Capitulo 2



CAPITULO II


 


 


 


 


 


Na pizzaria, localizada a um quarteirão da rua Rush, Gina Weasley procurava parecer simpática enquanto saía da cozinha com um prato de pizza à Chicago. Sua conta bancária estava vazia. Na verdade, sua vida estava vazia. Naquele momento, tudo o que tinha era o trabalho. Assim, sorria para os clientes e tentava manter-se feliz ao menos enquanto executava o serviço.


 


Colocou a forma na mesa e tirou uma mecha rebelde que lhe caíra nos olhos. Os cabelos ruivos, cortados à altura dos ombros, estavam presos atrás da cabeça por uma fivela comprida, colocada na vertical. Enquanto manuseava a pe­sada espátula de ferro para cortar a massa, sentia que os olhos dos clientes daquela mesa, todos com cerca de vinte anos, não a deixavam.


 


Gina tinha a sorte de possuir um corpo voluptuoso, que outras mulheres invejavam. Mas preferiria ser mais magra. Costumava usar camisetas largas, para esconder as curvas. Infelizmente, o avental amarrado na cintura acentuava as formas que ela preferia ocultar. Odiava o modo como os homens a fitavam. Mas isso acontecia com tanta frequência que ela chegara a desenvolver um meio de fingir ignorar o fato.


 


—  Serviço de primeira! — disse um dos clientes, com ad­miração, quando ela colocou-lhe um pedaço de pizza no prato.


 


—  Obrigada.


 


—  Que mais você faz assim tão bem? — ele perguntou com um sorriso travesso.


 


Ela deu a resposta de sempre:


 


—  Respiração boca-a-boca.


 


—  Pode me dar uma demonstração? — um dos rapazes indagou, os olhos brilhando.


 


—  Ah, mas primeiro você precisa estar sufocado. Façamos assim: empurro um pedaço inteiro de pizza por sua gar­ganta, você se afoga e lhe dou uma demonstração, certo?


 


Os jovens riram.


 


—Em vez disso, que tal nos trazer mais algumas cer­vejas? — sugeriu outro.


 


—Rapaz sensato — ela respondeu, afastando-se. Quando se dirigia ao bar, viu Sam, o gerente, conduzindo um casal idoso a uma mesa calma, de canto. O cliente usava um chapéu de tweed, enfeitado com uma pluma.Gina sorriu ao reconhecer o Sr. James e sua esposa, Lily. Gostava muito deles. Eram simpáticos e a tratavam bem.


 


Os olhos escuros do velho senhor revelavam energia, e os cabelos brancos lhe davam dignidade. Não muito alto, parecia ser aposentado. Mencionara, certa vez, ter sofrido um infarto. A esposa, da altura dele, tinha um corpo esbelto e elegante.


 


Gina o viu ajudá-la a tirar o sobretudo. Como sempre, Lilian vestia-se com bom gosto. Usava uma blusa branca e saia na altura dos tornozelos.


 


—Eu sirvo esta mesa, Sam —- disse Gina, aproximando-se.


 


—  Seria perfeito — respondeu o Sr. James, enquanto Lily dava um de seus sorrisos francos.


 


—  Está bem, então — concordou Sam, entregando-lhes os cardápios antes de se afastar. — Bom apetite.


 


—  Olá! Faz tempo que não os vejo! — Gina sorriu para o casal. — Foi o frio do inverno que os afastou daqui?


 


—  Na verdade, costumamos ficar em casa quando neva ou faz muito frio — respondeu Lily. — Mas James insistiu em comer fora esta noite.


 


Gina não sabia se James era o nome ou o sobrenome do simpático velhinho. A esposa sempre o tratava daquela maneira, e ele mesmo lhe pedira que o chamasse assim. Para ser educada, ela colocava a palavra "senhor" antes do nome. Algo que o homem parecia apreciar.


 


—  Estou realmente encantada em vê-los. Querem con­sultar o cardápio ou preferem o de sempre?


 


— Para mim, o de sempre, se o cozinheiro não se importar — respondeu James.


 


— Claro. — Gina anotou o pedido em sua comanda: sem mussarela, sem salsichas, sem pimenta, com tomates extra-frescos e cogumelos. — Para você a Chicago Especial, Lily?


 


— Sim. Traga também duas saladas e chá de ervas.


 


— Está bem.


 


— Você ainda pensa em abrir seu próprio café? — James quis saber.


 


Gina forçou um sorriso.


 


—Não. Essa idéia... Não existe mais.


 


Os olhos escuros do velho fixaram-se nos dela.


 


—Sinto muito por ter tocado num assunto tão infeliz. A garçonete riu.


 


— Não é preciso sentir nada. Minha vida inteira, atualmente, é um assunto infeliz.


 


— Oh, querida... E quanto aos planos do casamento?


 


— Também viraram fumaça.


 


Foi com surpresa que Gina viu um brilho nos olhos de James. Quase percebeu neles um traço de alegria.


 


— Tive a impressão, quando você nos contou seus projetos, de que essa situação não teria um desfecho exatamente animador — declarou ele, a voz cheia de simpatia. — Acaso seu jovem noivo tornou-se indigno de confiança?


 


— Esse é um termo leve para descrevê-lo. Quando estávamos prestes a montar o bar, ele sugeriu, para tornar mais fácil o setor financeiro, que abríssemos uma conta conjunta. Como estivéssemos noivos, concordei.


 


— Oh, não! — comentou o casal, em uníssono, adivinhan­do o que acontecera.


 


— Ingenuidade, não acham? Ontem fui ao banco para tirar dinheiro e me informaram que a conta fora encerrada. Por meu noivo. Que, por coincidência, desapareceu. Estou quebrada. Meu sonho de abrir o café acabou. Tenho que começar do zero outra vez.


 


—Por que confiou tanto nele? Estava apaixonada? Gina colocou o caderninho de pedidos sobre a mesa e sopesou as emoções, para verificar se conseguiria falar na­quilo sem que a voz falhasse.


 


— Ele parecia diferente dos outros. Eu estava acostumada com homens que se derretiam aos meus pés. No colegial, por exemplo, chegaram a grafitar meu nome na cantina.


 


— Oh!


 


Lily pareceu um pouco chocada, e James balançou a cabeça, em sinal de desagrado.


 


— Acreditem, nunca fui uma garota fácil ou vulgar. Depois da história do grafite, passei a usar roupas muito sérias. Minha auto-estima afundou. Meus planos de ir para a faculdade também. Pensei que houvesse aprendido a lição. O fato de um homem agir como um cavalheiro não significa que seja um deles. As vezes, só quer tirar vantagens da gente.


 


— Seu... ex-noivo... a tratava com respeito? — indagou Bea.


 


— Sim. —Gina deu um longo suspiro. — Foi o primeiro que nunca tentou ir além de um beijo. Até concordou em esperar que nos casássemos para... para... oh, vocês sabem. Esse era o meu teste em relação aos homens. Aquele que topasse aguardar até a noite de núpcias seria confiável. E ele foi o único que concordou com essa condição. Por isso me apaixonei. Descobri tarde demais que tudo o que o canalha queria eram as economias de toda a minha vida. Quinze mil dólares, que eu vinha guardando desde a adolescência, às vezes trabalhando em dois empregos para conseguir fazer a poupança.


 


— Mas isso é terrível! Há algum meio legal de você con­seguir de volta o que é seu? — quis saber Lily.


 


— Acredito que não. Afinal, concordei em abrir a conta com ele, que chegou a depositar alguma coisa também. Conseguimos até um empréstimo junto ao banco. Quando es­távamos prestes a assinar o contrato de compra de um pe­queno restaurante, num subúrbio, ele sumiu com o dinheiro.
Não tenho a menor ideia de onde está, nem possuo um centavo para contratar um detetive ou um advogado que possa localizá-lo. Tudo o que quero é esquecer este episódio.


 


— O que pretende fazer? — indagou James. Gina deu de ombros.


 


— Tentar a sorte na loteria. Quem sabe assim eu ganhe um milhão de dólares. Sabem, nunca mais vou confiar em ninguém. Quer dizer, em homem nenhum. — Sorriu para o velho. — A única exceção é você. Bem, preciso levar o pedido à cozinha. Volto mais tarde.


 


E apressou-se em meio às mesas, cada vez mais cheias. Quando passou pelo lugar onde se encontravam os rapazes que servira, um deles perguntou:


 


—Ei, docinho, e a cerveja?


 


Ela esquecera. Mas odiava ser chamada de "docinho".


 


— Oh, vocês queriam para hoje?


 


— Acha que pode consegui-la?


 


Gina foi até o bar e voltou com quatro garrafas. Depois seguiu para a cozinha. Usou seu charme e flertou um pouco com o pizzaiolo, para conseguir que o homem fizesse uma pizza especial, fora do cardápio, para James. Depois pre­parou dois pratos de salada temperada com limão, como o casal gostava, e levou até a mesa, juntamente com o chá.


 


— Estou tão aborrecida com o que lhe aconteceu... — disse Lily, com tristeza no olhar.


 


— Grata pela solidariedade. Não falei a quase ninguém sobre isso. Não tenho família e, se contasse o caso para meus colegas do restaurante, suponho que iriam rir de mim.


 


— Você mencionou ganhar na loteria, não foi? — ata­lhou James.


 


— Sim. Com a sorte que me acompanha atualmente, acho que tiraria a sorte grande — ela ironizou.


 


— Bem — continuou ele, dando-lhe um tapinha camarada na mão —, acho que posso ajudar sua sorte a mudar.


 


Gina o encarou com curiosidade.


 


—Como?


 


—Em primeiro lugar, deixe-me contar-lhe quem sou. Quando entrei aqui, meses atrás, disse que meu nome era James. Meu sobrenome é Potter. Soa familiar?


 


Gina refletiu por um momento.


 


— Conheço as Lojas Irmãos Potter, na avenida Michigan.


 


— Isso mesmo! Meu irmão e eu fundamos a empresa há quarenta anos. Meu filho Charles toca os negócios desde que me aposentei. Sou presidente-honorário agora. Mas, como cuido dos outros investimentos da família, não estou totalmente parado.


 


Vários pensamentos cruzaram a mente de Gina. Aquele homem fundara a Irmãos Potter? A loja tornara-se uma grande rede, com unidades em quase todos os bairros de Chicago. James Potter devia ser... inacreditavelmente rico.


 


Ela começou a se sentir pouco à vontade.


 


          —Sabe, nunca imaginei estar servindo a uma pessoa tão famosa — disse, com embaraço.


 


—Não seja tola, querida — censurou-a Lily. — Escovamos os dentes, penteamos o cabelo e comemos pizza como todo mun­do. Não se intimide. E continue a nos tratar por Lily e James.


 


Ela deu um riso nervoso.


 


— Está bem. Vou tentar.


 


— Minha esposa tem razão. Mas temo que você vá ficar um tanto surpresa com o que vou lhe propor. Não quer se sentar um pouco? — James indicou a cadeira vazia ao lado de Bea.


 


— Não posso. O gerente não aprovaria. E tenho que servir outras mesas...


 


— Eles podem esperar. Estou em condições de ajudá-la.


 


— Emprestando dinheiro? Obrigada, mas não poderei pagar.


 


— Oh, não. Tenho um negócio a propor. Vai lhe render um milhão de dólares, se concordar.


 


— Um milhão de dólares? — Atónita, Gina sentou-se. — Que tipo de negócio?


 


— Eu lhe darei um milhão de dólares em troca de um casamento de conveniência com meu filho.


 


— Casamento de conveniência? — ela repetiu, insegura quanto a ter entendido direito. — Com o filho que toma conta da loja?


 


— Não. Com Harry, um meteorologista.


 


— Um homem do tempo? Como os que aparecem na televisão?


 


— Não. Um cientista. Dá aulas na universidade de Wisconsin e faz pesquisas sobre a atmosfera terrestre.


 


Gina assentiu lentamente, sentindo-se confusa.


 


E a que se deve esse casamento de conveniência? James coçou o queixo.


 


—É que eu fiz algo que talvez não devesse ter feito. Ao menos Lilian acha isso. — Fez uma pausa e sorriu para a esposa. — Inseri uma nova cláusula em meu testamento, estabelecendo que nossos filhos precisam estar casados por no mínimo um ano, e com a mesma pessoa, para ter direito à herança. Talvez minha saúde precária... — Interrompeu-se, lançando a Lily um olhar de reconhecimento. — Bem, o desejo de ter netos me levou a tomar essa medida drástica. Talvez eu esteja enganado, mas gostaria de testá-la antes de modificar de novo o testamento.


 


Nada daquilo fazia muito sentido a Gina , que no entanto continuou ouvindo:


 


— Nosso filho Harry reclama que é muito ocupado para sair por aí, procurando uma esposa. Acredito que possa ajudá-lo, mediante um pacto entre você, ele e eu.


 


— Um pacto? —Gina repetiu, quase sem fôlego.


 


— Exatamente. É muito simples. Sou dono de uma ilha em Puget Sound.


 


— Onde fica isso?


 


— Na Costa Oeste, perto de Seattle, Washington. Há uma casa lá. Um pouco rústica, mas charmosa. Planejo enviar meu filho à ilha, para fazer pesquisas, durante um ano. Também pretendo que ele passe esse ano casado. Se concordar em ser esposa de Harry por um ano inteiro, eu lhe darei um milhão de dólares. No final desse período, se você quiser se separar de meu filho terá o divórcio. E o dinheiro, claro.


 


Gina arregalou os olhos.


 


— E seu filho vai concordar com essa ideia?


 


— Espero que veja nisso uma maneira de respeitar o que estabeleci no testamento. Terá a oportunidade de conhecer o casamento e, mesmo que não dê certo, herdará sua parte da fortuna.


 


— Parece um pouco maluco... — comentou ela. Realmente, os ricos costumavam fazer as coisas de um modo diferente.


 


— Entendo por que disse isso — interveio Lily. — E concordo com sua opinião, se quer saber. Mas James é tei­moso, e insiste nessa história.


 


Gina sentiu-se aliviada ao saber que a mulher concor­dava com ela.


 


—Acha que seu filho vai topar?


 


James deu de ombros.


 


— Não sei. Ainda não conversei com ele sobre isso. Pri­meiro gostaria de saber se você está de acordo. Imagino que, a princípio, Harry vá ter essa mesma reação... a de achar a idéia maluca. Mas foi ele que me disse que, se eu quisesse vê-lo casado, que lhe arranjasse uma esposa. Por isso, creio que não deve ficar muito surpreso. Mas talvez passar um ano na ilha o aborreça.


 


A palavra esposa chamou a atenção de Gina.


 


— Um casamento de conveniência é igual a um casamento normal? Quero dizer, o marido e a esposa... bem, eles...


 


— Se está se referindo ao aspecto conjugal, minha cara, saiba que isso está fora da minha alçada.


 


—Ainda bem! — murmurou Lily.


 


James ignorou o comentário irónico.


 


—O que vocês dois decidirem fazer quando estiverem juntos não é problema meu.


 


Um novo pensamento invadiu a mente de Gina. Algo que talvez explicasse toda aquela história.


 


—Acaso Harry é... quer dizer... homossexual?


 


James balançou a cabeça, em negativa.


 


—  Não. Simplesmente está tão interessado em seu trabalho que esquece o resto. É um cientista dedicado, mais preocupado em salvar o planeta do que em seduzir mulheres.


 


—  Bem, mas se eu me casar com ele e nada acontecer entre nós, então você não terá o neto que tanto deseja.


 


James pareceu ficar um pouco decepcionado.


 


—Sim, é verdade. Mas ao menos meu filho vai ter a experiência de viver com uma mulher, e poderá fazer jus à sua parte na herança. A despeito de minha exigência, quero que meus filhos herdem a fortuna da família. No momento, Harry nem sequer pensa na possibilidade do casamento, e quero que ele viva esse processo, mesmo que seja apenas no papel. Será enriquecedor. E, para você, será um meio de conseguir o di­nheiro de que precisa para recomeçar a vida.


 


Gina teve de admitir que a última frase soava muitíssimo sedutora. Mas aquela era uma proposta despropositada de­mais para ser levada a sério. Casar-se com alguém que nunca vira? Viver no que parecia uma ilha deserta com essa pessoa? Por um ano inteiro?


 


—É uma ideia interessante — respondeu, balançando a cabeça devagar. — Obrigada pela oferta, mas...


 


James levantou o indicador.


 


—Não dê sua resposta ainda, por favor. Precisa de um tempo para pensar. Não tome nenhuma decisão esta noite. Reflita. Faça perguntas, se quiser. Vou dar-lhe meu número de telefone. Pode me ligar sempre que quiser. Para mim, isso é muito importante. Sou um homem velho. Leve minha proposta a sério. Lembre-se de que sua conta bancária, daqui a um ano, pode ter um milhão de dólares. Você abrirá o tal café sem problemas. E será sua própria patroa.


 


Bem, ele sabia ser persuasivo. Usara as palavras certas para manter uma oferta que ela quase recusara. Na verdade, o que Gina queria era exatamente isso: ser uma mulher in­dependente, bem-sucedida nos negócios, sem homens por perto para virar de novo seu mundo pelo avesso. Um milhão de dólares, na certa, resolveria suas dificuldades para sempre.


 


Mas primeiro teria de viver um ano com Harry. E era esse o xis da questão.


 


—O que acha que seu filho esperará de mim, enquanto estivermos na ilha?


 


—Provavelmente que você não o aborreça muito — res­pondeu James.


 


Parecia o ideal, concluiu Gina. Caso se tratasse de um casamento platónico, então talvez não fosse tão ruim.


 


Naquele momento, o gerente da pizzaria deu-lhe um olhar de advertência. Ela se levantou de imediato.


 


—Preciso trabalhar. Voltarei quando a pizza estiver pronta.


 


—Tudo bem — respondeu James. — Não há pressa.


 


Gina parou à mesa dos rapazes e começou a retirar os pratos, distraída.


 


—Sobremesa?


 


—  O que há para comer? — um deles indagou num tom sugestivo. A cerveja os deixara mais relaxados.


 


— Torta na cara de pessoas impertinentes — ela respondeu, aborrecida. Estava preocupada demais para relevar aquele tipo de brincadeira.


 


— Que rabugenta! — exclamou outro jovem.


 


O gerente, que parecia ter visto toda a cena, aproximou-se.


 


— Algum problema?


 


— Eles querem, como sobremesa, pratos que não constam do cardápio — ela explicou, tentando fazer a voz soar bem-humorada.


 


— O que vocês querem? Torta de limão? De maçã?


 


— Nada, obrigado — respondeu um deles, pegando a carteira. — Vamos a algum outro lugar, onde o ambiente seja mais cordial.


 


Furiosa, Gina se afastou a passos largos, levando os pratos sujos. Depositou-os na cozinha e voltou para falar com Sam.


 


— O que você disse aos rapazes? — quis saber o gerente.


 


— Que havia torta na cara para os impertinentes. Eles pareciam achar que eu poderia servir de sobremesa...


 


— Você pode lidar com gente assim sem ser rude.


 


— Eles foram rudes comigo. Talvez eu esteja farta desse tipo de piadinha.


 


— Não tem senso de humor?


 


— Quando uma mulher é insultada e não gosta disso, por que os homens dizem que lhes falta senso de humor? Acha que é agradável ser tratada como coisa, não como pessoa?


 


— Daqui a pouco você vai querer me dar lições sobre o relacionamento entre os sexos — disse Sam, irritado. — Se não pode lidar com homens que beberam algumas cervejas, então deve mudar de profissão. Entendeu o recado?


 


— Sim.


 


Outro casal entrava e acomodava-se a uma mesa que Gina servia. Enquanto caminhava naquela direção, para anotar os pedidos, ela relanceou o olhar para a porta da frente, que acidentalmente fora deixada aberta. Dirigiu-se até lá, para fechá-la. Assim que o fez, percebeu alguma coisa se movendo na neve, junto à calçada.


 


—Ei, gatinha!


 


Era uma filhote já meio crescidinha, marrom, que vinha rodeando a pizzaria na última semana, à procura de comida. Gina e outra garçonete a alimentavam nos fundos do esta­belecimento. Quando a bichana a avistou, pulou para perto dela e atravessou a soleira. Gina foi atrás. De acordo com a lei, não era permitida a presença de animais em restaurantes.


 


Pegou o animalzinho no colo, abraçou-o de maneira pro-tetora e atravessou rapidamente a pizzaria, rumo à cozinha. James e Bea sorriram ao vê-la. Infelizmente, Sam também a viu. Olhou para o felino com ar desgostoso.


 


— Já lhe disse para não aparecer mais com essa gata por aqui! O que ela está fazendo aqui dentro?


 


— Correu para dentro do salão antes que eu pudesse detê-la. Está faminta.


 


— Garota, sei que você trabalha aqui há três anos, mas não pode quebrar as regras. Não deve sentar-se com os clientes, ser rude com eles ou proteger um gato faminto. Se continuar assim, vou ter de demiti-la.


 


Com lágrimas nos olhos, Gina correu para a cozinha, colocou a gatinha para fora e procurou um prato limpo. Pôs nele pedacinhos de queijo, de hambúrguer cozido e sobras de pizza. Depôs tudo diante da bichana de olhos verdes, que avançou para a comida.


 


Gina sentia um afeto verdadeiro pelo animalzinho. Ela e a gata estavam na mesma situação naquele momento, inseguras quanto ao futuro, sem amigos, sem ninguém com quem contar.


 


A cada segundo o milhão de dólares que James lhe ofe­recera parecia mais e mais interessante. No entanto, ela sabia que não devia tomar nenhuma decisão precipitada. Era melhor seguir o conselho do simpático velhinho e refletir melhor sobre o assunto. Assim, endireitou-se, lavou as mãos e voltou ao trabalho.


 


Pouco depois, levava a pizza dos Potter para a mesa. Bea pareceu estudar-lhe a expressão, como se lhe tivesse notado as preocupações.


 


— Tudo bem com você?


 


— Oh, sim. Apenas um dia rotineiro, como todos os outros. Francamente, a sugestão de James, nesse instante, me pa­rece maravilhosa.


 


Os olhos dele acenderam-se.


 


—  Acha mesmo?


 


—  Mas antes vou pensar nisso, como você disse.


 


            Ele sorriu.


 


— Claro, claro. Mas fico feliz em saber que você vai con­siderar a proposta.


 


— Posso lhe fazer uma pergunta? Por que escolheu a mim? Nâo fui educada do modo como ele deve ter sido. Sou apenas uma garçonete.


 


            James inclinou-se para ela.


 


—Minha cara, você é maravilhosa. Sempre me deu atenção, mesmo sem saber quem eu era. É honesta, sincera. E quer vencer com seus próprios esforços. Admiro sua digni­dade. Infelizmente, está passando por um momento difícil.
Mas tem muita energia. Não conheço nenhuma outra jovem que possa ser uma esposa à altura de meu filho.


 


Lágrimas encheram os olhos de Gina. Os comentários de James eram reconfortantes, em especial quando compa­rados com as coisas que Sam e outros clientes haviam lhe dito naquela noite. Ela piscou, para espantar o choro.


 


—Como Harry é?


 


James relaxou e sorriu.


 


—  Deixe-me ver... Tem cabelos pretos. É mais alto que eu. Bem, todos os meus filhos são. Usa óculos com frequên­cia. Sempre foi do tipo estudioso.


 


—  Tem alguma foto dele? — pediu Gina.


 


Se ia considerar o fato de viver com um estranho por um ano, era importante saber como ele era. Lily pegou a bolsa.


 


—  Eu tenho. Espere um pouco. — Abriu o zíper e pouco depois apanhava um pequeno álbum. Virando as páginas, estendeu-o a Gina — Esta foi batida quando ele completou vinte e cinco anos. Agora, tem vinte e nove. Quando anos tem você?


 


—  Vinte e três.


 


Enquanto Lily comentava que seis anos de diferença não era muito tempo, Gina estudava a foto. Não podia dizer que Harry era feio. Não gostava daqueles cabelos curtos, mas os óculos davam-lhe uma aparência charmosa, séria, intelectual. Era muito mais atraente do que os homens com quem ela costumava lidar, na pizzaria. E parecia bem mais digno que seu ex-noivo. Mordeu o lábio ao entregar o álbum para Lily.


 


—Ele é bonito.


 


Os olhos da mulher brilharam, orgulhosos.


 


—Harry é um homem especial. Tão inteligente que se tornou doutor aos vinte anos. Quer salvar o mundo, não pensa muito em si mesmo. Muito altruísta. Você não en­contrará pessoas como ele facilmente.


Gina sorriu um pouco e inclinou-se para Lily, fingindo ignorar James.


 


—De mulher para mulher... o que pensa da proposta de seu marido? Quer mesmo que eu me case com seu filho?


 


Lily sorriu.


 


—Eu gostaria que as circunstâncias fossem, digamos, mais... normais. Que vocês dois tivessem se conhecido e decidido se casar porque se amavam. Não sou como James. Mas vou falar honestamente, querida. Tenho certeza de que você seria uma esposa adorável para qualquer um de meus filhos.


 


Gina corou ante o cumprimento.


 


—  Obrigada — sussurrou.


 


—  Lembre-se de que só precisará ficar casada durante um ano — James reiterou.


 


Ela assentiu.


 


—Vou pensar no assunto. Prometo.


 


Na certa seu bom senso voltaria no dia seguinte, quando não se sentisse tão fragilizada pelos últimos acontecimentos. De todo modo, James fora inacreditavelmente gentil, e por esse motivo ela lhe seria grata para sempre. O mínimo que poderia fazer pelo velhinho era pensar com carinho em sua proposta.



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N/A: Meus amores me desculpem, eu demoro pra postar eu sei, era julho ferias, viajando e quando tava em ksa tava sem net! Mais ta ai o capitulo dois mais coments e eu posto o capitulo 3! Thank's


 


M.DTonks: Oii*-* Ta ai, já pode começar a ler!


Jessi: Obrigado por adorar a fic e ta ai o capitulo 2!


Camila: Mt obrigada floor*-* tah ai mais pra vc!


E se candidatem a fãs nº1 da fic/ eheuehueheueheu


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Bjs


 


Raquel Radcliffe

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Comentários (4)

  • Gina m w potter

    Nossa adorei continua por favorrrrrrrrrrrrrrr

    2012-01-27
  • Aurora Weasley Potter

    Posta por favor!!

    2011-10-06
  • Pacoalina

    ehhehe adorei a ideia da fic!!!!posta logo o próximo!!!

    2011-09-09
  • Camila Rosa

    Ai minha nossa. Nenhum mulher merece ser destratada assim. Foi ridículo essa bronca que o Sam deu nela. Amei a gatinha. E UM ano a sós com um HOMEM desse numa ilha deserta é TUDO DE ÓTIMO!   beijos

    2011-08-29
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