Capítulo 2
Capítulo 2
Lily passou o dedo pela lombar do livro antes de pegá-lo. A capa estava gasta e com orelhas, mas ainda podia-se ler “Mágica através do tempo” em letras douradas. Harry esticou-se em seu colo para tentar alcançá-lo, mas a mãe o afastou. Ele coçou os olhos emburrado. Lily recolocou o livro na prateleira e andou mais alguns passos. Parou na frente de uma capa dura que era intitulada de “Magia Negra e Seus Combates”. Achou interessante. Incomodada, olhou por cima do ombro. A velhinha atrás do balcão a encarava fixamente com seus olhos azuis (que mais pareciam globos de vidro).
Desconcertada, a moça beijou a cabeça do filho, sorrindo fraco. Pegou mais dois daquela mesma sessão sem nem olhar a capa e se dirigiu ao caixa.
- Muito boa tarde – a velha falou, pegando os livros da mão de Lily e somando os preços rapidamente. – A Carta Branca na Manga , uh? Muito boa escolha para os tempos de hoje...
- Obrigada – respondeu sem graça.
A mulher entregou-lhe os livros. Lily jogou-os de qualquer jeito na sacola de couro que carregava outras besteiras que havia comprado ha pouco. Pegou uns galões no bolso e colocou-os no balcão.
- Pode ficar com o troco.
Ela estava virando-se quando sentiu seu braço ser segurado. Para uma velhinha aparentemente raquítica, ela possuía bastante força nas mãos.
- Moça, as crianças, as crianças. – falou, apontando Harry com a cabeça.
- Desculpe, o que disse? – Lily perguntou, apertando mais o filho contra o peito.
- As crianças são as únicas esperanças, dizem por aí. Confie bem nelas – e depois deu um sorriso. Pode-se perceber a falta de dois dentes ao fundo.
- Eu, ahn...bem, pode deixar – Ela respondeu, atordoada.
- Bom, bom – a velhinha falou, soltando o braço da moça e dando leves tapinhas nas costas do menino.
Um pouco assustada, Lily sorriu nervosa e se dirigiu à saída rapidamente, suspirando aliviada quando ouviu o sininho da porta tocar provando que esta se fechara atrás de si.
James desviou do copo (vazio) que o filho arremessara do outro lado da cozinha. Estavam os três sentados à mesa. Harry em sua habitual cadeirinha, e os outros dois de frente um para o outro. Lily estava aérea o jantar inteiro e o marido percebera.
- Harry, pare com essa mania de atirar tudo que tem em mãos, desse jeito você vai ficar parecido com o pestinha do Duda – ele falou, trazendo o copo com um aceno da varinha e olhando para o lado receoso. A esposa não gostava quando ele fazia piadas sobre sua família trouxa, mesmo que eles a tratassem como escória. Mas ela nem piscou. – Lils, querida, o que tem de errado com a sopa? Você mal tocou no prato.
Ela saiu do transe e o encarou de volta.
- Hm, não é nada – disse enquanto enchia a colher de sopa. Não tinha fome alguma, mas comeria para não deixá-lo preocupado. – Estou só pensando no que a velha, dona da livraria, disse.
- Aquela mulher não bate bem há anos. Uma vez ela disse a mim e a Remus para comermos mais anchovas ou viraríamos centauros – James balançou a cabeça partindo um pedaço de pão com a mão e colocando metade no prato de Harry. – O que ela disse pra você?
Lily olhou Harry arrancar o miolo do pão e colocar o máximo que podia na boca, feliz.
- Não entendi direito. Ela falou algo como “ Confie nas crianças porque elas são a única esperança” ou algo do gênero – respondeu, bebendo um gole do suco de abóbora em seu copo. – Me fez pensar.
- Lily – James falou, apoiando a colher no prato e segurando a mão da esposa – Não fique pensando nessas coisas. Dumbleodore mesmo nos disse que o melhor que temos a fazer é não nos preocuparmos demais.
- Eu sei - ela falou, olhando para baixo. – Mas é meio inevitável, não é?
Quando levantou os olhos de novo, James percebeu que estavam marejados. Ele sorriu triste e sentou-se ao lado dela, afagando carinhosamente os cabelos acaju.
- É inevitável, mas não é impossível – disse.
- Eu sei, eu sei, e prometo que vou tentar – respondeu, respirando fundo e limpando os olhos – Mas por que nós James? Por que o Harry? Ele é tão novo...tem tanto para viver ainda!
- E ele vai! Vai crescer, entrar para grifinória, ser o artilheiro principal e nos dar orgulho para o resto da vida – ele falou, fazendo-a sorrir. – E acredite, meu bem, se você-sabe-quem soubesse da dificuldade que foi convencer você a sair comigo, ele nos deixaria em paz.
Lily riu, empurrando-o com o ombro.
- Como você consegue ser tão bem humorado em tempos como esses?
- Oras – James franziu a testa – Quer que Harry cresça numa casa depressiva? Imagine se passássemos o dia por aí choramingando “oh não, Voldemort vai nos torturar e matar nosso filhinho, oh não, o que será de nós, oh, eu nunca verei o Chudley Cannons vencer o campeonato europeu” – Ele sorriu ao ver que ela sorria também. – Temos que manter o bom humor. Pelo Harry.
- Tudo bem – ela disse, levantando o copo de suco de abóbora que tomava – Pelo Harry.
-E tudo pode ser verdade se você acreditar! – O urso azul falava na televisão (o único objeto trouxa que fascinava tanto a Harry quanto a James) agitando uma varinha com uma estrela amarela na ponta. Harry, sentado comportado no sofá com seu trasgo de pelúcia, riu audivelmente fazendo Lily sorrir enquanto guardava os blocos coloridos que o filho brincara um pouco antes.
O dia estava claro, com a habitual cor alaranjada que só o outono fornecia. James varria as folhas caídas do quintal com uma cerveja amanteigada na mão. Ela o observou por um instante enquanto ele olhava ao seu redor e analisava o trabalho. Queria poder sair para jantar, ter um tempo sozinha com o marido. Mas não saíam de casa (com uma pequena exceção das lojas no final da rua) há algumas semanas, e isto estava frustrando ambos, mesmo que James evitava demonstrar na sua frente.
- Oi mamãe, oi papai – ela falou baixinho quando passou pela fotografia dos pais, tirada em seu casamento. Esse era seu ritual, desde que seus pais faleceram há pouco mais de um ano por complicações de uma doença que ela não entendia muito bem. Sorriu tristemente e se abaixou para pegar a vassoura de brinquedo que Sirius dera para Harry no seu primeiro aniversário.
- Mã – Harry murmurou virando-se no sofá. Lily parou no lugar, para entender o que estava acontecendo. Harry nunca havia falado antes, e ela procurou acalmar-se, podia ser só um resmungo, o que acontecia bastante ultimamente. Mas antes que pudesse voltar a arrumar a sala, ele repetiu, dessa vez mais claro e mais impaciente – Mãma!
- Harry! Você falou! – ela agitou-se, colocando a cesta de brinquedos no chão e correndo para onde o filho estava. Este, meramente sentou-se frustrado olhando para os créditos que passavam na TV. – Cadê seu pai? James! JAMES!
Ela foi até a janela e bateu no vidro com os nós dos dedos. James olhou para trás, e quando viu Lily gesticulando exasperada, largou o arado no chão e correu para dentro.
- O que...o que aconteceu? – perguntou olhando para os dois, confuso ao ver que tudo estava aparentemente bem.
- O Harry! – Lily sorriu radiante, e completou assim que notou a cara de confusão do marido: – Harry falou!
James olhou-a ligeiramente irritado por ser chamado por um motivo “tão tolo”. Depois balançou a cabeça afastando esses pensamentos quando o filho o olhou sorrindo com os poucos dentes que haviam crescido até então. Ajeitou os óculos no nariz e sorriu de volta.
- É? E falou o que?
- Bem, eu acho que foi “mamãe”... Mas conhecendo-o do jeito que conheço, e sabendo que ele é 70% seu filho, ele pode ter simplesmente dito “mamá” – Ela respondeu varrendo a sala com os olhos, procurando a câmera que eles ganharam de casamento.
- Lils, ele é 50% meu, não 70% - James revirou os olhos, como sempre fazia quando ela choramingava que Harry não se parecia em nada com ela.
- Ah não, ele é bem mais seu do que meu, e você sabe disso – falou, sorrindo. Era estranho, mas ela gostava de pensar que possuía um “pedacinho de James” para ela. – Agora, onde está aquela câmera? Quero registrar esse momento e mandar para Sirius. Assim ele vai parar de tentar fazê-lo dizer seu nome.
James riu, se aproximando do filho e pegando-o no colo.
- Você pode mandar quantas fotos forem para Padfoot, mas ele vai continuar fazendo-o falar coisas estranhas e sem graça.
Lily ia responder quando um “mãma” a interrompeu. Ela arregalou os olhos, pulando feliz e apontando para Harry.
- Viu? Viu, viu, viu? O que acha que é? – perguntou. Mas no segundo seguinte o menino levantou os braços em sua direção gritando “Mãma!” em plenos pulmões.
- Bom, definitivamente é “mamãe”. – James sorriu, entregando-a o filho. Lily abraçou-o tão apertado que ele derrubou o trasgo de pelúcia.
- Meu filhinho falou “mamãe”! James! Vá procurar essa maldita câmera!
Ele riu, antes de subir as escadas e procurar no andar de cima.
Duas horas mais tarde, Harry dormia tranquilamente em seu quarto, com a luz do abajur usualmente acesa, e o berço cercado com a coruja e o trasgo de pelúcia. Do outro lado do corredor, James revirava as páginas da revista semanal de Quadribol, deitado em cima das cobertas, enquanto Lily penteava os cabelos distraída, sentada na penteadeira em frente à cama.
- Você acha que se tivéssemos uma menina ela se pareceria mais comigo? – perguntou, encarando seu próprio reflexo no espelho.
- Acho que sim, querida – O marido respondeu, sem tirar os olhos da revista.
- Não ia ser engraçado se ela fosse uma versão feminina de Harry? – Sorriu com o pensamento de uma menininha correndo pela casa.
- Ou se ela fosse igual à você, mas com os meus olhos – ele também sorriu, levantando os olhos.
- É... ia ser legal pentear uma cabecinha cheia de cachinhos acaju.
Lily colocou a escova na superfície da penteadeira e levantou-se. James fechou a revista e colocou no criado mudo. Em seguida tirou os óculos e colocou-os em cima da revista.
- Não perca as esperanças – ele falou, dando um beijo de boa noite na esposa enquanto ela se aconchegava nas cobertas.
- Duvido muito. Harry já dá trabalho para duas crianças – ela sorriu triste apagando a luz do abajur. O quarto não ficou totalmente escuro, eles sempre deixavam a cortina um pouco aberta. – Além do quê, não sei se vale a pena colocar outra criança nesse mundo. Nossa única criança já é caçada por milhares de comensais.
James também sorriu triste, fechando os olhos.
- Harry é forte. Ele sabe se virar com um monte de amadores de cobra.
Lily se virou para o outro lado sentindo o marido apoiar o braço em sua cintura, respirando sonolento. Era triste não poder pensar muito à frente do futuro. Olhou inconscientemente para os livros que comprara no dia anterior, cuidadosamente colocados no móvel ao lado da cama. Sentia-se culpada por não contar nada a James, mas sabia que ele não concordaria. Ele provavelmente estava certo. O que ela queria fazer requeria tempo e muito estudo. E se saísse de controle, as conseqüências seriam grandes e severas.
n/a: vocês me desculpam a demora? mimi g.g
tenho tido uns bloqueios horríveis e quando consigo me livrar deles aproveito rapidinho pra escrever....
enfim, comentem, sim? pode falar bem, falar mal, falar coisa sem sentido... mas falem!
beijão!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!