"Combinado!", ela riu, embora eu soubesse que ela não tinha tanta certeza disso.
Liza me abraçou e, depois de se recompor, voltamos à sala comunal. Já passava da hora de jantar e seguimos direto para o Salão Principal. Marlenne e Alice já estavam jantando. Alice tinha ao seu lado Frank. Aliás, esses dois andam muito tempo juntos desde que passaram o Natal juntos. Um pouco mais afastados, Black e Potter se alternavam ao contar algo extremamente interessante para Remo e Pettigrew. Imaginei o que fosse quando sequer disfarçaram ao olharem para nós duas.
Liza estava visivelmente mais animada. Conversava pelos cotovelos com Marlenne. Quanto à minha animação, era proporcionalmente inversa à de Liza, como se fosse possível achar interessante um passeio na companhia de Black e Potter. Se ao menos soubesse que Remo estaria presente também, ficaria menos mal-humorada, pois teria com quem manter uma conversa decente.
Então, pude ver Potter e companhia limitada se retirarem da mesa. No instinto eu fiz o mesmo antes mesmo de terminar meu jantar.
"Não vai terminar de comer, Lily?”
"Já terminei!", menti. "Lembrei que preciso mandar uma coruja para casa. Nos vemos na sala comunal”.
Apressei meus passos a fim de alcançá-los. Pude avistá-los do outro lado do corredor, subindo as escadas. Segui-os até o quadro da mulher gorda. Os quatro estavam parados cochichando entre os risos.
"Muito bem, Potter. Eu já cansei de chamá-lo de arrogante, insuportável, idiota, mas as palavras prepotente e calculista ainda não constavam na minha lista de elogios para com a sua pessoa.”
Potter, Black, Pettigrew e Lupin me olharam como se não estranhassem o meu comportamento.
"Você se acha no direito de brincar com todos não é mesmo? Qual é o teu problema?”.
"Alguma coisa errada, Lily?”.
"E PARA DE ME CHAMAR DE LILY! VOCÊ SABE DO QUE ESTOU FALANDO POTTER. ESSE TRUQUEZINHO DE QUINTA CATEGORIA QUE VOCÊ E SEU AMIGO APRONTARAM PARA CIMA DA LIZA”.
"Ah, não chame nosso encontro de truque de quinta, Lily”.
"Você se acha muito esperto, não é mesmo?", eu o encarava com os braços cruzados, prestes a soltar faíscas. "E você Black. Só porque a Liza anda com problemas mentais suficientemente graves para que eu esteja prestes a interná-la o St. Mungus por querer sair com você, não significa que você possa brincar com seus sentimentos”.
"Qual é Evans. Se Thiago deixa você falar assim com ele, eu não dou o mesmo direito.”.
"E quem disse que você está no direito de exigir alguma coisa? Não depois do que fizeram para Liza”.
"Calma aí Evans. Eu fiz alguma coisa errada para ela?”.
"E não fez?”.
"Vamos dizer que são trocas de favores mútuas. Eu já tinha um encontro sabia? Eu desmarquei com a Caldwell para sair com a Liza. E isso a deixou feliz, não deixou? Conseqüentemente, você teria de sair com o Thiago. E isso o deixaria feliz. Logo, todos saem ganhando.”.
"Me explica de novo a parte em que todos saem ganhando".
"Simples Evans. Você tem o direito de não querer sair com a gente amanhã, mas eu também tenho o direito de remarcar meu encontro com a Caldwell, se é que você me entende".
"Claro que entendo Black. Isso é chantagem!"
"Não. É uma troca de favores!", Black sorria triunfante enquanto os outros três assistiam sem nada falar. "O que me diz, Evans?”.
Por um instante me desviei dos olhos claros de black até os castanhos de Potter.
"Não pense que você ganhou Potter. Vocês ainda me pagam por isso", respondi entre os dentes.
"Então você vai, Lil... digo...Evans?", perguntou Potter num tom que se confundia à inocência.
"Pela Liza!", respondi e sem mais palavras entrei pela passagem, que até então estávamos bloqueando, deixando Black com seu ar triunfante e Potter com a sua cara de idiota cada vez mais visível.
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"Ei Harry... Harry, acorda querido!"
Era a voz da Sra Weasley, pode facilmente reconhecer. Tateou a escrivaninha, como de costume, em busca dos óculos mas foi a mulher que os recolocou.
"Você estava dormindo com eles", ela disse. "O almoço está pronto. Não vai querer descer?"
Harry sentou-se num pulo revistando a cama.
"Onde é que está..."
"Se está procurando uma pasta, eu coloquei ela dentro do seu malão". A Sra Weasley respondeu enquanto dobrava algumas roupas que Rony havia deixado jogadas em sua cama.
Harry fez questão de se certificar de que o diário estava realmente em seu malão em segurança sedento de vontade de pegá-lo novamente e continuar a lê-lo de forma incansável. O olhar de censura da senhora foi o suficiente para que Harry fosse para a cozinha. Precisava comer alguma coisa mesmo. Seu estômago roncava forte.
"Harry, estávamos esperando você!", Hermione o recebeu animada.
"Vocês não precisavam me esperar"
"Não se preocupe. Agora vamos comer que eu não agüento mais esperar", Rony propôs.
Harry sentou-se propositalmente entre Rony e o professor Lupin.
"Se divertindo Harry?", o professor perguntou aos sussurros já imaginando o que passava na cabeça do menino. Harry balançou a cabeça de forma positiva.
"Eu queria te perguntar uma coisa."
"Imagino que você tenha muitas coisas para me perguntar mas eu sugiro que você continue lendo e depois me pergunte tudo o que quiser de uma só vez. Se conheci bem Lílian, não preciso ter lido as folhas para imaginar o quanto você deve estar confuso".
"Põe confuso nisso", confirmou.
"Falaremos disso mais tarde". Lupin encerrou a conversa e se juntou à Fred e Jorge que discutiam detalhes sobre a loja que estavam a montar no Beco Diagonal. Harry por sua vez, finalmente se distraiu com mais um discurso sobre o F.A.L.E de Hermione que não reparava o deboche de Rony ao seu lado.
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