De volta pra Toca



E aí galera, tudo bem? Está aí mais um capítulo, espero que gostem. Particularmente eu gostei muito. Estamos quase chegando ao momento que todos estão esperando. Acho que conseguirei postar o próximo logo, logo. Enquanto isso, COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM.


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 Capítulo 9: De volta pra Toca


 Assim que chegou em casa, Mione passou correndo pelos pais que estavam sentados na sala, se atirou em sua cama e desatou a chorar. Passados alguns segundos, ouviu alguém batendo na porta e a voz da sua mãe.


 - Mione, minha querida, o que aconteceu, posso entrar? – ela soava aflita.


 - Entra mamãe – ela mal conseguiu pronunciar as palavras. Sua mãe entrou lentamente e foi se sentar na beirada da cama.


 - O que foi minha filha, por que você está assim? – Hermione então se mexeu e foi deitar no colo da mãe, mas não disse nada. Alice entendeu e simplesmente começou a afagar os cabelos da filha. Passaram-se alguns minutos até que a menina finalmente se acalmasse. Nesse instante, sua mãe achou seguro perguntar novamente.


 - Aconteceu alguma coisa com o Ronald?


 - Aconteceu sim mamãe. Aconteceu que ela nunca mais vai querer falar comigo. Aconteceu que ele agora me odeia – ela começou a chorar de novo.


 - Por quê? O que aconteceu?


 - Eu...contei...a...ele...que...estava...namorando. Aposto...que...ele...me...odeia – as lágrimas se intensificaram novamente, estava difícil entender o que a filha dizia. Alice simplesmente continuou acariciando-a. Nenhuma das duas falou mais nada por um bom tempo, até que Hermione finalmente adormeceu.


 Demorou um pouco para que Hermione entendesse o que estava acontecendo. Olhou ao seu redor e tentou se lembrar da noite anterior. Percebeu que nem havia trocado de roupa ainda. Aos poucos as lembranças foram retornando, e mais uma vez ela começou a se sentir mal. Olhou pela janela e viu que os primeiros raios de sol começavam a aparecer. Levantou da cama e desceu em direção à cozinha, que estava vazia, seus pais deviam estar dormindo. Preparou uma xícara de chá e sentou-se à mesa. Passados alguns minutos, ouviu passos na escada e se virou para ver sua mãe chegando.


 - Oi minha querida, está melhor?


 - Estou sim mamãe, obrigada.


 - Você quer conversar? Sobre o que aconteceu ontem – novamente o semblante da menina mudou. Passou a encarar o chão, sem falar nada. Sua mãe não insistiu com ela, mas continuava encarando-a. Demorou um pouco até Mione falar.


 - Eu acho, acho que estraguei tudo. Não sei se o Ron vai querer falar comigo de novo. Ele está tão machucado mamãe, você não conseguiria acreditar. Eu senti um vazio dentro de mim ao olhar para ele naquele estado. Ele, ele... – mas ela começara a chorar novamente e não conseguiu falar. Sua mãe veio se sentar mais próximo a ela e passou seus braços ao redor dos ombros da filha.


 - O que você sente por esse Rony afinal hein? – era a pergunta que Mione mais temia. Sabia a resposta, mas não sabia como sua mãe reagiria. Ficou pensando um pouco até responder.


 - Acho que eu o amo, ou já amei, não sei. Sinceramente não sei.


 - E o Viktor? Como ele fica nessa história?


 - Eu gosto dele, é um rapaz muito legal, mas agora que, que o Ron voltou, não sei, acho que nunca vou sentir pelo Krum – sua mãe nunca a ouvira chamar o namorado pelo sobrenome – o que eu sinto pelo Rony, mas eu estraguei tudo – as lágrimas foram secando e Mione ficou um tempo calada. Sua mãe achou melhor não falar nada naquele instante, sabia que a filha estava sofrendo por amor, e não havia nada que podia fazer. Continuou abraçada a ela até que essa se levantou.


 - Preciso arrumar minhas coisas. Tenho que pegar o trem para Hogwarts às 11:00 horas – a garota então se levantou e rumou para seu quarto. Sua mãe não falou mais nada.


 Mione já havia deixado quase tudo preparado na noite anterior, só faltavam alguns detalhes. Separou mais algumas roupas. Demorou bastante tempo para escolher quais penas levar, enrolou alguns pergaminhos e trancou o malão. Nunca, em 8 anos, se sentiu com menos de vontade de retornar à escola. Sabia muito bem onde e com quem gostaria de estar agora. Olhou mais uma vez ao redor do quarto e voltou para a sala.


 Seu estômago despencou quando viu quem estava ali. Viktor Krum havia aparecido de surpresa. Sua mãe olhou para ela, tentando explicar que não teve como impedir. A garota sabia que estava com o rosto inchado de lágrimas, e rapidamente tentou escondê-lo.


 - Oi Hermi-oni-ni. Vim fazer uma surpresa – o búlgaro abriu um largo sorriso para a namorada. Veio andando até ela e a abraçou. Hermione devolveu um abraço sem nenhum entusiasmo. O garoto se afastou e ficou encarando a menina.


 - Tudo bem?


 - Ah sim, está tudo bem. Não se preocupe – ela então se afastou dele e foi falar com sua mãe.


 - Preciso ir. Você pode me levar?


 - Eu vou te levar, vim aqui para isso – Viktor falou e Mione olhou dele para sua mãe, que não sabia o que dizer. Demorou um pouco para alguém falar.


 - O que foi? Não quer ir comigo? – Viktor estava começando a se sentir irritado. Ficou encarando Hermione, que continuava muda.


 - Er, não é isso. Só não esperava te ver aqui hoje. Tive uma noite difícil, só isso – Hermione falou sem muita convicção. O búlgaro continuou olhando para ela, mas sua expressão pareceu relaxar um pouco.


 - Então vamos – ele se abaixou e pegou as coisas da namorada. Ele havia aprendido a dirigir um carro comum de trouxas e estava muito ansioso para mostrá-lo a ela. Hermione simplesmente sorriu enquanto ele saia e foi despedir-se de sua mãe.


 - Você vai ficar bem? – Alice agora soava ligeiramente preocupada.


 - Vou sim mamãe, não se preocupe – enxugou mais uma lágrima que descia do seu rosto. Nesse instante Viktor voltou para buscá-la. Hermione deu mais um abraço na mãe e saiu.


 A viagem até a estação de King’s Cross foi muito silenciosa. Hermione pouco falava e dava respostas monossilábicas a Viktor, sempre que esse perguntava alguma coisa. Nem reparou quando chegou à estação. Atravessou a plataforma 9 e ½ e reparou que estava lotada. Mesmo depois de tantos meses do fim da guerra, todos ainda ficavam cochichando quando ela passava, o que a irritava profundamente. Pegou suas coisas e resolveu entrar logo no trem. Procurou uma cabine vazia e arrumou sua bagagem. Saiu para poder se despedir de Krum.


 - Você tem certeza que vai ficar bem? Você ficou calada a viagem inteira. Aconteceu alguma coisa? – o búlgaro segurou seu rosto e ela foi obrigada a encará-lo nos olhos.


 - Tive uns dias difíceis. Prometo te contar depois. Mas eu vou ficar bem – Krum continuou olhando para ela, sem saber se engolia ou não aquela justificativa. Por fim, puxou o rosto da namorada e tentou beijá-la. Hermione instintivamente virou o rosto. O menino ficou completamente aturdido. Demorou até falar novamente.


 - Tchau e boa viagem – irritado, ele se virou e saiu.


 - Me, me desculpe – ele não olhou para trás. Hermione respirou fundo e voltou para o trem.


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 Parecia que o mundo havia parado ao seu redor. Ficou olhando para o teto sem acreditar no que ouvira. Hermione estava namorando. Milhares de coisas vieram à sua cabeça nos instantes que se seguiram à saída dela. Todo esse tempo ele lutou para sobreviver, imaginando o dia que a veria novamente, e agora tudo parecia acabado. Ela estava com outro e ele não podia fazer nada. Uma lágrima começou a correr pelo seu rosto, mas Ron a enxugou no mesmo instante. “Ela não merece que eu chore mais por ela”, pensou ele com raiva. Não sabe quanto tempo se passou, mas foi tirado dos seus devaneios quando Harry entrou no quarto.


 - Oi Rony, tudo bem? – Harry perguntou timidamente, como se receoso de se aproximar.


 - Você sabia? – Ron não se virou para ele.


 - Sabia o quê?


 - Ela e o Krum. Você sabia? – Harry fora pego totalmente de surpresa. Olhou para os lados e reparou que Mione não estava ali. Engoliu em seco e tentou pensar rápido no que dizer. Gaguejou um pouco antes de falar.


 - Sa-sabia sim. Eu sinto muito cara.


 - Por que você não me contou hein? Você me viu alimentando esperanças e não falou nada – Rony se virou para o amigo. Harry ficou devastado ao ver a expressão de absoluta tristeza na cara do ruivo. Mais uma vez ficou sem palavras.


 - Me, me perdoa, mas não achava certo. Era ela quem teria que te contar – Harry conseguiu encará-lo de volta, mas Rony nada disse, simplesmente passou a encarar o teto novamente. Harry ficou imaginando onde a amiga estaria. Demorou um pouco até ele criar coragem de falar de novo.


 - E como, como você...está? – era uma pergunta estúpida, ele sabia, claro que o amigo estava mal. Ficou olhando para Rony, até que o ruivo respondeu.


 - Não sei se vai fazer sentido, mas eu ainda não sei como estou me sentindo. Acho que não consigo sentir raiva dela, ainda não. Na verdade é difícil acreditar que ela, que ela esteja com outro – o ruivo engoliu mais uma vez as lágrimas, não iria chorar por Hermione. Se virou na cama e passou a olhar para o outro lado do quarto. Harry entendeu a deixa e saiu.


 Caminhou pensativo pelo corredor de volta ao restante da família. Entrara antes de todo mundo porque pensou que seria legal se estivessem os três amigos reunidos novamente, mas definitivamente não era aquilo que esperava. Sabia que o amigo ficaria triste ao descobrir que Hermione estava namorando, mas achou estranha a sua reação. Ron não gritou nem derramou uma lágrima sequer. Não havia raiva em sua voz. Não conseguia imaginar o que se passava dentro da cabeça dele. Reuniu-se novamente aos Weasley, mas não sabia se deveria contar o que acontecera. Simplesmente falou que Rony queria que todos entrassem.


 Os dias seguintes foram mais ou menos iguais. Rony ainda não havia contado a ninguém o que havia ocorrido e até agradeceu Harry por esse não ter contado nada. Definitivamente, o ruivo estava mais calado e se irritava com facilidade. Disse várias vezes que não aguentava mais ficar sentado ou deitado e queria se levantar. As enfermeiras nunca permitiam que ele fizesse isso, pois sua perna ainda não estava em condições. Em um dia particularmente difícil, Ron explodiu com uma delas.


 - ME DEIXA SAIR DAQUI, EU NÃO SOU ALEIJADO – Ron gritou e a enfermeira deu um passo atrás. Somente Arthur, Percy e Gui não estavam com ele. Haviam retomado seus trabalhos no Ministério havia poucos dias. Molly levantou-se da sua cadeira e foi até o filho, que atirara sua cabeça de volta no travesseiro e bufava de raiva.


 - O que foi Ron? – ela perguntou bastante receosa.


 - Eu não aguento mais ficar deitado, acho que eu vou enlouquecer. Se alguém não me deixar sair desse quarto, nem que seja por dez minutos eu vou, vou fazer uma loucura – a raiva parecia estar aumentando. Ron olhava com fúria para a enfermeira.


 - Eu, eu...vou...buscar o medibruxo, espera aí – ela parecia totalmente aterrorizada. Saiu do quarto rapidamente.


 - Ron – agora era Gina que se aproximava muito lentamente – o que, o que está acontecendo?


 - Eu cansei de ser tratado como um aleijado. Eu sei que estou machucado e que preciso de cuidados, mas eu cansei. Quero ser tratado como gente normal. Quero poder levantar da minha cama quando eu quiser. Vocês tem receio de encostar em mim, achando que eu vou quebrar ou coisa assim. Eu enfrentei coisas horríveis nesses últimos meses e sobrevivi, acho que consigo caminhar sozinho até a porta – Ron então fez menção de levantar-se da cama. Os outros pensaram em impedi-lo, mas recuaram ao notarem a expressão de determinação no rosto do garoto. Assim que Rony conseguiu sentar-se, a porta se abriu e Andrew veio até ele.


 - A enfermeira me contou o que estava acontecendo. Infelizmente o senhor ainda não está... – mas não conseguiu terminar a frase.


 - Doutor, por favor. Eu não consigo mais ficar aqui. Só uma volta rápida e eu juro que não insisto mais. Alguém poderia me acompanhar. Só quero dez minutinhos – não havia mais aquela raiva em sua voz. Harry olhou e viu a determinação estampada nos olhos do amigo. Imediatamente ele se ofereceu para ajudar. O medibruxo ficou olhando em silêncio até que finalmente concordou.


 - Mas não abuse ok. Você ainda não está totalmente em condições – mas Rony parece não ter ouvido. Aproximou o corpo da borda da cama e nesse instante Harry e Jorge vieram ajudá-lo. Ron então calçou os chinelos e ficou em pé.


 O ruivo cambaleou um pouquinho antes de finalmente conseguir endireitar o corpo. Harry ficou assustado com a magreza do amigo, que parecia não pesar nada. Ele e Jorge ampararam Ron até a porta que Andrew segurava aberta. Os três saíram e Ron pediu que o levassem até os jardins do hospital. Andrew resistira a princípio, mas acabou cedendo. Ron se sentia mais confiante e até conseguiu abrir um sorriso. Os dez minutos passaram voando e Andrew pediu a Rony que voltasse para a cama. Assim que entraram no quarto, viram que Molly estava chorando.


 - Que foi mamãe? Eu estou bem – ele falou enquanto se ajeitava novamente na cama.


 - Eu sei, eu sei – A Sra. Weasley saiu correndo e foi abraçar o filho, que deu um gemido.


 - Eu não sou aleijado, mas não significa que eu aguento um abraço total de Molly Weasley – todos, até mesmo sua mãe, riram. Parecia mágica como o clima naquele quarto havia melhorado.


 Harry ainda não tinha reparado como Ron vinha se recuperando bem depois daquele dia. Ele ainda se alimentava pouco, mas já sorria mais e estava mais gentil com os outros, apesar de ainda passar longos momentos em silêncio. Até fez questão que chamassem a enfermeira para que ele se desculpasse. A maioria dos cortes em seu rosto havia sumido e os que ficaram eram apenas pequenas cicatrizes brancas. Seus olhos já haviam voltado ao estado normal. Para surpresa de Harry, até o cabelo do garoto, agora muito curto, estava agradando. Gina e Fleur já haviam dito que ele ficava mais bonito daquele jeito. Molly falou que ele era bonito de qualquer maneira enquanto Jorge falou que ele era feio de qualquer maneira. Todos riram. Até mesmo Andrew parecia contagiado por aquela nova alegria. Permitiu que Ron passeasse mais uma vez e até já havia estabelecido a data em que o garoto receberia alta. Harry ficou imaginando se o amigo havia esquecido o episódio com Mione ou se simplesmente resolveu não pensar naquilo por enquanto. Alguma coisa dizia a ele que Ron nunca esqueceria.


 O dia que Ron receberia alta e voltaria para casa finalmente chegou. Foi uma loucura total. Molly passou a maior parte da dia indo e voltando da Toca e dando ordens a todo mundo. Gina e Fleur ficaram em casa e não apareceram no hospital. Arthur, Percy e Gui pediram dispensa do serviço. Jorge e Carlinhos estavam na loja, aparentemente providenciando alguma surpresa. Harry foi o único que passou o dia inteiro no hospital. No inicinho da tarde, Arthur e Molly assinaram alguns papéis e Ron estava livre para voltar pra casa. Por recomendação médica, não viajaria de Rede de Flu, aparatação ou Chave de Portal. O Ministério providenciara um carro para levá-lo embora. Harry fora na frente pela Rede de Flu e estava aguardando o amigo em casa.


 Harry nunca vira a Toca daquela maneira. Estava imaculadamente limpa e arrumada. Havia até alguns móveis novos. No fogão havia diversas travessas com todas as comidas que pudesse imaginar. Havia pôsteres novos do Chudley Cannons nas paredes. Harry ficou imaginando como o amigo se sentiria ao chegar em casa. Subiu até o quarto e notou que havia camas novas, e mais fotos dos Cannons. A noite já caíra quando ouviram o barulho do carro chegando. Todos correram para a porta e ficaram aguardando. Jorge e Carlinhos foram até os fundos da casa, provavelmente para prepararem a surpresa que haviam escolhido mais cedo.


 Percy e Gui ajudaram Rony a descer do carro. O ruivo vinha apoiado em uma muleta. Sorriu para todos que o aguardavam. No momento em que começou a se dirigir para a porta um clarão vermelho imenso chamou a atenção de todo mundo. Olharam para cima e viram vários fogos estourarem e formarem a imagem do rosto de Rony. A imagem foi se desfazendo e apareceram os dizeres. “Bem vindo de volta Rony”. Todos bateram palmas com entusiasmo. Depois do espetáculo todos entraram e se prepararam para comer. Ron deu um abraço de agradecimento nos pais, em cada um dos irmãos e em Harry e Fleur. Estavam todos muito felizes. Ficou um tempo admirando a decoração feita para ele, quando sua mãe anunciou que o jantar estava servido. O jantar estava melhor do que nunca e pela primeira vez em muito tempo, Ron conseguiu comer bem. Molly nunca esteve tão satisfeita ao ver o filho repetir várias vezes.


 - Então, meu filho, está gostando da comida? – ela perguntou esperançosa.


 - Claro que sim mãe. Muito melhor que aquela porcaria do hospital. E vocês não imaginam o lixo que eu era obrigado a comer quando eu estava preso – nesse instante o clima pesou um pouco. Havia um entendimento entre os Weasley de que não perguntariam nada a Rony sobre aqueles meses, a não ser que ele próprio estivesse disposto a contar. Ninguém sabia como reagir.


 - O que foi gente? Aconteceu alguma coisa – o ruivo falou quando viu a expressão dos outros.


 - Nada não, é que você, bem, você nunca falou nada sobre o período em que, em que esteve preso – Arthur falou meio hesitante.


 - Ah sim – a expressão de Rony mudou um pouquinho. Ele ficou um tempo calado, olhando para a comida – ainda não quero ficar relembrando o que passou, nem acho que estou pronto para contar a ninguém. Espero que entendam – Ron então viu que todos olhavam para ele e que compreendiam que ele precisaria de mais tempo.


 - Mas pelo menos vocês agora sabem que a comida de lá é horrível – ele falou e conseguiu abrir um sorriso. Todos o acompanharam e o clima melhorou um pouquinho.


 O jantar transcorreu tranquilamente depois daquilo. Harry percebeu que Ron ainda ficava calado por vários minutos, mas no geral, estava de bom humor. Depois da sobremesa, o ruivo, visivelmente satisfeito, se levantou e foi até a cozinha, onde sua mãe e Gina lavavam a louça. Ele passou cada um dos braços ao redor dos ombros das duas e falou.


 - Você é a melhor mãe do mundo viu. Acho que tive muita sorte de ser seu filho – ele se abaixou e deu um beijo na bochecha da mãe. Então se virou para Gina.


 - E você, minha irmãzinha favorita (ele já havia confidenciado a Harry que Gina sempre fora a sua favorita, muito mais que os irmãos. Mal sabia ele que Gina já havia contado ao namorado que pensava da mesma maneira), se tornou uma grande mulher hein. Harry tem muita sorte de ter você – então ele se abaixou e também beijou a bochecha da irmã, que nesse instante irrompeu em lágrimas. Ron olhou para o lado e viu que sua mãe se virava para ele. Deu um abraço digno de Hagrid no garoto, mas Rony não reclamou, sentira muita falta dela. Assim que a mãe o largou, ele não teve muito tempo para respirar. Gina se virou e também se atirou nos seus braços, chorando sem parar.


 - Seu bobão, nunca mais se atreva a sair de perto de mim de novo. Acho que não vou aguentar – ela falou e conseguiu abrir um sorriso para o irmão que retribuiu. Os dois saíram abraçados da cozinha. Ao chegarem à sala, Rony pediu a palavra.


 - Bem, não sei muito bem o que dizer nesse momento. Ninguém pode imaginar o que eu passei nesses últimos meses – Harry percebeu que Gina estava tendo dificuldade de sustentar o irmão sozinha e foi ajudá-la. Parou do outro lado de Ron e passou o braço do ruivo sobre seus ombros. Ron se ajeitou melhor e continuou falando. – Várias vezes eu pensei em desistir, em ceder e fazer o que eles queriam. Muitas vezes eu até, eu até...pensei em morrer – Molly soltou um gritinho e abafou o choro no ombro do marido. Ron tentava manter a voz firme, mas estava ficando difícil. – Poucas coisas nesse mundo são capazes de fazer uma pessoa resistir a tanta dor. As minhas estão todas nessa sala. Eu pensei no irmão que eu perdi. Eu pensei em como minha mãe ficou ao ver o corpo do Fred e prometi a mim mesmo que eu nunca deixaria que ela passasse por aquilo de novo. Eu prometi que eu iria um dia deixar meu pai orgulhoso do filho que tem. Eu prometi que Gui e Fleur não teriam que contar ao filho deles que tantas pessoas dessa família haviam morrido. Eu prometi que nunca abandonaria minha irmã caçula, porque convenhamos, ela não vive sem mim – ele conseguiu sorrir e apertou o abraço à irmã, que chorava agora sem parar. – Eu prometi que não deixaria Jorge viver sem seus dois irmãos e melhores amigos. Eu prometi que Percy um dia poderia dizer a todo mundo no Ministério que seu irmão mais novo é auror. Eu prometi que um dia iria à Romênia com Carlinhos. Eu prometi que Harry Potter não se sentiria culpado pela morte do seu melhor amigo. Eu prometi que conquistaria a mulher que eu amo – nesse instante sua voz falhou um pouquinho. Todos sabiam que se tratava de Hermione, mas ninguém falou nada. Todo mundo chorava sem parar. Ron se manteve calmo e não chorou. Ficou olhando para os outros, até que Arthur veio até ele e deu um abraço muito apertado no filho.


 - Eu tenho muito orgulho de você meu filho, muito mesmo – O Sr. Weasley foi soltando o filho aos poucos. Um a um todos os outros vieram abraçá-lo. Molly repetiu o abraço umas três vezes. Harry continuou segurando Rony, por isso, foi o último a abraçá-lo.


 - Obrigado pelas palavras. De verdade – então se inclinou e deu um abraço no amigo. Rony não disse nada, simplesmente sorriu e devolveu o abraço. O clima aos poucos foi melhorando. Já podiam se ouvir algumas risadas aqui e ali. Depois de um tempo, Rony falou.


 - Eu vou dormir, faz tempo que não deito na minha cama – todos se levantaram para ver se Ron precisaria de ajuda, mas ele recusou. Disse que precisava se acostumar com as muletas e que subiria as escadas sozinho. Se despediu de todos e saiu. Aos poucos os outros foram saindo até que restaram somente Harry e Gina na sala. A ruiva ainda tinha os olhos muito inchados de chorar.


 - Ele vai ficar bem, não vai? – Gina sentou-se no colo do namorado, que começou a afagar seus cabelos.


 - Claro que vai, ele só precisa de tempo.


 - Faltou só a Mione. Não gosto nem de pensar em como Rony vai ficar quando souber do namoro dela. Ela devia estar era com meu irmão – Gina soava um pouco mais irritada agora. Harry não se atreveu a dizer o que acontecera alguns dias antes. Simplesmente concordou com a cabeça e continuou fazendo carinho na namorada.


 Os dois ficaram mais alguns minutos na sala e depois subiram para seus quartos. Depois de se despedir da namorada, subiu até o quarto de Ron e parou à porta. Ficou pensando em como seria agora que ele estava de volta. Bem devagarzinho abriu a porta e entrou. Ron estava deitado de costas para ele. Parecia estar dormindo. Harry trocou de roupa e se deitou também. Ficou olhando para o teto e começou a sorrir. Tudo estava bem agora, não havia mais como o que se preocupar.


 Os dias seguintes foram muito tranquilos. Ron parecia alegre, apesar de muitas vezes ele se isolar no jardim e ficar sozinho por várias horas. Certo dia, Harry foi falar com ele.


 - Está tudo bem Ron?


 - Ah, oi Harry. Não te vi chegando. Tudo bem. Só estava aqui pensando.


 - Posso me sentar? – Harry soava um pouco receoso.


 - Claro que sim – Ron então chegou para o lado e Harry se sentou. Ficaram um bom tempo em silêncio, até que Ron falou.


 - Você acha que ela está feliz com ele? – Harry foi pego de surpresa. Precisou de um tempo para responder.


 - Você tá falando da, da Mione?


 - Sim, quem mais poderia ser.


 - Ah. Não sei Ron. Não sei mesmo. Ela voltou para Hogwarts. Não tenho notícias dela há um tempão, mas se você quer minha opinião, acho que ela gosta muito mais de você – nesse instante Ron passou a olhá-lo esperançoso.


 - Ela te falou alguma coisa?


 - Não Ron, mas é bastante óbvio. Você nem imagina o que ela sofreu. Foi muito difícil para ela.


 - Mesmo assim eu não entendo – o semblante de Ron mudou e ele voltou a encarar o horizonte. Ficaram em silêncio mais um tempo. Foi Harry que falou dessa vez.


 - Ron, eu preciso te perguntar uma coisa. No dia, no dia que você voltou – sua garganta de repente ficou muito seca – encontramos o corpo de Monstro ao seu lado. Posso perguntar, er, por quê? – ele evitava olhar para o amigo. Ron ainda não contara nada sobre seu desaparecimento a ninguém. O ruivo demorou um pouco, mas finalmente olhou para o amigo e respondeu.


 - Ele salvou minha vida Harry, não podia deixá-lo lá para ser enterrado como um animal.


 - Ele, ele salvou...sua vida? Como assim?


 - Era ela quem me trazia comida. Acho que ele teve pena de mim e sempre levava mais do que mandavam. No dia que eu consegui escapar, ele chamou a atenção – Ron respirou fundo antes de continuar – ele, propositalmente chamou a atenção de Lúcio e Greyback, que se viraram para matá-lo, o que me deu tempo de reagir. Se não fosse por ele, eu estaria morto.


 Harry levou um tempo para processar tudo que Ron havia dito. Então era verdade que matara os comensais da morte. Os aurores estavam certos em afirmar que fora ele. Tentou processar todas as implicações daquilo quando Ron falou tirando-o dos seus devaneios.


 - Você falou que encontrou o corpo dele. O que foi feito com ele?


 - Está na garagem. Coloquei-o lá no dia que você chegou.


 - Quero enterrá-lo aqui, ao lado do corpo de Fred. Ele merece – Harry simplesmente concordou com a cabeça e os dois ficaram novamente em silêncio. Depois de um tempo ouviram Gina chamando-os para jantar.


 O jantar foi muito tranquilo. Logo que acabou, Harry resolveu conversar com Arthur sobre o desejo de Ron de enterrar Monstro perto de Fred. O Sr. Weasley achou um pouco estranho, mas acabou concordando. Harry foi até a sala para dar a notícia ao amigo, mas foi informado que ele já havia subido para o quarto. O bruxo se sentou ao lado da namorada, mas não demorou muito os dois foram dormir também.


 O dia seguinte foi muito agitado. Logo todos já sabiam do desejo de Ron em enterrar Monstro. Depois de muita insistência, o bruxo resolveu contar o que o elfo havia feito por ele. Todos ficaram calados e simplesmente assentiram com a cabeça. Molly estava chorando um pouquinho. Logo depois do almoço, Harry, Jorge e Carlinhos foram até os fundos da casa e começaram a arrumar uma cova para colocar o corpo do elfo. Um a um os Weasley foram se reunindo ao redor do buraco cavado no jardim. Arthur veio subindo com Monstro nos braços. Antes de enterrá-lo, Ron levantou o lençol que cobria seu rosto e de repente seu semblante mudou completamente. Pediu ao pai que o colocasse na cova e falou algumas palavras.


 - Espero que você tenha um merecido descanso agora. Devo minha vida a você e saiba que nunca esquecerei o que fez por mim Vá em paz – Ron jogou uma peça de roupa, o símbolo da libertação dos elfos, na cova. Pegou um pá e com dificuldade jogou um pouco de terra. Rapidamente os outros vieram ajudar e em pouco tempo a cova estava coberta. Ron foi até a lápide e pediu sua varinha, que Gina vinha guardando. Com um aceno da mesma, apareceram as seguintes palavras em sua lápide.


 “Aqui jaz Monstro, o elfo mais corajoso que existe. Que o que ele tenha feito em vida, sirva de lição a todos os humanos que se julgam superiores.”


 Aos poucos, as pessoas foram retornando para a Toca. Ron ainda ficou algum tempo parado olhando para a lápide e quando a noite começou a cair, voltou para casa. Ao entrar reparou uma movimentação na sala. Quando chegou mais perto, viu que o ministro estava ali. Kingsley imediatamente se levantou e abriu um sorriso para Rony. O ruivo viu que ele não estava sozinho. Um outro homem, de aspecto muito sério se levantou também.


 - Oi Ron, que bom ver que você está bem – o ministro falou alegremente estendendo-lhe a mão.


 - Oi Sr. Shacklebolt. Tudo bem? – Ron tomou a mão do ministro.


 - Tudo, obrigado por perguntar. Esse aqui é Jeff Connolly, chefe da seção dos aurores – o homem de aspecto muito sério apenas fez uma pequena reverência com a cabeça, mas não disse nada. Houve um silêncio um pouco constrangedor naquele instante.


 - Bem, estamos aqui para lhe informarmos que seu caso está sendo investigado pelos aurores e você terá que prestar depoimento. Principalmente no que diz respeito às mortes de Lúcio Malfoy e Fenrir Greyback – o clima de repente ficou muito tenso. Rony ficou calado, enquanto o auror não tirava os olhos dele. Os outros Weasley pareciam um pouco chocados. Ron finalmente conseguiu falar.


 - E quando, e quando será isso?


 - Ainda não sabemos, mas como podemos constatar que você já se encontra com a saúde recuperada, acredito que não deva demorar – o auror falava com a voz etérea. Ron fez menção de falar, mas o ministro se adiantou a ele.


 - Não se preocupe Ron, sei que tudo correrá bem. Vamos recolher sua memória daquele dia e tudo será devidamente esclarecido. Peço que não fale nada nesse instante, espere até ser chamado a depor. Eu acompanharei pessoalmente o seu caso – a fala do ministro pareceu tranquilizar o restante da família.


 - Bom, fico feliz de te encontrar assim. Preciso ir agora, mas manteremos contato – o ministro e o auror despediram-se de Ron e se prepararam para sair. O Sr. Weasley acompanhou-os até o jardim. Ouviram o barulho de gente aparatando e viram Arthur entrar novamente pela porta.


 - Não se preocupe Ron. O ministro garantiu que não vai deixar nada acontecer – Ron olhava fixo para a parede à sua frente. Parecia que a perspectiva de reviver todos aqueles momentos estava perturbando-o. Ninguém parecia disposto a falar nada com ele.


 - Boa noite, acho que já vou dormir – Ron se levantou e todos ficaram apreensivos olhando para ele. – Será que você poderia dormir em outro quarto hoje Harry. Queria ficar sozinho para pensar. Só por hoje.


 - Claro que sim. Eu me arranjo aqui – Ron então se despediu de todos e subiu as escadas.


 Ninguém falava nada na sala. Ficaram olhando atônitos para Rony. Jorge ofereceu seu quarto para Harry, dormiria com Carlinhos no outro. Harry tentou protestar, mas não adiantou. Aos poucos os outros se levantaram e foram dormir também.


 Ron estava muito calado e passou a maior parte do dia seguinte trancado em seu quarto. Só desceu para as refeições e pouco falou com o restante da família. Jorge resolveu reabrir a loja e Harry passou o dia ajudando-o. Gina e sua mãe foram ao Beco Diagonal compararem alguns itens que a garota precisaria em Hogwarts. O prazo dado pela Sra. McGonagall havia se esgotado e a menina deveria retornar para a escola no dia seguinte.


 Não haveria trem para Hogwarts. A garota teria que ir por Rede de Flu. Mais cedo naquele dia, fora feita a conexão entre a Toca e a sala da diretora. A menina se despediu de todos. Quando chegou a vez de Ron ela se demorou um pouco mais no abraço.


 - Vê se te cuida viu, agora que eu não estou lá para te vigiar – a menina deu um tapa no braço do irmão, fingindo-se de aborrecida.


 - Vale para você também. Não vai passar mais nenhum susto na gente não viu – Ron conseguiu abrir um sorriso. A menina se virou em direção à lareira, mas Ron segurou seu braço.


 - Fala com ela que eu, que eu sinto muita falta dela – Ron de repente corara até as orelhas. Gina ficou olhando para ele. O irmão agora tinha um semblante de tristeza.


 - Pode deixar que eu falo – ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo na bochecha do irmão. Rumou para a lareira e no instante seguinte foi engolfada pelas chamas verdes. Ron ficou olhando a irmã desaparecer. Passados alguns minutos, subiu a escada de volta ao seu quarto. 

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