A New Day
O tempo custava a passar naquela casa.
A Sra. Weasley estava o ajudando bastante com Bárbara, ensinando-o algumas coisas que ele sequer imaginava - como o fato que ele jamais deveria colocar o bebê para dormir de bruços, para que ela não se sufocasse com um eventual vômito - e outras coisas, pequenos detalhes, que apenas uma mãe dedicada de sete crianças poderia saber tão bem. Às vezes Draco se sentia um perfeito idiota em pensar que a mulher que tirara tanto sarro em seus tempos de Hogwarts agora o estava ajudando tanto sem pedir absolutamente nada em troca.
Lupin era uma companhia ausente. Draco quase nunca o via – quando o avistava, era quase sempre de relance -, mas às vezes o surpreendia lendo algum livro grosso tirado de uma das estantes, sentado numa poltrona ou numa cadeira. Mas quase nunca estava relaxado. Draco não sabia ao certo o que ele fazia, mas sabia que ele se esforçava até a alma. Ele também sabia que havia subestimado muito o ex-professor. Havia julgado-o somente pelas suas vestes esfarrapadas.
E havia, claro, a Sra. Black – depois de apenas cinco minutos de convivência, Draco já a detestava cordialmente. Quando algum infeliz a acordava – e na maioria das vezes era uma estranha mulher de cabelo rosa chamada Ninfadora -, ela se punha a gritar insultos para todos que tivessem a péssima idéia de passar por ali. Certa vez, Draco estava com Bárbara no colo naquele corredor quando a mulher de cabelo rosa tropeçou e acordou o quadro. Para piorar as coisas, a menina, que até então dormira placidamente, acordou e começou a chorar, assustada.
Desde então, ele tomava muito cuidado em evitar aquele corredor.
Tirando a Sra. Weasley, Lupin e as eventuais pessoas que iam a Grimmauld Place para longas reuniões na cozinha, em boa parte do tempo Draco não tinha qualquer companhia a não ser a filha, e se sentia absolutamente sozinho. À noite, deitado na sua cama, via o bebê dormir tranqüilamente no berço, sem qualquer preocupação. Tão diferente dele. Tão parecida com Harry.
Toda vez que encarava os belos olhos da filha, ele lembrava-se da distância que o separava do outro. Pensava melancólico que apenas há poucos dias a distância que separava suas camas era facilmente vencida em minutos. Agora, era enorme. Saber que agora os dois estavam separados, definitivamente separados pela distância, só o deprimia ainda mais. Consolava-se pensando que, em poucos dias, eles estariam juntos de novo.
Ele realmente esperava isso.
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Já haviam se passado os dias áureos que Bárbara era apenas um comportado bebê que apenas dormia e choramingava eventualmente. Com quase quinze dias de vida, ela começara a acordar Draco todas as noites, sempre na mesma hora, mas com razões variadas – algumas vezes queria mamar, outras queria apenas se aconchegar nos braços do pai. O lado ruim disso é que Draco não conseguia dormir depois de ser acordado de modo tão abrupto. Depois de alguns dias já estava com profundas olheiras.
Não adiantava ficar na cama se revirando; seu pensamento se voltava rápido para Harry. Portanto, ele costumava dar passeios noturnos pela casa. Tinha esperanças que andar trouxesse seu sono de volta.
Mas nunca trazia. O resultado é que Draco acabava começando a manhã na cozinha, entediado, tomando um copo de leite. Isso quando Bárbara não chorava de novo, fazendo que ele corresse como um desesperado pela casa.
Mas, naquela noite em especial, Bárbara dormiu como um anjo depois que o pai, meio tonto de sono, colocou-a de volta no berço. Draco se sentou de volta na cama e considerou seriamente tentar dormir de novo, mas sabia muito bem quais pensamentos iriam assombrá-lo. Levantou-se e foi para a cozinha, preparando-se mentalmente para mais uma noite solitária.
Quando chegou no corredor que levava à cozinha, percebeu imediatamente que não estava sozinho. Ouviu vozes vindas daquele ambiente, sons de uma conversa. Ouviu Lupin falando e, em seguida, entreouviu palavras que não o agradaram nem um pouco. Decidiu entrar, empurrando a porta com pouca sutileza.
Seu ex-professor de DCAT estava em pé, junto com um homem negro que Draco não reconheceu. Os dois se viraram para ele no instante que ele entrou. Pela atmosfera do ambiente, não havia acontecido nada de bom.
O homem negro olhou interrogativamente para Lupin. Parecia cansado.
“--- Draco...” – a voz grave do licantropo não deixava dúvidas de que algo estava errado – “Aconteceu.”
O mais jovem olhou do homem desconhecido para Lupin e dele de volta para o outro homem, não entendendo.
“--- Como assim, acont...”
“--- Voldemort reuniu todos seus comensais e invadiu Hogwarts.” – disse o negro de uma só vez. Draco sentiu como se de repente virassem um balde de gelo no seu estômago.
“--- Ele invadiu?” – conseguiu murmurar em voz fraca, mais para si mesmo do que para os outros.
“--- Sim.” – confirmou Lupin – “Mas Hogwarts não foi pega de surpresa, estava em estado de alerta há dias.” – o homem negro respirou fundo.
“--- Mas... quer dizer... o que hou...”
“--- Não houve muitas baixas” – apressou-se a informar Shacklebolt. Lupin trocou um breve olhar com ele antes de complementar a fala do outro:
“--- Harry o derrotou, Draco. A guerra acabou. Mas ele está...”
“---... ferido” – disse o auror, ansioso, antes que Lupin pudesse completar – “Muito esforço. Muito sangue perdido. Sem contar a magia negra.”
Draco se encostou na parede, em choque.
Harry está ferido.
Levantou os olhos prateados.
“--- Ele está muito mal?”
Houve um instante pesado de hesitação.
“--- Ele não acorda. Não importa o que os curandeiros façam.” – respondeu Shacklebolt simplesmente. Draco deslizou da parede para o chão.
No andar de cima, Bárbara dormia.
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Foi um dia no inferno até que a cabeça de Albus Dumbledore aparecesse na lareira informando que Harry havia acordado.
“--- Foi surpreendente” – contou o diretor, parecendo genuinamente admirado – “Ele acordou de repente. Os curandeiros não davam muitas esperanças.”
Ajoelhado no tapete da sala, Draco praticamente bebia cada palavra. Alívio era pouco para descrever o que ele estava sentindo.
“--- Mas e a magia negra? Conhecendo o adversário de Harry, deve ter sido uma quantidade colossal.” – comentou Lupin, do lado do loiro. Dumbledore assentiu gravemente.
“--- A onda de fúria dele quando percebeu que seria derrotado fez com que muitos fossem derrubados. Ah, e antes que eu me esqueça...” – olhou para Draco por cima dos olhos de meia lua – “... ele me pediu para tranqüilizar o noivo dele, que certamente estaria muito nervoso.”
Draco saiu de repente do estado de torpor que se encontrava. Noivo?
“--- Eu não sabia que o relacionamento de vocês estava num nível tão sério” – comentou Lupin, surpreso.
“--- Nem eu” – conseguiu balbuciar Draco em resposta. Dumbledore olhava a cena parecendo se divertir.
“--- Os medi-bruxos disseram que ele poderá voltar para Grimmauld Place amanhã mesmo. Já comentei com Molly enquanto ela estava o visitando... vocês poderiam fazer algo para recebê-lo.” – fez uma pausa antes de concluir – “Tenho certeza que você e sua filha estão muito ansiosos por isso, Draco.”
Ele concordou com um aceno vago de cabeça, ainda pasmo. Dumbledore se despediu e desapareceu no fogo.
Agora era só esperar.
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