Chudley Cannons



            Acordei e sequer abri os olhos, adorava demasiadamente sentir o sol esquentando meu rosto nas primeiras horas da manhã.  Sabia que meus cabelos revoltos estavam espalhados por todas as partes do travesseiro e pouco importei em arrumá-los. Virei, ainda de olhos fechados, de lado para absorver todo sol possível. Algo repuxou meu cabelo e eu nem liguei. Depois de longos quinze minutos, troquei de lado novamente e abri os olhos. Gritei de forma estridente ao ver dois olhos brancos quase em meu rosto. Gritei, de novo, ao ver que além de olhos brancos, uma mexa de cabelo estava cobrindo parte de seu rosto. Provavelmente acordei todos da casa porque ouvi o alvoroço do lado de fora da porta. Ginny em algum momento veio até mim e desatou a rir. Fiquei ainda mais furiosa e gritava compulsivamente para que ela tirasse aquele algoz de perto.



            Quando todos (ou quase) Weasley estavam em meu quarto rindo desesperadamente foi que percebi a gafe que havia cometido: o algoz, na verdade, era o faisão tamanho GG do chapéu da tia Muriel. Harry retirou a parte do meu cabelo que cobria o chapéu e o colocou em minha frente e, para mostrar que era apenas um animal empalhado inofensivo, bateu em seu bico levemente. Era tarde demais: eu havia acordado praticamente toda família...Incluindo a solteirona cachaceira. Esganei mentalmente aquela mulher e, ainda deitada, pedi desculpas. Minhas bochechas tornaram-se vermelho carmim ao ver a cara da Muriel, totalmente furiosa por ser acordada e ainda ter que presenciar aquela cena com o bebê dela. Sim, ela falou isso na frente de todos e eu fiz o gesto mais infantilóide do mundo: tapei meu rosto com o cobertor.



            Permaneci trancada e deitada até a hora do almoço tamanha era a vergonha que sentia de ter acordado todos as seis da manhã. Embora a senhora Weasley insistisse que estava tudo bem quando saiu do quarto, eu sabia o quão incômodo deveria ser acordar numa manhã pós-Natal por um grito devido a um faisão empalhado. Seja por este ou pela carranca que recebi da tia Muriel, decidi que ficaria quietinha em meu canto e só desceria para almoçar. As fortes batidas na porta assustaram-me ao ponto de eu esquecer de abri-la. A pressa da pessoa que batia era evidente porque no próximo segundo a porta quase foi derrubada – por força e não por um simples “Alohomora”.  Com um suave giro, destranquei a porta.



            - Vamos Mione, eu estou com fome! – Rony disse e desceu as escadas rapidamente.



            - Sua tia está muito brava comigo? – perguntei incerta quando o alcancei na sala de jantar.        



            - Ela ama o Rizzo e você meio que ofendeu ele...bom, ela ficará bem. – fiquei desconcertada com sua resposta, afinal, era só a tia que importava?



            O almoço transcorreu calmo, por incrível que pareça. Aposto minha varinha que repreenderam o comportamento da solteirona e só por isso que eu não saí da casa aos pontapés. De nada isso importava, daqui a uns dias estaria bem longe dali e daquela velha. Enquanto ajudava a pôr os pratos na pia, uma coruja cinza entrou pela cozinha e pousou em meu ombro. Sorri. Eu sabia quem era o dono da coruja e de quem era o bilhete.



 



            Minha morena,



Lembra que eu lhe disse sobre o teste para o Chudley Cannons? Herms, eu nem acredito, eu consegui! Havia, pelo menos, uns cinqüenta apanhadores e eu fui escolhido. Estou tão feliz! Você é a primeira, a saber. O jogo de estréia vai ser contra as Harpias e eu, por ser apanhador, tenho um camarote exclusivo. Gostaria de convidar você para assistir. É amanhã – desculpa por avisar um dia antes, eu realmente não sabia que ganharia o camarote – e você pode convidar seus amigos. Por favor, vá.



P.S: não esqueci do seu presente de natal, apenas queria entregar pessoalmente, ou seja, se você for, lhe entrego amanhã.



            Sinto muito sua falta, Viktor Krum.



            Guardei o bilhete em meu bolso e sorri, ele era tão fofo! Era uma lástima nosso rompimento, mas os horários nunca batiam e só nos víamos nas férias. Apesar de pouco contato pessoal, Viktor disse que não havia problemas em não nos vermos uma vez que poderíamos nos corresponder diariamente. O fato é que desde o Baile de Inverno nós namorávamos e, ao longo de dois anos, a relação desgastou. Apenas um contato mensal – no caso dos passeios de Hogsmeade – e durante as férias eram poucos momentos para um amor que se esvaiu com o tempo. O que eu e Vik construímos durante dois anos foi ótimo e eu ainda o estimava muito, principalmente se o quesito beleza estivesse em questão, e era por isso que eu o mantinha entre meus amigos.



            Durante a tarde, contei a Ginny sobre o bilhete que havia recebido. Não tardou e toda a casa sabia que eu tinha sido convidada para ficar no camarote exclusivo do novo apanhador do Chudley Cannons - ela foi sensata e não citou o nome do Krum. Após a notícia ter sido espalhada, choviam ruivos a minha volta pedindo que a Mione aqui os levasse. Apenas assenti afirmativamente. A senhora Weasley deixou os filhos irem com uma condição: teriam uma conversa mais tarde sobre a viagem até North Kilworth.


_________________________________________________________________________________________________


            Depois da lista de recomendação da senhora Weasley que incluía não deixar nem Ginny nem eu sozinhas, não atrair a atenção dos trouxas, não deixar as varinhas a vista e não perdê-las, saímos da Toca. Iríamos via Pó de Flu até o Beco Diagonal e viajariamos de metrô até North Kilworth, depois, seguiriamos a pé ao Kilworth Springs Golf Club. O lugar, embora tivesse nome de clube de golfe, era utilizado há muito tempo para as partidas de Quadribol por ficar afastado da cidade e ser rodeado de campos. O jogo começaria apenas às quatro horas e, devido a insistência dos meninos, resolvemos almoçar mais cedo e ir por volta do meio dia.



            Harry e eu auxiliamos os gêmeos, Bill, Rony, Charlie e Ginny com as passagens do metrô. Conseguimos lugares próximos e ficamos todos juntos. Estávamos próximos do local quando George gritou desesperado “PARA!PARA!A GENTE CHEGOU!”. A cena seria engraçada senão fosse o fato de estarmos em meio a trouxas e que o metrô não para simplesmente quando nós queremos. Desde que chegamos a estação de North Kilworth, o sol acompanhou nossa caminhada um pouco longa. O percurso foi preenchido por perguntas do tipo “Aposto que vai encher porque o Chudley está numa boa fase“ ou “Qual será o novo apanhador?” e eu me permitia olhar para Ginny e sorrir com esta última.



            Um “Graças a Merlin” foi proferido ao chegarmos no local. Era enorme e estava lotado. Havia bruxos de todos os tipos e nacionalidades, senti um déjà vu da Copa Mundial de Quadribol. Entramos no estádio e logo avistei os pais do Viktor. A sua mãe, Valya, vestia um terninho feminino branco com uma camiseta laranja e um lencinho também laranja e seu pai, Svetoslav, uma jaqueta de couro de dragão cinza com a camiseta do CC por baixo. Assim que me avistou, correu em minha direção e, suas palavras atrapalhadas devido ao forte sotaque búlgaro, confundiram todos a minha volta. Eu, é claro, estava acostumada, afinal, passava parte das férias em sua casa.  Como o jogo iniciaria em instantes, os Krum nos dirigiram até o camarote exclusivo e eu arregalei os olhos perante o tamanho.



            Enfeitado de laranja, o camarote tinha: poltronas brancas de estofado fofo, mesinhas com cerveja amanteigada, uísque de fogo, bombas de caramelo, bolos de caldeirão e biscoitos e tapetes cor de laranja com o emblema do Chudley Cannons. No fundo, um enorme pôster do Viktor que o retratava atrás do pomo. Ao ver aquela imagem, Ronald grasnou:



            - O Krum é o apanhador.



            - Que óbvio, Roniquinho. – debochou Fred – Diga a nós o que ainda não sabemos e você ganhará uma dose de uísque de fogo.



_________________________________________________________________________________________________



            O jogo durou menos que o esperado. Cerca de trinta minutos após o início, Viktor apanhou o pomo com uma fita de Wronski que foi aplaudida até por Rony. Pouco depois, ele chegou. Com seu andar curvado, rosto másculo e imponente, Viktor me abraçou forte e beijou meus cabelos. “Minha Herms, sinto tanta sua falta!” falou abafado entre meus cabelos. Nos separamos e, na ponta dos pés, estalei um beijo em sua bochecha fazendo com que ele, instantaneamente, sorrisse. Seus braços pairaram em minha cintura e ficaram ali durante todo o tempo que conversou com Harry e os Weasley. O gesto era extremamente possessivo e, vez ou outra, Vik acariciava minha cintura e passava os lábios em meus cabelos. Um desespero apossou-se em mim ao ver o quanto ele sentia falta de nós. Pensei, então, se eu havia o magoado tanto quanto Rony fizera comigo e minha consciência foi clara ao dizer não.  Tal constatação – de não ter o magoado - me deixou mais leve.



            Antes de anunciarmos que iríamos para A Toca, Viktor ficou a sós comigo. Encarei seu rosto – um pouco mais fino do que nosso último encontro -, seus olhos –profundos e penetrantes – e sua boca – sempre convidativa. Ele sorriu e me deu uma presilha de cabelo com uma ônix, pedra preciosa preta, da mesma cor de seus olhos. Sorri nostálgica no momento que lembrei que havia feito a comparação uma certa vez. Sua voz tornou-se um murmúrio:”Lembrei de quando você comparou sobre a cor dos meus olhos a essa pedra. Dizem que ela é uma das pedras mais poderosas para proteção e é por isso que resolvi te dar. Quero que esteja sempre protegida, Herms.” Para descontrair, ele acrescentou:”Ah, fora o fato que eu lhe dei em forma de presilha para estar sempre em sua cabeça, seus pensamentos.” Dito isto nos afastamos e eu fui em direção a saída com meus amigos. Mal ele sabia que a ônix também era utilizada para a libertação dos relacionamentos passados.



N/A: Queria agradecer em especial a Summer e a Mariana pelos comentários que, sem dúvidas, me motivam a escrever cada vez mais. Vocês não têm ideia do quanto é gratificante ver que alguém gosta do que fazemos. Obrigada pelos imensos comentários, vocês são demais!!


De resto, obrigada a todos os outros que continuam lendo e comentando! Boa leitura

Compartilhe!

anúncio

Comentários (4)

  • Thally Grantter

    Tudo muito fofo... O krum, muito perfeitinho... Mas qdo essa louca vai perceber o Fred.... #ansiosa

    2014-01-18
  • MarianaBortoletti

    Desculpa demorar para ler e comentar...! Ahh, então o Krum aparece logo agora?! Fiquei meio passada com a liberdade toda que a Hermione tratou com ele, com que foi no jogo, aceitando o convite... Ela ainda gosta dele, tem pelo menos um carinho por ele, é evidente. Bah, são três no pareo, agora, mesmo que o Ron esteja com a Lavender. Gostei do capítulo; chata Tia Muriel arrumando encrenca! Odeios ela. Até o próximo!

    2011-07-31
  • Vitória Macmillan.

    Talvez agora a Hermione comece a demonstrar sentimentos pelo Fred, já que ela vai se desprendes dos antigos relacionamentos, né? gostei mt do capíulo, aguardando o próximo.

    2011-07-30
  • Melissa Resende

    Aaaah vc me respondeu q felicidade! (: Aoonw que lindo o Krum e a Hermione.. normalmente o retratam como um grosso. o que discordo totalmente.. E o Fred hein?? Esse é o mais charmoso dos Weasley pra mim! E o ron ficou com ciumes aposto!!! O jeito que ele a tirou de perto do Fred condena!! MUITO ansiosa pelo proximo capitulo! (:

    2011-07-30
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.