O início

      Dizem que, com o tempo, tudo perde a graça. Infelizmente, passei a acreditar nisso enquanto voltava a Hogwarts. Os últimos meses que eu havia passado lá não foram nada memoráveis: ou eu ficava estudando ou eu ficava no dormitório feminino. Nem o dever de monitora-chefe preenchia tanto tempo quanto eu queria. Sendo assim, exceto durante as refeições, eu ficava sozinha. A solidão fazia parte da minha rotina diária e, por muitas vezes, essa monotonia era uma boa amiga. Agora, entretanto, eu sabia o quão bom era desfrutar de uma companhia agradável e engraçada e passei a temer a solidão que me assolaria durante os últimos meses de escola.

      Por volta do meio dia, Slughorn invocou-me até seu almoço de boas vindas. Recusei veemente o convite e tudo que o velhinho gorducho respondeu foi que precisávamos por a conversa em dia. Dirigi-me até o seu vagão e percebi que fui a última a chegar na reuniãozinha. Fui repreendida por Harry - várias vezes - por estar desatenta e não perceber os questionamentos do professor.  Enquanto saíamos para voltar a companhia dos nossos amigos, ele puxou meu casaco.

      - O que está acontecendo? Slughorn precisou repetir três vezes a mesma pergunta para você entender. – seus olhos tornaram-se apreensivos e ele focalizou-os nos meus – Mione, somos amigos, me diga o que está acontecendo entre você e o Fred.

      - Ora, Harry, o que poderia acontecer entre nós além de algo estritamente amigável? Só porque você e a Cho não conseguem ser apenas amigos, isso não significa que...- e minha voz, aos poucos, morreu ao perceber a triste comparação que eu havia feito

      - Você gosta dele. – ele disse em tom acusatório – Você comparou eu e a Cho e nós gostamos um do outro e não conseguimos ser amigos. Ou seja, existe alguma coisa entre vocês e essa coisa ainda não é um namoro.

      - Cale-se, não fale bobagens Harry. – respondi nervosa e senti minhas mãos ligeiramente úmidas

      - Eu não tenho absolutamente nada contra o Fred, aliás, vocês ficam bem juntos. Quem diria que um dia você cairia nas graças do seu querido tormento diário de monitora? – Harry riu e passou o braço por cima de meus ombros, reconfortando-me

      - É segredo. Ninguém sabe disso além de você. Mantenha isso em segredo, principalmente de Ronald. Merlin sabe o quão bravo ele ficaria...e não tem porque fazer alarde, nós nem estamos juntos.

      E foi com essa confirmação de não estarmos juntos que eu me prendi durante o restante da viagem. Eu estava tão confusa que, por instantes, desejei ser tão fácil quanto um enigma de Aritmancia. Fred gostava de mim. Eu gostava de Fred. Então, se gostávamos um do outro, por que não estávamos juntos? Era para ser assim, não é mesmo? Do mesmo jeito que 1+1 é 2. Mas não era. Tínhamos milhas de distância entre nós e nada seria tão fácil enquanto existissem pessoas como a Angelina. Independentemente do que ela fosse ou deixasse de ser para Fred, ela fora algo e eu sabia o quanto era duro livrar-se de um relacionamento. Afora isso, tinha ainda aquele problema: eu era a garota do irmão dele.

 

 _________________________________________________________________________________________________

 

      Acordei com um humor tão instável segunda-feira que qualquer um que olhasse torto em minha direção receberia, no mínimo, uma advertência ou por descumprir regras ou por simplesmente dirigir o olhar a mim.  Graças a Merlin essa condição deplorável evaporou quando eu estava comendo minha tigela de cereais. Cabisbaixa, senti um farfalhar de penas a minha frente e sorri ao ver uma coruja marrom a minha frente.

 

“Bom dia, Mione.

      Espero que nossos produtos das Gemialidades Weasley ainda não tenham lhe tirado muito tempo. Sabe, acho que como ex-vendedora, seria desmoralizante confiscá-los agora. Sugiro, então, que você continue os vendendo, clandestinamente, o que acha? Quase posso ver sua expressão de desgosto ao ler isso! Estou rindo enquanto escrevo, sério.

      Só de pensar no seu rosto já sinto sua falta. Incrível como eu consigo ficar melodramático em cartas. O fato é que eu realmente percebi que, após tê-la em minha casa, não consigo deixar você partir. Eu sei dos seus sentimentos com o meu irmão, só que depois do beijo que tivemos na London Eye talvez algo tenha se modificado em você. Fui fraco o suficiente para não deixá-la responder, tive medo de ser rejeitado pessoalmente...

      Queria saber se tenho alguma chance com você. Sei que essa não é a melhor forma de perguntar ou pedir mas eu não consigo esperar mais e, por carta, você não precisa tentar disfarçar que não me quer.

      Se sim ou se não, ainda quero sua amizade.

Fred Weasley”

      Meu coração disparou ao ler “Queria saber se tenho alguma chance com você”. E disparou novamente quando eu re-li a carta pela quinta vez. Sim, algo havia mudado em mim e sim, ele tinha uma – duas, três, várias – chances comigo. Todos os temores que me ocorreram ontem foram por água baixo. Corri para o dormitório e peguei um pergaminho e tinteiro.

 

“Bom dia, Fred

      Ainda não tive problemas com os produtos, acrescento, ainda. Sei que mais cedo ou mais tarde eles causarão inúmeras dores de cabeça e conseqüentes detenções mas, quem liga para isso?

      Confesso que fiquei desapontada quando você confessou o que sentia por mim e eu nem tive direito a réplica. E minha resposta é sim. Sim, você tem chance comigo. Fred, eu não sei o que aconteceu comigo durante esse período, mas eu sinto sensações tão díspares quando estou com você que é impossível renegá-las. Eu gosto de você, de verdade. Do jeito que você me olha, dos seus olhos, de tudo.

      Eu só tenho a agradecer por você esperar todo esse tempo por mim.  E quanto ao que você disse em relação ao seu irmão naquele dia, quero que você esqueça dele assim como eu esqueci.

                  Hermione Granger.”

N/A: Muito obrigada pelos comentários e pela paciência ao esperarem pelo novo capítulo!  Um beijo e boa leitura 

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.