A herdeira
Dias atuais. 13 anos depois
Eu estava sentada em uma poltrona nada confortável na conhecida sala redonda de dois andares, rodeada por retratos de antigos diretores da minha atual escola. Hogwarts. Para mim era conhecida, mas na verdade, nem metade dos alunos sabe onde é a sala do diretor, no caso da diretora. Fora a biblioteca e a sala de aula, o escritório da diretora é onde eu passo maior parte do meu tempo, não que seja minha escolha, mas é isso que acontece quando toda a escola te odeia.
Bom, é isso que da, ser filha dos dois bruxos mais malignos e odiados do mundo. Conseqüentemente você nasce maligna e odiada. Mas não me importo nem um pouco com isso, pra dizer a verdade, acho melhor. As pessoas não se aproximam de você, e não gosto das pessoas no geral. Por mais que eu seja ruim, elas conseguem ser piores do que eu. Por exemplo, estou eu aqui, esperando a diretora vir me dar uma bronca por nada que não fiz.
-Annabelly – Disse a diretora Minerva soltando um longo, pesado e cansado suspiro enquanto descia a escadaria redonda – O que foi dessa vez?
Estiquei para a diretora o pergaminho onde meu querido professor de herbologia, senhor Longbottom havia escrito algo mentiroso sobre minha conduta em sala. Ela o pegou enquanto sentava-se em sua poltrona atrás da escrivaninha. A poltrona dela parecia bem melhor que a minha. Ela ajeitou os pequenos óculos na ponte do nariz, e rapidamente passou os óculos pelo pergaminho. Ao terminar o enrolou novamente e colocou sobre a escrivaninha.
-Pois bem, o que tem a me dizer sobre isso?
-A senhora sabe que não fui eu.
-E você sabe o que ele me escreveu?
-Não importa, tenho minha consciência limpa de que não fiz nada inadequado para o professor Logbottom tomar tal atitude.
A diretora se ajeitou na poltrona, como se estivesse incomodada com ela, mas eu duvido, qualquer um sabia que aquela grande e majestosa poltrona era melhor do que a que eu estou sentada agora.
-A senhora sabe que não estou mentindo professora.
As pessoas pensam que eu sou meu pai, ou minha mãe. Não tive a infelicidade de conhecer nenhum dos dois, pelo que sei, meu pai morreu sem saber que nasci, mas realmente não ligo, fui criada pelos meus tios, Lúcio e Narcisa Malfoy, mas agora já estão envelhecendo querem aproveitar os anos que lhes restam viajando pelo mundo, no último ano me mudei, estou morando com meu primo Draco, e sua mulher Astoria que me odeia profundamente. Draco sempre foi pra mim uma espécie de irmão mais velho e me tratava como irmã, agora me trata como filha, isso me fez ter grande respeito por ele, embora Astoria me odeie. Ela nunca admite isso, porque ela sabe que isso a faria perder pontos com o Draco, como se eu me importasse. Ela é só mais uma na lista dos que me odeia.
- Deixe-me adivinhar. – disse a diretora impaciente – Ted Lupim “armou” como dizem os jovens, novamente pra você.
-Ou isso, ou o professor Longbottom está caducando.
-Vou falar com ele sobre isso... AnnaBelly, faça um favor a mim, sim? Fale com o Ted, mal começamos o ano letivo e de novo você está aqui.
- Você acha que eu gosto disso professora? – perguntei indignada. – Me recuso a falar com alguém como ele. Existem pessoas que merecem e que não merecem o nosso respeito e educação, ele é uma das que não merecem nada disso de minha parte.
- O que você fez para ele querer lhe causar tantos problemas?
-Provavelmente nasci. – sussurrei para mim mesma.
-Não diga uma coisa dessas! – é, não foi um sussurro pelo visto – Estou falando sério AnnaBelly, ele esta comprometendo sua imagem dentro da escola.
-Mas professora! – agora estressei, vou falar tudo mesmo, ela que me ouça – Desde o primeiro dia, desde o momento em que o chapéu seletor anunciou meu nome, desde o momento em que me sentei à mesa da sonserina, automaticamente um quarto da escola passou a me odiar! Não negue o que digo! A senhora vê, eu vejo, todos os dias vejo os olhos com que me olham, às vezes até de professores. As pessoas pensam que eu sou meus pais, que vou sair por aí, matando e torturando nascidos trouxas e traidores do sangue, ou coisa do tipo. Não sou meus pais. Não me orgulho do que fizeram pelo mundo, mas eu não pedi pra nascer, muito menos ser herdeira deles. Desde pequena me acostumei com o preconceito que têm contra mim, mas o Ted professora, o Ted! Ele não se controla, enquanto eu não for expulsa ele não vai parar de infernizar a minha vida, como se ela já não fosse ruim o bastante!
-Filha, acalme, Por Merlin, o mundo passou por tempos difíceis... – A diretora continuava falando, mas eu não ouvia. Eu segurava as lágrimas que pediam para ser derramadas nesse momento, mas não as deixarei cair por algo que não as mereçam.
Todos os dias acordo e olho me no espelho, por fora sou vista como o espelho me reflete, cabelos negros cortados a altura do ombro, olhos profundamente azuis disfarçados pela minha franja que cai sobre eles, corpo de estatura mediana acompanhados por minha pele branca. Por fora, perfeita garota de treze anos cursando seu terceiro ano em Hogwarts. Por dentro. Bom por dentro nem eu sei o que tem, ganhei minha varinha com quatro anos de idade, desde os sete pratico feitiços e encantamentos aos oitos comecei a preparar pequenas, mas satisfatórias poções, cheguei a Hogwarts com meu nível em magia avançado pela minha idade, sei tanto quanto qualquer alunos do quinto ou sexto ano, poderia fazer a prova de N.O.M.* de olhos fechados e tirar boas notas em todas as matérias. Foi um ponto para me diferenciar das pessoas, meu intelecto superior. Mas tem o fato de que meu falecido pai foi o pior bruxo de todos os tempo em termos de maldade, duvido que amou a minha mãe alguma vez, mas ele me planejou, em seus planos seria eu que continuaria o que começou se viesse a falecer. Não quero que minha vinda ao mundo tenha sido em vão, e desde já me preparo para isso, mas não quero começar nada agora. Só tenho treze anos poxa! E pra piorar a situação, Ted Lupim resolveu acabar com minha vida na escola.
Eu o conheci no expresso para Hogwarts, no primeiro ano, me lembro perfeitamente desse importuno dia...
Eu estava sentada em um vagão sozinha, o trem acabara de sair da plataforma nove três quartos, e eu abri meu pequeno livro enquanto começava a viagem, apesar de que iria começar meu primeiro ano em Hogwarts não estava tão animada como os outros novatos, principalmente os trouxas. Não suportava vê-los curiosos com tudo e com todos, como se magia fosse coisa de outro mundo. Dava-me náuseas. Fiz questão de chegar cedo para pegar um vagão só para mim, não gosto de ficar no mesmo ambiente que muitas pessoas por muito tempo.
Eu estava tão entretida com o livro que não ouvi a porta do vagão se abrir, só quando o estranho invasor pigarro que eu o vi:
- Se importa se me sentar aqui? – Perguntou um garoto, com certeza era do primeiro ano, não supus isto vendo seu tamanho, ou a magreza, ou os castanhos e desgrenhados cabelos, ou as pequenas covinhas que aparecia em seu rosto ao dar um sorriso sem graça. Sim porque estava sozinho sem saber para onde ir, ou seja, seu primeiro ano. Assim como eu.
-Não tem, nenhum outro lugar onde possa ficar? Com seus amigos talvez? – perguntei friamente
Acho que ele pensou que eu estava querendo iniciar uma conversa, pois se sentou em frente a mim, e seu sorriso sem graça sumiu sendo substituído por outro sorriso alegre e extrovertido.
-Não fiz amigos ainda, é meu primeiro ano, é o seu também?
-Uhum...
-Sou Ted, e você?
-AnnaBelly...
-Nome legal, prefere que te acho de Anna ou de Belly?
-AnnaBelly. – Não queria conversar com ele, eu estava lendo. Será que ele não via?
-Ok... Hum... Você com certeza é de família bruxa, meu tio me ensinou a conhecer bruxos e trouxas, diz ele que os mais calados são bruxos, agora os garotos que mais conversam vem de famílias trouxas por estarem curiosos e querer saber sobre tudo.
-Quer dizer que você é de família trouxa? – Ótimo, tudo que eu precisava, passar sete horas ouvindo um sangue ruim falar no meu ouvindo.
-AH foi engraçada essa! – não foi não ok? Menino enjoado – Não, sou de família bruxa também, só porque moro com meus tios...
-Legal...
-Uhum, tipo acho que sim... Quer dizer, não conheci meus pais, mas é legal morar com meus tios. – Quando ele disse isso, seus olhos antes alegres agora estavam tristes, pensativos. Ele é órfão. Como eu.
-Também não conheci meus pais admiti – morreram quando eu era bem nova...
-Jura?
-É... Sabe a batalha de Hogwarts, alguns anos atrás...
-Sei... Foi lá que meus pais morreram. – Respondeu ele triste
-Os meus também – Não que eu lamentasse a perda, para mim não fazia diferença, mas para o Ted eu via que fazia, fazia toda diferença, eu sentia sua dor, era a minha dor, só que diferente de mim, eu a reprimia.
-Sinto muito – disse ele
-Tudo bem, me acostumei. Quer dizer acho que me acostumei.
-Sei como é. Porque...
-Annebelly? Você me ouviu? – Perguntou a professora me tirando de minha viagem ao passado.
-Sim senhora... Posso ir?
-Claro – sorriu ela maternalmente – Não se preocupe querida, como lhe disse, farei o que puder para melhorar sua situação.
-Uhum, certo... Obrigada
-Não por isso... Não por isso. Apenas esclareça as coisas com o Ted e os amiguinhos dele, não quero mais intrigas.
-Sim senhora – Respondi saindo do seu escritório e antes de fechar a porta pude ouvi-la se remexendo na poltrona novamente, como se fosse desconfortável, mas eu sei que não era.
A diretora Minerva sempre foi justa com todos os alunos e não era diferente comigo. Desde o primeiro ano Ted e seus amigos pregam peças e armam certas coisas onde à culpa sempre recai sobre mim, mas a diretora sabe que não sou eu quem faz tais coisas. Primeiro porque não perderia meu tempo com isso, segundo, são coisas tão inofensivas que eu não teria capacidade de fazê-las por serem simplesmente ridículas. Tipo prova teórica de herbologia, alguém (Ted) fez o favor de colocar um enorme livro aberto de baixo de minha mesa. Como se eu precisasse colar, ou pior, como se eu fosse ser tão obvia na hora de colar. O professor Neville ficou louco quando viu, não admite cola, e imediatamente me tirou a bendita prova e me mandou para direção, enquanto isso Ted junto com seus amiguinhos Cole, Léo e Penélope rachavam de rir. Quanta maturidade.
Tudo bem eu iria falar com ele, só para que da próxima vez que eu for parar na direção eu poça dizer que falei com ele, mas não adiantou nada. Não iria sair procurando por ele, quando eu me esbarrasse por algum acaso com ele, eu falaria. Coisa que eu esperava que não fosse tão cedo. E como sempre que eu não quero que algo aconteça, na mesma hora acontece, quando me virava pra entrar no Salão principal quem estava vindo no sentindo contrário? Uhum, ele mesmo.
-Ah desculpe eu não vi... – falou com um sorriso e olhar educado, mas quando ele viu em quem tinha se esbarrado a educação foi embora.
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