Visitas esperadas e inesperada
“Ela tem mesmo lindos olhos.”
Bárbara estava acordada, olhando para ele como se fosse a coisa mais fantástica que já testemunhara em sua curta vida. Draco estava olhando para o teto, sua mente voltando para uma aula de Adivinhação três anos atrás.
Trelawney. Uma maluca metida a vidente. Em vez de cadeiras e mesas, existiam pofes. O cheiro era como se a mulher tivesse dado banho de perfume na sala. Draco nunca prestara atenção a uma só aula. Era muito mais divertido ficar passando bilhetinhos para Blaise.
Mas agora uma aula, uma aula apenas, ecoava em sua mente.
“Os bruxos não tem a cor de olhos definida por acaso, ou simplesmente pela genética. A cor dos olhos é definida no momento da concepção, e depende dos poderes e, em menor grau, da personalidade do futuro bruxo. Olhos violetas, os mais raros, indicam bruxos poderosos, muito poderosos, capaz inclusive de fazer mágica sem varinha. Dizem que a própria Rowena Ravenclaw tinha olhos violetas.”
O trecho do livro ia e voltava na sua mente. Bruxos de olhos violetas eram poderosos, mas e os que tinham olhos violetas e verdes? Não conseguia lembrar-se da explicação da professora sobre olhos de duas cores. Maldição.
Olhou de novo para Bárbara. Os olhos haviam se fechado. Passou o polegar carinhosamente em sua testa. Os olhos se mexeram sobre as pálpebras, mas não se abriram. Adormecida. De novo. Incrível a habilidade da menina de acordar e adormecer de novo numa velocidade impressionante. Draco não sabia se todos os recém-nascidos eram assim, não tivera a oportunidade de perguntar para Pomfrey, mas devia ser. Ouvira falar que eles também choravam muito, principalmente durante a madrugada. Bárbara nunca dera um pio, a não ser no nascimento.
Definitivamente, era uma criança diferente.
Ao ver a filha dormindo, sentiu um repentino sono. Sorrindo, lembrou-se que não dormira a madrugada inteira, tirando uma ou duas horas no início da manhã, que Madame Pomfrey fizera questão de interromper. Não conseguira tirar os olhos da menina a noite toda, pensando como tudo aquilo havia acontecido. Há nove meses atrás, ele não gostava de Harry e era perfeitamente correspondido, obrigada. No dia anterior, havia dito que o amava. E de fato o amava.
Definitivamente o mundo dava muitas voltas.
Nove meses atrás, ele sequer conseguia ficar a dez metros de Weasley sem pensar em quais feitiços mortais jogar nele. Uma semana atrás surpreendera Harry ao chamar o amigo dele de “Ronald”. Já havia meses que não chamava Hermione de sangue-ruim. Não se imaginava livre do compromisso com Pansy há um ano. Jamais pensara que poderia algum dia se desvencilhar da influência do pai. Nunca pensara que poderia fugir do compromisso de se tornar Comensal.
Mas, acima de tudo, a idéia de se tornar pai aos 17 anos era a mais bizarra. Alguns meses atrás, claro.
Às vezes ele não se perguntava se, de alguma forma, não estava tudo escrito. Era tudo certo demais, escrito em linhas tortas. Engravidar do Não-Tão-Mais-Garoto-Que-Sobreviveu no exato momento que estava desesperado para fugir do que o pai tinha planejado para ele fora seu passaporte de salvação. Perfeito demais, de certa forma.
Que quer que seja que estivesse lá em cima gostava bastante de rir da cara dele. Mas também lhe mandava um pouco de sorte às vezes.
Mas não queria pensar naquilo agora. Estava com sono demais, cansado demais... tencionava colocar Bárbara no berço e dormir um pouco, ele também era humano.
Tencionava, claro, porque naquele momento começou uma discussão na ante-sala da enfermaria. Bem alto.
“--- Madame Pomfrey, eu quero vê-lo! A senhora não compreende!”
“--- Sr. Potter, fique calmo e volte para o seu almoço. Ele está bem, você sabe.”
“--- Mas eu quero vê-lo!”
“--- Sr. Potter, sem discussão. Volte. Ele está dormindo.”
Pausa.
“--- Alguém pode me ajudar, por favor?”
“--- Madame Pomfrey, por favor... não teremos outra oportunidade.”
“--- A Srta me surpreende, Srta. Granger. Sabe que ele precisa de repouso.”
“--- É, mas uma visitinha não vai matá-lo. Ele vai até ficar feliz.”
“--- Srta. Parkinson, por favor...”
“--- Eu concordo com todo mundo aí!”
“--- Sr. Weasley!”
“--- Madame Pomfrey, me deixa ver o...”
“--- Silêncio! Ninguém vai entrar! O garoto teve filho ontem, façam o favor!”
“--- Mas...”
“--- Não, chega!”
Uma porta batendo calou as vozes de protesto. Pomfrey veio andando em passos largos na direção dele.
“--- Sr. Malfoy! Já acordado? – parecia genuinamente surpresa.
Draco engoliu a resposta mal-educada que iria dar.
“--- Já.”
“--- Está bem?”
“--- Ótimo.”
“--- Que bom. Tive medo que houvesse alguma compli...”
“--- Porque não deixou Harry entrar?”
Resolvera atirar a educação pela janela.
“--- Oras, o senhor tem que descansar.”
“--- Estou muito bem. E ontem você o deixou entrar! Porque hoje...”
“--- No segundo dia é que costumam se apresentar as maiores complicações.”
“--- Eu quero vê-lo.”
“--- Lamento, mas não será possível. Você tem que ficar em repouso absoluto.”
Draco pensou em responder algo bem feio, mas ao encarar os olhos brilhantes de Pomfrey sua munição acabou. A mulher era autoritária, mas só estava protegendo. Gostava dele.
Hora de uma abordagem pacífica.
“--- Por favor...”
“--- Não, desculpe.”
“--- Não vai me matar.”
“--- Ouviu a Srta. Parkinson, não? Lamento, não posso.”
Um barulho de uma porta sendo arrombada acabou com o início de uma discussão.
“--- Sr. Potter! O que pensa que está fazendo? Acaba de arrombar a porta!”
“--- Madame Pomfrey, nós tivemos que apelar.”
“--- Sr. Weasley, não se meta!”
Hermione assumiu a situação:
“--- Madame Pomfrey, não custará nada. Draco mesmo disse que está bem, não?”
Pomfrey se virou para examinar Draco, que foi pego no meio de um ataque de riso silencioso. Bárbara, a essa altura, já estava completamente acordada.
“--- Tudo bem. Dez minutos, nem um segundo a mais.”
Um silêncio de vitória tomou o ar enquanto Pomfrey dava as costas orgulhosamente e ia para dentro.
“--- Vocês são mesmo uns malucos. Arrombar a porta? Só podia ser mesmo idéia de grifinório.”
Harry virou-se para ele com um ar falsamente ofendido no rosto, enquanto Hermione ia consertar a porta. Pansy andou até ele com o rosto curioso. Ron encostou-se na parede e parecia não saber onde enfiava a cara.
“--- Para a sua informação, foi Pasifae que deu a idéia!”
No meio de suas manobras para tentar ver a menina, Pansy torceu o nariz. Odiava ser chamada pelo seu nome de batismo.
“--- Pansy!”
“--- Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, queridinho. Posso pegar a neném?”
“--- Ah, pegar não. Pode ver.”
“--- Pai possessivo.”
Draco tirou o manto da menina. Bárbara olhava para ele com os olhos bem abertos.
“--- Nossa, que gracinha! É loira, vejam!” – Pansy se derretia por bebês.
“--- Ela teria que ter alguma cor de cabelo, não? – devolveu Hermione, que já consertara a porta e também cercava Draco e Bárbara.
Pansy pareceu ligeiramente ofendida por alguns instantes. Ron deixara a parede e também estava no grupinho.
“--- Que bonitinha!” – aparentemente Hermione também se derretia por bebês – “É linda!” – Harry e Draco abriram sorriso idênticos e enormes.
“--- Mas tem orelhas de abano, não?”
“--- Ron!” – ralhou alguém que parecia Hermione.
Ronald deu os ombros.
“--- Estou apenas dando minha opinião. Só estou dizendo que... ei, Harry, não me olhe assim!”
“--- Ron, fale baixo.”
Pansy e Hermione se debruçaram mais ainda, quase fazendo sombra sobre a menina. Harry encarava Ron com os olhos brilhando ameaçadoramente. Ron se encolheu um pouco, percebendo que mexera com o pai coruja errado. Draco deu um meio riso da cena.
“--- Merlin! Ela tem olhos violetas!”
“--- Na verdade, são meio verdes.”
“--- Tanto faz, são violetas também. São muito bonitos!”
“--- Pois é. Nossa... olhos violetas significam que o bruxo tem muitos poderes.” – Hermione parecia admirada.
“--- São raros, não?”
“--- São, mas...”
“--- Senhoritas, vocês estão muito em cima do bebê.”
Madame Pomfrey voltara a sala, parecendo meio apreensiva e batendo um pé. Harry fechou a cara.
“--- Madame Pomfrey, ainda não deu dez minutos!”
“--- Eu sei, Sr. Potter. Acontece que uma outra pessoa que ver Bárbara.”
Houve alguns segundos de silêncio incrédulo.
“--- Mas quem...”
A pergunta de Draco morreu no meio da garganta. Quem havia acabado de entrar na enfermaria para ver Bárbara era ninguém menos do que Alvo Dumbledore.
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