O brilho da lua
Último dia provas. Finalmente acabou. Nada de passar as madrugadas com as caras nos livros. Será que fui bem? Acho que eu podia ter me saído melhor na prova prática de feitiços... Mas são tantos feitiços... Chega! Disfarçadamente larguei a colher no prato com a comida nada mexida, abaixei a cabeça e tampei meus ouvidos, não agüentava mais ouvir os pensamentos dessas pessoas em minha volta... Eram tantas vozes, tantos pensamentos, que estavam me deixando tonta. Nas últimas semanas eu não estava com meus poderes sob controle. Sem querer invadia a mente das pessoas, sem intenção meus feitiços saiam mais fortes que o esperado. Estava tudo tão confuso, eu não sabia por que, o porquê de depois de todos esses anos praticando magia e controlando minhas habilidades elas do nada se descontrolavam.
Depois de muito esforço silenciei as vozes em minha cabeça, e assim que a tonteira passou dei uma desculpa a meus amigos e fui para meu quarto. Eu tinha vagas teorias do que poderia estar acontecendo comigo. Talvez os hormônios da adolescência fizessem eu me descontrolar em termos de magia. Talvez? Não sabia... Sabia que ultimamente tudo estava muito confuso, havia várias ocasiões em que eu não conseguia lembrar o que estava fazendo ou como consegui chegar a tal local, e lembranças antigas, muito antigas vinham a minha mente. Isso poderia ser normal, se essas lembranças fossem minhas, mas não eram. De quem são? Tenho minhas teorias quanto a isso também... Era tão difícil às vezes aguentar tantas coisas sem ter um motivo que nos dê força para isso...
Sentei em minha cama, peguei o diário de Tom Riddle embaixo do meu travesseiro e passando os dedos em cima das letras de seu nome, me peguei sussurrando sozinha, conversando tudo que estava em minha cabeça com um diário, mas... Não era um diário, era? Era meu pai... E enquanto pensava nisso algo apareceu em uma das páginas, uma escrita que eu nunca vira antes, a única coisa que iluminava o quarto era luz da lua que entrava pela janela. Fui até a janela com o diário nas mãos, tinha algo escrito nele... Algo que meu pai escreveu, o pensamento fez meu coração disparar sem eu saber o motivo.
Só que quando cheguei à janela meu coração disparou novamente, não pela emoção de eu ver o que havia escrito no diário, mas porque eu via uma pessoa... Um garoto talvez? Cambaleando, com as mãos na cabeça, agachando como se estivesse sofrendo de uma enorme dor, em direção a floresta proibida. Lua cheia, garoto indo pra floresta proibida e para completar um uivo.
- Ted! - exclamei me exaltando. Não pensei duas vezes, larguei o diário sobre a janela e com a varinha na mão corri pra fora do castelo. Não foi difícil sair dele, uma vez que todos estavam jantando e comemorando o fim das provas no salão principal. Por que eu fiz isso você me pergunta? Porque a floresta proibida é o lar de várias criaturas, inclusive lobisomens. Que atacam sem dó nem piedade um filhote de sua espécie. Não poderia dormir em paz sabendo que Ted estaria correndo risco. Pode não parecer, mas eu tenho um coração.
Em poucos minutos eu já estava entrando pela orla da floresta. Olhei para trás e vi o castelo todo iluminado, todo cheio de vida, acima dele, a lua cheia, brilhante refletindo as estrelas a sua volta. Olhei para frente e vi a floresta, escura, silenciosa, fria... Depois de correr eu fiquei ofegante e agora eu andava devagar respirando com dificuldade, “Lumus” sussurrei, a ponta de minha varinha acendeu, mas não adiantou, era difícil enxergar qualquer coisa que estivesse a dois palmos de distância.
- Ted...? - Chamei por ele penetrando mais e mais na floresta. - Ted?
Silêncio. Um sombrio e mortal silêncio.
Eu sentia que estava sendo observada, tinha a leve impressão de que algo ou alguém acompanhava cada passo meu, tentei captar a mente de qualquer coisa viva por perto, mas nada me vinha. Ouvi um farfalhar nos arbustos e meu coração disparou. Olhei para trás em busca do que causara o barulho. Mais não vi nada, era provavelmente o vento. Virei-me lentamente para continuar minha caminhada mais algo me impedia disso. Uma criatura horrenda, com cabeça e corpo alongados, ombros encurvados, pêlos nas mãos e rostos e mãos transformadas em patas com garra. O ar ficou preso em minha garganta, meus pés presos ao chão. O lobisomem me encarava de tão perto que o ar que soltava em sua respiração embaçava meus olhos.
- Ted, sou e... Eu... AnnaBelly - dizia enquanto me afastava lentamente para trás - Ted... Não vou lhe fazer mal, vou lhe ajudar - eu rezava para que ele fosse capaz de me entender e raciocinar, e eu realmente acreditei nisso enquanto ele ficava parado me olhando enquanto eu andava lentamente para trás, tropecei em uma raiz de árvore caindo em cima de alguns galhos que ao quebrarem assustaram o lobo em minha frente. Ele correu pra cima de mim e sem pensar duas vezes apontei a varinha pra ele.
- “Petrificus totalus” - por um segundo o lobo ficou como uma estátua em minha frente, mas apenas por um segundo, meu coração disparou, o feitiço não o acertara - “Petrificus totalus” - berrei, era como se eu não tivesse falado nada, meu coração disparou e o lobo veio para cima de mim, suas patas me jogaram para trás e eu sentia o corte se formando em minha mão que foram sendo arrastadas em cima das pedras - “Estupefaça” - Assim que falei o lobo foi jogado para trás e eu consegui me por de pé, mas os feitiços não tinham efeito nenhum sobre ele, antes que eu pudesse me recompor ele já estava vindo para cima de mim novamente - “Estupefaça” - o feitiço atingiu um de seus olhos e isso o fez uivar de dor, me assustei com seu uivo o que me deixou petrificada no lugar sem me lembrar de correr, apontei novamente a varinha para ele só que antes que pudesse conjurar algum feitiço ele a jogou longe com suas patas, o lobo me segurava pelos ombro e me encostara no tronco de uma árvore, sua boca veio em direção a meu pescoço. Ele ia me morder. Ele ia me morder literalmente, e eu viraria... Não! Soltei-me de suas patas escorregando por debaixo de seus peludos braços e corri até minha varinha, pulei no chão para pegá-la antes que o lobo me alcançasse... sem pensar duas vezes:
-“SECTUSEMPRA!” - Como os outros feitiços não adiantou não duvidava de que talvez esse adiantasse mas assim que o feitiço o atingiu ele uivou de dor, mais alto do que da última vez, meus tímpanos doíam com seu uivo melancólico e cheio de agonia, ele correu por entre as árvores e ao longe ainda ouvia seu uivo.
Fiquei um longo tempo sentada no chão da floresta de onde tinha lançado o feitiço em Ted. Uma parte de mim dizia para não me importar, ele me mataria se não o fizesse, a outra me dizia pra ir atrás dele, eu o feri, ele podia estar morrendo agora... Sectusempra não é qualquer feitiço, é um feitiço de magia negra, não se pode lançar em qualquer pessoa, machuca seriamente interna e externamente a pessoa atingida, acarretando conseqüências se não tratados imediatamente que podem levar a morte. Eu não sabia quanto tempo passara desde que o lobo havia fugido para mais dentro da floresta do que já estávamos, mas eu sabia que não foi cedo à hora que decidi ir atrás dele. Podia ser um lobo, podia ter tentado me transformar... Ou me matar, podia ser que diabos quer que fosse, mas era o Ted. Não podia deixá-lo na floresta, não com tantas criaturas que poderiam lhe machucar mais do que eu mesma tinha feito sem querer. No meio do caminho achei a varinha de Ted jogada em meio a uns gravetos, foi um milagre eu ter a visto, uma vez que não enxergava nada a minha volta, a coloquei dentro de minha bota e segui andando torcendo para encontrá-lo e rezando para uma idéia vir a minha cabeça para eu contê-lo sem ser necessário machucá-lo.
Havia se passado horas eu sabia, mas onde havia se metido o lobo? Eu olhava em volta para poder ver qualquer coisa que me levasse a ele, talvez roupas rasgada, sangue, não sei. Qualquer coisa... E de repente eu o vi. Estava desmaiado aos pés de uma árvore. Sua blusa estava toda rasgada, havia sangue por ela, seu rosto e braços estavam cortados, suas calças estavam rasgadas, ele estava horrível, meu coração temeu o que podia ter acontecido, coloquei a mão em seu pulso, estava tão lento que eu me arrepiei ao sentir. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver assim, e a culpa era minha... Não toda claro, mas parte dela era.
Eu o chamava pelo nome, balançava-o, mas ele não abria os olhos, o medo tomou conta de mim, e depois uma idéia tão óbvia me veio à cabeça, ri secamente comigo mesma, pensando em como não havia pensando nisso de primeira.
- “Ennervate” - Sussurei com a varinha apontada para Ted, lentamente ele abriu os olhos, na verdade um dos olhos, o outro estava completamente inchado. - Ted! - minha voz saiu com um suspiro de alívio - Desculpe Ted... Eu não queria... Desculpe... Vem, vou te ajudar a levantar. - eu que estava ajoelhada ao seu lado me levantei e com muito esforço o ergui do chão. Passei as mãos por sua cintura e coloquei seus braços por cima dos ombros, com grande dificuldade ele andava apoiado em mim. Aos poucos íamos saindo da floreta.
- Eu não me lembro de quase nada - sussurava ele.
- Está tudo bem, não se preocupe. - Ele era pesado... muito pesado na verdade.
- Me desculpe... Belly, por favor... - ele engasgava com suas palavras, era visível a força que fazia para falar - Não conte a ninguém... Você prometeu em guardar segredo, lembra? - Seus olhos estavam quase completamente fechados, ele olhava para o chão, praticamente arrastando os pés.
- Sim eu me lembro, não se preocupe - eu ofegava ao falar
- Havia mais lá dentro, outros... eles... eles não me queriam por perto e...
- Shhh. Não se canse a toa Ted, agora não importa.
- Eu só me lembro disso...
De sua mente me vinha imagens... Um pequeno lobo no meio de uma roda com vários outros que tinham duas vezes o seu tamanho, os lobos olhavam o filhote amaeaçadoramente e o filhote... o filhote era o Ted... Então os lobos vieram para cima dele e... E institivamente eu parei de andar fechando os olhos com força forçando a minha mente apagar o que eu vi. Eu não podia acreditar que fizeram isso com ele, não! Me doia o olhar e ver todos os hematomas, e nada disso fora eu que causei... Pode parecer egoísmo mais um peso saiu de mim quando me veio a compreenssão, eu não machucara Ted, eu o salvara. Só que a confusão na cabeça de Ted era tão grande que era impossível não sentir a energia que emancipava dele, o medo, a dor, a tristeza... Eu o via, ele escondia de seus amigos todos os sintomas de que estava preste a se trasnformar, ele se trancava no banheiro e tentava não gritar, tentava não colocar a dor para fora, mais era insuportável... Ele não podia contar aos amigos, era vergonhoso e humilhante, ele planejara tudo, fugiria pra floresta e lá sozinho, longe de tudo e todos se transformaria. Ninguém saberia de nada disso, pois ninguém nem mesmo Potter sabia que ele se transformaria em lobo como seu pai... A não ser AnnaBelly, mas ela não vai contar a ninguém... Balancei a cabeça tentando me concentrar em não penetrar em seus pensamentos novamente. Hoje em dia existe poções que impedem lobisomens de se transformar, mas Ted não contara a ninguém sobre seu estado, não poderia pedir a um professor para preparar a poção pra ele, pois assim todos saberiam do seu segredo. Agora estava explicado.
Quando já estava perto do amanhecer, chegamos a porta do castelo. Foi difícil, mai enfim chegamos, assim que colocamos o pé para dentro do castelo o professor Longbotton veio para nosso lado. Eu suspirei de alívio e sorri. Alguém para me ajudar, eu pensei. Mas então vi seu olhar, ele olhou para a varinha em uma das minhas mãos depois para o sangue nelas, e depois seu olhar correu pelo Ted que estava apoiado em mim. Os olhos do professor se esbugalharam de espanto.
- Como você foi capaz de fazer isso! - Esbravejou Longbotton
Só então entendi o que ele pensava... Ele pensava que eu havia... que eu havia torturado Ted! Machucado ele, assim como minha mãe um dia tortura seus pais.
- Professor eu não...
- Calada, você tem noção do que isso vai lhe causar? Além de expulsão isso vai parar no Ministério! - Ele correu para meu lado e puxou Ted, afastando ele de mim como se eu fosse alguma coisa nojenta e perigosa.
- Nem Minerva tem como lhe livrar dessa vez!
- Ted, conte para ele o que aconteceu! - Olhei suplicando para o Ted, o professor também o olhou como se esperasse que Ted fosse falar o que o professor queria ouvir. Ted olhou para mim, os olhos como uma secreta súplica e sem emitir nenhum som mexeu os lábios dizendo “desculpa” de modo que só eu pudesse ver... - Ted? - Minha garganta apertou.
- Como eu pensei - Disse Neville - Para a sala da diretora, vou levar o senhor Lupin para a enfermaria e depois nos encontramos láFiquei parada na porta do castelo olhando o professor Neville ajudar Ted andar até as escadas, Ted olhou para trás, de seu olhar vinha um pedido de desculpas e de sua mente vinha as palavras “você prometeu não contar”. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
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