Amor Impossível
Capítulo 5
Amor Impossível
Meus olhos continuavam abertos como os de uma coruja, ou talvez, até os olhos de uma coruja estivessem mais fechados que os meus. A questão é que não conseguia dormir. Embora a noite tivesse sido cheia e muito cansativa, não conseguia dormir. Se olhasse agora no espelho, com certeza veria meus olhos vermelhos e inchados. Havia chorado muito desde que voltamos da mansão dos Malfoy.
Foi difícil pedir desculpas pelo que aconteceu naquela casa, quero dizer, pedir desculpas para as meninas, Demi e Amanda. Afinal, elas me levaram para o jantar e o que fiz foi um escândalo, não queria, mas aconteceu. E no final, Demi disse que foi o jantar mais divertido que já teve e Amanda falou que já estava na hora de alguém dar uma lição naquele Malfoy. Mesmo assim não me sentia bem.
Amanda me perguntou o que aconteceu depois que Scorpius correu atrás de mim e porque sumimos depois de voltarmos para a mansão molhados. Ora vejam só, ela deve ter pensado coisas horríveis sobre mim. Não contei nada sobre o anel, apenas disse que ele tentou me convencer a sair da chuva e entrar. Ela acreditou, e depois, falei que fomos para o quarto dele onde me entregou uma toalha e pediu para que tomasse banho. O que me fez lembrar que preciso devolver as roupas de Alex. Mas, jantamos ali mesmo no quarto dele. Pedi desculpas sobre o pai dele e percebi quando ele deixou o rosto rígido. Disse que ele mereceu, e depois mudou de assunto.
E agora estava no quarto de hospedes sozinha e a chuva lá fora continuava forte. O que mais poderia acontecer? Estava sozinha, tecnicamente, sem meus pais e meus irmãos. É difícil de admitir, mas sinto falta das discussões de quando estávamos juntos. Sinto a falta deles. Olhei para o anel que estava em minha mão direita e me senti mais sozinha.
Fechei os olhos tentando pegar no sono. Comecei a ouvir barulhos, altos e bem chatos. Vozes começaram a surgir no meio da noite chuvosa. O que estava acontecendo? De duas uma, ou estou sonhando ou esta realmente acontecendo. Abri os olhos e percebi que não era um sonho, na verdade, não havia nem se passado cinco minutos. Continuei a olhar para o relógio, mas minha atenção estava no andar debaixo.
- Onde está? – Uma voz começou a gritar.
- Olhe que horas são, se acalme, podemos resolver isso de outro jeito. – Tinha certeza de que a segunda voz era do pai das meninas.
- Não podemos resolver de outro jeito, se não for agora estarei perdendo uma grande oportunidade. – Falou nervoso.
Poderia ter gritado, mas o susto foi tão grande quando Demi abriu a porta de supetão e acendeu a luz que não tive reação. Amanda apareceu correndo e fechou a porta a trancando. Sentei na cama e continuei sem reação, não sabia o que falar ou o que fazer.
Elas abriram a porta do enorme guarda-roupa e tiraram algumas coisas de lá de dentro. Algumas eram minhas, outras não. Continuei olhando para elas e percebi os passos apressados na escada.
Demi colocou a mão direita no fundo do guarda-roupa e segurou com a mão esquerda a mão direita de Amanda, que colocou a mão esquerda também no fundo do guarda-roupa. E de repente, uma porta foi aberta. Como se ela estivesse ali o tempo todo. Não conseguia ver nada, estava tudo escuro dentro daquele lugar. Uma passagem secreta? Talvez. Estava muito escuro para saber o que era.
- Vamos Melissa, entre. – Amanda me despertou. Levantei devagar da cama e caminhei até as duas. – Entra logo. – Falou nervosa.
- Onde isso vai dar? – Perguntei receosa.
- A questão é que se não entrarmos logo algo pior pode acontecer. – Demi terminou de falar e a alguém bateu na porta, desesperadamente.
- Abra. – Gritou. – Agora. – Conhecia aquela voz, mas de onde?
- Entra Mel. – Pediu Demi, desesperada.
Sem hesitar mais, entrei e as duas entraram correndo atrás de mim. Tudo ficou escuro quando a porta, ou a parede, o que quer que seja fechou em nossas costas. E tudo o que quero é saber o que esta acontecendo.
- Cuidado! Tem uma escada a sua frente. – Avisou Amanda. Comecei a descer os degraus de vagar tentando não cair. Minhas mãos estavam firmes nas paredes estreitas e meus olhos mais pareciam fechados do que abertos, a única semelhança é que não continuaria não vendo nada.
Quando, enfim, a escada terminou havia uma porta que dava direto em um pequeno cômodo. Duas camas, uma ao lado da outra, uma outra porta que deduzi ser do banheiro, algumas caixas empilhadas em um canto. E uma estante com alguns livros empoeirados.
- O que esta acontecendo? – Perguntei vendo Amanda trancar a porta. Sentei em uma das camas e as duas sentaram na outra a minha frente. – E então? – Amanda olhou para Demi e assentiu.
- Nosso pai é um comensal. – Falou Amanda indo direto ao ponto.
- Ex-comensal. – Corrigiu Demi.
- Ninguém deixa de ser um comensal, uma vez comensal sempre comensal. – Falou levemente irritada.
- E o que isso tem haver? – Cruzei os braços.
- Tem haver que não é a primeira vez que isso acontece. Já tiveram várias “reuniões” aqui com outros comensais. Eles sempre se trancam no escritório e ficam por horas lá. – Confessou.
- E desde quando? – Perguntei receosa.
- Desde sempre. Desde que era pequena. – Falou com dúvida. – Mais a questão não é essa. – Amanda olhou para Demi.
- E qual é a questão? – Olhei para as duas.
- A questão é que o ministério já passou por aqui várias vezes durante esses anos, mas nunca conseguiram uma prova concreta por aqui. E ultimamente tenho a impressão de aurores ao redor da casa. Não é certeza, mas sinto que querem algo por aqui. – Contou Demi.
- Por isso quando ouvi vozes corri chamar Demi para ficarmos em um lugar seguro.
- Mais como fizeram esse lugar? – Olhei ao redor.
- Não sabemos. – Confessaram. – Uma vez estávamos nos escondendo dentro do guarda roupa quando os aurores vieram, e quando vimos havia uma porta ou passagem vindo diretamente para cá. É estranho, mas nunca contamos para ninguém. – Amanda fala vagarosamente.
- Mais porque fogem se eles não procuram por vocês? – Esperei que respondessem, mas a resposta não veio. – E então? – Insisti.
- Não fugimos dos aurores. – A olhei sem entender. – Fugimos do nosso pai. – Continuei a olhando. – Ouvi uma conversa dele, não sei com quem, mas eles falavam sobre nós. – Apontou para Demi e ela. – Falavam que precisariam de nós no futuro para ajudá-los a fazer o que planejam todos esses anos. Desde esse dia nos escondemos aqui e sempre o evitamos.
- E o que queriam aqui, hoje? – Perguntei ficando cada vez mais curiosa com aquela loucura.
- Achamos que estavam atrás de nós. – Falou Amanda, cautelosa, olhando para Demi.
- Ou de você.
**
Profeta Diário (Capa)
O MISTÉRIO CONTINUA
É de total interesse para todo o mundo bruxo saber que, noite passada, uma das mansões mais desejadas do mundo mágico fora alvo de um duelo. Fontes confiáveis nos revelaram que ex-comensais faziam uma pequena reunião antes mesmo da chega do ministro da magia. Seria essa reunião para recordar o tempo de vocês-sabem-quem? Ou planejam algo que está longe de nossa compreensão? É preciso ressaltar que Amanda Smith e sua irmã Demétria Smith estão desaparecidas, junto com a amiga Melissa Potter, filha de Harry e Hermione Potter e irmã gêmea de Luan Potter.
Seria ela o real motivo dessa pequena reunião terminada no ministério da magia? Como os aurores souberam o exato momento que estariam na mansão Smith? Primeiro o desaparecimento do casal Potter e a filha caçula Lílian Potter, após o ataque em sua própria casa, agora, Melissa Potter. Acho melhor que Luan Potter tome muito cuidado, pois ele será o próximo da lista. Seja lá onde estiver, tranque as portas, janelas e não saia até o ano letivo começar. Ou teremos mais algumas visitas ao ministério.
Por Suzana Skeeter.
- Isso é ridículo. – David terminou de ler. – E impossível. – Completou em um tom convincente.
- Você acha? – Perguntei tentando acreditar em suas palavras.
- É claro! – Falou. – Quem iria querer a Melissa como prisioneira? – O olhei bravo, mas nem ele riu de sua própria piada sem graça. Ele estava diferente demais. Diferente de uma maneira, não muito boa.
- Será que ela está bem? – Entrei ao lado dele na sala de estar da sua casa. Katy estava sentada no sofá assistindo televisão, mas pegou o controle e a desligou.
- Se estão falando da Melissa, acredito que sim. – Falou abrindo uma barra de chocolate. – Vocês querem? – Neguei.
- E quem é a Suzana Skeeter? – Peguei o jornal da mão de David e me certifiquei de que falava o nome certo.
- Filha da Rita Skeeter. – Katy respondeu antes de morder mais uma vez a barra.
Deixei o jornal na mesa de centro e sentei na poltrona ao lado do sofá. Olhei para David e, ele estava apoiado na janela observando o horizonte. Realmente ele estava diferente. Não ria de suas próprias piadas, e nem ao menos conversava mais.
- Acho que vou... – Começou David. – Deitar um pouco. – E saiu da sala nos deixando.
- O que aconteceu com ele? – Perguntei indo para frente e apoiando os braços nos joelhos.
- Por quê? – Terminou de comer a barra de chocolate e deixou a embalagem na mesinha.
- Tirando o fato de que acabamos de levantar da cama, ele anda estranho, e... – Fui numerando com os dedos, até ela me interromper.
- Você tem certeza de que não sabe? – Assenti querendo saber o que estava acontecendo com meu amigo. – Luan. – Suspirou com pesar. – Não conte a ele o que irei lhe contar agora, mas ontem à noite quando estava dormindo vi David acordado recebendo uma carta. Esperei ele terminar de lê-la e a reação não foi muito boa. – Suspirou novamente.
- O que ele fez? – Perguntei aflito.
- Ele chorou. Sabe o que é para o David chorar? Ele nunca chora por motivo algum, sem sentido, mas eu o vi chorando e foi uma das piores coisas do mundo. Sempre fomos muito unidos, mas vê-lo chorar foi demais para mim. Deixei tudo de lado e fui abraçá-lo. Como se soubesse que estava o vigiando ele me abraçou forte e chorou.
- Mas o que tinha escrito na carta? – O mundo está virando de cabeça para baixo. Primeiro meus pais e Lílian, depois Melissa e agora David.
- Não sei, ele não me deixou ler. Mas contou mais ou menos. – Pausou por um instante. – Luan... David esta amando. – Quando suas palavras atingiram meus ouvidos, foi inevitável o sorriso de gozação.
- Estamos falando do mesmo David? – Mas ela continuou séria. – O David amando? Amando? Impossível de acreditar. Quem?
- Amanda Smith.
**
- E porque terminaremos as férias na casa da sua tia? – Perguntei enquanto percorríamos um corredor até a sala, depois de deixar as malas no quarto de hospedes.
- Será mais seguro para nós. – Respondeu Amanda, sem emoção.
- Desculpe a pergunta, mais por que não conheci a mãe de vocês ainda? – As duas sentaram no chão da sala do apartamento, em cima de um enorme tapete peludo e macio. Eu as segui.
- Nossa mãe, digamos, que não gosta do mundo bruxo. – Demi tentava explicar.
- Ela é trouxa? – Negou na mesma hora.
- É um aborto. – A olhei surpresa. – É engraçado, porque talvez não nascêssemos com poderes, mas nascemos. E desde que começamos a usar nossos poderes, ela se afastou de nós. É complicado, mas... – Deu de ombros. – É nossa mãe.
- Sinto muito. – Mas ela sorriu animada.
- Vou fazer algumas coisas para comermos. Talvez melhore o ânimo dessa chata. – Apontou para Amanda que estava distraída. – Já volto. – E saiu em direção à cozinha.
- Quer conversar? – A despertei.
- Talvez. – Suspirou pesada.
- Quando quiser. – Sorri gentil e ela retribuiu.
- Eu estava acordada quando ouvi vozes dentro de casa ontem à noite e fui acordar a Demi, sabe por quê? – Contou olhando para o chão.
- Por quê? – Levantei uma sobrancelha. Ela demorou um pouco para responder, como se estivesse escolhendo as palavras certas.
- Estava mandando uma coruja para David. – Falou pausadamente.
- Para o David? Como? – Perguntei assustada.
- Desde o dia em que o apresentou na biblioteca ano passado. Nós começamos a nos encontrar entre os corredores, começamos a ficar mais próximos. Fomos juntos a Hogsmeade e... – Suspirou. – Nos beijamos...
- E você esta assim por quê? – Incentivei para que continuasse.
- Ele havia me pedido em namoro. – Deitou a cabeça no assento do sofá. – E enviei uma carta ontem dizendo que não poderíamos ficar juntos. – Pude perceber o momento exato que seus olhos ficaram frígidos.
- E por que não podem? – Falei mais alto do que devia.
- Nossas famílias...
- Não me diga que vocês não estão juntos por causa da briga entre a família de vocês? – Ela assentiu sem fazer muitos movimentos, como se o corpo dela não tivesse mais vida. – Amanda você tem noção o quanto isso é ridículo? Vocês não podem ficar separados por causa de uma rixa entre a família de vocês. – Soltei achando tudo um absurdo.
- Meu pai é um comensal, você já pensou o que ele poderia fazer com David se descobrisse qual a família dele? – Ela olhava a todo o momento para o teto, e falava como se estivesse sozinha. – Não posso Melissa.
- Me peça qualquer coisa, menos para entender esse absurdo. – Mordi o lábio inferior a observando.
- Por favor, não conte a Demi. – Secou uma pequena lágrima. – Por enquanto.
- Tudo bem. Não contarei a ninguém. – Continuei a olhando. A única coisa que podia ver em seus olhos era dor. Dor de não poder ficar ao lado da pessoa que mais gosta. Queria poder fazer alguma coisa, mas o que? Só eles poderiam resolver esse problema.
- Meninas, desculpem a demora. Tia estava fazendo alguns biscoitos, fiz pipoca, tem suco e... – Começou a dizer todas as coisas que continha naquela bandeja. A deixou em cima da mesinha de centro e ligou a televisão.
Mas, nenhuma de nós duas dava real atenção a ela. Meus pensamentos estavam presos em Amanda, e os dela, em David.
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