Apenas cale a boca



Dumbledore entrou na enfermaria com sua usual calma. Draco arregalou os olhos, Harry ergueu as sobrancelhas parecendo intrigado, Ron pareceu espantado, Hermione encarou o diretor com atenção e Pansy... bem, Pansy revirou os olhos discretamente, aborrecida com a interrupção.

Pomfrey mordia o lábio inferior numa clara demonstração de nervosismo. O diretor, porém, encarava a todos com toda a naturalidade, como se aquilo fosse um encontro social.

E ninguém ousava falar nada. Depois de um tempo de silêncio, Ron começou a examinar atentamente os cordões dos sapatos.

Foi Hermione que entendeu primeiro:

“--- Ron!” – chamou de repente, como se tivesse acabado de lembrar, sobressaltando a todos – “Temos que fazer aquele trabalho de Aritmancia!”

“--- Mas, Hermione... eu não faço Aritmancia.”

“--- Bem, você falou que ia me ajudar, não lembra?”

“--- Ajudar você?”

Ron, para variar, estava completamente perdido. Pansy começava a entender as coisas.

“--- Claro que sim! Você não lembra, Weasley?”

“--- Mas eu não faço...”

“--- Não importa, vá ajudar Granger, vamos, vamos” – ralhou Pansy, pegando Ron pelo braço e praticamente o arrastando para a saída, para onde Hermione já estava indo. Ouviu-se uma breve briga na ante-sala antes que alguém batesse a porta com força. Pomfrey também desapareceu do nada pouco depois de murmurar uma sentença com as palavras “Muito”, “Trabalho” e “Urgente”.

Foi quando Harry e Draco se viram sozinhos com Alvo Dumbledore, que exibia um sorriso tremendamente satisfeito. Andou alguns passos até chegar a borda da cama onde Draco estava. Bárbara começou a se remexer.

“--- Posso?” – indagou, estendendo os braços. Draco assentiu com a cabeça e passou o bebê para o diretor, que o segurou cuidadosamente e tirando a manta que havia deslizado um pouco, cobrindo parte do rosto da menina.

“--- Olhos violetas!” – exclamou, sorrindo ainda mais, se isso fosse possível – “Violetas e verdes. Que interessante. Grande poder misturado com grande lealdade ao que acredita... terá uma personalidade muito forte essa menina, sim, uma personalidade muito forte.”

Draco sorriu aliviado e relaxou, o coração ligeiramente mais leve. Harry abria e fechava a boca repetidas vezes, mas não conseguia articular uma palavra.

“--- Já escolheram o nome?” – perguntou o diretor enquanto devolvia um bebê ligeiramente choroso aos braços do pai.

“--- Sim, Bárbara.”

“--- Bárbara... sim, um nome muito interessante. Boa escolha.”

De repente suas feições mudaram, tornando-se mais sérias.

“--- Suponho que queiram saber porque estou aqui.”

Um silêncio se impôs no ar. Harry já havia desistido de falar.

“--- Acho que não gostariam muito de saber que Bárbara terá que ir embora de Hogwarts.”

Draco arregalou os olhos. Harry deixou escapar um “QUÊ?”. Não, definitivamente eles não haviam gostado.

“--- Aqui não é seguro para ela. A muito custo temos mantido os estudantes longe daqui. Eles estão curiosíssimos, Sr. Malfoy, quanto ao motivo que fez o senhor desaparecer no meio da aula de Poções e estar na enfermaria desde então.”

“--- Ora, mas...”

“--- E, além disso,” – acrescentou Dumbledore, interrompendo Harry – “ uma enfermaria não é o local mais seguro para Bárbara. Ela é sua filha. Apenas pense como Voldemort gostaria de colocar as mãos nela.”

Harry calou-se. Draco empalideceu sensivelmente.

“--- Ele... sabe?”

“--- Não.” – disse Dumbledore com firmeza – “ Não tenho qualquer razão para acreditar que o fato de você ter tido uma filha com Harry tenha chegado aos ouvidos dele. Além disso, ele possivelmente não desconfia que vocês dois tenham um envolvimento afetivo.”

Fez uma pausa. Nenhum dos outros dois falou nada.

“--- Apesar disso, creio que precisaremos levar Bárbara para outro lugar.”

“--- Largo Grimmauld?” – perguntou Harry.

“--- Sim. Já falei com Lupin, está tudo pronto.”

“--- Mas... ela...”

“--- Sim, Sr. Malfoy?”

“--- Ela é muito pequena!” – exclamou, começando a sentir a apreensão habitual de alguém que vai ser separado de um filho.

“--- Eu sei” – assentiu Dumbledore – “É por isso mesmo que o senhor terá que ir com ela.”

Naquele instante, a expressão “profundo silêncio” foi interpretada ao pé da letra.

“--- Creio que é a única forma. Como você mesmo disse, Bárbara é muito pequena, não suportaria o choque de ser separada dos pais tão cedo. Ademais, alguém teria que cuidar dela.”

“--- Mas ainda faltam quinze dias para o final do semestre. Alguém poderia desconfiar se Draco desaparecesse do nada.”

“--- Desculpas não faltariam nessa hora, Harry. E só faltam quinze dias, como você lembrou muito bem. Não precisa ficar preocupado com sua formatura, Sr. Malfoy; os exames já passaram. Esse tempo que o senhor perderá não fará diferença alguma.”

Draco afundou ligeiramente na cama, suspirando alto. Naquele exato momento, formatura era a última coisa que o preocupava. Bárbara fechou os olhinhos, já a meio caminho de adormecer.

“--- Bárbara e você irão embora amanhã...”

“--- Amanhã?”

“---... durante a madrugada. O ideal é chamar o mínimo de atenção possível.” – fez uma pausa, observando as caras não muito felizes dos dois garotos – “Lamento, mas é necessário para a segurança dela. E sua também, Draco.”

Para aquilo não havia contra-argumento, e ambos sabiam perfeitamente disso.

“--- Agora eu tenho que ir. Os deveres de diretor me aguardam. E vocês precisam conversar.” – encerrou ele, despedindo-se e dando meia-volta na direção da porta. Draco sem coragem de desviar os olhos de Bárbara.

Um barulho de porta fechando informou a ele que o diretor se fora. Sentiu Harry abraçando-o forte contra si.

“--- Desculpa, desculpa e desculpa.”

“--- Harry, o quê...?”

“--- Eu não consegui te defender para que você ficasse aqui.”

“--- Pára com isso. Não foi sua culpa. Eu deveria saber que Bárbara e eu viramos possíveis alvos agora.”

Harry enterrou o rosto no seu ombro.

“--- Tudo isso é culpa minha. Droga. Eu não queria que fosse assim.”

“--- Isso não é culpa sua, Harry. Além disso, eu sabia com quem estava me envolvendo.”

“--- Sua vida está correndo risco, eu sei. Dumbledore falou que não, mas eu sei.”

“--- Eu não estou correndo perigo. ”

“--- Eu envolvi você nessa coisa toda. Se pelo menos não tivesse ficado tão bêbado naquela noite...”

“--- Harry...”

“--- Sim?”

“--- Por Merlin, cala essa boca.”

Harry deu uma risadinha e abraçou Draco mais forte. O sonserino suspirou bem alto pela segunda vez naquele dia.

“ Maldição, esses quinze dias vão ser um inferno.”

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.