Os cinco passos

Capítulo 17: Os 5 passos...
 

Um mês havia se passado depois do que Scorpius escutara, e sempre que eu tentava conversar com ele, para explicar a verdade, ele me olhava com aquele rosto enojado e me deixava falando sozinha. Hoje não fora diferente, havia acordado mais cedo, era domingo e fiquei esperando por ele no Salão Comunal, quando o vi descer as escadas, algumas horas depois, corri em sua direção.

- Scorpius, por favor, escuta o que eu tenho pra te falar... – Ele continuou andando como se não me visse. – Por favor, eu preciso explicar, Scorp...

- Para você Weasley, é MALFOY! – Ele saiu em direção aos corredores, e eu o segui desesperada. – VOCÊ PODE PARAR DE ME PERSEGUIR, WEASLEY? – Ele apontou a varinha na minha cara ao falar isso. Eu não pude segurar a lágrima que se seguiu. – VAI CHORAR AGORA? – Ele gritava em plenos pulmões, cuspindo as palavras na minha cara, fazendo com que vários alunos olhassem pra gente, nos encarando assustados.

- Malfoy, por favor, eu preciso que você me escute... – Ao vê-lo me dar às costas e continuar andando, eu gritei da onde eu estava. – ÓTIMO, CONTINUE ANDANDO COMO SE VOCÊ NÃO QUISESSE SABER DE NADA!

Ele virou para trás e depois de dar uma gostosa gargalhada falou em som de deboche:

- Eu realmente não quero saber de nada, ainda não percebeu isso?

Tudo o que consegui fazer, foi dar um grito histérico de raiva, como uma garota mimada. E nem assim, ele voltou a me encarar. Voltei para o meu quarto em passos pesados, estava estressada, com os nervos a flor da pele, não queria ir para o Salão Principal, encarar meus primos, antes de me acalmar.

Tentei buscar uma desculpa lógica para o meu mau humor, então, caso alguém me perguntasse, eu diria que era TPM e tudo estaria resolvido! TPM? Não, péssima desculpa, minha TPM sempre era na segunda semana do mês, e não na primeira! Parei um pouco para raciocinar, sim, minha menstruação sempre foi na segunda semana do mês...

Não, devia ter alguma coisa errada, não é mesmo? Minha ultima menstruação não poderia ter sido em agosto... Estava entrando na primeira semana de outubro e ainda não tinha menstruado?

Sentei na cama e voltei a contar os dias nos dedos, minha testa começou a suar frio, tentava segurar algumas lágrimas, mas estava ficando difícil. Busquei pelo quarto, qualquer calendário que pudesse achar. Não, não e não. Tem alguma conta errada! Impossível, eu transei uma única vez na vida, e... Não é possível! Ele se preveniu, certo? Tentava me lembrar da resposta, mas o fato era que me recordava apenas de alguns flashes daquela noite, e isso não ajudava, fora o fato de estar à beira de um colapso nervoso a esse ponto.  

Desci as escadas do dormitório automaticamente, não prestei atenção aonde pisava, ainda fazendo contas e mais contas mentalmente. Irônico como meu corpo sentiu sua presença mais uma vez, pois se não fossem pelas borboletas agitadas no meu estomago, a presença dele não teria sido percebida, ao contrario do que os meus olhos pediam, segui em sua direção, mas não o encarei, era impossível fazer isso naquele momento.

 

Desci as escadas do dormitório, não saberia dizer se estava correndo ou apenas andando rápido. Malfoy fazia cerimônias para entrar de uma vez na sala, ainda segurava a porta, fechou a cara ao me ver, foi logo dizendo: “Não adianta chorar, Weasley, eu já falei que não quero...”, mas o que ele queria ou não eu não escutei, o resto da sua frase se perdeu pelo caminho. Aproveitei a estatua aberta atrás dele, e passei para o corredor.

Desci todas as escadas em formato de caracóis até chegar na porta da enfermaria, mas desisti de entrar. Subi novamente em direção ao salão principal, mas desisti novamente, descendo mais uma vez todas as escadas. A porta da enfermaria me encarava, e eu persistente, a encarava de volta.

Quase cai para trás com o susto, a porta veio na minha direção tão rápido, que bati com a cabeça na madeira maciça. Massageei a testa automaticamente, como se a dor fosse sumir com o movimento repetitivo.

“Vai entrar?” - uma voz estridente me perguntou, e por um momento achei que minha consciência havia ganhado uma nova voz. A garota, provavelmente uma aluna do primeiro ano, me olhava esperando por uma resposta. “Vai entrar, Weasley?” – Ela voltou a perguntar, ainda segurando a porta para mim. Mexi a cabeça em negação, pelo menos era essa a minha intenção, mas a irritação da garotinha me fez perceber que mexia minha cabeça em círculos. Por fim, ela fechou a porta e saiu apressada. A porta voltou a me encarar, e eu não deixei por menos, e a encarei de volta.

O que são horas, quando não se tem nada para fazer? Depois de subir e descer as escadas inúmeras vezes e encarar a porta de tempos em tempos, resolvi entrar, teria que fazer isso, eventualmente.

- Madame Pomfrey? – Minha garganta seca fez com que minha voz saísse arranhada. – Madame Pomfrey? – Tentei mais uma vez. O desespero apareceu, roubando todo o meu ar, quando a enfermeira apareceu atrás da outra porta.

- Qual o problema Weasley? – Ela me perguntou enquanto se aproximava.

- Problema? – Como ela poderia saber que eu estava com um problema?

- Ah, então você veio apenas me fazer uma visita? – Ela perguntou ironicamente, em puro tom de sarcasmo.

- Hum...

- E então? – Ela me encarou como se me examinasse com os olhos, algo que não foi agradável. – Eu não tenho o dia todo...

- Certo. – Encarei os meus pés, enquanto tentava descobrir como prosseguir. Ela se sentou na cadeira, atrás da escrivaninha, apontando a cadeira em sua frente, em um silencioso convite para que eu me sentasse, e assim eu fiz.– Madame Pomfrey...

- Sim?

- Até onde se estende o sigilo entre um medibruxo e um paciente?

- O sigilo só é quebrado em caso de doença grave, ou risco de morte do paciente. Se um aluno me pedir sigilo de informações eu serei obrigada a guardar, há menos que este seja menor de idade, o que não é o seu caso...

- Certo, eu quero sigilo! – Então chegou à hora de eu prosseguir, mas como eu faria isso?

- Você está ficando branca, Weasley.

- Não, não estou!

- Eu não fiz uma pergunta, eu estou afirmando... Você está ficando branca! – Ela se levantou da cadeira, assustada, vindo até onde eu estava...

 



*


 

 

- Mas que diabos? – Foi à primeira pergunta que eu fiz quando acordei, estava deitada em uma das macas da enfermaria, vestindo uma camisola extremamente constrangedora.

- Tomei a liberdade de fazer alguns exames enquanto você dormia...

- Exames?

- Procedimento normal. – Ela conjurou uma cadeira para o meu lado. – Acredito que você ainda queira sigilo?

- Sim, por favor.

- Você está grávida, Rose.

- Não, eu não estou não!

- Eu estou afirmando... – A voz de enterro dela me surpreendeu. Como ela sabia que papai me mataria? A voz de enterro, para Rose, a garota morta.

- Eu não acredito! – A negação é o primeiro passo. – Isso não pode estar acontecendo!

- Olhe você mesma. – Ela mostrou a poção verde para mim. – Se você não estivesse, a poção ficaria vermelha...

- É normal ficar tão verde assim? – Sem ar, onde estava o ar quando agente precisa respirar? Como se lesse meus pensamentos, um saco pardo apareceu na minha boca.

- Embora faça quarenta anos que eu não veja uma poção dessa, eu sinto dizer que é normal sim...

- Quarenta anos?

- Volte a respirar dentro do saco, sim?

- Mas isso é um absurdo! Eu não posso estar... Quero dizer, é impossível, não é justo que logo eu... – Segundo passo, é a fúria. – Não, a senhora, com todo respeito, mas a senhora está... Está louca! – Ela me olhou respirando fundo, poderia muito bem ter ganhado uma detenção por falar isso, mas devido aos últimos acontecimentos, ela apenas me olhou pesarosa...

- Weasley, quer que eu mande uma coruja para seu pai? Ou para a sua mãe?

- Claro que não, posso esperar um pouco mais, não posso? – Terceiro passo é a negociação.

- De jeito nenhum. – Madame Pomfrey tentou não se alterar, sem sucesso. – Weasley, você precisara tomar muitas poções para o bebê nascer bem e saudável, e por mais que não me agrade a idéia, se você quiser tirar... Terá que ser agora, no começo...

- Tirar? Mas isso seria maldade, seria matar... – Desespero seguido com o quarto passo, depressão.

- Hogwarts não permite garotas grávidas... – Ela tentava me explicar. - Você precisará escolher entre o seu futuro ou...

- Como assim?

- Quantas garotas grávidas você já viu aqui no castelo?

- Nenhuma.

- Isso porque não é permitido, e será uma expulsão na certa, para você e bem, para o pai da criança...

- Quais são minhas opções?

- Decidir primeiramente se você quer tirar a criança ou não.

- Sem tirar nada! – Apenas a idéia me causava arrepios.

- Enquanto estiver grávida, não poderá freqüentar o castelo. – Ela se ajeitou melhor na cadeira. - Você pode optar por cuidar da criança ou entregá-la para adoção.

- Não, sem adoção. – Eu disse pensativa. – Serei expulsa então... E cuidarei sozinha...

- Você precisa conversar com o suposto pai primeiro. – Ela disse me encarando. – Ele será expulso também...

- Ele não estuda aqui. – Menti, não sabia dizer porque estava encobertando ele. – Então sou... Sou só eu!

- Mas ele precisaria saber, mesmo porque, precisaria ajudá-la a criar... – Ela me olhou como se eu tivesse três anos, e eu não entendesse o certo e o errado. – Pelo menos ajudar com dinheiro, essas coisas...

- Não sei onde encontrá-lo. – Menti mais uma vez, estava tão nervosa, que me levantei da cama, vesti as minhas roupas apressadamente e segui em direção a porta. – Obrigada mesmo assim, mas tudo vai ficar bem! – Quinto e último passo: aceitação.






N/A: Desculpas a todos pela demora...

Em todo caso...

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