Maldades



7 – Maldades


 


            O dia de domingo tinha amanhecido quase tão fabuloso quanto o anterior. Cecil estava determinada a adiantar seus deveres já que tinha passado o dia inteiro com Sirius enquanto as meninas tinham ficado na biblioteca. Bom, pelo menos Lilian adiantou uma boa parte dos deveres, já Alice teve uma pequena distração...


            Ao anoitecer, Cecil já havia feito inúmeras redações em pergaminhos, mapas estrelares, pesquisado ingredientes de poções e seus diversos usos, e folheado varias paginas de seu livro Animais Fantásticos e Onde Habitam. Estava exausta, mas não ao ponto de não deixar de notar um estranho burburinho no Salão Principal na hora do jantar. Lilian murmurou algo como “quem será a vitima da vez de fofoca” e foram todas se deitar.


            Na manhã seguinte o mesmo barulho continuava a preencher o silencio do Salão Principal. Cecil notou que alguns alunos a olhavam rapidamente e viravam quando a viam olhar de volta. Outros apontavam discretamente.


- Deve ser a historia da aula de DCAT de novo. Alias, Bom Dia! – Lilian e Alice se aproximavam da mesa.


            A aula de Transfiguração estava ocorrendo normalmente, dessa vez McGonagall estava passando alguns pontos importantes de magia que certamente iriam cair nos NOM’s no final do ano.


- Ô Wendel, não tem como você fazer um feitiço pra passar tudo do quadro copiado no caderno da turma toda não? Iria adiantar um bocado! – disse um aluno impertinente da sonserina, e bem feio pelo que Cecil pode reparar.


- Ah cala essa boca, Flint! Porque sua mãe não faz um feitiço pra colocar seus dentes pra dentro da boca? Seu animal! – Lilian era certamente ácida em suas colocações.


- Vou tirar pontos de ambas casas se continuar essa troca de farpas dentro da minha aula. Flint, se coloque em seu lugar, e agora deverá copiar duas vezes o que está escrito no quadro. E senhorita Lilian, esperava mais decoro de uma monitora!


- Desculpe professora. – os dois se desculparam.


            Cecil não pode deixar de se abalar com o comentário, mas levou um tapinha nas costas de Alice e voltou sua atenção para suas tarefas na aula. Quando o sinal tocou, as meninas se dirigiram para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. O Prof. Smith pediu desculpas para Cecil em frente toda a turma e começou uma aula muito monótona sobre os Diabretes da Cornuália. As demais aulas do dia prosseguiram normalmente até a ultima, Trato das Criaturas Mágicas.


- Muito bem crianças, fiquem próximas e se aproximem dessa gaiola. Alguém reconhece esse animal?


- Esse é um Barrete Vermelho, professor.


- Muito bem senhorita Evans. Cinco pontos se souber mais informações sobre os Barretes Vermelhos.


- São criaturas que habitam antigos campos de batalha e se alimentam de sangue humano. Deve se ter muito cuidado com os mesmos, pois se não capturados matam quem estiver próximo à pancadas nas noites escuras. Podem ser repelidas por um bruxo competente com feitiços e azarações.


- Excelente! Muito bom! Cinco pontos para a Grifinória. Agora se separem em trios e comecem a praticar feitiços para repelir os Barretes. Dois alunos deverão tentar repeli-los e o outro deverá alimentá-lo com sangue. Claro que não encontrei sangue humano, vamos usar sangue bovino que os mantém vivos mas não muito fortes. Podem começar!


- Ah professor, se o senhor teve problemas para encontrar sangue humano deveria ter pedido para Cecil Wendel! Ela é uma ASSASSINA! – uma garota da Lufa-Lufa disse em alto e bom som para que a turma inteira escutasse. Todos tinham seus olhos em Cecil agora, que estava completamente em choque.


- Como, como é que é? – Cecil balbuciou.


- Isso mesmo. Todo mundo já sabe sua historinha querida. Você é uma psicopata assassina, Dumbledore enlouqueceu de vez te trazendo pra cá. – outra garota Lufa-Lufa retrucou.


- Isso não é verdade! Não é Cecil? – Lilian se colocou na frente da amiga.


            Mas a resposta ninguém nunca escutou. Cecil saiu correndo em disparada em direção à Floresta Proibida, se embrenhando cada vez mais fundo entre suas arvores negras e mais juntas quanto mais fundo a garota entrava na floresta. O professor só teve tempo de aplicar duas detenções as duas garotas e saiu atrás de Hagrid para que ele fosse procurar a menina na Floresta. A turma ficou por conta de Lilian e Remo, por serem monitores.


- Você vai pagar caro por isso garota! Não deveria ter falado assim com ela!


- E porque não? Ela devia estar em Azkaban e não em Hogwarts!


- Ora sua garota futriqueira... – Lilian partiu pra cima da menina, puxando seus cabelos e dando socos em todo pedaço de corpo da garota que podia alcançar.


- O que diabos está acontecendo aqui? Menos dez pontos pras duas casas! E você senhorita Evans, acho que este distintivo não te merece. Vou ter uma conversa com a Profª McGonagall. Turma dispensada! Já tivemos trabalho demais por hoje. Para a próxima aula, uma redação de 40 centímetros com tudo que acharem a respeito dos Barretes Vermelhos.


            Cecil continuava correndo muito e já estava com o rosto molhado de lagrimas, correu ate não sentir as pernas e a respiração começar a falhar, só parou quando tropeçou em um tronco mais alto que não havia percebido. Ficou no chão e juntou os braços continuando a chorar e a soluçar, mas dessa vez coberta de lama. Ficou naquela posição por muito tempo, até que começou a chover muito, pingos grossos caiam do céu e se espreitavam por entre as arvores coladas. A garota se levantou, estava muito suja e seu joelho direito ralado por causa da queda. Olhou em volta e viu que estava perdida. De repente viu um cavalo muito branco se aproximar, era um unicórnio adulto. Cecil não pode deixar de admirar a beleza do animal e a paz que ele trazia. Ele deixou que se aproximasse e ela o fez depois acariciando a crina do lindo e alvíssimo animal. Começaram a andar lado a lado ate que Cecil a viu. Seus mesmos cabelos negros, a pele branca, perfeita, bem cuidada, caminhando pela floresta, Cecil a seguiu e viu que a menina a havia levado até a orla do lago. Quando chegou na borda, virou para Cecil e lhe disse adeus, num sussurro. Depois entrou nas águas negras do lago e desapareceu. “Ó Julia, minha doce irmã”... Cecil não teve dúvidas: se despiu inteira e entrou no lago gelado. Seu corpo protestou com o frio e seu joelho ardeu como nunca. Completamente imersa, a menina continuou indo adiante e perdeu todo o ar de seu pulmão. Iria morrer. Como Julia. Estariam juntas e nada poderia separá-las novamente...


            Foi quando ele apareceu: um cachorrão negro arfando e conseguiu visualizar uma menina entrando nua no lago. Sirius se transformou em humano, despiu sua capa e entrou no lago. Trouxe Cecil até a borda e a colocou na terra molhada. Fez uma respiração boca a boca e uma massagem no peito mas ela continuava desacordada, mesmo respirando. Foi quando Sirius começou a vestir a menina que ele viu: as costas de Cecil eram todas marcadas por diversas cicatrizes, roxos, cortes e marcas de queimaduras.


- Ah bonequinha então era assim que te controlavam? – Sirius não pode deixar de chorar um pouco. – Tiago, preciso de ajuda, encontrei Cecil mas ela está desmaiada. – disse Sirius para um espelho.


            Logo, logo Tiago apareceu em forma de Cervo e levou Cecil em suas costas até a orla da floresta. Se transformou em humano de novo e os dois garotos levaram-na ate a ala hospitalar. Madame Pomfrey disse que levaria um tempo ate que se recuperasse. Era provável que Cecil ficasse na enfermaria por até cinco dias, mais se por acaso tivesse outra situação de estresse grave.


            Três dias se passaram e Cecil finalmente acordou. Lilian e Alice iam visitá-la todo dia e Lilian passou a aplicar detenções em todos que comentassem o “assassinato da Gêmea”. A sala de troféus estava tão cheia de alunos os limpando que Lilian teve que conjurar mais alguns para ter um numero suficiente de troféus para todos limparem por um bom tempo. No quinto dia, Cecil saiu da enfermaria. Era sábado mas as meninas foram logo para a biblioteca dar conta de toda a matéria que Cecil havia perdido. No caminho, porém, encontraram os Marotos. Cecil ficou vermelhíssima de raiva, ainda não acreditava que Sirius tivesse traído sua confiança.


- Eu te avisei. Te avisei para não contar para mais ninguém Sirius. Eu confiei em você. -  a garota já chorava, mas mantinha sua voz firme. – Era segredo, eu não acredito que você me traiu.


- Calma Cecil, você não pode se estressar.


- CALMA NADA! COMO VOCÊ SE ATREVE! SEU FOFOQUEIRO! QUE PESSOA HORRÍVEL VOCÊ É! EU DISSE QUE DEVERIA JURAR QUE NÃO CONTARIA PRA NINGUEM E VOCÊ JUROU! – de repente a voz de Cecil tornou-se assustadoramente baixa. – E eu disse que o amaldiçoaria. Pois bem, haverá um grande embate. Nenhum de vocês vai sobreviver. E nenhum de vocês irá ver seus filhos crescerem. Haverá uma grande traição, e você, Sirius, vai sofrer as piores conseqüências.


- Mas não fui eu! Não fui eu, eu juro!


- NÃO FAÇA MAIS JURAMENTOS! – Cecil desmaiou. Foi levada novamente para a ala hospitalar, onde passou o resto do final de semana se recuperando.


 

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