Aceitando Fatos
CAPÍTULO 29 – Aceitando fatos
- Está melhor? – Minha mãe perguntou da porta do quarto, não saberia dizer a quanto tempo ela estava ali, nem o que eu estava fazendo ou pensando há alguns minutos atrás. Apenas encarava a janela do meu quarto, olhava o jardim dos fundos, coberto pela neve. Não havia vida naquela parte do jardim, nada bonito ou charmoso de mais, a neve havia coberto tudo o que um dia havia sido bonito de olhar. Eu me virei para encará-la, ela tinha um sorriso de pena no rosto, e isso me irritou, fazendo-me olhar mais uma vez para o jardim. – Scorpius, quanto tempo mais você pretende ficar sentado nessa cadeira?
Dei de ombros como resposta, estava cansado de responder qualquer pergunta com mentiras, então preferi permanecer em silêncio. Do que valia a pena dizer “Só mais alguns minutos”. Se eu já havia falado isso vezes demais para se tornar realidade? Não sei se ela falara mais alguma coisa antes de sair, não sei se ela me encarara tempo suficiente para perceber que eu não sairia dali.
*
- Scorpius? – Meu pai me chamou da porta entreaberta, virei meu rosto em sua direção, ele tinha algumas cartas nas mãos e as estendia para mim.
- De quem são? – Perguntei esticando os braços em sua direção, sem falar nada, entregou-as para mim. – Heinz... – Falei encarando a primeira carta.
- Sim, a dele chegou primeiro... – Meu pai falou olhando por cima dos meus ombros. – Só queria saber o que o ministro quer com você...
- O ministro respondeu? – Perguntei mexendo nos vários envelopes. – Já não era sem tempo! – Comecei a abrir o outro envelope, um pouco mais animado do que antes, meu pai ainda bisbilhotava meus movimentos. – Posso ter um pouco de privacidade? – Perguntei irritado. Ele pigarreou antes de sair.
Fazia três dias desde que a verdade havia sido jogada na minha cara. Passei a maior parte do meu tempo ali, naquela cadeira, me curando do ataque que havia feito na sala da mansão. Meus pais não falaram nada sobre o ocorrido, vigiavam cada passo que eu dava. Alvo foi embora quando suas desculpas para ficar ali terminaram, já estava escuro quando aparatou do jardim. Falou que voltaria assim que possível, mas até agora, nada!
Abri todas as cartas que chegavam, respondi a carta do ministro primeiro, explicando o porque do meu desespero em conversar justamente com ele. Heinz deixou bem claro que seria bem vindo em sua equipe quando as coisas acalmassem, mas que entendia meu pedido de demissão. Sem obrigação meu antigo chefe me ajudava a colocar meu plano em ação, sabia que ele não fazia aquilo por mim, mas mesmo assim era grato por sua colaboração.
A coruja saiu apressada pela janela do meu quarto, ela tinha muitos serviços para fazer e era grato por sua rapidez. Quando ela saiu, voltei a afundar meu corpo na cadeira, esperando.
“Nada cai do céu, anjinho!” – Minha mãe falara quando eu estava um pouco menos nervoso. Ela não entendeu meu murmúrio de resposta, muito menos a minha convicção em permanecer sentado naquela cadeira, esperando uma coruja atrás da outra. Não diria a ninguém o meu brilhante plano... Não depois do meu último plano ter se voltado contra mim. Então, fazia tudo o que podia e estava ao meu alcance, concertaria os meus erros, mesmo que levasse tempo para ter êxito.
*
Duas semanas se passaram, duas longas semanas desde que conseguira convencer a todas as pessoas necessárias, que meu plano, minha brilhante idéia, tinha fundamento.
Bizarro dizer que Minerva McGonagall foi a primeira a aderir a minha causa. Ela não fez objeções, foi a primeira a concordar que Rose Weasley tinha o direito de fazer as provas finais dos NIEMS em junho daquele ano. Sem objeções permitiu que a garota tivesse um passe livre para a entrada do castelo, pudesse utilizar a biblioteca de Hogwarts, sempre que necessário. Sabia que Rose não aceitaria sair de perto do meu filho por quase um ano, mas que seria tentadora a proposta de estudar por conta própria!
Minerva McGonagall ganhara meu respeito naquele dia, concordou em guardar segredo sobre o meu envolvimento com a repentina mudança de Lei na Constituição Estudantil Bruxa de Hogwarts. Rose Weasley voltaria para os NIEMS naquele ano. Minha dívida estava paga.
Não sei ao certo qual a discussão que isso causou na família, o pouco que eu sabia era o que Minerva deixara escapar, e que Roman conseguira descobrir. A carta da diretora do castelo ainda aberta na escrivaninha contava que Ronald e Hermione choraram de tanta emoção, mas que Rose ainda estava um pouco indecisa, com um pé atrás.
Não via meu filho desde a grande revelação. Certo, não falara com ele desde aquele dia, porque há uma semana espiava pelas frestas da cortina da casa geminada. Todas as noites aparatava no Beco Diagonal e me espreitava entre os arbustos para espiá-los.
Sabia que tinha todo o direito de vê-lo, o que me faltava era coragem para fazê-lo. Até onde ele entendia que eu nunca o abandonara? Não intencionalmente, pelo menos. Até onde ele entendia que eu... Que eu o amava? Mesmo sem saber que ele era meu, eu já o considerava assim, meu!
E Rose? Ela já era outra história... Seria um mentiroso se dissesse que meu corpo não entrava em conflito quando a via, que eu revezava meu olhar entre os dois, que mesmo possesso com o que ela havia feito, tudo o que eu mais queria era beijá-la. Orgulho, esse é o mau de todos os humanos. E como não sou diferente, não conseguia engolir o meu.
- Scorpius! – A voz feminina entrou no quarto, como uma melodia apressada.
- Harriet. – Respondi sem me virar para encará-la, ainda observando a noite cair na janela do quarto.
- Você está melhor? – Ela perguntou, segurou meu braço com força, fazendo com que eu a encarasse. Seu cabelo moreno preso em uma trança no topo de sua cabeça. Suas roupas de trabalho amassadas e sujas de fuligem da lareira, mas sem tirar a impressão séria de uma bruxa respeitada na sociedade. Suas bochechas tinham um toque rosado, como se tivesse corrido para me encontrar. – Vem, levanta! – Ela me puxou para que eu a abraçasse. Atônito, fiz o que seus braços pediam. – Você não pode ficar assim de novo!
- Assim? – Perguntei em seus braços. – Eu nunca fiquei assim antes.
- Já ficou sim! – Ela falou chorosa. – Sétimo ano, e se me permite dizer, pelo mesmo motivo!
- Tenho certeza que não chegou perto do que é agora, Harriet! – Falei encarando seus olhos cor de mel, que me fitavam com compreensão.
- Rose Weasley terminou com você por você ser um Malfoy... – Ela falou fazendo meu peito arder por escutar meu nome junto ao dela na mesma frase. – Qualquer um que soubesse, saberia que esse seria o fim da história, meu caro.
- É bem mais complexo do que isso! – Falei irritado. – O problema é eu ter sido um babaca, ignorante, arrogante, burro...
- Pelo menos não precisou de um espelho para fazer uma autocrítica dessa vez... – Ela falou zombando. – Agora você precisa sair dessa depressão e bola pra frente... O mar está cheio de peixes!
- Você quem diga! – Falei alfinetando-a com minhas palavras. – Ela foi uma mentirosa, Harriet! – Pensar nela fez meu corpo arder mais uma vez. – E eu nem posso culpá-la por mentir... Sou duas vezes pior! – Tentei não quebrar nada, a ameaça do meu pai, que ele me amarraria se eu destruísse sua casa mais uma vez ainda estava vivida em meus ouvidos.
- E o que a princesinha fez dessa vez? – Harriet falou aglomerando a raiva que sentia da Weasley todos esses anos.
- Eu não posso culpá-la! – E aquilo doía por ser verdade. – Não depois de falar que abortaria meu filho se fosse ela, não depois de admitir que mataria o tampinha para ter uma vida normal!
- O que? – Harriet perguntou colocando as mãos na boca, como a minha mãe havia feito semanas atrás.
- Esquece! – Como eu queria que ela esquecesse tudo e fosse embora de uma vez por todas.
- Você não pode jogar uma informação como essa para cima de mim e esperar que eu esqueça!
- Se eu começar a contar agora, vou colocar toda a culpa em cima dela, Harriet! – Ela balançou a cabeça como quem diz: “Faça isso! Jogue toda a culpa nela!” – Ela não teve culpa, você não entende? É frustrante admitir isso, mas ela não...
Um estalo interrompeu o que eu dizia. Harriet que me encarava curiosa, deu um berro e pulou na cadeira agora vazia, ainda gritando. Roman nos encarou assustado, não sabia se havia feito algo errado e me olhou com dúvida.
- Relatório? – Perguntei curioso, me levantando. Tentei ignorar os berros de xingamento que Harriet dava.
- Terminaram a mudança hoje, senhor. Despediram-se da cidade inteira... Um homem tentou agarrar a minha senhora, mas seu filho bateu nele, senhor! – Roman contou animado, fazendo gestos com as mãos, imitando o momento do ataque. – Roman não acha que foi intencional, mas ele ficou de castigo mesmo assim! Aquele seu amigo ainda está na cidade terminando de desinfeitiçar a casa.
- A mudança foi concluída? – Perguntei em dúvida. O Elfo nunca falava as coisas 100%.
- O pai de minha senhora aparatou junto com os dois em Hogsmead, na Gemialidades Weasley.
- Alguém te viu?
- O tampinha, senhor. – Roman falou o apelido que eu dera a Sebastian. O que era cômico ao ver que meu Elfo era mais baixo que meu filho... – Roman não tem certeza, mas acredita que o tampinha viu Roman.
- Tente não ser visto da próxima vez. – Ele assentiu com a cabeça. Sentou-se na cama ao meu lado, esperando por novas ordens. Olhava para Harriet, que descia da cadeira em dúvida. A pergunta mais importante entalada na minha garganta. A contradição se eu devia perguntar ou não, o que me incomodava. – E ela?
- Minha senhora está bem, senhor. – Roman baixou as orelhas quando afirmou. – Mas Roman acha que minha senhora não agiria de modo diferente na frente do tampinha!
- Não, ela não agiria... – Constatei que o Elfo devia estar certo, no fim das contas. Nos últimos dias ele fazia questão em dizer seus ‘achismos’. Ficava feliz por isso, ele raramente errava.
Roman permanecia de orelhas baixas, seu corpo sentado na minha cama, os pés sujos balançando no mesmo ritmo de sempre. Harriet nos encarando irritada, assimilando tudo o que ouvia.
- Roman, essa é a Harriet. Harriet esse é Roman! – Falei quebrando o silêncio.
- Você está louco! – Harriet falou histérica, sentando-se na cadeira. – Um Elfo seguindo sua ex-namorada, seu suposto filho e o resto daquela família! Você está louco! Desde quando Elfos sentam? – Ela falou apontando para Roman.
- Desde que ele não se sinta desconfortável! – Falei irritado. – Eu amo Rose! – Meu peito doeu por ter que admitir isso em voz alta. – Eu vou consertar meus erros com ela, mesmo que eu não fique com ela no fim das contas! Eu vou fazer isso por ela e pelo Sebastian... Vou consertar tudo que precisa de conserto!
- E seu Elfo vai fazer isso por você?
- Ele está mais para um amigo, Harriet... Ele tem sido muito útil, fazendo alguma coisa!
- Eu poderia ajudá-lo se você me contasse as coisas! Precisei descobrir tudo por Harold... Sabe o que é descobrir as coisas pelo babaca do meu irmão?
- Eu andei ocupado! – Tentei falar como se pedisse desculpas.
- Seu Elfo andou ocupado! – Ela falou apontando para Roman mais uma vez. – Sua mãe disse que você raramente sai desse quarto!
- Como eu disse, andei ocupado! Só porque estou em casa, desempregado, não significa que não estou fazendo nada!
- O que você andou aprontando?
- Umas coisinhas aqui e outras ali... Nada de mais! – Falei cinicamente.
- Diz que não tem nada haver com os Weasley!
- Tem tudo haver com os Weasley!
- O que você andou aprontando? – Ela perguntou cansada.
- Rose Weasley vai voltar a estudar, vai prestar o NIEMS em junho... Como eu disse, nada de mais!
- Ela não terminou os estudos na Albânia?
- Não! – Respondi nervoso. – Ela estava grávida!
- Ah, sim. Seu suposto filho!
- Meu filho, Harriet!
- E como ela conseguiu isso? Digo, de voltar a estudar?
- Ela é inteligente! – Falei quase rindo da expressão que Harriet fez. – Posso ter conversado com Heinz...
- Seu chefe? – Ela perguntou confusa. – O que ele tem haver com a história?
- Ele conhece as leis melhor do que eu...
- Só isso?
- Posso ter conversado com a McGonagall também... – Ela me olhou atordoada, assimilando cada coisa que eu dizia. – E o ministro da magia...
- Sem essa! Você não conversou com o ministro!
- Ele é amigo da família... – Tentei enganá-la, em vão.
- Quanto você pagou? – Ela perguntou brava. – Quanto te custou essa brincadeira?
- Algumas centenas de galeões para o Conselho de Ensino reverem as leis... – Harriet bufou inconformada.
- Até que ponto eu posso considerar isso uma loucura? – Ela perguntou desanimada. – Você é o tipo de pessoa que eu sempre quis, que faz de tudo pela pessoa que você ama... Porque eu não posso me apaixonar por alguém assim?
- Você nunca amou ninguém, um dia vai ser você!
- Eu já amei alguém, Scorpius! – Eu a encarei confusa. – Foi há muito tempo atrás, ele era de outra casa, um galinha! – Ela se levantou chateada. – Já vi que você não precisa de mim aqui... Vou voltar para o St. Mungus... Mande notícias! – Ela exigiu, com seu ar autoritário. Antes de me abraçar e sair apressada.
*
Após a saída de Harriet, me vi perdido em pensamentos. Tentei lembrar os detalhes da conversa apressada com Roman, nada que fosse muito útil, ou que eu já não soubesse.
Rose e Sebastian se mudaram para o andar superior da Gemialidades Weasley. O pai dela cuidaria do meu filho durante o dia, enquanto estivesse na loja de Hogsmead. Ela teria tempo de ir ao castelo e usar a biblioteca para estudar, mas sem ficar longe do nosso filho. Nosso filho! Porque era tão difícil dizer isso em voz alta, e tão fácil pensar assim quando eu estava sozinho!?
Já passavam das oito quando tomei coragem de me levantar, fui até o armário e vesti um casaco quente, peguei minha vassoura e corri para o jardim da mansão. Ergui minha varinha e me concentrei nos três D’s: destino, determinação e deliberação. Uma sensação de fisgada no umbigo e uma falta de ar tomaram conta de mim, desaparatei do jardim da mansão, e me vi encarando Hogsmead.
Sem querer acender minha varinha, me vi andando no escuro. Madame Rosmerta colocava o lixo do Três Vassouras para fora e me encarou quando me viu passar. Sem querer puxar assunto ou me identificar, vesti o capuz e continuei andando ao meu destino final.
A Geminialidade Weasley era algo incrível de se ver, tinha que admitir. Claro que por ser um Malfoy nunca havia entrado ali. Mas a cabeça ruiva em formato gigante, que colocava e tirava um chapéu da cabeça, fazendo um coelho aparecer e sumir esporadicamente sempre havia me intrigado. Aquilo me fez lembrar do tampinha e de Rose na nossa ida ao circo. Ri no escuro por finalmente entender o significado daquela cabeça gigante... Era baseada em uma mágica trouxa! Quem adivinharia?
Segurei minha vassoura enquanto dava voltas ao redor da loja. Uma luz no último andar me fez suspirar. Ainda bem que trouxe minha vassoura. Em silêncio me vi voando para o cômodo acesso, Sebastian dormia em um colchão jogado no chão. Envolta havia caixas lacradas espalhadas pelo lugar. Rose estava tentando de alguma forma, arrumar sua nova casa.
Fiquei ali, me equilibrando em cima da vassoura, enquanto observava Sebastian dormir. Rose continuou andando de um lado para o outro, entrando e saindo de cena. Ela dormiu apoiada em uma caixa, a luz ainda inundando o quarto. Senti vontade de entrar e colocar uma coberta em suas costas, quem sabe apagar a luz e me juntar àquela cena. Mas ele não poderia saber que eu estava ali... Ela não poderia saber que eu ainda me importava.
- Você vai cair dessa vassoura! – Uma voz falou no chão, era quase um sussurro, mas levei um susto tão grande que me desequilibrei. Um vulto me encarava do chão.
- Vá embora. – Falei para o vulto, voltando a me equilibrar, esperando que aquilo fosse coisa da minha cabeça.
- Eu vou chamar os aurores! – O vulto voltou a dizer saindo do lugar.
- Não há necessidade. – Sussurrei diminuindo a distância que me se separava do ser. – Eu já estava indo embora... – Tentei me justificar, mas quando meus pés atingiram o chão, uma varinha estava apontada entre meus olhos.
- Identifique-se. – Meio incerto do que devia fazer, continuei parado. – Nome?
- Malfoy. Scorpius Malfoy. – O vulto tirou o capuz.
- O que você estava fazendo? – Madame Rosmerta perguntou com a voz trêmula, sem tirar a varinha da minha cara.
- Eu...
- Você ia roubar? – Ela perguntou assustada.
- Não!
- Estou perdendo a paciência!
- Eu só estava... É... Olhando!?
- Vou chamar os aurores! – Ela ameaçou, dando passos para trás em direção ao Três Vassouras.
- Madame Rosmerta. – Falei, tentando me acalmar. – Eu juro que não ia... Quero dizer... Só estava olhando, sabe?
- Olhando o que? – Ela perguntou impaciente.
- A pergunta está mais para quem...
- Você é um pervertido? – Ela perguntou fazendo faíscas saírem da ponta de sua varinha.
- Não!
- Ronald vai saber disso! – Ela advertiu.
- Ele vai me matar! – Talvez por ter certeza disso, minha voz saiu assustada. Ela ergueu as sobrancelhas como se afirmasse que o criminoso ali era a minha família e não a do santo Weasley.
- Quem sabe você mereça isso! – Ela afirmou.
- Quem sabe eu não mereça! – Falei entre dentes.
- Explique-se.
- Explicar o que?
- Porque você estava olhando para o neto de Ronald!
- Eu não estava olhando desse jeito que a senhora está pensando...
- Eu não estou pensando em nada! – Se eu não quis contar tudo para Harriet que era minha melhor amiga, imagina contar isso para uma quase desconhecida! – Onde está sua varinha?
- No bolso do casaco. – Falei sem me mexer, ela se aproximou de mim, pegando minha varinha para si.
- Aceita uma bebida? – Perguntou um pouco mais calma, andando a frente, de costas para mim. Desarmado, não tive outra opção a não ser aceitar.
*
O bar estava vazio, apenas a Madame Rosmerta atrás do balcão pegando um copo de bebida para nós dois. Sentei no banquinho alto do balcão, esfregando minhas mãos geladas. Ela colocou o copo na minha frente, interrompendo o silêncio que se instalara entre nós.
Tirei meu capuz e logo em seguida o casaco, sentindo o efeito da bebida no meu corpo. Ela me encarou por um bom tempo, sem falar nada.
- Entendo! – Ela ainda sussurrava, sem necessidade.
- O que? – Perguntei dando mais um gole da bebida. Ela piscou várias vezes seguidas.
- Merlin, vocês são idênticos. – Ela falou acabando com o conteúdo de seu copo em um gole.
- Todo mundo fala que sou a cara do meu pai...
- E o Sebastian teve a quem puxar! – Ela falou nos servindo novamente.
- Ah, isso! – Falei sem saber como reagir. Então ela conhecia o meu filho.
- Então você estava olhando... Só olhando...
- Estava.
- Ronald não precisa saber disso...
- Obrigado. – Falei tomando mais um gole, sentindo meu corpo esquentar.
- Um Malfoy e uma Weasley... – Ela ergueu o copo, esperando que eu brindasse com ela. – Os tempos mudaram!
- Não é bem assim. – Bebi o conteúdo sem aceitar o brinde.
- E como é, então? – Perguntou, desistindo que eu acompanhasse sua felicidade.
Meio sem graça, desatei a falar. Anos de prática fizeram de Madame Rosmerta uma ótima ouvinte. Garrafas de whisky-de-fogo me fizeram um sincero locutor.
- Já está tarde, senhor Malfoy. – Ela falou após um bom tempo. – Talvez você devesse ir para sua casa. – Tentei me levantar com a indireta, bêbado, não consegui dar dois passos até a porta. – Quem sabe seja melhor o senhor dormir aqui...
*
Quando acordei, demorei a entender onde estava. Olhando a volta para os móveis gastos daquele quarto, comecei a ligar os pontos. Se Madame Rosmerta tivesse dito alguma coisa, há essa hora Ronald já estaria me enforcando. Desci as escadas com a cabeça girando, aos tropeços encontrei Rosmerta limpando seu bar com a varinha agitada.
- Bom dia, senhor Malfoy. – Ela falou quando escutou meus passos. – Ou devo dizer, boa tarde?
- Que horas são? – Perguntei me sentando no balcão com a cabeça apoiada nas mãos.
- Umas duas horas da tarde...
- É melhor eu ir... – Falei ainda meio grogue.
- Sinta-se à vontade para voltar aqui hoje à noite...
- Como você sabe que eu...
- Que você vai voltar a bisbilhotar? – Ela perguntou arrastando algumas cadeiras, fazendo minha cabeça zunir com o barulho. – Eu posso ser velha, meu querido, mas já tive minha juventude à flor da pele! – Ela falou piscando, jogando minha varinha para mim. – Se quiser deixar a vassoura aqui...
- Obrigado. – Falei me retirando, não sem antes cobrir meu rosto com o casaco e aparatar na mansão.
- SCORPIUS HYPERION! – Minha mãe deu um berro quando consegui me equilibrar com os dois pés no chão. – Onde você pensa que foi? Como ousa chegar a essa hora? Onde você estava? O que você estava fazendo?
- Qual das perguntas você quer que eu responda primeiro? – Perguntei andando até o pé da escada, onde ela me esperava com olheiras, depositei um beijo em sua testa.
*
- Quem sabe se eu tocasse a campainha quando fosse para Hogsmead, não fosse uma má idéia?
- É, quem sabe, meu senhor. – Roman balbuciou as palavras, cansado.
- Quem sabe consiga tratá-la bem?
- Sim, meu senhor, talvez o senhor consiga...
- Afinal já faz um mês que não vejo Sebastian...
- Roman havia entendido que o meu senhor o viu ontem, senhor.
- Sim, Roman. – Falei me arrumando quando a noite começou a cair. – Eu quis dizer... Falar com Sebastian.
- O tampinha está com saudades. – Ele afirmou seu achismo, fazendo-me sorrir.
- Quem sabe se eu disser para Rose que eu os tenho vigiado por três semanas, ela entenda!
- Roman acha que minha senhora pode ficar brava, senhor.
- Porque acha isso? – Perguntei vestindo meu casaco.
- Entre Elfos é um crime observar seus senhores...
- Mas você tem feito isso! – Falei preocupado, será que existia alguma Azkaban para Elfos Domésticos?
- Não é um crime se Roman recebe ordens para fazer isso...
- Entendo. – Fechei meu casaco até o pescoço, vestindo meu capuz.
- Meu senhor vai tentar a porta da frente hoje? – Roman perguntou curioso.
- Hoje não... Quem sabe amanha se eu for mais cedo!?
- Boa sorte, meu senhor.
- Obrigado, Roman. Vá descansar se estiver cansado.
- Obrigado, meu senhor.
*
CRACK.
Um mês desde a descoberta: Duas semanas colocando meu plano em ação com sucesso. Três semanas observando minha família pela fresta da janela... Minha família? Certo, a mulher que eu amo e meu filho...
Toda santa noite eu aparatava em Hogsmead, passava no Três Vassouras, cumprimentava Madame Rosmerta, pegava minha vassoura e espiava Rose e Sebastian pela janela.
Se eu estava sendo idiota por não procurá-los? Claro que estava, mas ainda não tomara coragem para bater em sua porta e encará-la.
Essa noite Rose estava estudando, incontáveis livros da biblioteca abertos na mesa improvisada, rolos de pergaminhos espalhados pelo quarto. Sebastian dormia em seu colo, com umas três cobertas enrolando seu pequeno corpo. Ela fazia esforços para se esticar com os mínimos movimentos, estralava o pescoço de tempos em tempos, piscando freneticamente enquanto tentava se concentrar.
Diferente dos outros dias, ela parecia aflita, minutos se passavam e ela não virava as páginas do velho livro. Ao invés de seguir com a leitura a diante, voltou às páginas para o começo do capítulo. Respirando fundo voltou a se concentrar. Seus olhos vagaram o teto do quarto, estralou o pescoço mais uma vez e encarou as páginas do livro. Tomando um pouco mais de altura, tentei ver o que ela estudava... Comecei a reconhecer os desenhos na página surrada...
- Poções, ela nunca teve dificuldade com isso... – Minhas mãos estavam dormentes por segurar a vassoura. Nem preciso dizer que minhas costas estavam acabadas por sobrevoar aquela loja todas as noites. Em silêncio, me encaminhei até os Três Vassouras. – Boa noite. – Falei para Madame Rosmerta. Algumas cabeças se voltaram para mim, e descobri que diferente dos outros dias, o bar não estava vazio.
- Senhor Malfoy. – Rosmerta falou feliz, apontando para o balcão vazio. – Foi rápido esta noite...
- Ainda não terminei... – Falei aos sussurros. – Queria te pedir um favor.
- Se estiver ao meu alcance... – Ela falou, pondo-se na minha frente, esvaziei meu bolso em cima do balcão, alguns nuques atingiram a mesa com estrondo. – O que posso servi-lo? – Ela perguntou olhando as moedas.
- Um suco de amoras? – Perguntei meio sem graça, não estava na época de amoras.
- Claro... Mais vai te custar mais caro... – Ela falou contando moedas. Despejei tudo o que tinha nos bolsos. – Agora, aqui tem mais que o necessário...
- Quem sabe um pedaço de torta e a taxa de entrega...
- Taxa de entrega? – Ela perguntou confusa. – Ah, certo. – Falou entendendo, indo preparar meu pedido.
- Obrigado.
- Não há de que.
*
Voltei para a vigília, observei Rose levantando, fazendo esforços para carregar o dorminhoco para a cama, e sumindo do quarto. Sobrevoei para o outro lado do prédio, observando Madame Rosmerta com o pedido na mão.
- Sim? – Rose perguntou abrindo a porta da loja.
- Vi as luzes acessas... – Rosmerta falou incerta. – Achei que você poderia estar com fome.
- Obrigada. – Rose falou com as bochechas corando, pegando a sacola sem graça.
- Sem problemas. – Madame Rosmerta falou, voltando para o Três Vassouras.
Instantes se passaram quando ela voltou para o quarto. Conferiu se Sebastian estava bem e voltou a se sentar. Com raiva, fechou o livro que antes estava lendo. Olhou para a sacola na sua frente e a abriu, tomou o suco em poucos goles e devorou a torta.
Terminando de comer, buscou uma coberta. Voltou para a mesa improvisada, abrindo o livro de poções. Voltou a ler o capítulo, minutos se passaram quando...
- O que ela está fazendo? – Sussurrei para a noite gelada. Coloquei um pouco mais de altura na vassoura, mas não conseguia ver onde ela estava indo com tanta pressa. – O que está acontecendo?
***
N/A:
- Lumus.
Acho que preciso reafirmar que estou amando todos esses comentários... Fiquei muito feliz ao perceber que vocês estão votando na FIC - na página principal - Obrigada!
Lembrando que o Cap de CAPAS foi atualizado ontem - façam seus votos!
Sei que nunca fiz isso antes, estou aqui para indicar uma fic que encontrei pela FEB... A GAROTA DO DIÁRIO (É RW/SM) e vale a pena conferir: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=43719
COMENTÁRIOS??
VOTOS NA FIC??
Um “Irei ler” na INCARCEROUS?? - Que agora possui um resumo para matar a curiosidade de todos!?
Bjs e uma ótima semana.
- Nox.
ANA CR
Comentários (14)
"Você é um pervertido?" hauhauahaua Essa foi realmente ótima!Bem, só lamento que o Scorpius seja tão lerdo... espero ao menos que o plano dele seja realmente muitíssimo bom para valer a pena a espera!E, Ana, você não perde a oportunidade de nos matar de curiosidade, não é? O QUE A ROSE FEZ, PELO AMOR DE MÉRLIN?O Roman, como sempre, uma figura... e nunca imaginei Madame Rosmerta como confidente!Enfim... agora eu vou ver as capas e ler o resumo de Incarcerous. Até mais!
2012-07-07Ah cara, amei demais o capítulo *-*E obrigado mesmo por recomendar a minha fanfic aqui, é sério, não tem noção de como fiquei feliz.Nossa, estou louca para ver o que vai acontecer *O*Será que ela desconfiou de alguma coisa? kkCara, você escreve muito bem e eu to amando demais a fanfic :)Beijos e obrigado novamente!
2012-07-07adoro essa fic será que ela desconfiou de quem fez o pedido, porque com certeza ele pediu o que ela gostava, não tinha como madame rosmerta acertar no gosto,kkk gostaria que no proximo capitulo, se ela realmente desconfiou de algo, ela fosse atrás dele, não que precisasse desculpá-lo de cara, mas pelo menos conversar já era meio caminho andado. bjos
2012-07-07Não tive tempo de betar esse capítulo, escrevi na correria, mas espero mesmo que vocês gostem!Qualquer erro é só me avisar!Bjs a todos.Ana CR
2012-07-07