A verdade
Ao ver aqueles olhos, ela esfregou os seus para ver se tudo aquilo não se passava de um sonho. Ao abrí-los, se deparou com a mesma pessoa. Ele deu alguns passos para trás e se sentou em um banco de madeira que já caía aos pedaços. Olhou novamente para o garoto que a encarava de pé.
-Você. -Ela sussurrou fitando o chão. -Foi você.
-O que você faz aqui? -Ele perguntou.
Rose logo percebeu a falsidade em sua voz. É claro que ele já sabia o motivo de ela estar ali, ele fora o culpado.
-Deixe de mentir para si mesmo, Charlie Riddle. -Ela o lançou um olhar zangado.
-Do que você me chamou?
-De Charlie Riddle. Não me impressiono que você seja um Riddle, tem a mesma maldade em mente.
-Nunca me compare a um Riddle. -Ele falou a última palavra com desgosto.
-E por que não?
-Sou diferente.
-Claro. Havia me esquecido deste detalhe. Desculpe, você nunca será um lorde das trevas, já é um garoto maluco que morde as pessoas mudando seus destinos para sempre. Muito normal.
-Olha aqui, eu -Ele começou a protestar, mas sua feição logo se mudou como houvesse se lembrado de algo. -Foi você.
-O que fui eu?
-Você é a pessoa que eu transformei. Scorpius me falou. -Ele colocou as mãos sobre a cabeça e começou a andar em círculos.
-Sim. Foi você que mudou minha vida. Se não fosse por você, eu não estaria aqui e não teria que me preocupar em tomar poções todas as noites de lua cheia. Se não fosse por você eu seria uma garota normal, e não uma aberração.
-Realmente -Ele a olhou no fundo dos olhos. -, você acha que eu fiz isso te propósito?
-E qual seria o outro motivo?
-Você mesma sabe! -Ele começou a se irritar. -Quando se transforma, perde todos os sentidos e não sabe o que está fazendo! Já não aconteceu com você?
-Já... -Ela abaixou a cabeça para não olhar direto para aqueles lindos olhos. -Uma vez.
-Então, foi o que aconteceu naquela noite. Eu não fiz por mal. -Falou indo se sentar na beirada da cama.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Rose ficou de cabeça baixa e nas vezes que olhava para cima, jurou ver Charlie desviando o olhar.
-Charlie. -Ela interrompeu o silêncio.
-O quê?
-Olhe, me desculpe por ficar irritada com você, eu sei que não foi sua culpa.
-Tudo bem, mas querendo ou não ainda me sinto culpado por tudo isso.
-E eu sinto muito pelo seu avô. De verdade.
Ele a olhou no fundo dos olhos.
-Só me diga uma coisa. Como sabe de tudo isso?
-Não fique bravo. Mas na noite em que você contou tudo para Scorpius -Ela falou o nome em desgosto. -, Abus, Ben e eu ouvimos tudo.
-Mas como? Estávamos na sala da sonserina. E eram três da manhã. Como sabiam de tudo isso?
-Bem que eu gostaria de te contar. -Ela murmurou.
-Tudo bem, vou fingir que nada aconteceu. -Ele riu. -E sobre Scorpius, por favor, não fique brava com ele.
-Como não ficaria? -Ela levantou a voz quando Charlie mencionou aquele nome.
-Ele me contou tudo, desde o começo até o fim. Eu sei que ele é um pouco chato...
-Um pouco? -Ela o interrompeu. -Me desculpe, pode continuar.
-Ele só odeia o Potter, não se sinta mal, isso é com ele e com Albus.
-Mas eu me sinto ofendida, não posso ignorar meu primo.
-E também não pode ignorar Scorpius. Apenas não fique do lado de ninguém. Só não fiquei brava com o Scorpius, pode parecer que não, mas ele gosta muito de você.
Ela demorou, mas acabou concordando que falaria com ele no dia seguinte.
-Me conte um pouco sobre você. -Ela falou curiosa.
-Tudo bem. O que posso falar? Como já sabe, sou um Riddle, meu bisavô era tio de Voldemort. Ele morreu na noite em que o lorde das trevas matou o próprio pai. Meu avô era um bebê naquela época, e acabou sobrevivendo. Ele teve um filho, meu pai. Porém, acredito que meu pai não queria ter que criar uma criança, então me abandonou e fui morar com meu avô, que se matou quando eu tinha apenas quatro anos de idade. Depois disso fui morar com meu tio, com quem moro até hoje. Meu tio era um seguidor de Greyback. Isso explica muita coisa. Quando eu tinha cinco anos ele decidiu que me morder seria a melhor solução. E esta é a história da minha vida. -Ele encenou um sorriso.
-Eu sinto muito por tudo. -Ela bateu a mão na cabeça de leve. -Como fui te culpar?
-Tudo bem, todos me interpretam errado. -Ele falou olhando para fora da janela. -Já está escurecendo, acho melhor não ficarmos perto um do outro.
-É, podemos nos matar. -Ela riu.
Ele retribuiu o sorriso. Era um belo sorriso, o primeiro de verdade.
-Boa noite, espero.
-Boa noite. -Ela falou ainda sorrindo. E de repente, a pessoa que ela achava ser a mais ignorante, tornou-se a mais corajosa de todas.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!