O antigo diário de Tom Riddle



- Você precisa arrumar uns óculos Lestrange. – Disse Ted, sem me olhar nos olhos e saiu andando.


-Ted?


-O que foi? – Ele não se virou, apenas parou onde estava. Apesar de tudo que fazia pra mim não agüentava olhar em meus olhos.


-Não falaria com você se tivesse escolha, mas devido às circunstâncias em que nos encontramos...


-Para! – interrompeu-me ele virando-se de frente pra mim – não agüento ouvir você falando tão formalmente, não sou nenhum professor ou alguém que você precise conversar desse modo, a merda, ta vendo? Comecei a falar certinho que nem você!


- Tanto faz, o fato é que, você não cansa?


-De...?


-Não vou ser expulsa dessa escola, você sabe muito bem disso, não adianta perder suas forças tentando me ferrar que não da certo, quer dizer três anos seguidos? Você não cansa? -


Olhando para baixo ele ficou em silêncio, uma das vantagens de ser filha do bruxo mais maligno e poderoso de todos os tempos é que você herda os poderes dele. Uma de suas heranças que foi deixada é ter facilidade de penetrar nos pensamentos das pessoas, e em casos mais simples apenas sentir o que estão sentindo, ter uma idéia do que pensam. Por exemplo, agora, eu sentia sua confusão, sua raiva, seu ódio, sua recusa, um misto de sentimentos que não dava pra definir o que realmente pensava.


-Ted... Só para, ok? A professora Minerva que me pediu pra falar com você. – Disse deixando bem claro para ele não pensar que eu me daria ao trabalho de lhe dirigir minha palavra.


 


                                                                                 *


 


A vida não é fácil. Ela é má com você, ela te derruba no chão e não te ajuda a levantar, ela esfrega seus erros na sua cara, ela faz você desejar poder escapar dela em certas horas e não querer mais voltar, ela te acusa pelos seus defeitos mostrando sempre seu pior lado. Só que no fim você sempre precisa dela, ela faz parte de você e não adianta fugir ou tentar se esconder, porque essa é a vida.


 


Não reclamo da minha vida. AnnaBelly Marvolo Lestrange. Meu pai foi Voldmort. Chamo-o de pai por falta de palavras melhor. Queria ter conhecido ele e não o que falam sobre ele. No meu mundo todos já ouviram falar dele, de sua maldade, de sua grandeza, de seus poderes e de sua capacidade. Mas assim que ele morreu o mundo veio a conhecer seus segredos e seu passado. Um dia ele fora Tom Marvolo Riddle, último herdeiro de Salazar Sonserina. O jovem bruxo prodígio com as melhores notas no colégio, com certa beleza invejada por outros garotos e que com o passar dos anos reunira muitos seguidores.


Minha mãe? Bom, embora eu realmente admire sem conhecer a figura que foi meu pai, eu desprezo de todo o coração a mulher que me carregou no útero. Bellatriz Black, que mais tarde adotou o sobrenome Lestrange. Desprezo-a por tudo que ela fez em nome de meu pai, pelas pessoas que matou, pelas famílias que destruiu, pelas vitimas que torturou e principalmente por ter me dado a luz sem vontade, por ter me carregado em seu útero por um favor e por ter me negado.


Meus tios nunca me disseram nada do que sei, mas como sabem, tenho certa habilidade para captar as idéias que vagam na cabeça dos que estão próximos a mim.


Meu pai ao matar, ao torturar, ao destruir, visava uma causa melhor. Um mundo livre de sangues impuros onde os bruxos não deveriam viver clandestinamente e os trouxas nos venerariam. Bellatriz ao matar, visava agradar meu pai. Não fazia por amor, nem por vontade, apenas para agradar. Desprezo-a.


 


Dentro da sala comunal da Sonserina, as pessoas me respeitam, muitos de meus colegas sonserianos são filhos de ex seguidores do meu pai, eles tentam se aproximar, tentam ficar próximos, esperando com expectativas  que eu assuma o cargo de meu pai, começando de agora a reunir seguidores, começando de agora a purificar nossa raça, e principalmente esperando que se eu os assumir como meus seguidores , ou de maneira mais prática, meus amigos, irão realmente ter algum prestigio e respeito por parte dos outros. Tolos.


Tento ao máximo ignorá-los, mas há certas pessoas com certos potenciais que não podem simplesmente ser ignoradas. Alice Nigellus, Cory Corner e Richard Jones.


Os únicos que posso chamar de... Amigos. Admito, por mais que eu não queria, tenho amigos.


 


Alice é minha companheira de quarto. A única. Apesar de ser obrigado no dormitório feminino cada quarto ter três garotas, no nosso somos apenas nós. Havia outra Mary Jule. Ela não me agüentou nem agüentou a Alice, e recusando-se a entrar no quarto, o professor de feitiços, Davis (diretor da casa da Sonserina) foi obrigado a mudar de quarto. Isso foi na primeira semana, do primeiro ano.


 Alice é por fora chega perto da perfeição, longos cabelos lisos e loiros, seus grandes olhos arredondados são tão claro que chegam a aparecer cinzas, seu corpo bem estruturado causa inveja às garotas mais velhas. Mas por dentro longe de sua carinha angelical, Alice tem coração frio, pior. Gelado. Tem tanta maldade e ódio no coração como eu, ela é capaz de fazer qualquer coisa pra conseguir o que fosse que queria e não mede limites pra alcançar seus ideais. Assim eu e Alice nos demos muito bem.


O Cory e Ric também são assim. Certa vez fui escondido à sala de poções pegar alguns itens para um experiência minha não autorizada e encontrei os dois praticando maldições imperdoáveis em um velho sapo do professor. Tínhamos onze anos. Pra mim isso é um dom. E um dom como o deles não deve ser jogado fora, deve ser incentivado e aperfeiçoado.


E assim eu fecho meu grupo particular, com meus três pequenos prodígios as minhas ordens, ao meu lado.


 


Depois de falar com Ted, e de me alimentar fui pra sala comunal nas masmorras, precisava descansar, Ted Lupim e suas atitudes me cansam. Havia na sala comunal apenas uns poucos alunos do quinto e sétimo ano estudando e bem no canto perto da lareira estava Alice, Cory e Ric conversando.


- Sim eu sei, mas ele não vai parar você o conhece, sabe como não agüentaria ficar uma semana sem aprontar uma com agente – Antes de chegar perto deles já conseguia ouvir a alterada voz de Alice.


- Tanto faz, só não acabo com ele porque não seria justo, seria como tentar bater em um recém nascido.


-É Cory, mas você não esta quase sendo expulso da escola! Por Merlin!


-Ninguém esta quase sento expulso da escola. Não que eu saiba. Ou perdi alguma coisa? – Perguntei enquanto me sentava no tapete encostada sobre a poltrona de Ric, que como sempre estava caladão na sua.


-Belly! – exclamou Alice de sua poltrona e vindo me dar um de seus esmagadores abraços- Cara, você viu as horas? Já passam das dez! Você sumiu, pensei que você tinha matado o Ted e ido enterrar o corpo dele!


Até o Ric que estava super sério riu dessa.


-E você acha que eu teria feito isso sem chamar vocês? Sabe que sempre divido todas as boas coisas com vocês – falei


Ric e Cory sentaram juntaram-se com a Alice no seu interminável abraço, eu poderia morrer sufocada nesse momento, mas não seria eu quem iria acabar com um momento como esse.


Depois de uns segundos eles se afastaram e sentaram-se em frente a mim todos com um grande sorriso no rosto me olhando. Ai, como eu amava esses três.


- Está tudo bem – disse eu – Minerva sabe que sou santa, nunca apronto nada.


-Santa? – bufou Cory – Que isso Belly, como se agente não se conhecesse.


-Com licença Cory, estou contando minha super e empolgante história.


-Ta, foi mal – respondeu rindo.


- Como eu dizia como a Minerva sabe que sou santa e que nunca seria capaz de tamanha barbaridade, me deu um castigo.


-Mas você não fez nada! – Disse Ric indignado.


-Pois é! Não fiz. Mas ela me castigou, acho que antes eu ter colado e merecido o castigo que me deu. Só que com muito custo e força de vontade já cumpri meu castigo.


- Que era...? – Cory estava todo curioso.


-Falar como o Ted, para ele parar de me encher! – Finalizei colocando a mão nos olhos e limpando uma lágrima imaginária.


-Como ela foi capaz de mandar você fazer isso? Estamos no séc. XXI isso é tortura! – falou Ric, todos riam de minha dramática interpretação.


-Tentei protestar, mas ela me obrigou! Foi horrível.


E senta com eles, nossa conversa continuou... Eu já não sabia as horas mais agora havia apenas nos quatro na sala comunal, com certeza era tarde, bem tarde.


-To cansada Belly, vou tomar banho e dormir – Disse Alice, beijando nossas bochechas e se levantando para ir pro dormitório.


-Ei Ali, me espere também vou subir com você – Disse Ric que me deu um abraço e disse que esperaria Cory no dormitório.


-Já to indo também Alice – respondi. Mas ela já estava subindo as escadas.


Levantei peguei minha mochila guardei as coisas que misteriosamente estavam todas espalhadas pelo chão, nem percebi, mas assim que me levantei vi que Cory me encarava com seus lindos olhos verdes penetrantes.


-Bel... Vou te perguntar, mas, por favor, seja sincera comigo. Porque não me deixa dar um jeito no Ted por você?


-Porque não precisa Cory.


-Mas olha o que ele faz pra você todo esse tempo! – Ele se levantou e ficou em frente a mim – Quer dizer, a Mary Jule, só porque você e a Alice não gostavam da presença dela, agente...


-Não toque nesse assunto.


-Não AnnaBelly, sério! Agente torturou a garota pelo sim...


 Eu tampei a boca dele com minha mão. A sala podia estar vazia, mais isso não impedia ninguém de nos ouvir escondido por aí.


-Não toque nesse assunto – Repeti, só que dessa vez de um modo severo.


Devagar tirei minhas mãos da boca dele. Ele suspirou e colocou as mãos em meus ombros.


-Me preocupo com você e farei qualquer coisa que me pedir, é só você me pedir que eu acabo com ele, ele nunca mais te incomodará, só quero dizer que já fizemos as pessoas saírem do nosso caminho por menos coisas do que ele faz, e não entendo porque você deixa ele fazer isso com você. Responde-me por quê?


-Ele não me incomoda tanto assim...


-Como não? No outono passado ele espalhou que você reabriu a câmera secreta!


-Mas agente abriu...


-É, mas só pra olhar, e ele descobriu, e isso quase a fez ser expulsa da escola no último ano.


-Minerva não acreditou nele.


-Só que esse é o último ano dela, quem quer seja o novo diretor não será assim, vai acreditar nele em qualquer coisa que disser que você fez... Porque o defende tanto?


Eu nunca o defendi. De onde ele tirou isso?


-Eu nunca o defendi... Cory é sério... Se... Se algo acontecer a ele ai sim serei expulsa, por isso não deixo você fazer nada.


Devagar ele soltou meus ombros, e afastou minha franja dos olhos, ele era mais alto que eu, na verdade todos eram mais altos que eu, ele sorriu, eu sorri.


- Só não quero que nada aconteça a você.


-Não se preocupe Cory, nada vai acontecer.


-Jura?


-Juro.


-Tudo bem então... Boa noite – disse beijando minha testa e saiu para o dormitório masculino.


Foi um longo dia, eu estava exausta.


 


 


-O que? Duvido! Aposto um galeão que você não faz isso?


-Sabe Ted isso se chama machismo, qualquer pessoa de qualquer sexo pode fazer isso!


-É mais qualquer pessoa... Você não é qualquer pessoa... Você é diferente – disse Ted sorrindo sem graça.


-Em que sentido? – perguntei do mesmo modo como ele, sem graça.


-No bom sentido com certeza! Então vamos apostar?


-Sério mesmo, quer apostar comigo? Não quero te fazer perder um galeão.


-Que isso AnnaBelly, aposto que você não consegue!


-Tudo bem, apostado, assim que chegarmos a Hogwarts agente vai por isso a prova então.


-Mas você sabe que agente do primeiro ano não pode voar em vassouras sem autorização.


-Tudo bem... Entendo você sabe que vai perder.


-A então ta, assim que chegarmos a Hogwarts veremos quem é melhor em quadribol.


-Você sabe que eu sou melhor, não adianta Ted.


-Pra sua informação senhorita AnnaBelly meu tio foi o apanhador mais jovem de Hogwarts, no primeiro ano já jogou, e minha tia até alguns anos jogava em liga profissional.


-Você ouviu o que disse? Sua tia? Sua tia jogou em liga profissional, e ela é mulher, e você dúvida que eu não jogo nada, por ser mulher!


-Eu não disse isso, disse que eu duvido que você seja melhor que eu.


-Veremos.


-Sim, veremos. O trem deve estar quase chegando né?


-Duvido, são quase sete ou oito horas de viagem, apenas no pôr-do-sol agente chega.


-Mas ainda não são nem uma da tarde!


-Ê?


-To entediado.


-Coitado do coitadinho.


-Boba- disse ele rindo-Quer jogar xadrez bruxo? To com o meu aqui na mochila.


-Claro, vou adorar ganhar de você.


-A ta, nem vou falar nada Belly...


 


-Belly...? Belly!


-Ela não abre os olhos.


-Claro Cory, ela vai abrir os olhos enquanto dorme.


-Será que ela passou a noite toda nessa poltrona?


-Ou isso, ou ela decidiu descer e tirar um cochilo aqui.


-Calem a boca os dois, por favor.


-Falem baixo, por favor- resmunguei me virando na confortável poltrona, tão confortável que parecia a poltrona da diretora Minerva, não que eu tenha sentado lá...


-Ta acordada.


-Você acha que ele ta? Tem certeza?


-Anem, ta difícil hoje em Alice, vamos Ric, tem treino de quadribol agora.


Ouvi alguém bufar, provavelmente Alice... Eu queria voltar pro expresso de Hogwarts, mas agora já não dava, meus lindo amores me acordaram...


-Belly? Meu bem acorda... – Alice falava tão docilmente em meu ouvido que me dava mais sono ainda.


Lentamente abri os olhos, podia sentir o peso deles querendo se fechar novamente. Lutei bravamente com eles e venci. Consegui deixá-los aberto.


-Agora você realmente acordou ou ainda não?


-Não tenho certeza, acho que não.


-Engraçadinha, vem, sua cara ta horrível.


-Obrigada Alice, você esta ótima também!


 


Depois que me higienizei, Alice sentou-se atrás de mim em minha cama e gentilmente escovava meus negros e lisos cabelos, ela adorava isso, dizia ela que isso era uma terapia pra ela, e eu deixava, gostava disso. Depois ela insistiu como todos os dias em me maquiar. Odeio maquiagem, mas para deixá-la feliz aceitei que ela passasse um lápis preto em meus olhos e um pouco de algum pó rosado em minhas brancas bochechas. E só depois disso tudo eu percebi uma coisa.


-Hoje é sábado!


-Certo, percebeu isso quando você acordou às dez da manhã, ou quando não se vestiu com o uniforme e não foi pra aula?


-Quando não vesti o uniforme e não fui pra aula.


-Bom saber, agora deixa me terminar de te maquiar.


Freqüentemente eu tinha a impressão que a Alice pensava que eu era uma espécie de boneca dela, onde ela me penteava me arrumava me colocava pra dormir e me acordava. Não que eu reclame, mas tinha pena dela. Ela cresceu com uma bruxa rica e mimada só que não recebeu atenção de seus pais, e tudo que ela faz pra mim, penso que é o que ela queria que seus pais fizessem com ela. Eu a amava, por isso não reclamava.


-Pronto Alice?


-Quase... Pronto! Perfeita, o que ia dizendo mesmo?


-Bem hoje é sábado, e você sabe o que tem hoje à noite né?


-O banquete de dia das bruxas?


-Uhum, e depois disso?


-Deveres nos aguardando?


-Quase! Bom sabe que pros alunos do quarto ano acima tem o baile de dia das bruxas, né?


-Sei ai que inveja, como queria entrar lá, por Merlin, não me diga que vamos de penetra?


-Não! pra que ir a um baile? Isso é bobeira. Quer dizer que o castelo vai estar praticamente vazio e eu poderei procurar o diário de meu pai!


-Belly... Ele foi destruído há anos...


-Talvez, mas tudo tem conserto!


-Belly, ele ta no escritório da diretora, é impossível de pegar.


-Não é não. Ela vai estar no baile, e eu sei onde esta ele. Toda vez que eu vou parar na sala dela, ela fica olhando para porta de um armário com um olhar meio nervoso sabe? E do armário ela olha pra mim. Quer dizer é um sinal de que tem algo lá que ela não gostaria que eu visse, e aposto dez galeões como nesse armário estão todas as destruídas horcruxes do meu pai. Meu tio Lúcio disse que o ministério da magia, logo depois da batalha quando Harry Potter contou o que era elas, queria confiscá-las, mas a Minerva disse que no ministério algum comensal a solta poderia pega-las e aqui em Hogwarts estariam mais segura-las porque nenhum comensal consegue mais entrar aqui. É essa minha chance Alice, essa é a oportunidade que esperei todos esses anos. Você tem que me ajudar.


Alice mordendo o lábio inferior olhou apreensiva pra mim. Depois fechou os olhos como se estivesse lutando contra algo em sua cabeça e quando os abriu estava radiante.


-Você sabe a senha pra entra no escritório?


-Uhum.


-Tudo bem, então essa noite agente pegará o antigo diário de Tom Riddle. 

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