Pacata Wiltshire
CAPITULO 21 - PACATA WILTSHIRE
N/A:
Retomando... Scorpius Malfoy terminou Hogwarts, estudou em casa por um ano, entrou no Acampamento de Aurores onde estudou dois anos e está para completar dois anos que mora com seus avós (Lucio e Narcisa) na mansão da Alemanha.
Boa leitura, e um pedido de desculpas para a Bárbara Aguiar Azevedo, que deveria ter sido a primeira a ler esse capítulo. Favor confirmar o MSN que voce me passou, e o próximo eu deixo voce ler...
Mas como não quero matar ninguem de ansiedade, e nem ser assassinada por algum feitiço certeiro...
APROVEITEM!
(:
***
- Sr. Malfoy, tenho um recado do chefe ... – Marjorie me seguia com passos apressados, tentando me alcançar. Parei e me virei, a fim de ficar de frente para ela, mas a garota estava muda, me encarava de uma forma, um tanto quanto descarada.
- Já falei que pode me chamar de Scorpius, Marjorie. – Respirei fundo, esperando que ela encontrasse o ar mais uma vez. – Qual o recado?
- O senh... Digo, você... Digo...
- Diga de uma vez, sim? – Tentei não me estressar.
- Uma viagem, para investigar... – Ela respirou fundo, colocando os pensamentos em ordem. – É isso, ele disse que precisa ser você!
- Diga a Heinz que não poderei ir... Ele deve ter esquecido, mas ele me pediu ontem para ir a Alzey investigar um desaparecimento, está tudo arranjado, só falta a Chave de Portal, procedimento, você sabe... – Tentei sorrir um pouco e descontrair a situação. – E se der tempo, irei a Taverna antes de voltar para casa... Você poderia ir se quisesse... – Tentei não ser rude.
- Agradeço o convite, mas você não estará aqui para ir a Taverna, estará na Inglaterra... O chefe disse que você recusaria, mas precisa mesmo ser você!
- Porque?
- Ele pediu para lhe entregar isso – Ela falou ao me entregar um envelope lacrado por magia. – E isso também. – Uma caixa de papelão aparentemente simples, mas dentro havia dinheiro trouxa, identidade e qualquer coisa que eu fosse precisar. – A Chave de Portal estará te esperando na sua sala com destino à Inglaterra, Wiltshire...
- Marjorie, acredito que você não me ouviu... Já estou com o horário lotado, a pedido do próprio chefe...
- Não Scorpius, você precisa ir para a Inglaterra... – Ela tomou ar antes de continuar. – É sobre o seu pai!
*
Agachado na minha própria sala, com a cabeça enfiada no fogo verde da lareira. Precisava me acalmar, assim como minha mãe pedia repetidas vezes “Mantenha a calma, filho”.
- Você devia ter me contado assim que o prenderam!
- Não queria te deixar nervoso, filho. – Ela tentou demonstrar confiança. – Não podemos fazer alarde... Seu pai não quer isso nos jornais!
- Mas ele não matou ninguém, assim que ele tomar a poção Veritasserum, irão soltá-lo. – A verdade tomou conta de minha frase, eu conhecia o procedimento. – Porque ainda não deram a verdade a ele?
- Ele admitiu estar envolvido indiretamente, mas se recusou a tomar a poção. – Minha mãe me olhou desesperada. – Ele precisa da sua ajuda, ninguém quer dar ouvido a ele...
- O que estiver ao meu alcance, mãe. – A promessa estava em minhas palavras. – Eu vou para casa! – Era o certo a fazer. – Vou voltar para a Inglaterra.
- Você tem que ir a Wiltshire, ainda hoje... – Podia perceber pelo tom de sua voz, que ela se mantinha calma por mim, sua voz beirava ao som da histeria. – Busque a testemunha que ele precisa o mais rápido possível...
- Como você sabe sobre isso, mãe? – Perguntei quando a idéia surgiu. – Como sabe que eu tenho um serviço em Wiltshire me esperando?
- É uma testemunha, e isso foi tudo o que disseram... – Ela contorceu o rosto, tentando sorrir. - Seu pai pediu ajuda para o seu avô, disse que é disso que ele precisa!
- Não tem como saber se isso ajudará em alguma coisa...
- Seu pai está confiante quanto a isso! – Ela mordeu os lábios, tentando esconder o nervosismo. – Ache essa pessoa, convença-a a ir com você para a Alemanha...
- Eu... Eu te amo, mãe.
- Eu sei que você vai conseguir, anjinho. – Ela sorriu, o que era um bom sinal. – Assim que possível mande noticias. – Dizendo isso, ela sumiu no fogo.
***
Wiltshire é uma cidade pacata, simples e sem graça, o lugar é tão absurdamente ridículo que não encontrava uma única palavra para descrever aquela monotonia exagerada. O que tem em Wiltshire? Trouxas! Nada me deixava mais nervoso do que trouxas em excesso. Burros, isso sim, como podiam andar tranqüilamente por aquele lugar sem usar magia?
Hospedei-me na primeira pousada que encontrei, algo como Vale do Sol, acho que mesmo que eu procurasse por uma segunda opção não encontraria em lugar algum. Não havia estrutura no lugar para receberem visitantes, estava certo disso! Quem ficaria naquele fim de mundo se tivesse outra opção? Então a quem eu deveria procurar? Quem no mundo, meu pai conhecia para ajudá-lo dando um testemunho? Um trouxa comum? Não, impossível, eu acho. Um abortado? Isso seria interessante, nunca conheci um de verdade! Ou quem sabe um bruxo escondido nesse fim de mundo? Todas as opções pareciam interessantes, porém igualmente improváveis. E eu ainda preciso seguir o protocolo, esse era o problema:
Primeiramente me hospedar na cidade, disfarçado dos pés a cabeça! E lá estava eu, um jovem adulto de cabelos e olhos morenos, usando umas roupas estranhas... Com uma altura mediana que não se parecia nada com a minha. O corpo magricela, a fim de disfarçar melhor o meu disfarce de pessoa comum... Definitivamente, nem minha família me reconheceria se me visse assim! A parte onde devia fingir ser um trouxa, era a mais difícil.
E depois de tudo isso, eu deveria esperar pela boa vontade do envelope lacrado, ele deveria se abrir sozinho, o que poderia demorar, e só então começar a trabalhar. Precisava convencer a testemunha a colaborar, porque ela não seria obrigada a ajudar, teria vontade própria e meu trabalho se encerraria por aí caso ela se recusasse a me seguir para a Alemanha. Então, enquanto o envelope não se abria, fingia ser um turista, não um turista comum, um turista trouxa.
- Sr. Daniel’s precisa de alguma coisa? – A senhora atrás do balcão perguntou. Precisei de um tempo para perceber que o Daniel era eu.
- Só estou conferindo os panfletos. – Respondi com um sorriso treinado no rosto, achando ridículo parecer ser tão patético.
- Então o senhor precisa deste aqui! – A idosa pegou o panfleto maior e mais colorido. – São nossos sítios arqueológicos!
- Sítios o que? – Perguntei sem pensar. – Ah, sim, posso ver... Engraçado essas fotos paradas, não é?
- Fotos paradas? – A velhota me olhou por de trás dos óculos.
- Acho que vou dar uma volta pela cidade... – Falei alto para ela me escutar. – Alguma sugestão?
- Muitas opções. – Ela sorriu feliz com a afirmação, eu apenas fingi que acreditava nela. – Temos um café no fim dessa estrada, é a estrada principal, à direita, costuma lotar esse horário, é claro que eu vivo dizendo para a proprietária, que não faz bem para a imagem de uma mulher servir homens tão tarde. Bom, mas temos um restaurante muito bom a três quadras daqui à esquerda, servem cada comida caseira que você se espantaria...
- E o que mais? – Me senti obrigado a perguntar, vendo que ela não terminava logo.
- Às seis horas da noite? O que mais você esperava? – Ela me perguntou, rindo. Evitei discutir com ela, por ela ser idosa e não parecer estar sendo irônica, mas azararia uma pessoa que me dissesse que seis horas da tarde, já é de noite, ou então, que duas opções são muitas opções. – E então?
- Fico com o restaurante, estou precisando comer alguma coisa, andar um pouco, esticar as pernas...
Aquela velhinha devia estar brincando quando chamou aqueles vários quilômetros de quadras. Depois de quarenta minutos andando, estava quase desistindo do meu disfarce, a varinha no bolso interno da blusa estava implorando para ser usada, minhas pernas exigiam um descanso e meu estômago pedia por comida. Mas eu me mantive discreto, alguém poderia estar observando, um trouxa continuaria em sua caminhada solitária, e não desapareceria em um lugar e apareceria em outro, disso eu sabia.
A comida realmente era boa, não tão boa como a de Hogwarts, mas mesmo assim, melhor do que muitas que eu já provara. E eu me mantive discreto, agora saciado, de barriga cheia, voltando para o hotel na caminhada solitária. O silencio foi quebrado por dois trouxas que riam e cambaleavam pela rua de pedras.
- Você devia desistir dela. – O que aparentava estar mais sóbrio dizia.
- Mas ela é wink muito per-wink-feita.- O outro respondeu soluçando.
- Ela não quer nada com você, isso sim. – O “soluçante” deu de ombros. - Fique sonhando com isso então...
- Eu vou so-wink-nhar! – Ele afirmou antes de tropeçar nos próprios pés e cair de cara no chão.
Continuei andando normalmente, até chegar na pousada. Fui recebido pela mesma velhota entusiasmada, desejei uma boa noite e subi para o meu quarto. Estava tudo do jeito que eu deixei antes de sair, a mala aberta no chão, ao lado da cama, o envelope oficial junto com a caixa, na única mesa do quarto. Joguei-me no colchão sem me preocupar com a minha roupa, e logo o sono chegou.
- Mas que barulho é esse? – Perguntei retoricamente, já que eu era o único no quarto. Esperei que o trouxa responsável por aquele som repetitivo e irritante percebesse que eu queria dormir... O som cessou, esperei alguns segundos para garantir que não se repetiria e voltei a afundar o rosto no travesseiro. Quando aquele barulho me trouxe a consciência mais uma vez. – Merlin, eu não mereço isso! – O relógio na mesa de canto do quarto mostrava: – Cinco horas da manha? Eu definitivamente não mereço isso! – mais uma vez o barulho cessou e recomeçou – É isso, estou numa cidade de loucos!
Aproveitei para tomar um banho desnecessariamente longo. Coloquei uma calça e camisa trouxa, deixei os cabelos, agora morenos, molhados. Vesti os óculos e o relógio de pulso. Garanti que o envelope estivesse no bolso da calça, antes de fechar a porta do quarto e ir para o saguão.
- Bom dia, Jack, acordou cedo, hein?! – A velhinha falou comigo? Ah, sim, Jack. Jack Daniel’s, meu novo nome, meu novo eu. – O café está quase pronto! – Café? Aquela bebida escura, quente e amarga? Só trouxas para tomarem essas coisas logo de manha!
- Obrigada. – Foram necessárias três escovadas de dente para tirar aquele gosto de água suja da minha boca.
A rua era mais pacata ainda vista de dia. As pessoas andando de um lado para o outro despreocupadamente.
- ‘Dia. – um homem barrigudo cumprimentou quando sai da pousada. Apenas acenei para ele, educadamente, quando uma idéia surgiu:
- Amigo você pode me informar onde encontro um café da manha bem reforçado? – o homem me olhou com desconfiança, mas passados alguns segundos apontou para a direita da rua. – Onde?
- Na Granger’s oras, onde mais?
- Obrigado. - Granger’s? Um nome comum para trouxas? Porque apenas a imagem de uma família passou pela minha cabeça...
N/A: Scorpius está em uma missão onde trabalha disfarçado, então ele está com uma outra aparência e ganhou um novo nome.
Scorpius Malfoy : loiro, lindo, maravilhoso, olhos tão azuis que parecem cinzas, forte alto, enfim...
É agora Jack Daniel’s: moreno, estranho, meio baixinho e magricela...
- Impossível! – Foi tudo o que consegui dizer quando a vi pela janela da lanchonete. – Mas ela não deveria estar aqui! – Ela havia voltado da Albânia, e estava mais bonita do que eu me lembrava. Roubava sozinha, toda a atenção masculina do lugar. Usava um salto alto enquanto servia os clientes, suas pernas estavam à mostra, por conta do vestido florido e curto que ela usava. Como se não bastasse às pernas descobertas, o braço, as costas e o colo do peito estavam bem visíveis pelo fato do vestido ser de alça. Os cabelos soltos, com cachos na ponta, uma maquiagem simples no rosto chamativo.
- Mas graças a Deus que ela está aqui, não é mesmo? – O grandalhão da noite passada falou segurando a porta. – E ai turista, vai entrar? – Ele perguntou, agora sem soluçar.
Nenhuma resposta surgiu na minha mente, o que era surpreendente, pois sempre tinha uma preparada na ponta da língua. Decidi obedecer minhas pernas que me levaram na direção dela. Sentei no primeiro banco que encontrei no balcão alto de frente para ela. E pude ver o modo como ela sorria para todos. Só mesmo uma mestiça para sorrir enquanto servia a trouxas! Mas logo esse sentimento sumiu, e percebi que eu sorria para ela, que nem uma criança abobalhada que ganhou sua primeira vassoura.
Como ela conseguia isso? Sorrir com todos os dentes e mostrar covinhas na bochecha ao mesmo tempo? Era impressionante vê-la atender a todos os fregueses com a mesma intensidade de alegria e satisfação. E ela estava radiante, o vestido colado no corpo mostrava todas as suas curvas. E que curvas! E só havia a perfeição ao olhar para ela, como o tempo havia sido justo com aquela ruiva. À vontade de tomá-la nos braços surgiu tão rápido como meu sorriso estúpido, que insistia em ficar ali, no meu rosto modificado por magia.
E eu precisei lembrar inúmeras vezes, que ela era uma mulher casada. Merlin, eu precisava aceitar os fatos de uma vez por todas, ou não concluiria aquela missão... E no momento o meu pai era o mais importante. Precisava ser mais importante!
- E quando o Sebastian volta? – O grandalhão estava apoiado no balcão para falar com ela. Ele lhe agarrou o braço, enquanto ela se soltou gentilmente, antes se quer que eu pudesse piscar.
- Semana que vem eu vou me encontrar com ele. – Ela falou radiante enquanto servia uma xícara de café para o homem. Ainda sorrindo, ela olhou para mim. – E você forasteiro?
- Jack Daniel’s – Eu a corrigi educadamente.
- A essa hora do dia? – Ela perguntou, me deixando confuso. Colocou um copo minúsculo em cima do balcão enchendo-o com um liquido âmbar.
- O que é isso? – Perguntei encarando o copo.
- Você me pediu um Jack Daniel’s – Ela me olhou, juntando as sobrancelhas. – E foi isso que eu te servi... – Ergueu a garrafa enquanto falava. Ótimo, meu novo nome é nome de bebida trouxa!
- Um mal entendido. – Estendi minha mão para ela. – Prazer, me chamo Jack Daniel’s. – E uma sensação estranha percorreu meu corpo quando ela aceitou minha mão na sua. – Desculpe por isso...
- Não foi nada. – Ela respondeu confusa. – Rose Granger.
- Rose Granger? – Onde estava o Weasley? – Nome pequeno o seu!
- Como se Jack Daniel’s estivesse de bom tamanho, forasteiro! – Ela falou desconfortavelmente. – Você não parece ter dormido bem... Não gostou da hospedagem da senhora Sun?
- Ah, sim... A cama era maravilhosa, mas os gritos dos trouxas às cinco horas da matina... Não foi fácil de agüentar!
- Trouxas? – O grandalhão ao meu lado perguntou.
- Não gostou do barulho dos galos? – Ela falou enquanto deixava uma xícara com café na minha frente, suas mãos tremendo, e foi atender as outras pessoas.
Bebi aquele café lentamente, fingindo apreciar o gosto daquele liquido negro, e a observei enquanto fazia isso, o que parecia ter sido por poucos minutos. O lugar foi se esvaziando lentamente, e quando por fim restavam apenas nós dois, ela puxou um banco do seu lado do balcão e sentou de frente para mim.
- O que você quer? – Ela perguntou de forma direta, seu sorriso se esvaziando de seu rosto. – Quem te mandou aqui?
- E porque acha que alguém me mandou? Só estou tomando café... – Mostrei a xícara para ela e beberiquei o líquido, agora gelado, como se o estivesse degustando.
- Você não veio aqui tomar o meu café! – Ela falou tirando a xícara de minhas mãos. – O café da senhora Sun é o melhor da cidade... – Ela parou de falar, como se pensasse em como prosseguir. – Ao menos que o senhor tenha se viciado no meu café... Não acredito que apreciaria uma única xícara por quatro horas!
- Apenas gostei do ambiente. – Tentei me justificar.
- O que você faz da vida? – Ela me perguntou, tentando ficar calma. – Além de tomar o mesmo café por quatro horas?
- Estou de passagem. – Falei enquanto pegava a minha xícara de suas mãos. – Vim visitar os sítios quiogicos... - Beberiquei na xícara vazia, droga!
- Hum, os Sítios Arqueológicos? – Ela falou me servindo mais da bebida quente. – Sim, eles são uma maravilha de se olhar! – Falou pensativa, enquanto pegava um copo e o enchia de água para si. – Um ótimo lugar para ler... – Ela bebeu um pouco e olhou para o fundo do copo. – Sebastian adora ficar por lá...
- Sebastian? – Então era esse o nome do marido! – E vocês vão muito lá?
- É um lugar bem vazio quando não se está na temporada...
- Ah, certo! – Ela quis dizer o que eu entendi? – Essa lanchonete está bem vazia, não é mesmo? – Tentei mudar de assunto.
- Ainda são dez horas. – Jogando o conteúdo do seu copo na pia, completou. – Daqui a pouco, a coisa aperta!
- E o que você faz da vida? – O que uma bruxa como ela fazia perdida naquele lugar? Ela apontou para si. – O quer dizer com isso?
- Apenas o obvio, forasteiro. Sou uma garçonete... – Ela riu ao falar isso, como se nem ela acreditasse. – Mas se alguém te perguntar... Diga que sou a proprietária!
- Nesse fim de mundo? – Ela se levantou trazendo uma tabua e várias batatas para o balcão e começou a descascá-las antes de responder.
- Você não gostou da cidade? – Sua voz saiu indignada. – É um lugar calmo e tranqüilo... – Ela se levantou, arrastando com os pés o lixo para mais perto de si. – Um lugar onde ninguém te conhece... Perfeito para recomeçar! - Ela se levantou mais uma vez, enchendo uma panela com água e jogando as batatas descascadas dentro dela.
- Passa uma faca... – Prontamente ela me entregou o que eu pedira. Encarou-me por uma fração de segundos e voltou para o descascamento das batatas e eu fiz o mesmo. – Todos parecem te conhecer aqui... – Tentei voltar para a conversa.
- Você não entenderia!
- Tente-me.
- Você que pediu por isso, forasteiro! – Ela advertiu divertida. – É um lugar onde todos me conhecem pelo o que eu sou hoje, e não pela bagagem que trouxe comigo... Só sabem o que eu permiti que soubessem... Não existem cobranças, comparações... Nada!
- Você se tornou única? – Chutei.
- Isso ou quase isso...
Todas as batatas estavam descascadas dentro da panela, o que abria uma brecha para eu ir embora, era uma ótima oportunidade, precisava admitir, mas eu queria ficar ali... Ela se levantou levando as panelas para o fogo. Começou a arrastar com dificuldade um saco de arroz pelo chão, e eu não pensei duas vezes, na verdade eu nem pensei... Quando percebi já estava do outro lado do balcão carregando o saco até a pia. Ela sorriu como agradecimento, e isso me deixou feliz de uma forma que não achava possível.
- Sem comparações?
- Você nunca entenderia! – Ela respirou fundo, como se colocasse um ponto no fim de uma longa frase.
- Tente-me mais uma vez? – Desafiei.
- Você que pediu... – Rimos ao mesmo tempo em sincronia. - A vida que eu levava... Digamos que era uma cidade pequena? E qualquer passo na direção errada todos acabavam descobrindo...
- Certo, já passei por isso! – Tentei incentivá-la a continuar.
- Hum... A minha família... Como poderia descrevê-la? – Enquanto pensava, cortou varias laranjas ao meio automaticamente e começou a pressioná-las no espremedor manual, e lá estava eu mais uma vez, como um espelho, ajudando-a a espremer laranjas. – Poderia dizer que eram conhecidos na cidade?
- É uma forma de descrever... – Os Potter’s e Weasley’s conhecidos? Era mais fácil dizer...
- Famosos? – Ela chutou, fazendo meus olhos se arregalarem por ela ler meus pensamentos. – Sim... Famosos, ao modo deles...
- E você se cansou de ser “famosa”?
- Não! Eu nunca fui famosa! – Ela afirmou com convicção. – Popular talvez, mas famosa não! – Ela me fitou antes de continuar. – Mas as cobranças e comparações sempre existiam, e ao meu modo eu procurei me mostrar ao mundo, mostrar do que sou capaz sozinha...
- Se tornando uma garçonete? – Por um instante achei que a ofendera, porém, ela apenas deu uma gargalhada.
- Prefiro proprietária!
- Desculpe.
- Não por isso! – O sorriso exposto no rosto.
- E o que você fez de tão errado, para fugir assim do seu mundo? – O nosso mundo!
- Aos meus olhos nada! – Ela sorriu incomodada. – Aos olhos de papai é outra historia! – E eu pude ver ali, uma tristeza ao dizer aquilo. – Mas eu não poderia culpar terceiros, certo? Afinal de contas, o Sebastian não foi um erro! – Ela me olhou lá no fundo para eu entender que ela falava a verdade. – E eu tomaria as mesmas decisões se voltasse no tempo! - Então o marido era a razão de tudo isso?
- Você o ama? – Era tudo o que eu queria saber, e se a resposta fosse positiva, eu daria o fora dali!
- Mais do que a minha própria existência. – E eu fiquei. Lidaria com meus sentimentos mais tarde, porque naquele momento, sem qualquer explicação, eu precisava da presença dela. Algo me obrigava a ficar ali, enquanto trocávamos uma conversa civilizada. Quando percebi, eu já estava de avental ajudando a mexer panelas...
- Morar longe dos meus pais foi uma decisão difícil, mas eu precisava tentar!
- O Sebastian te pediu isso?
- Não... Claro que não! – Ela parou um pouco enquanto colocava mais panelas no fogo. – Acho que teria sido melhor para ele se tivessemos ficado, mas eu queria ser livre!
- E veio parar aqui? Isso eu não consigo entender!
- Meu primo Alvo teve um... Trabalho? Acho que poderia dizer isso! Ele teve que vir para cá e me convidou. – Ela respirou fundo medindo palavras. – Eu me senti livre aqui, e quando percebi, eu e Sebastian estávamos hospedados na senhora Sun, surgiu à oportunidade de abrir a lanchonete e acabamos ficando...
- E você não sente falta de andar por Londres? – Ela me encarou por alguns segundos.
- Acho que está faltando sal.
- Você não vai responder?
- A resposta seria demais para você dessa vez, forasteiro.
- Estou entendendo até agora, não estou?
- Eu já lhe contei que meus pais eram uma espécie de celebridade... Certo?
- Certo!
- E se o que eu fiz, trouxesse vergonha para o nome da família?
- Impossível! – A certinha, sabe tudo da Weasley fazer isso era mesmo impossível.
- Ai que está, não foi impossível. Meu pai ficou louco por eu ter feito algo errado. – Ela se virou de costas tentando não mostrar sua fragilidade. – Fiquei de castigo! Não podia sair nem para pegar o jornal na rua, só podia ficar em casa com o Sebastian. Mas aqui ninguém me conhece, e ninguém precisou saber do meu passado para me aceitar... Eu sou livre aqui!
- O Sebastian?
- Ele viveria na minha sombra, pagaria pelos meus erros. Você desejaria isso a alguém?
- Já vivi na sombra do meu pai e do meu avô, não é nada emocionante.
- Então você entende? Minha mãe nunca foi capaz de entender, embora ela seja inteligentíssima... Meu pai nem quis escutar... Pelo menos a Lílian me apoiou dessa vez!
- A Lílian sempre te apoiou!
- Sim, e como você sabe disso?
- Apenas chutei! – Tentei disfarçar.
- Certo! – Falou emburrada.
E de um minuto para o outro, o restaurante se encheu, e lá estava eu, servindo trouxas atrás de trouxas, com um sorriso grudado no rosto, que não podia conter.
***** CINCO DIAS DEPOIS *****
- Não sei como agüenta isso todos os dias, porque eu sou um morto-vivo! – Me joguei na cadeira quando meus braços cansaram de limpar o balcão. – Se mais algum trouxa entrar aqui eu caio fora!
- Então você é não agüenta nada... – Ela passava a vassoura pelo lugar como se flutuasse. – Ainda não são nem duas horas da tarde!
- E você vai limpar esse lugar até que horas? – Levantei e comecei a passar o pano pelas mesas que já estavam brilhando.
- Porque a pergunta?
- Imaginei que você poderia me mostrar à cidade... Já que eu fiquei te ajudando sem nenhuma recompensa! – Me encarando em silencio, começou a considerar a proposta.
- Só se me ajudar com a janta! – Ai estava, ela me conhecia, sabia que eu pularia fora mesmo que tivesse que sair pela janela. Ela esperava que eu negasse, e eu negaria... O que meu pai pensaria se me visse ajudando uma mestiça a servir trouxas?
- Com certeza! – me levantei de solavanco – Então, aonde vai me levar?
*
*
*
- Eu não vou entrar nessa coisa!
- É claro que vai – ela riu me gozando – Eu dirijo muito bem...
- Não sou fã dessas invenções trouxas... – entrei contrariado.
*
*
*
- Você vai ficar lendo? - Ela me olhou por detrás do livro.
- Você queria conhecer o sítio arqueológico...Aqui estamos! Aproveite!
- Já conheci – Tentei me justificar. – O que você está lendo? – Perguntei enquanto sentava ao seu lado, na sombra da árvore.
- Alice no País das Maravilhas...
- E quem é essa? - Ela revirou os olhos para mim
- Quem é você, afinal?
- Jack Daniel’s.
- Quem é você? – Ela perguntou fechando o livro e me encarando.
- Tudo isso por que não sei quem é Alice?
- Quem é você?
- Um auror...- Olhei para ela e me surpreendi quando ela revirou os olhos mais uma vez.
- Isso eu já sabia... Família de aurores se você não percebeu... Qual o seu nome de verdade? - Eu a fitei nervoso, não tinha coragem de admitir dizer quem era, quem eu sou. – Ah! É verdade, você não pode dizer...- Ela bateu com a mão na testa - Havia esquecido do juramento...
- É...O juramento – Nem havia me lembrado deste pequeno detalhe.
- Eu te conheço? – Ela perguntou curiosa. – Ou te conheci?
- Pergunte o que você quer saber... – Abri a brecha para ela.
- Hogwarts, Durmstrang ou Beauxbatons?
- Hogwarts, claro.
- Grifinória? – Ela perguntou feliz, não resisti em torcer o nariz como resposta. – Não faça assim! – Ela bateu com força no meu braço. – Eu fui da Grifinória! ... Corvinal?
- Não sou tão nobre...
- Lufa-Lufa?
- Sério mesmo que eu pareço ser da Lufa-Lufa? Da próxima vez vou pedir um disfarce um pouco mais normal!
- Ah...
- Acabaram as perguntas?
- Você era do meu ano?
- Sim, era. Até você se casar e se mudar para a Albânia. – Falei com raiva, toda raiva que acumulei até então por ela ter feito isso... E para o meu espanto ela começou a rir. Riu tanto que fiquei indignado com a situação.
- Depois de tudo o que eu te contei, forasteiro, você ainda acredita nessa palhaçada toda?
- Palhaçada?
- Eu já não disse que fiquei de castigo em casa?
- Depois de ter se casado e ido para a Academia da Albânia por ordem do seu marido.
- Ah, me lembre de elogiar o teatro da minha família depois... Eles merecem um prêmio!
- Você não estudou na Albânia? – Perguntei confuso.
- E não tenho uma aliança dourada no dedo... – Ela ergueu as mãos para mim e juntou as sobrancelhas como se tentasse entender a minha expressão.
*
Não me peça para explicar, porque foi mesmo inexplicável! Em um momento encarava suas mãos balançando no ar e no outro a estava beijando com vontade. Seu corpo estava deitado na grama, e eu praticamente em cima dela, não era de se espantar que não conseguia pensar em mais nada.
Lá estavam suas mãos que tremiam desesperadas se acalmarem quando vieram em direção às minhas. Desesperado, era assim que eu estava. Minhas mãos encontraram sua barriga, que acariciei com cuidado para não afastá-la de mim. Agi com cautela quando achei que estava passando dos limites, mas as mãos que invadiam dentro da minha camisa eram as dela. Mérlin, o porque ela está me empurrando?
- Eu... Eu...
- Você? – Perguntei sem fôlego.
- Eu não posso...
- Mas você disse que não era casada...
- Eu não sou, mas o Sebastian...
- Sebastian? Por que você não esquece um pouco ele e volta a me beijar?
- Por que você quer ficar comigo se não aceita ele? – Fiquei pasmo com sua pergunta. - Eu não faço essas coisas, mas se é para ficar com alguém precisa aceitar ele!
- Do que você está falando?
- Ele vem em primeiro lugar! – Ela me olhou desconfiada. - Entendi, entendi tudo, não precisa me explicar... Você não quer nada sério, é isso não é? Eu vou embora...
Ela se levantou decidida e não pude suportar vê-la partir. Levantei-me e corri os vários passos que nos separavam, assustado por vê-la chorar, seu rosto já estava vermelho, combinando com a cor de seus cabelos. Levantei seu rosto quando ela olhou para o chão e enxuguei a lágrima que caia.
- Rose, quem é Sebastian?
- Quem é? Quem é Sebastian? – Ela me olhou confusa. – Sebastian é o meu filho...
*
- Eu estou falando sério, Rose.
- E quem é que está brincando aqui?
- Você? Você tem um filho?
- Já não passamos por essa parte?
- Certo. – Eu estava perdido. – Preciso me sentar.
- Eu achei que você soubesse... – Ela falou nervosa. – Você pode ir embora agora, não precisa se desculpar! – Ela respirou fundo me encarando. - Eu não sei o seu nome nem sua aparência real, você pode ir, eu não vou te procurar!
- Eu acho melhor você ir, Weasley.
E ela foi, me deixou na grama sozinho. Rose tem um filho? Ela só pode estar brincando... Quando isso aconteceu? Ela não estava brincando? Não, ela não estava. Demorei um tempo para decidir o que deveria fazer. Queria entender por que sempre foi ela que mexeu comigo. Meu coração parou quando vi sua lanchonete fechada, as luzes apagadas e uma placa escrita à mão: Fui para Londres, não sei quando volto. Peguei minha varinha sem pensar duas vezes... Abri a porta. Subi as escadas que levavam para o segundo andar e lá estava ela, fazendo as malas para ir para casa.
- Você não vai embora.
- Eu vou se eu quiser ir.
- Você não vai antes de eu dizer que te amo e que aceito ele na nossa vida.
- Você o que?
- Eu aceito o fato de que você tem um filho...
- Não, antes disso.
- Você não vai embora!
- Você disse que me ama?
- Posso ter dito isso...
- Você falou da boca pra fora.
- Eu sempre te amei Rose Weasley. – Seus olhos vieram parar dentro dos meus, como se conferissem se minhas palavras eram verdadeiras.
- Seria estranho se eu dissesse que te amo também? Eu só te conheço há cinco dias.
- Você me conhece há mais tempo que isso.
- Eu não sei nem quem você é! – Ela falou sentando na cama...
- E isso importa? Já não conhece o suficiente?
- Eu sinto que te conheço a uma vida inteira. E sinceramente, eu só senti isso uma única vez na vida.
- Quer namorar comigo? Ficar comigo e parar de arrumar essa mala?
Não foi necessário uma resposta. O beijo que ela me deu tirava qualquer dúvida. E dessa vez não tentei me controlar. Minhas mãos tentavam se lembrar de seu corpo desesperadamente. Era como se eu não controlasse meus movimentos. Até que cai sobre ela e rimos da situação, ficando constrangido de mais para falar qualquer coisa. Um barulho estranho invadiu o quarto. Uma música que saia de dentro de sua bolsa. Era o tal celular que tocava e ela levantou correndo para atendê-lo.
- Amor? Aconteceu alguma coisa? – Amor? – E você viu mesmo um palhaço? E a vovó vai te levar no circo amanhã de novo? Não precisa ficar com medo disso, ela não foi cortada ao meio de verdade! – Quem foi cortada ao meio? – Sim, mas é um outro tipo de mágica, querido, é mágica trouxa. – Não acredito que trouxas tem mágicas! – Peça para a vovó dormir com você e assim que possível eu vou estar aí. Eu te amo mais. Também estou com saudades, amor. Boa noite.
Ela abriu um sorriso para mim e deixou claro o quanto estava feliz por conversar com o filho. Voltou a se sentar na cama, mas antes que eu pudesse sequer beijá-la meu bolso traseiro começou a vibrar. O envelope finalmente se abriu! Provavelmente acostumada com este tipo de situação ela não tentou ler o pergaminho que estava em minhas mãos.
- Você é a testemunha! - Confirmando minhas suspeitas...
- Eu? Testemunha de quem? – Ela arranca o papel da minha mão – Draco? Draco Malfoy? Ele está em Askaban?
- Sim... – ela nunca ajudaria o meu pai
- Vou fazer minhas malas – ela falou desesperada, juntando tudo o que havia no caminho e colocando na mala que havia deixado ao lado da cama mais cedo – acho que está tudo aqui. Podemos ir.
- Você vai ajudar um Malfoy? Sem nem questionar? – Não que eu quisesse que ela questionasse, mas era o que eu esperava.
- Ele precisa de mim!
- Mas ele é um Malfoy! – Por que eu estou lembrando isso à ela? É meu pai Merlin.
- Sim! Mas ele também é o... O...medibruxo do Sebastian. Eu tenho que ir Jack. Eu sei que tenho opção mas eu preciso ir. Ela tremia as mãos.
- Está com tudo? – Perguntei segurando suas mãos até que elas parassem. - Pegou sua varinha?
- Eu vou precisar dela? – não tive tempo de responder. Ela saiu correndo pelo closet tirando várias caixas de papelão do caminho.
- O que está procurando?
- Minha varinha
- E o que ela estaria fazendo nessas caixas velhas? – O galeão caiu – Há quanto tempo não pratica magia?
- 5 anos...
- Por que você...
- A gente pode conversar depois? Eu realmente preciso ver o Draco agora... Achei! Podemos ir.
N/A:
- Lumus!
Viram como eu fui boazinha? Esse capítulo era para ser dividido em tres, e era para a Barbara Aguiar Azevedo ler primeiro... (favor confirmar o seu MSN pra mim)!
E continuem mandando o MSN de voces, ok?
E-mail ou qualquer outro meio de comunicação eu não vou aceitar.
Beijos a TODOS!
- NOX!
Comentários (12)
Ah eu quero ler o proximo capitulo, a fic esta com nota 10, cada dia melhor *-------------* meu msn é [email protected] =D
2012-01-07lo. Eu quero! [email protected] Vlw.
2012-01-07