Acontece
Há coisas que acontecem em nossas vidas que não se explicam, não se sabe a sua origem e o motivo pelo qual está acontecendo, simplesmente acontecem, e de alguma forma acontecimentos afetaram você mesmo que não ligue, sempre vão deixar em você uma marca, boa ou má, você é quem decide.
Vagarosamente eu andava em direção a sala da Minerva. Minha mão formigava, mas eu não ligava - a dor às vezes é a única coisa que mostra que você ainda está viva e o que está vivendo não é um sonho. O céu fora das janelas começava a clarear, já não havia nenhuma estrela nele, a lua já se fora. Nas paredes as pinturas dentro dos quadros dormiam serenamente. As armaduras muitas vezes pareciam ter vida e pareciam acompanhar seus passos enquanto você andava pelo castelo, mas não hoje. Tudo estava em um perfeito silêncio, tão sereno que era impossível lembrar o motivo do qual eu ia me arrastando para a sala da diretora. Eu não queria ter de sentar novamente naquela poltrona desconfortável e dura...
- AnnaBelly, pelo amor de Deus filha, dê meia volta, olha só seu estado! Precisa ir para enfermaria agora! - Eu estava tão imersa em pensamentos que me assustei ao ouvir a diretora falando dessa maneira comigo, ela andava rapidamente e passou as mãos pelos meus braços me puxando ao lado dela - Neville devia ter levado ele mesmo você a enfermaria, olhe suas mãos!
Minha mente processava o modo como ela agia e tudo que ela dizia rapidamente.
- A senhora sabe?
- Não sei de nada, apenas sei que Neville me chamou a enfermaria... Ele deve ter mencionado algo sobre você... Ou Ted.
Eu quase tropecei na escadaria enquanto ela me puxava, mal colocava o pé em um degrau e ela já me puxava pro debaixo, ela não falou nada mais, mas em seus olhos eu poderia ver sua mente trabalhando, buscando uma resposta por perguntas que se formavam, seus olhos estavam cansados, estavam roxos em volta, seus grisalhos cabelos estavam bagunçados diferente do de costume... Ela estava velha, muito velha, eu queria saber de onde ela ainda arrumava tanta força para trabalhar, para lecionar, e para manter toda uma escola sobre controle.
As grandes portas de madeira da enfermaria estavam abertas, revelando várias camas vazias, apenas uma com um garoto dormindo, ou desmaiado em cima dela. A enfermeira em pé ao seu lado aplicava uma seringa em seu pulso com um líquido roxo dentro. Neville estava sentado na cama em frente a garoto - Ted - o olhava preocupado e assim que entramos na enfermaria seu olhar de preocupação passou por mim e se transformara em um misto de raiva e repugnância.
Papoula Pomfrey era a enfermeira da escola, mas como já está com uma idade já avançada assim como Minerva ela arrumou uma ajudante, na verdade, sua filha. Denise Pomfrey. Uma linda jovem de curtos cachos ruivos e de olhos de um verde bem claro com uma aparência cansada.
- Minerva, ô Deus! O que aconteceu com essas crianças? - Denise deixou a seringa de lado e veio andando em minha direção, me examinou dos pés a cabeça, puxou minhas mãos para frente para olhá-las e soltou uma pequena exclamação de pena, me indicou uma cama para me sentar. - Como isso foi acontecer? Pobres crianças... - dizia ela enquanto lavava minhas mãos em um líquido que ardia fervorosamente.
- Vou te dizer como isso aconteceu - Disse Neville se levantando e andando ameaçadoramente ao meu lado.
- Também gostaria muito de saber professor. - Disse Minerva - Mas creio que o senhor não sabe o que ocorreu. Então nos conte AnnaBelly o que aconteceu?
- Na verdade professora - fui dizendo enquanto olhava no fundo dos olhos de Neville - Eu gostaria muito, muito mesmo de saber qual a teoria do professor Longbotton.
Seus olhos se regalaram perplexos, ficou surpreso com minha atitude, ele pensa que pode me acusar de algo e que eu aceitarei neutramente. Por favor, né.
- Bom... Eu... - o nervosismo era evidente em sua voz, a sua confiança sumira, os fantasmas do seu passado o assombravam nesse momento, e ele se sentiu assustado, pequeno diante da situação, era fácil ler seus pensamentos. Ele me via, mas não me enxergava, ora via o olhar assombroso de meu pai, ora via o sorriso de escárnio de minha mãe. Sem saber que eu seria capaz, eu estava nesse momento colocando imagens em sua mente, vendo seus maiores medos e receios e os trazendo a tona para ele ver. Como eu era capaz de tamanha habilidade? Eu não fazia idéia. Apenas sabia que era divertido e que eu gostava. - PÁRA! - ele estourou o susto de suas palavras me fizeram parar instintivamente de mexer com sua mente. - Nunca mais faça isso - as mãos estavam em sua cabeça, os olhos estavam vermelhos e injetados, ele estava vermelho e me olhava ameaçadoramente enquanto tirava do bolso a varinha.
Minerva se levantou e se colocou em minha frente protetoramente, Neville me encarava, Denise o olhava perturbada, eu sustentava seu olhar, sorria para ele com escárnio, aumentando assim sua raiva. Eu era mais poderosa que ele.
- Neville abaixe essa varinha agora! - disse Minerva pegando agora a própria varinha. - Agora!
- Você não vê o que ela está fazendo? Está manipulando a todos! Ela não é uma garotinha indefesa Minerva, me deixe cortar o mau pela raiz, por favor, me deixe! - gritava ele
- Ó Neville, o ódio o cegou o por completo! Abra os olhos e veja com a razão, AnnaBelly não é Voldemort nem Bellatriz...
- Olhe o Ted! Olhe o que ela fez com ele? Pelo amor de Merlin! Você que precisa enxergar com a razão Minerva, parar de defender esse monstro que ela é.
- Professor Neville eu lhe respeito prontamente - Denise dizia - Mas não vou deixar você acusar nenhuma criança sem provas dentro de minha enfermaria, por favor, vá embora e engula essas suas palavras e ações.
- Por favor, Neville, a escute, vá embora, mais tarde conversaremos em minha sala.
Neville foi saindo e meus olhos acompanhavam os seus. Dei um pequeno sorriso para ele enquanto saía, e isso o deixou mais furioso do que já estava. Sua fúria me alegrava, eu ria por dentro. Novamente tinha me descontrolado invadindo a sua mente e mexido com ela.
- Sinto muito por você ter que ouvir isso AnnaBelly - Dizia Minerva que agora ia para o lado do desmaiado Ted. - Por Merlin, o que aconteceu com vocês?
- Diretora, só posso dizer que o encontrei na floresta proibida e que não fiz nada contra ele, mas o por quê não posso dizer.
- AnnaBelly, primeiramente sair da escola depois do toque de recolher acarreta uma série de problemas, e depois ainda se saírem voltar nessa situação? Feridos? Machucados? Sem nenhuma explicação? Você tem que dizer o porquê, olhe para o Ted, as evidências desse caso apontam todas contra você.
- Desculpe me meter na conversa de vocês diretora - Dizia Denise agora enfaixando minhas mãos - Eu examinei o garoto, e seus ferimentos não foram causados por magia, muito menos por uma adolescente de quatorze anos.
- Você tem certeza do que diz Denise? - Indagava Minerva - Mas o que poderia ter o deixado nesse estado?
- Não tenho certeza. Muitas coisas Minerva, a Floresta Proibida está cheia de criaturas que poderiam matar se quisessem.
Depois de alguns minutos, minhas mãos estavam enfaixadas e eu estava limpa. Ficaria em observação por mais algumas horas na enfermaria, Minerva não saia de meu lado, Ted ainda estava dormindo, e meu tio/primo Draco mais o tio de Ted foram chamados na escola, provavelmente amanhã estariam aqui.
- Professora? - Chamei Minerva que estava analisando cuidadosamente cada machucado de Ted?
- Hm? - Ela disse sem se importar, imersa em pensamentos.
- O que faz Neville pensar que eu tenha torturado o Ted? Digo professor Longbotton.
Minerva arrumou os óculos na ponte dos olhos, e sentou em uma cadeira ao lado do Ted analisou meu rosto, enquanto processava a pergunta.
- Creio que seus amigos poderão lhe responder isso. - Ela disse encerrando o assunto.
- Você sabe que não fui eu, certo professora?
Ela não respondeu. Pelo resto do dia não me dirigiu a palavra, somente cautelosos e interrogadores olhar. Assim que a noite caiu fui liberada para ir para o meu dormitório. Ted durante a tarde acordou, mas não conversamos sobre o ocorrido, na verdade não conversamos sobre nada. Não falaria com ele novamente, guardaria seu segredo, pois dei minha palavra e se a algo que eu não quebro é uma palavra, mas nunca mais teria nada haver com ele. Minerva o interrogou, ele disse que não se lembrava, e quando ela perguntava se eu fiz algo contra ele, ele não afirmava, mas também não negava. E eu que pensava que da grifnória era apenas as pessoas verdadeiras e corajosas. Quando entrei na sala comunal da Sonserina todos me olharam e começaram a cochichar. Estava cansada de tentar ser boa. Parei onde estava no meio da sala, procurando por Alice, Ric ou Cory. Nenhum deles lá.
- Então AnnaBelly! - Exclamou um garoto do quarto ano se levantando de sua poltrona - Soube o que você fez ao garoto da grifnória - Ele veio andando até o meu lado com um enorme sorriso no rosto, todos assistiam a cena em silêncio virando a cabeça olhando do garoto para mim - Tem meu eterno respeito - Ele parou de frente e estendeu a mão direita para mim.
Olhei para sua mão, depois para seu rosto. Olhos castanhos, cabelos castanhos, alto, forte, lembrei de vê-lo conversando com Ric e Cory, era artilheiro da Sonserina, sangue puro. Não era de se jogar fora. Soltei um leve suspiro e subi para o quarto. O garoto ficou parado onde estava me olhando subir depois de ter ignorado-o por completo. No quarto estava Alice sentada no parapeito da janela abraçando os joelhos, quando entrei ela se virou, em outra ocasião talvez teria me assustado, mas para mim estava indiferente. Andei em direção a minha cama onde o diário de Tom estava colocado sob o travesseiro. Sentada na cama comecei a folhear.
- Você está bem Belly? Fiquei preocupada - Dizia Alice se engasgando com o choro
- Uhum...
Ela me encarava enquanto folheava o diário e de repente me lembrei do que Minerva disse.
Creio que seus amigos poderão lhe responder.
- Alice, porque Neville pensa que torturei o Ted? - Fechei o diário e a encarei friamente.
Nessa hora ela começou a chorar mais se é que isso era possível, pulou da janela e se sentou aos pés de minha cama.
- A gente vacilou, foi sem querer, juro que foi! Mas.. Mas eles pegaram a gente, nos perdoe Belly - Seus soluços eram incontroláveis, seus olhos normalmente cinzas estavam totalmente injetados
- Vou ter que pedir mesmo para você se controlar?
- Não... Tudo bem, é que, você sumiu ontem e o Ted também... Pensamos que talvez depois de tanto tempo ele tivesse aprontado com você de novo - ela soluçou novamente - Aí fomos atrás da Victorie, Penélope, Léo e o outro lá que eu não lembro o nome... - Ela fazia força e engolia as lágrimas - Encontramos ele sozinhos perto do salão principal... Aí eles não queriam falar onde você ou Ted estavam e pensamos que era mentira... Então arrastamos eles a força até a Sala Precisa onde ninguém ouviria nada e o Ric começou a discutir com o Léo e ficou alterado e lançou um feitiço nele, a Penélope ficou muito revoltada e lançou algo no Ric e eu perdi a cabeça e comecei a duelar com ela, e quando me dei conta eu, o Cory e o Ric estamos lançando a Cruciatus neles... - Ela chorava desoladamente e eu a olhava friamente, com indiferença de sua história, ela respirou fundo e engoliu o choro - Ameaçamos eles se contassem algo, então Victorie e Penélope não paravam de chorar, e os outros dois também estavam com uma cara muito tensa e o Neville viu nós sete, e perguntou o que fazíamos juntos, e... - Ela não contou o resto mais eu via em sua mente.
Penélope e Victorie de mãos dadas, chorando pois nunca foram torturadas, nunca sentiram tamanha dor, Ric e Cory andavam na frente delas, e atrás vinha os dois garotos, Cole e Léo, seguravam o choro e apenas não reagiam porque Alice estava com a varinha apontada para eles, eles iam levá-los até a sala comunal da Grifinória no sétimo andar, e juraram que se contasse algo para alguém receberiam coisa muito pior que a Cruciatus, eles sabiam que os três sonserinos não estavam mentindo. Chegaram no corredor do salão comunal da grifnória, Neville saia de dentro de um retrato de uma mulher gorda e sem nenhuma explicação entendia o que via. Dois sonserinos a frente quatro grifinórios atrás enquanto uma última sonserina andava atrás de todos com a varinha apontada para os outros. As meninas se desmancharam ainda mais no choro e os meninos deixaram uma lágrima escorrer, a cara de culpa entregou os sonserinos. Na sala da diretora não confessaram o crime, os grifinórios não os entregaram, os pais dos sete foram chamados e dependendo os sonserinos seriam expulsos. Alice chorava com isso, por ter a chance de ser expulsa. Quando se é expulso de Hogwarts sua varinha é quebrada ao meio na sua frente e você é proibido de usar ou praticar magia pelo resto de sua vida. Alice não agüentava a idéia, e seus pais a matariam. E por culpa deles Neville me acusou de ter feito o mesmo com o Ted, será que acreditariam que arrisquei minha vida pra salvar a dele? Porque se eu não tivesse ido atrás dele, ele ainda estaria na floresta provavelmente servindo de alimento para alguma criatura mágica.
- Belly, por favor, nos desculpe. - Agora ela já não chorava tanto. - Pensávamos que o Ted tinha feito algo...
- Você já disse isso. Onde estão os garotos?
- Na direção. Os pais deles estão aqui.
- Como foram tão estúpidos para torturar garotos dentro da escola, pensei que tínhamos combinado de parar.
- Desculpe Belly...
- Não tenho nada para desculpar, você que deveria se perdoar por ser tão estúpida.
- Belly - ela começou a chorar - Se eu estou assim é por você, não me trate assim... - Ela falava baixinho, as lágrimas escorriam por suas bochechas.
- Aprendi que quando queremos ajudar os outros não complicamos mais a vida deles e as nossas.
- Não acredito que você tenha feito algo ao Ted... Me conte o que aconteceu.
- Eu o encontrei machucado e o ajudei a vir para escola o professor Neville interpretou diferente.
- Suas mãos se machucaram ajudando ele? - Ela passava as mãos pelas bochechas enxugando as lágrimas que ali secavam.
- Alice, perguntas demais, ok?
- Okay, desculpe-me... Acho que você quer ficar sozinha né? - Disse Alice se levantando da cama, olhando para o diário depois para mim.
- Sim, por favor.
Ela saiu em silêncio e voltei minha atenção para o diário. Seria legal desabafar com alguém ou com algo, abri a gaveta do criado mudo que ficava ao lado da cama e peguei uma pena e tinta. Molhei a ponta da pena e na primeira página do diário comecei a escrever.
Diário do Tom, hoje é primeiro de Junho, meu mês não começou nem um pouco bem. Na verdade esse não foi um dos melhores anos letivos de toda a história, mas não posso dizer que estou feliz por estar voltando para casa. Não quero ter que aguentar Astoria nem bancar a babá do Scorpius. Também não quero ter que acordar outro dia e ver a cara de algum professor ou mesmo de Alice, Cory ou Ric... É tudo tão contraditório em minha cabeça, gosto de ficar sozinha mas não, isso é diferente de se sentir sozinha e nunca me senti tão sozinha. Um lobo se transforma todos os dias do ciclo certo? Por que estou com a impressão que Ted não vai se transformar hoje? Não acredito que estou escrevendo em um diário, isso é tão bobo...
Muito bobo na verdade, parei de escrever e fiquei olhando a página com minha caligrafia, vendo a tinta aos poucos secar e vendo o buraco enorme no meio da página. Era engraçado escrever em volta do buraco. Mais engraçado era que em vez de a tinta secar e ficar mais escura, ela ia secando e ficando cada vez mais clara até que desapareceu. Literalmente o pequeno parágrafo que eu tinha escrito em volta do buraco desapareceu. - WTF? - E no lugar outra caligrafia apareceu, novas letras e palavras surgiram, meu coração bateu descompassado e ar se prendeu em minha garganta. Engoli em seco enquanto lia. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Tom? Foi à única coisa que saiu de minha boca.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!