Da visita a Hogsmeade
N/A: Hehe, esse foi o primeiro texto que eu escrevi quando senti vontade de escrever uma fic de HP, logo depois de terminar de ler a "Ordem da Fênix"! Podem reparar que não é citado nenhuma vez o nome da personagem feminina (a Lunare), porque quando eu escrevi ainda não sabia nada sobre ela! ^_^0 Agora que chegou a hora de essa cena vir à tona, apenas ajustei alguns trechos, preferi não interferir muito no original, no que minha musa me mandou! :) Vocês vão perceber um texto um tanto mais leve (nessa época eu não trabalhava muito o vocabulário), com mais diálogos e a Lunare mais descontraída, retomando a imagem que ela passa nos primeiros capítulos. Afinal, ela já não está se sentindo tão reprimida agora.
Então ele passou rápida e displicentemente pelo Salão Principal, parecendo ignorar a presença de todos que ali estavam, mas deixando a todos surpresos. Seus cabelos estavam presos em um curto rabo de cavalo, com uma mexa caindo sobre o olho esquerdo, uma calça jeans já um tanto desbotada, uma camiseta totalmente preta, sem detalhes, sobreposta por uma jaqueta também jeans... Sim, uma roupa de trouxa...
Sentiu os olhares queimando em suas costas e se sentiu extremamente tolo por andar daquele jeito à vista dos alunos. Mas, afinal, que era estranho em se fantasiar de trouxa? Poderia estar indo para algum lugar... Ora! Porque diabos ficava tentando explicar-se a si mesmo!? Os malditos pestinhas que pensassem o que quisessem, afinal, nunca pensavam nada que prestasse mesmo! A verdade é que quando via aquele olhar imperativo e desafiador, sua mente se rebelava contra as convenções, se rendia à ela. Era aquele o poder dela! Podia manipular-lhe com um olhar e um sorrisinho sem-vergonha! Maldita garota! Era isso que ela era, não passava de uma garota! Vinte e três?! Isso lhe parecia pouco visto à luz da razão, fora da luz de seu fogo... Então porque, diabos, continuava seguindo em passoas rápidos à sala dela?! Não, aquilo precisava acabar!
- Jeans legal!
Parou surpreso. Aquela carinha neutra de quem faz um comentário frívolo com um sorrisinho casual o pegara desprevenido. Ela já estava pronta, esperando-o sentada no corrimão da escadaria que descia do próprio quarto... E, bem, não era exatamente o que ele esperava de uma mulher... "Elas não deveriam ficar horas se arrumando e saírem atrasadas?"
- Sério, você ficou muito bem assim, de trouxa! Como eu te disse, acho as roupas deles bem mais funcionais e - ela pulou do corrimão, ficando em pé - ahn... valorizam mais o corpo...
A audácia dela era surpreendente. Aquela bota com solado plataforma a deixava bem mais alta e a calça justíssima marcava perfeitamente suas pernas grossas e suas...
- Certamente... - comentou gaguejando e olhando para o chão, tentando não parecer tolo. Embora toda aquela mística luxúria que a envolvia durante as noites não se mostrasse durante o dia, ainda assim ela lhe parecia sensual demais para passar desapercebida.
- Então... Podemos ir?
- Claro.
E no Três Vassouras...
- Olha só o que você me fez fazer... Quando poderia imaginar-me vestido assim?! Eu nunca... - iria continuar dizendo que nunca imaginara ser manipulado apenas com um olhar, mas lembrou-se de seus tempos de Comensal e parou de súbito, contorcendo o rosto.
- O que é? - Ela perguntava com um olhar preocupado, perscrutando a face de Snape.
- Nada.
- Nada. Odeio isso, sabia? Seu rosto me conta uma coisa pela metade e você finge que não há nada e espera que eu acredite mais nas suas palavras que em seu rosto... Pois saiba, Professor Snape, que eu conheço isso! Eu reparo nas expressões porque elas são mais sinceras que as palavras e me disseram que há muita dor, muita mesmo em algo que você se lembrou e... Olha, você sabe que não só pode, mas deve contar comigo! Pelo menos deveria saber. Por... Por favor... Você sabe que, bem, eu me importo muito com você...
Ele continuava encarando a mesa. "Talvez não se importasse mais se soubesse..." - falou num fio de voz, ao que ela simplesmente abaixou a cabeça e murmurou "Será que não sou a única com um segredo sombrio na escolinha feliz?". Ela, agora, emanava tristeza e derrota e, quando Snape ergueu os olhos para ela, percebeu que, talvez, vinte e três anos não fosse tão pouco. Talvez ela fosse mesmo uma mulher crescida.
- Nunca imaginei que você pudesse carregar algum segredo ou... Sei lá... Uma moça tão nova que me pareceu tão alegre nos últimos dias...
- Conhece o termo "máscaras sociais"? Não que eu não tenha estado feliz esses dias, foi ótimo poder contar com você, mas é claro que eu não saio por aí dizendo tudo! Sabe, a meu ver, a gente precisa se adaptar um pouco à sociedade e esquecer dos problemas enquanto for possível, do contrário, ficaríamos loucos! Eu sofro muito toda vez que começo a refletir sobre a minha vida particular, mas não posso deixar que tudo isso tome conta de mim... Acredite, por dois anos eu deixei e... bem, não foi nada legal... Passou quando, um dia, eu abri meus olhos e novamente vi que podia me reerguer. Claro que hoje as coisas são bem mais difíceis do que costumavam ser, mas eu tento manter a confiança na maior parte do tempo e é essa a chave: confiar, acreditar... Pois é, andei lendo sobre "verdade imaginativa"! - E terminou a frase com um meio sorriso que pareceu pular para o rosto do interlocutor.
- Você realmente tem grandes chances. Mas eu... Eu me viro como posso!
- Não seja pessimista! Você também não pode querer que tudo se resolva de uma vez... Satisfaça as coisas mais simples primeiro e quando perceber, terá chegado nas grandes e estará se sentindo forte o suficiente para encará-las de frente...
- Às vezes me parece que mesmo você ainda não chegou lá.
- Não nas coisas realmente grandes, mas creio que ultrapassei boas barreiras...
- As minhas são intransponíveis...
- Não existem barreiras intransponíveis... Lembre-se que você sempre terá a opção de morrer! - disse ela, dando um sorrisinho maroto.
- Morrer? Que tipo de garota faz uma piada dessas?! - Perguntou com um misto de sarcasmo e estranhamento.
- Do tipo que acha que nasceu em mundo errado. - falou colocando o braço perto dele, com a palma da mão virada para cima, deixando ver uma cicatriz bem em cima da veia principal.
Ele segurou o alvo punho observando espantado a marca da lâmina.
- Fiz muita coisa idiota na vida, Severus. - continuou, com a voz embargada - Muita coisa mesmo. Ainda faço.
- Nunca se está acima dos erros... Bom, mas pela sua cicatriz eu diria que você errou bem menos que eu...
- Os piores erros nunca cicatrizam. E você não vê as feridas sangrarem. Você pode escondê-los de todos, menos de si próprio...
Então ele pensou em suas próprias cicatrizes e seus motivos... Ganhara-as quando desobedecera Voldemort ou falhara com o Lorde. Realmente, o que mais doía era o arrependimento de alguma vez ter se ligado a ele e tudo o que havia feito. Essas coisas não deixaram cicatrizes físicas, mas feridas abertas na alma que sangravam ininterruptamente.
- Você conhece bastante da vida para uma garota de sua idade. - parou por um instante, deu um meio sorriso e continuou - Acho que deveria parar de chamar-lhe de garota.
Ela deu um sorriso leve que cresceu logo e terminou com um decidido "Vamos sair da fossa, OK?!"
- OK... Afinal, propus-me a mostrar-lhe Hogsmeade, não a refletirmos sobre o passado...
- Acredite, Severus, terei muito tempo para arrancar confissões de você!
Dizia ela parodiando um olhar de poder e malícia. Felizmente aquele não era o que ele vira em sua sala tantas vezes durante aquela semana. Aparentemente nesses momentos ela mal podia se controlar e acabava descontrolando quem quer que estivesse perto. Snape preferiu não pensar naquilo ou acabaria imaginando demais, como tinha se tornado praxe nos últimos dias... Talvez ela nem se desse conta de tudo o que provocava nele, nem tivesse intenção e todo aquela energia luxuriosa que sentia quase que se materializar nessas ocasiões, talvez fosse tudo coisa de sua cabeça...
- Quer... Quer beber alguma coisa? Um whisky de fogo, talvez?
- Eu não bebo nada que possa me fazer sair do juízo normal... Consigo ser bem obtusa sem beber nada!
- É, como alguém experiente com beberagens, posso dizer que sua atitude é sábia... Mas não me importaria em acompanhar-lhe.
Já passava das oito e meia da noite quando eles chegaram ao portão do vilarejo novamente. Era verão, mas na Inglaterra sempre fazia aquele friozinho agradável e ela ainda não se acostumara depois dos longos anos de estudo na região do Mediterrâneo... Esquecera novamente a blusa de frio.
- Que droga! Pensou alto, suspirando lamentosamente.
- Que houve?
- Nada não... - ela riu com singeleza. - Só que perdi a oportunidade de fazer algo que gosto muito e... Esquece, é uma coisa realmente estúpida!
- Vá, conte, de repente eu posso resolver o caso.
Ela riu novamente, corando, e prosseguiu: "É que, bem, quando você passa longos verões em um lugar insuportavelmente quente... Bem, pelo menos eu... Eu aproveito ao máximo quando faz frio porque você veste uma roupa quente e é como se... Sei lá, é como você estivesse sendo abraçada o tempo todo, é tão aconchegante... - Ela parou por um minuto antes de continuar - Bem, eu disse que era algo bobo...
- É... Bem... Nunca pensaria em algo tão... Simples...
- É simples, mas quando você só tem a si próprio, quando só você mesmo pode se consolar e ninguém mais te entende... Então só te resta apelar para o próprio abraço...
Ele parou, obviamente meditando enquanto a encarava incrédulo.
- Incrível como tudo está nas coisas mais simples. Nunca pensei nisso, nunca pensei em aproveitar o frio para me sentir aquecido... Não há mágica nisso, não é? Não há segredo algum...
- Não... - Suspirou. Havia uma amargura gritante em sua voz. - Mas também não é sempre que resolve... Quando a solidão é maior você acaba não a sanando só consigo mesmo, você parece que...
- Vai enlouquecer... Sei como é isso.
- Também já provou da própria poção? Pois é, você luta para ser o que é apesar de tudo, mas depois vê que não dá pra viver sozinho...
- Não exatamente isso... Sozinho não. Rodeado de pessoas hostis.
Ela sorriu e seus olhos brilharam. Um fraco "É" fugiu de seus lábios confirmando que ele resumira todo seu universo em poucas palavras.
- Então, bom, não estou sozinho nem em uma companhia hostil, acho que posso ceder isso para você. - Ele retirava devagar a pesada jaqueta, revelando braços fortes. Não musculosos, mas fortes e muito brancos, que ela não se conteve ao apreciar por alguns segundos, até que ele fez menção de colocar-lhe a blusa, num gesto cavalheiresco.
- Está quentinha... Obrigada.
Então ela tocou a mão que estava sobre eu ombro, segurando-a e ficando defronte a ele. Abaixando o olhar, notou a Marca. Imediatamente ele percebeu e, tapando-a com a outra mão, virou-se bruscamente.
- Você também... Como conseguiu se livrar dele?! Quero dizer, pelo jeito você se livrou, não é? Dumbledore saberia se você fosse um sincero Comensal...
- Porque a pergunta? - falou sem se virar, num tom gelado.
- Minha irmã... Ela também era... Mas quando, bem, quando eu consegui convencê-la a sair disso... Ele...
Ele já olhava-a de rosto abaixado e apressou-se em completar a frase evitando-a de descrever o que Voldemort fizera à sua irmã. Ele sabia o que era e sabia como ela devia se sentir. "Eu sei o que ele fez. Já vi isso."
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