Alguém
Ronald Weasley, nunca, em vida, diria que Lavender Brown possuía um vocabulário tão vulgar. A língua de cobra dela esguichava veneno em formas de palavras – ou melhor, xingamentos baixos – quando discutia, pela trigésima vez do mês, com ele. Infelizmente, pelo mesmo motivo.
Se Ron soubesse que ao começar o namoro passaria mais tempo escutando desaforos e defendendo um certo alguém, nem ao menos teria pensado em dar um início naquela loucura. Provavelmente algum balaço o acertara durante o jogo de Quadribol para ele engatar naquela relação inconseqüente.
Ele era lerdo, mas não era burro.
Se bem que... Correndo os olhos pelo Salão Comunal que, naquele instante se encontrava com um clima tenso devido aos berros de Lavender, encontrou o alguém causador involuntário da briga.
Desde que Hermione deixara de conversar com ele, uma promessa – que ele não cumprira em momento sequer – ficou pendente no ar: a de que ele não pensaria nela, falaria com ela ou ao menos olharia para ela.
Como um garotinho bobo e assustado, começou a chamá-la de alguém, tentando colocar na própria cabeça que ela era apenas mais uma na multidão, e nada mais. Alguém era algo simples de se dizer e, quando não se encaixava na frase, Ron sussurrava um: você sabe de quem eu estou falando.
Mas alguém era melhor.
Talvez um dia Hermione Granger passasse a ser mesmo um alguém para Ronald Weasley.
(alguém muito importante, alguém muito necessário, alguém por quem você está apaixonado, alguém por quem você daria a vida, alguém que você quer namorar, alguém que você quer casar, alguém que você quer ter filhos...)
Balançou a cabeça, fechando os olhos com força ao tentar comprimir aqueles pensamentos sem cabimento. Lavender, com o ciúme arrancando toda a sanidade do corpo, passou a gritar ainda mais alto depois de notar para onde há pouco o seu (quase ex) namorado estava olhando.
Ah, claro, Ronald Weasley sempre procurava aquelazinha com o olhar.
Ronald Weasley sempre queria falar sobre aquelazinha.
Ronald Weasley era um total idiota por se importar com aquelazinha, quando tinha ela.
E Lavender bufou, cruzou os braços, gemeu de raiva, arqueou as sobrancelhas, pintou e bordou para ter a atenção do garoto que não parecia estar com os pés naquele mundo.
"Sabe, Ronald, é realmente um desaforo da sua parte me ignorar dessa forma! Você me trata como se eu fosse um trapo e não se esforça o mínimo para me agradar! E sabe o que é engraçado? Quando é com aquelasua amiga, aquelazinha, você se derrete por completo! Eu por acaso tenho cara de idiota?"
Ele achou melhor não responder.
Já estava ocorrendo uma Guerra, outra não seria necessária.
"Olhe Lavender...", ele falou enquanto se levantava da poltrona e sentia o olhar – quente – de Hermione batendo em suas costas. "Para primeiro de conversa, não chame Hermione de aquelazinha. E eu quero que fique bem claro que eu estou cansado desses seus ataques."
Imediatamente a boca da loira tocou o chão.
"Eu vou jantar. Boa noite."
Sem mais, Ron atravessou o Salão Comunal, acompanhado dos olhares avulsos dos outros grifinórios e sabendo que entre eles estava o de certo alguém.
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