A aranha negra



                                   - O que toda mulher inteligente deve saber é que –



A razão pela qual manter certa distância faz com que um homem fique vidrado em você, é porque nove entre dez mulheres assumem os sentimentos de cara e demonstram demais, cedo demais.





Se alguém me dissesse que quando eu decidi começar aquele lance de conquistando o Sirius as coisas ficaram tão loucas eu jamais teria acreditado, mas olha, as coisas estavam ficando absurdamente loucas, e eu sabia disso porque atrás de mim tinha uma sala escondida que ninguém mais conseguia ver e lá dentro estavam os meninos que eu conhecia há sete anos, mas que jamais me trancara com eles em lugares secretos e estava também o cara por quem eu era apaixonada desde que me conhecia por gente, ou quase isso, e que parecia meio bêbado, me chamando de flor do campo e tudo mais, e na minha frente, a uns duzentos metros, estava o cara mais gato do castelo inteiro e que milagrosamente também estava afim de mim. Quer coisa mais louca do que isso? Só essa história toda.

Me apressei, saindo de perto do Barnabá e dos trasgos e comecei a andar pelo corredor quando vi o Wood se virar e me encarar, com uma feição de surpresa e alivio que eu não entendi muito bem. Ele começou a andar na minha direção e nos encontramos no meio do caminho.

— Lene!

— Olívio? – Falamos quase que ao mesmo tempo e então rimos, ele com aquele jeito lindo e eu meio sem graça e nervosa ao mesmo tempo. – O que você está fazendo aqui? – Eu fui perguntando, já curiosa, mas ele devolveu a pergunta e me pegou em cheio.

— O que você tá fazendo aqui? Não tem nada nesse andar desse lado. – Eu sorri amarelo e olhei a volta, tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa, por mais boba que fosse.

— É que eu... er... eu estava... – Fiquei olhando a volta, pensando e pensando e nada vinha, mas ele pareceu nem notar isso, vi ele olhar para trás, meio preocupado, e então voltou-se para mim, que nem tinha conseguido responder sua pergunta ainda.

— Tá uma loucura lá em baixo. – Ele começou dizendo. – Eu não sei direito o que aconteceu, mas aconteceu uma coisa.

— O que aconteceu? – Pronto, eu não precisava mais inventar nenhuma desculpa mirabolante, eu nem sequer me lembrava que precisava inventar uma desculpa mirabolante, tinha mais problemas pela frente, pelo jeito.

— Aconteceu alguma coisa entre você e o Severus Snape, da Sonserina? – Arregalei os olhos diante daquela pergunta e encarei Wood sentindo meu estomago embrulhando. O que o Snape estava aprontando mais, Merlin do céu?

— Não, por que? – Wood segurou na minha mão, assim, do nada, e começou a andar comigo, me levando em direção as escadas, eu fui andando, lentamente ao lado dele, curiosa demais para perceber que estávamos voltando para o resto do castelo.

— Quando rolou a briga no salão principal que eu não vi, só ouvi falar que tava o Potter e o Black metidos junto com uma turma da Sonserina, eu tava lá fora, e então corri para dentro para... bom, você sabe como é, né, briga, a gente sempre gosta de ver essas coisas. – Ele deu um sorriso sem graça como se tivesse vergonha de me dizer “sabe o que é, é que eu sou homem e homem é mesmo tudo troglodita e gosta de ver violência.”, eu já desconfiava disso sem ele precisar me dizer, por isso apenas assenti, sem julgar nem dizer nada, assim também ele voltava logo para o assunto. – Mas já tinha acabado a briga e eu voltei para o jardim e fiquei lá, com os caras. Depois quando entrei para o almoço, ouvi uns caras da Sonserina conversando e ouvi seu nome, bom, eu só parei para prestar atenção na conversa quando ouvi seu nome.

— Meu nome? – Parei, soltando a mão dele e o encarei. Como assim estavam falando meu nome? Claro, depois de eu ter enfrentado o Snape antes da briga, era obvio que ele iria querer me colocar na jogada, como se eu já não estivesse, se ele tivesse mesmo uma memória dos meninos invadindo o dormitório da Sonserina, ele saberia também que eu estava metida naquilo.

— Estava o Snape e mais dois caras que eu não conheço, bom eu conheço um de vista, mas o outro eu nunca vi, acho que é reserva do time, mas nunca fiz questão de saber nada sobre ele, enfim, o Snape estava falando para os caras levarem para você a encomenda.

— Han? Encomenda? Que encomenda? – Ele deu de ombros, e eu chacoalhei a cabeça, tentando pensar. Aquilo não era coisa boa, eu tinha certeza, o que quer que fosse essa encomenda, era porcaria, fazia parte da vingança, assim como o peixe e a merda. – Perai, me diz exatamente o que você ouviu eles dizerem.

Wood deu uma risadinha antes de responder.

— Eu tenho uma excelente memória. Ele disse exatamente isso. Abre aspas, aquela Marlene Mckinnon vai me pagar também, levem a encomenda para ela, ela vai adorar. Fecha as aspas, ele riu e disse depois. Abre aspas, eu vou guardar a memória da invasão num esconderijo que eles nunca vão imaginar. Se eles pensam que eu não tenho outra, são muito burros mesmo. Fecha aspas.

Fiquei ali, pregada no chão, sem saber o que dizer pelo próximo milênio, como assim, ele tinha “cópia” da memória que ralamos muito para conseguir? E ele estava com a memória da nossa invasão no dormitório da Sonserina? Onde ele iria guardar? Como iriamos descobrir esse esconderijo? Eram perguntas demais e eu provavelmente estava transmitindo isso pela minha feição, porque o Wood olhou de lado para mim e então fez uma carinha de “foi mal te dar más notícias”, e então disse:

— Você sabe do que ele estava falando, não é? – Voltei a mim e fiz uma caretinha para ele, que segurou minha mão novamente, dessa vez sem me puxar para continuar caminhando. – Marlene, se ele está armando alguma coisa contra você, eu juro que vou fazer alguma coisa, eu não vou deixar ele ousar fazer alguma coisa contra você, não se preocupe.

Eu ri, involuntariamente, parece que estava se tornando tão comum homens querendo me defender, em sete anos ali eu nunca tinha visto isso antes.

— O que foi? – Ele perguntou, sem graça e eu parei de rir. O coitado ia achar que eu estava rindo dele né.

— É que você não faz ideia do que eu estou metida, quer dizer, eu e os meninos. – Ele franziu o cenho. Acho que eu estava falando demais, mas será que eu não podia confiar no Wood? Ele parecia uma pessoa confiável, e se me procurara só de ouvir o Snape falar que ia armar alguma coisa contra mim, ele já tinha um ponto a seu favor. Foi tão bonitinho isso.

— Meninos? Você quer dizer o Sirius? – Fiz uma careta, fechando um dos olhos, me sentindo confusa, ferrada e sem saber se confiava ou não nele.

— Como você me encontrou aqui? – A pergunta veio tão rápida que eu sequer tinha pensado nela antes, mas agora aquela era uma boa pergunta, se o Snape falou de mim e ele saiu a minha procura, como sabia onde procurar?

— Depois que o Snape falou de você eu sai te procurando, fui perguntando para algumas pessoas, me disseram que viram você indo para a ala hospitalar, depois me disseram que viram você próximo do corredor que dá na sala do Dumbledore, e eu fui em todos os lugares, depois me disseram que viram você subindo para o salão comunal e subindo, eu andei o quinto andar inteiro e fui subindo para cá, resolvi dar uma volta no sétimo andar para ver se te achava, e daí você apareceu.

Caramba, ele saíra me procurando por todo o castelo?

— E você, o que está fazendo aqui? E no que exatamente você está metida? Quer dizer, você e o Black, né? – Ele fez uma carinha de derrotado que partiu meu coração e tive que dizer que não era só eu e o Sirius.

— Não sou só eu e o Sirius, sou eu, o Sirius, o James, o Remus, a Emme e a Lilly, apesar da Lilly estar na ala hospitalar agora.

— Eu vi ela na ala hospitalar mesmo, mas a Madame Pomfrey não me deixou entrar. O que aconteceu com ela?

Okay, eu estava num impasse, ele sabia alguma coisa, me procurara o castelo inteiro só porque o Snape disse que ia me mandar uma encomenda suspeita, e eu precisava decidir se confiava nele ou não. Minha ficha estava lançada, era torcer para eu estar certa.

— Você não pode contar nada a ninguém, Wood, isso é sério, sérissimo, eu posso até ser expulsa...

E então eu contei tudo a ele, quer dizer, só as partes que ele precisava saber. Que o Snape e seus comparsas colocaram peixes no armário do vestiário masculino depois que ele saiu da concentração no último jogo, que na festa da vitória eu e a Lilly meio que demos a ideia de nos vingarmos deles, e daí acabamos invadindo o dormitório e colocando merda na roupa de alguns alunos da Sonserina, incluindo o Snape e seus amiguinhos, e que por isso ele tinha brigado com o James e o Sirius, e que isso era na verdade uma armação dele, e que ele pretendia levar essas memórias ao diretor e causar a nossa expulsão do castelo e por isso estávamos tentando evitar que isso acontecesse.

Ele ficou me olhando com os olhos arregalados por um tempo depois que eu terminei de contar, agora estávamos sentados no meio do corredor, com as pernas esticadas no chão e as costas contra a parede. Ele olhou a frente, vendo o outro lado do corredor e as janelas altas que deixavam a claridade da tarde invadir o corredor com os raios solares do sol que em breve iria se pôr do lado de fora, atrás das montanhas.

— Caramba! Como vocês conseguiram fazer tudo isso? – Eu ri e assenti com a cabeça, agora olhando um pedaço do céu azul pelo vão da janela aberta. Não parecia haver nuvens no céu de onde eu estava olhando, parecia um dia lindo para estar em frente ao lago ou fazendo algo gostoso lá fora, ao invés de trancados dentro de um esconderijo ou tentando pegar memórias daquele verme do Snape.

— Pois é, eu nunca imaginei que uma vingança boba daria nisso tudo. – Essa era uma verdade pura e simples, quem diria que uma simples vingançinha poderia levar àquilo tudo? O Snape levava tudo muito ao pé da letra, era apenas para ele colocar merda na nossa roupa também e, ainda não estaríamos quites, mas pelo amor de Merlin né, querer que sejamos expulsos? Onde ele estava com a cabeça? O cara não sabe perder mesmo.

— Uma coisa é certa, o pessoal da Sonserina são vingativos e não são flor que se cheire, eu não sei como pode ter tanta gente imprestável num só lugar, mas conseguiram fazer isso lá. Se vocês querem sair dessa, vão ter muito trabalho.

— Agora, como você mesmo disse que ouviu eles falando, o Snape tem mais memórias e está escondendo num esconderijo ultrassecreto que nunca vamos descobrir onde fica. Vou acabar sendo expulsa mesmo.

Suspirei, fazendo uma carinha triste e ele olhou para mim, segurando meu queixo com os dedos longos e me fazendo erguer o rosto para olhá-lo. Eu já disse que ele é lindo? Ele tem duas covinhas nas bochechas, uma de cada lado quando ele sorri que o faz ser a coisa mais linda ainda, se isso for possível, mas quando ele fica sério, a covinha ainda está lá, menos charmosa, mas ainda está lá. Os dentes dele são tão branquinhos que ele serviria para fazer um comercial, tipo aqueles comerciais de tevês trouxas, de poção para deixar seus dentes brilhando, e com aquele sorriso então, seria o modelo mais lindo de todos os comerciais do planeta, sem sombra de dúvidas.

— Você não vai ser expulsa, Okay? Nem que eu tenha que ir como prova ao diretor dizer que aquelas memórias são falsas, foram alteradas, que você ficou comigo a noite inteira e nunca invadiu dormitório nenhum.

— E vai dizer que ficamos fazendo o que a noite inteira juntos? – Eu tinha que perguntar, né?

— Eu posso pensar em alguma coisa. – Ele sorriu, de lado, de maneira sapeca e eu sorri de volta, sentindo meu rosto esquentando e desviando os olhos.

— Obrigado! – Eu disse e apoiei as mãos no chão, para me levantar. – Eu preciso ir, vão começar a pensar, daqui a pouco, que me sequestraram.

Eu ri e ele levantou-se em seguida, me encarando, esperando alguma coisa.

— O que foi? – Eu disse, o encarando de volta e erguendo as sobrancelhas, sem entender.

— Eu posso ajudar vocês. Acho que já sei o suficiente para isso, e eu me arrisco. – Ergui uma das sobrancelhas, o que ele estava dizendo?

— Tá louco? Se você se meter nisso pode acabar expulso junto com a gente. Só tenta, sei lá, descobrir o que era a tal encomenda que o idiota mandou para mim.

— Não, de maneira nenhuma, Lene, eu vou ajudar vocês. Acho que já tô nessa desde que saí procurando por você. Vamos. – Ele segurou minha mão e me puxou, para irmos andando de volta ao salão comunal, mas quando eu percebi para onde ele estava me levando, eu parei, puxando minha mão de volta e ele parou, me encarando e erguendo as sobrancelhas.

— Lene? Eu posso ajudar, confie em mim. – Eu fiquei parada, olhando para ele. Eu já tinha contado tudo para ele mesmo, quem sabe ele não poderia mesmo ajudar?

— Tudo bem, mas você se responsabiliza por convencer os outros. – Eu disse e dessa vez eu o puxei para sairmos caminhando, mas na direção contrária, em direção ao lado que não tinha nada.

— O que vamos fazer lá? Não tem nada lá, só os trasgos e o Barnabá! – Eu sorri e só disse.

— Confie em mim.





Quando eu entrei no esconderijo secreto dos meninos que agora passava a ser meu e das meninas também, mesmo sem a Lilly ali, com o Wood ao meu lado, todo mundo arregalou os olhos e ficou olhando para ele, assustados, todos exceto uma pessoa, o Sirius, que continuava bêbado, pelo jeito.

Expliquei a todos os conscientes que contei tudo ao Wood e o que me levou a fazer aquilo, o que o Snape dissera e a tal encomenda que ele mandara para mim e todo mundo arregalou ainda mais os olhos, sem acreditar que as coisas estavam ficando piores do que imaginávamos.

— Como assim ele enviou uma encomenda para você? – Wood agora estava sentado em um dos sofás, e eu estava ao lado dele. Emme estava sentada no chão, com as costas encostadas no sofá onde o Remus estava e ele parecia pensativo enquanto fazia uma massagem nos ombros dela (huummmmmm) e James estava novamente na bateria, como se lá ele conseguisse pensar melhor enquanto batucava, distraído.

— Coisa boa não deve ser. – James respondeu à pergunta de Emme enquanto batucava, com os olhos perdidos em algum ponto à frente que não era nem em mim e nem no Wood, com certeza.

— O problema é que agora ele está caçando vocês. Se ele armou para o James e o Sirius, e agora mandou alguma encomenda para a Lene, logo ele vai partir para outro de vocês. – Disse Wood, pensativo, e eu assenti, pensando naquelas palavras. Ele tinha razão, talvez Wood não estivesse atrás de mim apenas porque enfrentei ele no salão principal, mas eu queria muito acreditar nisso, porque assim, não precisaria me preocupar também com a Emme e a Lilly.

— Eu espero que ele esteja atrás de mim apenas porque eu zombei dele no salão principal.

— Eu, francamente, acho que é isso, ele não teria porque ir atrás da Lene só porque ela também invadiu o dormitório sendo que a rixa dele é com os meninos. – Emme pensava como eu, o que era um alivio.

— Ele não gosta de ninguém que pise ou humilhe ele, você fez ele passar vergonha e ele vai retribuir, ele sempre foi assim. – Explicou James e eu acreditei nele, sabia que a rixa entre o Snape e os meninos era antiga.

— O Pontas tem razão, ele sempre agiu assim com a gente, nós aprontávamos para eles, eles aprontavam para nós, e assim sucessivamente.

— Só não sei porque isso. – Eu disse, pensando alto, e James deu de ombros, enquanto Remus não respondia e continuava massageando as costas da Emme.

— LENEEE!!!!

Eu nem lembrava direito que o Sirius estava ali até que ele deu um grito na sala, antes de começar a rir. Olhei assustada para ele e depois para James, ele estivera tão quieto esse tempo todo que eu pensei que estivesse dormindo e o efeito finalmente passara.

— Meu Merlin, o efeito não passou ainda? – Ao contrário, agora parecia ter voltado com força total.

— KAKAKAKAKA OLHA OOO GOLERO FRANGOTE AE GENTE!

O que? – Wood virou-se com tudo para encarar o Sirius que gargalhava, jogado no sofá, a cabeça quase pendendo para fora, literalmente bêbado.

— Ah, nem liga para o que ele fala, ele não está em seu estado normal.

—  O que ele tem? – Wood olhou para mim, ignorando completamente o Sirius que continuava falando e rindo.

— Lembra quando eu disse que nós fomos na ala hospitalar atrás da Lilly porque provavelmente só ela conseguiria saber o feitiço para pegar a memória do Snape? – Wood assentiu. – Então, nós todos fingimos que estávamos passando mal e a Madame Pomfrey deu uma poção para nós, não sei o que ela deu para o Sirius, mas deu algum efeito e deixou ele assim, meio bêbado, louco e lezado.

— Faz tempo que ele está assim? – Wood perguntou e James que estava batucando riu, como se a pergunta fosse uma piada.

— Tá brincando, ele tava quieto agora pouco porque eu e o Remus quase sufocamos ele com o travesseiro para ele calar a boca.

POTTER! – Eu disse, exasperada e James deu de ombros.

— Você não estava aqui aguentando ele, por isso, ele estava insuportável. Já era para o efeito do remédio ter passado.

— Na ala hospitalar tem uma poção que corta essas coisas, sabia? – Todos nós olhamos para o Wood com a sobrancelha erguida. Ah claro, claro que vamos voltar na ala hospitalar e dizer a Madame Pomfrey que o Sirius não estava realmente doente e daí tomou a poção que não deveria e agora está louco. – O que é? – Ele perguntou, inocentemente, e eu revirei os olhos, negando levemente com a cabeça.

— Não podemos simplesmente ir lá e pedir isso para a Madame Pomfrey sem ela desconfiar do que fizemos.

Não. Não podem mesmo. – Respondeu Wood, se levantando de repente. – Mas eu posso.

Olhei para ele e franzi a testa.

— Aliás, se eu bem entendi toda a história, acho mesmo que precisamos voltar a ala hospitalar.

— Por que? – Eu perguntei, me levantando e o encarando, enquanto James parava de batucar, as mãos de Remus ficavam imóveis nos ombros de Emme e Emme erguia as sobrancelhas, olhando estupefata o Wood, que sorriu, sem jeito.

— Se a Lilian sabe tudo sobre o Snape, com certeza ela sabe onde fica o tal esconderijo ultrassecreto dele, não é mesmo?





Quem diria que o Wood seria tão útil? Até mais que o Sirius? Mas coitadinho do Sirius, né gente, ele estava totalmente incapacitado, por isso, deixamos ele trancado no nosso esconderijo, e ele sequer notou isso, pelo menos foi o que eu disse a mim mesma. Aquele dia ia ficando mais longo do que eu poderia imaginar, quando chegamos na ala hospitalar a Lilly estava sentada na cama, aparentemente já estava melhor e a Madame Pomfrey acabara de dar alta para ela alegando que não tinha mais porque ela continuar lá.

A Madame Pomfrey arregalou os olhos quando nos viu e eu senti vontade de rir.

— Todos vocês de novo?! – Ela apontou para nós, transtornada. - Não me digam que estão passando mal novamente. – Não teve jeito, acabei rindo, eu, a Emme e o James, e Remus fez uma carinha de culpado que foi uma graça.

— Dessa vez, não. – Disse James, conforme íamos entrando. – Viemos ver a Lilly.

— Podem levar ela, já teve alta, mas tomem mais cuidado da próxima vez. – E a Madame Pomfrey saiu resmungando em direção a sua sala, enquanto o Wood dava uma piscadinha sexy para mim e seguia atrás dela, eu só ouvi ele falando: “Madame, você cortou o cabelo? Está tão bonita!”.

Ah ele nem precisava fazer tanto charme assim para amolecer uma mulher, era só olhar com aqueles olhos lindos, sorrir com aquelas covinhas e pronto, qualquer uma já se derretia, se ele tirasse a camisa então, minha nossa! A Madame Pomfrey não tinha chances.

Eu queria muito saber o que ele ia dizer ou fazer para conseguir a tal poção antidoto de loucos para o Sirius, mas não podia ir até lá sem atrapalhar o charme do Wood, por isso, segui com o pessoal até a Lilly que, quando nos viu, olhou daquele jeitinho desconfiado.

— Não me digam que precisam saber mais feitiços do Snape. – Nós rimos e em seguida fizemos aquela carinha de culpados. Vai gente, levantem as mãos para o alto e rendam-se.

— Não, mas quase isso. – Eu disse e todo mundo riu, enquanto a Lilly negava com a cabeça levemente, com certeza pensando “Esse povo só apronta.”. Ela nem estava errada.

— Ai meu Merlin! – Ela disse e todos nós rimos ainda mais. Ela era esperta, ela sabia que vinha mais coisas por aí.

— Você está melhor, Lilly? – Eu e a Emme perguntamos quase juntas enquanto James já estava ao lado da Lilly ajudando-a a descer da cama, ela parecia mancar um pouco quando desceu, mas fora isso, parecia bem melhor do que eu a vira depois da queda e na escada, chorando a ponto de partir ao meio meu coração.

— Estou. Está um pouquinho dolorido, mas eu consigo andar, e ela disse que até amanhã já passou essa dor.

Sorri, aliviada, correndo ao outro lado dela e a ajudando a andar, não que realmente precisasse, o James parecia estar fazendo um trabalho melhor do que eu, e acho que a Lilly preferia ele do que eu de qualquer forma, mas fiquei ali, dando um apoio, o apoio que eu não dei na hora da briga.

— Nós vamos para o esconderijo e você fica quietinha lá por um tempo. – Disse James enquanto íamos caminhando em direção a porta da ala hospitalar. Lilly nos olhou sem entender nada.

— Esconderijo? E ficar quieta mais ainda? Não aguento mais ficar deitada olhando para o teto, eu preciso de agito.

— Esconderijo é... Ah, você vai descobrir muito em breve. – James deu uma risadinha. Eu apenas olhei para a Lilly e disse:

— Você quer agito? Cuidado com o que deseja Lilly, porque seus desejos podem se realizar. – E todo mundo gargalhou enquanto só a Lilly não entendia nada.

Quando finalmente alcançamos a porta, Wood veio ligeiro em nossa direção com um sorriso de canto a canto. Que coisa mais linda. Deixa eu respirar um segundo antes de continuar.

Um... só mais um pouquinho. Dois... ai ai.

Olhar não arranca pedaço... infelizmente, porque daquele ali eu bem que queria arrancar um pedação com a própria boca.

Continuando.

Ele veio todo sorrindo, depois que passou pela porta da ala hospitalar, enfiou a mão no bolso tirando um frasquinho pequeno de vidro e sacudindo a frente.

— Consegui.

— O que é isso? – Indagou Lilly mais perdida do que cego em tiroteio.

— O que vai salvar o Sirius de não morrer asfixiado. – Disse James pegando o frasco da mão do Wood e enfiando no bolso, antes de apertar a mão do garoto em um cumprimento todo homem de ser.

Seguimos em direção ao esconderijo enquanto íamos contando para a Lilly a nossa desgraça, precisávamos voltar até lá para saber se o Sirius ainda estava vivo e fazer ele voltar ao normal, íamos aproveitar para conversarmos tranquilamente com a Lilian e descobrir se ela tinha alguma noção do esconderijo do Snape, eu sabia que o James odiava a ideia da Lilly saber mais coisas sobre aquele garoto, mas agora era questão de vida ou morte, ela precisava mesmo saber.

Quando chegamos ao esconderijo eu imaginava ver o Sirius ainda cantarolando ou falando sozinho que nem louco, mas não, o silêncio que reinou quando o James abriu a porta quase me desesperou. Será que ele ainda estava vivo?

Ele estava deitado no sofá, dormindo, o rosto estava de lado sobre uma almofada e o corpo para cima com uma das mãos ao lado do corpo e a outra sobre o peitoral. Parecia um bebê dormindo e eu senti uma súbita vontade de sentar ao lado dele e acariciar-lhe os cabelos e beijar seu rosto enquanto ficava admirando ele dormir, mas infelizmente não estava sozinha ali, tinha todo mundo E o Wood, para completar toda a situação. Então tive que engolir minha vontade.

— Meu Merlin, isso é um esconderijo? – Disse Lilly, que assim como todo mundo que entrava ali, estava impressionada com o lugar.

— Foi o melhor que conseguimos. – Disse o James, sem jeito.

— Melhor que isso só a nossa casa, né. – Ela disse e James deu um sorriso enorme, todo bobo.

Ah, como o amor é lindo!

— Melhor darmos o antidoto logo para o Sirius e ele voltar à ativa. Ele costuma ter boas ideias quando o assunto é acabar com o Snape. – Eu imaginei que o James fosse voltar para a bateria, como ele ficara aquela tarde toda, mas agora ele estava sentado ao lado de Lilly no maior cuidado e atenção com ela. Como eu disse, Ah, como o amor é lindo!

Ninguém disse nada, era obvio que ninguém queria também que o Sirius acordasse e voltasse a matracar daquele jeito, por isso, concordamos em silencio.

— Eu não vou acordar a bela adormecida para dar a poção para ele. – Disse Remus, o que fez alguns rirem.

— Muito menos eu. – Disse James e em seguida me lançou um olhar fatal que dizia tudo. Marlene essa parada é sua. Lilly e Emme apenas deram uns risinhos e o Wood olhou para o outro lado, sem jeito.

Ergui as sobrancelhas e encarei James e o Remus em seguida.

— Por que eu? – Fui dizendo na defensiva e eles riram, debochadamente.

— Por que não? – Retrucou James me dando uma piscadinha enquanto eu ia até ele pegar o frasco. Okay, já entendi.

Me sentei na beira do sofá, me espremendo entre ele e o pedacinho de sofá livre que conseguira e olhei para o rosto lindo dele, me sentindo quente igual um pimentão sabendo que todos me olhavam. Olhei a volta e vi o James abaixando a cabeça para conversar com a Lilly, a Emme disfarçando e puxando uma conversa com o Remus, que a levara até uma área onde tinha estante de livros e puxava um para mostrar a ela, e o Wood, que se jogou num sofá e ficava olhando para mim e para a sala em volta, sem saber direito o que fazer e para quem olhar naquela situação.

Pigarreei e toquei no ombro do Sirius devagar, daquele jeito eu não ia acordar nem uma formiga. Ergui a mão e deslizei pelo rosto dele, ele estava quente e pude ver algumas gotas de suor descendo pelo rosto dele, provavelmente outra reação da poção. Acariciei o rosto dele e fiquei olhando para ele, antes de sussurrar baixinho o nome dele numa tentativa de acordá-lo, claro que sem sucesso. Os cabelos dele estavam bagunçados e ele respirava tranquilamente, o peito subindo e descendo e eu fiquei ali, só observando ele dormir. Aproximei meu rosto do dele alguns milésimos e fiquei olhando aquele rosto perfeito, as sobrancelhas grossas, as pálpebras dos olhos fechados, as maças do rosto, o queixo, a barba rala malfeita que o deixava absurdamente lindo, os lábios, grossos, fechados, os cabelos negros, caídos sobre os olhos como sempre costumava ficar, ele era absurdamente mais lindo dormindo do que acordado, se é que isso era possível, claro que acordado tinha o sorriso, a voz grave que me arrepiava só de ouvir, mas ele dormindo, tão angelical, tão puro, tão indefeso daquele jeito, era a descrição exata da palavra perfeição.

Me perdi naquele momento, esquecendo completamente de todo o resto, então acariciei o rosto dele, delicadamente, seguindo com a mão até os cabelos e deixando meus dedos entrarem no meio dos fios, sentindo a maciez agora não mais voraz como fora naquele dia durante o beijo, não, suave e delicado, como uma mãe ninando seu bebê.

Senti ele se remexer sob meus dedos, mas permaneci ali, acariciando os fios e olhando para aquele rosto sem conseguir pensar em mais nada. Só perdida nele.

Ele abriu os olhos e me encarou, sem dizer uma palavra, enquanto eu continuava acariciando seus cabelos, descendo os dedos por seu rosto de maneira gentil. Então eu finalmente disse:

— Trouxemos uma poção para você, um antidoto. É melhor você tomar. – Eu ergui a outra mão que estava caída ao lado do meu corpo, segurando o frasco com o antidoto e mostrei a ele. Eu não sabia se ele já estava normal, se entendia o que eu falava ou não, mas acho que ele entendeu, porque segurou a minha mão e pegou o frasquinho, abrindo ele e virando num gole só o frasco todo, depois me entregando vazio e continuando ali, deitado, agora me olhando e olhando para o teto em seguida.

Me inclinei para a frente para me levantar, mas ele segurou minha mão e me puxou, pegando minha mão que estava sobre seus cabelos anteriormente e os levando até lá novamente, me fazendo voltar a acaricia-los, o que eu fiz sem dizer nada. Ficamos assim pelo que me pareceu uma eternidade, até que a voz de James me trouxe a realidade.

— A Lilly sabe onde fica o esconderijo. – Eu ergui os olhos, desviando de Sirius, para olhar a Lilly que parecia vermelha e sem graça ao confirmar isso. Essa Lilly sabia mais coisas do Snape do que até eu imaginava. O James não deve ter gostado nada de perceber aquilo, mas não disse nada a respeito, além do que precisávamos saber.

Sirius parecia ter voltado ao normal, não sei se foi o sono profundo no sofá ou o antidoto, mas ele ergueu-se e sentou no sofá, enquanto eu me levantava, deixando ele colocar as pernas para fora e passar as mãos pelo rosto e nos cabelos, como quem acaba mesmo de acordar.

— Que esconderijo? Sobre o que vocês estão falando? – Olhei para o James e fiz uma cara de quem diz “eu já fiz a minha parte, agora é a sua vez.”

James resumiu toda a parte que Sirius perdera enquanto ficara loucão, e no final contou por cima o estado que o amigo ficara e as cantadas ala velho cachaceiro que ele me passara.

— Você tá me zuando, né cara. – Sirius estava encostado no sofá, tomando uma Coca-Cola, parecia estar ficando vermelho enquanto o James contava que ele ficou me cantando, me chamando de Lene a flor mais bela do campo. Será que eu não era mais a flor mais bela do campo?

— Cara, o Aluado está aqui para não me deixar mentir. Você sabe que ele não mente.

— Sei. – Foi um sei que eu fiquei na dúvida se era sei de verdade, ou se era aquele “seiii”, com irônismo por trás.

— Foi ridículo. – Disse o Remus e nós rimos. Foi realmente... constrangedor.

— Constrangedor, você quer dizer, né? – Disse Emme lendo meus pensamentos, e eu senti meu rosto esquentar, mas só ri, não disse nada.

— E daí você começou a cantar para a Lene uma música sem sentido, com vagalumes e coisas do tipo. – Sirius franziu a testa e me olhou, antes de voltar os olhos para o James.

— Vagalumes?

— Como é mesmo a música, Lene? – James me olhou com cara de riso e eu fiz uma careta. – Alguma coisa de ‘você é como uma lua cheia brilhando no céu no meio das estrelas brilhantes como vagalumes.” – Sirius franziu a testa e depois abaixou os olhos, ficando vermelho igual um pimentão enquanto James gargalhava, e Emme para ajudar a ferrar tudo, começava a cantar a música de verdade. Eu não sei como ela lembrava daquilo, ou se realmente tinha alguma música assim nas rádios bruxas, eu não era muito fã de radio bruxa.

— “Eu vou de marte até a lua numa vassoura só por você.”

— “E se o sol não aparecer, você será o meu sol e o meu amanhecer.” – Continuou Lilly e eu coloquei a mão no rosto enquanto Sirius passava de vermelho para escarlate, e James gargalhava, adorando aquilo.

— Okaaay, Okay, acho que ele já entendeu. – Eu disse com a voz abafada devido ao fato da minha mão estar tapando meu rosto, as meninas pararam de cantar, rindo e eu ergui os olhos para ver o Sirius com o rosto vermelho, olhando para o chão como se estivesse muito concentrado em alguma coisa, pelo canto dos olhos vi Wood me olhando, parecia estar pensando alguma coisa e quando olhei para ele, ele franziu a testa, mas não disse nada e desviou os olhos de mim, ficando muito concentrado numa sujeirinha no seu sapato.

— Okay, vamos voltar ao que interessa então, por favor. – Eu disse, tentando fazer todo mundo voltar ao foco.

— Isso, o esconderijo. – Emendou Sirius, feliz em mudar de assunto.

— Então a Lilian sabe onde fica o esconderijo? – Mais um feliz em mudar de assunto: Wood.

Olhamos para Lilly que deu de ombros.

— Pelo que vocês disseram só pode ser onde eu acho que é. Ele era cheio de lugares secretos, esconderijos quando éramos criança, quando chegamos aqui em Hogwarts ele tratou logo de criar os nossos lugares secretos, e ficava bastante feliz de saber que ninguém mais sabia deles.

— Esse cara é doente. – Disse Remus e eu tive que concordar, ele tinha algum problema grave na infância que passou para a adolescência e vai durar a vida toda. Tragam a camisa de força, por favor.

— Mas você sabe onde fica, Lilly? – Ela fez uma carinha de pensativa, coçou a cabeça, roeu a unha por alguns segundos, e então nos olhou.

— Um dos lugares mais “secretos” dele. – Ela fez aspas com as mãos. – Fica na torre norte.

Eu ergui as sobrancelhas em minha primeira reação. Todo mundo se entreolhou, meio assustado. Esse cara era mais sinistro do que imaginávamos.

Okay, eu vou tentar explicar para vocês entenderem o nosso pavor.

Hogwarts é um castelo enorme e cheio de lugares que as vezes não conseguimos conhecer ou ter acesso nem se estudarmos aqui mil anos.

Existem algumas torres que nós nomeamos como Torre norte, Torre sul, Torre leste e Torre Oeste. Costumávamos ter aula na torre sul, mas a Torre norte nunca fomos, dizem que lá já foi sala de alguns professores, mas está desocupada tem um tempo, dizem que tem uma professora que morreu lá e ninguém nunca voltou para retirar o seu corpo, se isso é verdade, eu não sei, mas eu sei que, se ainda é uma sala de professor, é proibido ir lá, se for pego lá você está tão ferrado quanto estamos por termos invadido o dormitório da Sonserina. Ou seja, estávamos mesmo ferrados.





A tarde caia lentamente, a maioria dos alunos agora estavam dentro do castelo, fazendo alguma coisa mais legal do que andar escondido pelo castelo, em direção a um lugar onde, se te pegassem, você podia apenas ser expulso para sempre. Mas nós já estávamos com o pescoço na forca de qualquer modo, então decidimos arriscar.

James ia na frente, com Lilly ao seu lado, porque ela conhecia o lugar melhor do que nós, atrás dela vinha a Emme e o Remus, o Wood a minha frente e o Sirius ao me lado. Seguimos pelo castelo como se fossemos apenas alguns alunos passeando, mas no fundo, estávamos morrendo de medo de encontrar algum professor, ou pior o Filch ou o Pirraça, seguimos caminhando normalmente até chegarmos no andar que nos daria acesso a torre norte, e então corremos com o máximo de rapidez que conseguimos até chegar a torre.

Paramos a frente dela e olhamos para o James e a Lilly, que deu de ombros, ela já nos levara até ali, o resto era por nossa conta.

James deu dois passos à frente e olhou a volta, antes de colocar a mão na maçaneta de ferro da porta e girá-la, fazendo-nos ouvir um sonoro TRAC de porta abrindo e eu senti uma pedra de gelo descer por meu estomago.

Aquilo estava ficando cada vez mais perigoso.

Quando ele abriu a porta não se via nada lá dentro, parecia um lugar que não via a luz do sol há muito tempo, se é que algum dia a luz do sol entrara ali.

James entrou na frente, pegou a varinha e iluminou a frente deixando a mostra uma escada de ferro velha e enferrujada que subia em espiral, iluminou a escada acima e então deu de ombros, esticando a mão para Lilly e indo na frente, subindo a escada em caracol. Emme e Remus resolveram não subir, disseram que ficariam de tocaia para caso alguém aparecesse, eu sabia o real motivo daquilo, Emme era claustrofóbica, se ela ficasse naquele lugar pequeno, apertado, sem luz do sol e com cheiro de mofo, ela teria um treco tanto quanto eu se encontrasse ali, pendurado, uma acroman... melhor nem falar na coisa né. Hehehe.

Eu segui atrás do Sirius que foi logo atrás da Lilly e o Wood as minhas costas, e confesso, não era preciso ser claustrofóbico para ficar com medo daquele lugar ou se sentir sufocado.

Não tinha luz lá dentro, era uma torre arredondada, sem nenhuma janelinha sequer para deixar a luz do sol entrar ou o vento, a não ser a porta lá em baixo, mas assim que o Wood entrou, a Emme ou o Remus encostaram a porta, portanto, esqueça qualquer ar senão o que estava ali, mofado, com cheiro de lugar úmido, ferro enferrujado, ar parado, e mais alguma coisa que eu não conseguia identificar. A luz da varinha do Sirius ia iluminando a frente e eu segurava com força e ao mesmo tempo com medo o corrimão enferrujado da escada tentando não tropeçar nos degraus pequenos ou não ficar zonza de tanto subir em voltas aquela escada, quem inventou a escada em caracol não era filho de Merlin, porque ô coisa das trevas é essa escadinha.

Ficamos ali, por sei lá quanto tempo, parecia que não ia acabar nunca. Eu estava soando, meus cabelos estavam grudando no meu rosto e na minha nuca e eu transpirava que nem um camelo, se é que camelos transpiravam, nunca estudei nada que dissesse isso, enfim, estava muito quente e aquela escadinha acabava com meus pulmões e minhas pernas que já estavam ficando moles. Pisei em falso num dos degraus, sem querer e deslizei, batendo o joelho com mais força do que gostaria no degrau acima e praguejei alto enquanto sentia as mãos firmes e fortes de Wood a minha cintura me segurando, impedindo que eu voltasse todos os lances que eu já tinha dado. Olhei para trás, sorrindo em agradecimento, mas naquele escuro iluminado apenas por luzes das varinhas eu nem sei se ele reparou, então sussurrei um obrigado, no instante em que Sirius voltava-se para trás, desesperado.

— Lene? Tá tudo bem? Caiu? Machucou? – Sorri para ele a minha frente, que parara de subir para me olhar.

— Estou bem, só pisei em falso no degrau. – Ele estendeu a mão e me disse.

— Quer vir na minha frente? Se você cair, eu seguro. – Ia ser meio difícil eu passar por ele para seguir a sua frente, mas eu nem precisei responder nada, Wood estava ali, claro, de prontidão também para me pegar se eu caísse.

— Eu estou aqui, Black, não vou deixar ela cair. – Não vi a cara que o Sirius fez, mas ouvi ele resmungando baixinho.

— É claro que está. – Para apartar as brigas, eu me apressei.

— Eu estou bem, não se preocupem, posso continuar daqui sozinha, numa boa. – Homens, adoram brigar por tudo e disputar tudo, vai entender.

Seguimos pela escada do inferno que ao invés de descer, onde ficava o inferno, estava subindo, eu esperava que lá em cima tivesse um céu, com ar puro, uma limonada bem gelada e um sofá imenso para me deitar e descansar. Porra, aquilo cansava mais do que uma volta inteira no lago.

Depois de alguns minutos intermináveis, ouvi um barulho acima de mim e ergui os olhos tentando enxergar algo, mas só vi a luz da varinha do James tremeluzindo e iluminando paredes, então uma claridade pareceu penetrar pelo que me pareceu uma porta e eu senti uma rajada de vento. Que delicia, vento! Ar de verdade!

Sirius alcançou a porta e parou, me estendendo a mão e me ajudando a subir o último degrau, que foi muito difícil, minhas coxas já estavam duras de tanto exercício. Eu me sentia uma velha tentando fazer exercícios.

Quando Sirius seguiu a minha frente, me puxando pela mão e meus olhos se ajustaram, desacostumando da escuridão, levei um tempo para conseguir processar o que eu estava vendo, eu esperava tudo, menos aquilo.

Estávamos no que me parecia uma enorme sacada, no andar mais alto do castelo de Hogwarts. Era uma área grande e aberta, com piso de mármore, uma imensa torre como nos contos de fadas, onde a Rapunzel do livro trouxa poderia jogar a trança, mas olha, teria que ser uma big de uma trança, viu, porque era muito alto, com o céu estrelado acima de nós, sem nenhuma nuvem no céu e um vento maravilhosamente refrescante soprando. Soltei a mão de Sirius e andei pelo lugar. Me encaminhei até a beira onde havia uma pilastra e uma mureta enfeitada impedindo que você caísse, e vi  toda a área em volta do castelo, as arvores escurecidas da floresta proibida, o campo de quadribol e as arquibancadas vazias e apagadas, o lago ao longe onde a lula gigante dormia, brilhando com a luz da lua e das estrelas, e aquela imensidão de estrelas acima. Mais ao longe podia-se ver fracas luzes do vilarejo de Hogsmead, distantes e pequenas, como se fossem estrelinhas na Terra. E ao longe, as imensas montanhas. Aquela paisagem era maravilhosa.

Senti uma mão às minhas costas e virei o rosto para ver o Sirius me olhando e sorrindo, acho que ele também estava observando a paisagem.

Se aquela era a sacada, onde ficava a tal sala do professor?

e virei e vi o James e a Lilly mais adiante, Wood estava mais a frente, meio que olhando do James e a Lilly para eu e o Sirius, o Sirius veio atrás de mim e alcançamos o Wood, seguindo até onde o James e a Lilly estavam indo, e então eu reparei. Mais à frente havia uma porta, era a porta que nos levaria a tal sala da professora morta.





Eu imaginava essa sala misteriosa um lugar abandonado, com cheiro de mofo, cheio de teias de aranhas (credo), coisas velhas, caindo aos pedaços, e a professora, eu não tinha certeza, morta numa cadeira, só os ossos esfarelando, quase como a casa dos gritos, bem medonho, mas me enganei completamente.

Quando o James abriu a porta, parecia que tinha ali uma casinha, como uma cabana do Hagrid no alto da torre.

Quando adentramos a porta, a escuridão claustrofóbica imperava novamente, mas dessa vez tinha luz, James acenou com a varinha “Lumus” e várias lamparinas se acenderam destacando um lugar totalmente grande e aconchegante.

Era uma sala grande e espaçosa, com sofás aconchegantes, uma lareira de um lado, uma mesinha de centro com um jogo de chá em cima, não havia nenhuma teia de aranha e nenhum professor morto a vista. Tinha uma cadeira de balanço vazia num canto da sala e uma mesa de cabeceira ao lado com um livro cheio de pó.

Mais à frente tinham várias estantes de livros, livros e mais livros, era um lugar que eu adoraria morar ali em Hogwarts, tirando a escada claustrofóbica, eu posso me mudar para cá?

Adentramos e cada um se dispersou lá dentro, eu me encaminhei para as estantes, andando entre elas, e demorei um tempo para perceber que no final haviam algumas com letras e nomes, não resisti e comecei a andar olhando os nomes, até que vi um sobrenome comum “McKinnon”, parei e fiquei encarando, era um livro, puxei o livro, mas quando ele caiu na minha mão, não era mais um livro e sim uma caixa, pesada, e quase me derrubou com o peso, o que não aconteceu porque o Wood estava bem atrás de mim.

— Cuidado! – Olhei para o lado e vi ele ali, segurando parte da caixa e muito próximo de mim, ergui os olhos e vi o Sirius no começo do corredor nos olhando, ele não disse nada e voltou para o corredor nos deixando ali, sozinhos.

— Fiquei curiosa para saber o que eles têm a meu respeito aqui.

— Provavelmente nosso histórico de bagunça. – Olhei para ele e ele riu, dando de ombros. – Provas, testes, você tem noção de quantas provas já fizemos na vida durante esses anos todos?

Fiz uma careta e colocamos a caixa no chão, eu me agachei e comecei a olhar dentro superficialmente, constatando que ele tinha razão, era tudo que eu vivera dentro de Hogwarts, testes, trabalhos, provas, pontos para a Grifinória, puxei uma e vi uma prova com a nota máxima, abaixei a prova e mexi mais nos papeis, puxando outra folha e vendo outra prova com a nota máxima, nessa altura do campeonato, Wood olhou para mim e ergueu a sobrancelha, me fazendo rir enquanto ele dizia.

— Então descobrimos o maior segredo de Marlene McKinnon...

— Para! – Eu disse, brincando, enquanto ele continuava.

— Ela é CDF.

Fiz uma careta para ele que riu, gostosamente, e fechei a caixa de arquivo, tentando pegá-la para colocar de volta no lugar, mas ele foi mais ágil e como um bom cavalheiro, segurou a caixa e puxou para ele.

— Deixe que eu guardo, não vá quebrar suas unhas de nerd. – Ri e mostrei a língua para ele enquanto ele colocava a caixa no lugar que ficara cheio de pó, e voltou a mim, me dando uma olhada de lado e sorrindo, todo charmoso, antes de dizer.

— Você sabe o que dizem, né? – Ele disse e eu ergui uma das sobrancelhas. Convenhamos, os garotos adoram essa cantadinha da língua, né?

— Que os nerds são mais inteligentes? – Brinquei, zuando e despistando o assunto, mas ele me deu uma piscadinha e seguiu caminhando ao meu lado.

Uma hora dessas te mostro o que posso fazer com essa linguinha. – Pelas cuecas de bolinha rosa berrante purpurina de Merlin, alguém me acuda! Arfei, sentindo as pernas amolecerem e meu rosto ficar vermelho igual um pimentão, ele percebeu e deu uma risadinha, olhando a volta e vendo que estávamos sozinhos no corredor, então parou.

Ai Senhor, me segura!

Ele esticou a mão e tocou na minha, me puxando, devagar, me fazendo parar e olhar para ele, senti meu coração dar um pulo no peito como um canguru saltitando, desesperado, fugindo de um leão faminto, mas o leão faminto estava bem na minha frente. Ele deu dois passos e ficou na minha frente, muito, muito perto de mim, e como ele era mais alto do que eu, ergui os olhos para enxergar aqueles olhos castanhos, lindos e aquele sorriso perfeito, com covinhas nas bochechas.

— Eu posso me considerar ainda com chances...? – Ele me olhou de um jeito que fez meu coração congelar no peito, de repente, passando do canguru, pulando enlouquecido, para uma pedra de gelo, imóvel e gélida, que fez gotas de gelo escorrendo descer por meu estomago, congelando tudo por dentro dele também, as palmas da minha mão, como se o gelo do meu coração estivesse passando por todo o corpo, ficaram geladas, mas suando ao mesmo tempo, o que era bem contraditório, meu corpo não sabia nem que tipo de reações ele tinha.

— Eu... – Gaguejei e desviei os olhos daqueles lábios naturalmente vermelhos e daqueles olhos que me congelavam por dentro e olhei para baixo, para me lembrar o que eu ia dizer. Eu me sentia quase como aquela personagem de um livro trouxa que eu li sobre vampiros, onde a menina apaixonada pelo vampiro dizia que não conseguia pensar, respirar, falar, existir quando olhava para ele. Mais ou menos assim, o que era bem estranho também porque a única pessoa que era capaz de fazer aquilo comigo até então não se chamava Edward Cullen, e nem era vampiro, e se chamava Sirius Black. – Eu já disse para vocês que não gosto dessa coisa de ser disputada, eu não sou um brinquedinho..

.Ele me cortou, tocando o dedão sobre meus lábios, me fazendo arrepiar inteira.

— Eu não estou disputando você, Lene, eu não sou como o Sirius, que conquista as meninas e depois sai fora, para ele isso pode ser só um joguinho, mas para mim, não é. Pode acreditar.

Eu fiquei ali, olhando para ele pensando, será que eu podia mesmo confiar nesses homens? Minha mãe sempre disse para não confiar em nenhum, mas Olívio Wood parecia muito sincero nas suas palavras e eu sabia que ele realmente não era como o Sirius, o histórico dele era bem diferente, até onde eu sabia, ele namorara no primeiro quinto com uma garota do quarto por quase um ano, eles terminaram no sexto ano, e depois disso eu nunca mais vi ele com ninguém, claro que eu sabia que ele deveria ficar com alguém de vez em quando, afinal de contas, homem é homem, mas nunca vi ou ouvi falar de nenhuma fama a respeito dele como era com o Sirius que nunca namorara e mesmo quando você não acreditasse nos boatos que diziam que cada semana ele estava com uma, seus olhos iam te provar isso uma hora ou outra.

Eu não disse nada, e ele não parecia esperar uma resposta, mas o que ele fez me pegou totalmente desprevenida, porque enquanto eu estava perdida em pensamentos, ele se aproximou de mim ainda mais, e quando dei por mim seus lábios estavam nos meus. Diferente do dia no lago em que ele me deu um selinho com gosto de quero mais, dessa vez ele não deu um selinho, ele não me beijou para um selinho, mas para um beijo de verdade e em segundos eu me vi envolvendo as mãos no pescoço dele e a língua dele envolvendo-se na minha, me fazendo perder a noção de tudo. O beijo dele era totalmente diferente do Sirius, não que era ruim, longe disso, mas era mais aconchegante, era como se ele quisesse me fazer sentir mais do que um beijo e uma vontade louca de tirar a roupa, como era com o Sirius. O toque dele nos meus cabelos era macio, e os lábios dele assim como o toque era macio, doce e totalmente entorpecente. E eu me perderia naquele beijo o resto da tarde, numa boa, ele era a perfeição.

Senti os dedos dele deslizarem dos meus cabelos para meu rosto, me acariciando e a outra mão apertando minhas costas, colando mais meu corpo ao dele, e quando eu estava prestes a perder a noção de quem eu era e de onde eu estava ouvi um barulho próximo de mim e abri os olhos, afastando meus lábios dos de Wood numa velocidade um pouco maior do que deveria. Olhei para o lado e vi uma caixa caindo ao chão, poderia ter sido só um acidente, coisa assim, mas eu tive a certeza de ter visto um vulto passando pelo corredor e virando. Voltei os olhos para Wood que sorriu, acariciou meu rosto e me deu um selinho, antes de dizer.

— Melhor irmos andando. – Eu assenti, ainda me sentindo meio entorpecida, me virando para sair andando, sentindo a mão de Wood segurando a minha e sentindo meu estomago congelando por dentro.

Será que o Sirius me vira beijando o Wood? E como eu iria chegar lá de mãos dadas com ele? Ai, Meu Merlin, o que eu estava fazendo? Fui caminhando me sentindo totalmente perdida por dentro e quando viramos no corredor, ouvi a voz dos outros, conversando mais à frente.

Quando chegamos no outro corredor vi uma movimentação mais à frente e disfarçadamente, fingindo que ia me coçar ou coisa assim, puxei minha mão, soltando da mão de Wood, eu não queria que o Sirius me visse de mãos dadas com o Wood e pensasse que de repente estávamos namorando ou coisa assim.

Mas quando chegamos perto dos demais, o Sirius não estava ali.

Parei ao lado de Lilly, agora perdida nos acontecimentos. O que estava rolando?

— Se não está aqui, onde deve estar? – Peguei o James perguntando. James e Lilly estavam próximos de uma caixa no chão, aberta, com vários papeis jogados no chão, olhei para a caixa e vi o nome Snape, então nem precisei perguntar mais nada. Estavam procurando nas coisas do Snape.

— Eu não sei. – Respondeu Lilly, olhando para a caixa, derrotada. – Nós vínhamos aqui olhar as coisas, só, ficávamos vendo as provas dos outros, e quando tínhamos provas, acabávamos descobrindo que algumas eram iguais de alunos que estavam um ano na nossa frente e já tinham passado por aquela prova. Eu achava que era por isso que ele ia bem nas provas, mas depois percebi que ele era mesmo inteligente.

James fingiu não ouvir aquilo e ficou olhando a volta, pensativo.

— Estamos ferrados, se não está aqui, como vamos saber onde ele escondeu? – Perguntou Lilly, confusa. Se ela não sabia onde estava, quem dirá eu.

— E o que tem no final mais nessa sala? Depois das estantes eu vi que tem outro cômodo, o que tem lá?  – Perguntou Wood e eu olhei para ele assentindo. Boa pergunta.

— Boa parte são esses arquivos, mais para o final tem coisas do castelo que não usam mais, e uma área de coisas de trouxas, eu gostava de ir lá, mas o Snape não, ele dizia que não éramos trouxas e não tinha porque ficar remexendo em coisas velhas, então ele nunca ia lá.

— Pode ser que ele tenha colocado lá justamente por isso, porque pensamos que ele nunca iria lá. – Todos ficamos pensativos e então olhamos para Lilly, que deu de ombros.

Quando James pegou a caixa para guardar e íamos mesmo dar uma conferida nas coisas dos trouxas, ouvimos uma voz. Era o Sirius.

— Pontas, dá uma olhada nisso. – Ele parecia algumas prateleiras atrás. Saímos do corredor e fomos voltando, procurando pelo Sirius, James e Lilly ficaram par trás e eu segui atrás do Wood. Encontramos o Sirius, ele estava em frente ao nome “Evans”.

Quando me aproximei vi ele com a caixa sobre uma mesinha que tinha no corredor, provavelmente para ser usada exatamente para olhar as caixas sem ter uma dor nas costas depois. Parei ao lado da mesa e olhei para ele, esperando ele erguer os olhos e me olhar, com aquele sorriso lindo nos lábios, mas ele não sorriu e nem me olhou, ele ficou olhando para a caixa, tirando papeis e papeis de dentro.

James e Lilly se aproximaram, Sirius tinha acabado de colocar sobre a mesa uma caixinha, pequena, de veludo e eu franzi a testa sem entender. Era aquilo?

James olhou de Sirius para a caixinha sobre a mesa, então pegou a caixinha e olhou de perto.

— Acho que é isso aí que estamos procurando. – Sirius disse, James ficou olhando a caixinha e depois olhou para a caixa de onde vários papeis haviam sido retirados, percebendo o nome da Lilian na caixa, ele fez uma cara de “vou matar o Snape”, mas não disse nada. Foi Wood quem falou primeiro.

— Como tem certeza? – Sirius ergueu os olhos e olhou para ele e eu senti um baque, era como se ele tivesse dado um tapa na cara de Wood apenas com o olhar. Foi um olhar seco, frio. Ele não me olhou, de novo.

— Eu sou mais inteligente do que você imagina. – Ele respondeu, friamente, e voltou os olhos para a caixa, pegando os papeis e colocando de volta, enquanto continuava. – Se colocar isso num computador, tenho certeza que vamos achar a filmagem.

— É isso, tenho certeza também. – Disse James. – Aqui dentro tem um vidrinho de memória.

— Vamos embora então. – Disse Lilly, segurando a mão de James fazendo ele olhar para ela e suavizar a expressão de assassino que estava em seu rosto. – Eu não gosto desse lugar.

Eu concordei com a Lilly, eu estava cansada de ficar procurando as coisas que o Snape escondia por aí, e outra, eu estava louca por um banho e morrendo de fome.

— Eu estou faminta. Vamos para o salão comunal e lá decidimos o que faremos. – Todos concordaram e saímos caminhando pelo corredor. Eu enrolei um pouco, me abaixando e fingindo coçar o pé, esperando o Sirius guardar a caixa de arquivos de Lilly, Wood seguiu a frente conversando com James e Lilly. Me ergui e sai caminhando, devagar, e Sirius atrás, olhei para trás e vi ele, dei um sorrisinho, encorajando ele a se aproximar e conversar, mas ele não me devolveu o sorriso, ele me olhou e desviou os olhos, muito rápido e continuou andando, tentando não me olhar. Senti um peso na boca do estomago, como se tivesse comido pedras, e segui andando, me sentindo um trapo. Será que eu estragara tudo com o Sirius? Por que, afinal de contas, eu deixei o Woods me beijar? Será que, de repente, o Wood estava mesmo mexendo comigo como o Sirius dizia?

Segui pelo corredor perdida em meus pensamentos e logo estávamos descendo a escada claustrofóbica novamente. Quando eu saí pela porta da torre e vi o castelo e senti o ar fresco no meu rosto, respirei aliviada.

Achei que Emme e o Remus tinham ido embora devido à nossa demora, mas eles estavam ali perto e quando olhei para Emme vi ele vermelha igual um pimentão e o Remus tão vermelho quanto. Hummm, aí tem coisa, heim! Ela ia ter que me contar direitinho depois.

Voltamos para o castelo, dessa vez sem ficar nos escondendo nos corredores, subimos as escadas e logo estávamos no salão comunal que estava apinhado de alunos, aproveitando o domingo à noite. Eu, honestamente, estava louca por um banho bem demorado, depois um prato bem grande de comida, com tudo de melhor que os elfos pudessem me servir no salão principal, acompanhada de um suco de abóbora e um pudim para completar a noite, e depois eu só queria deitar minhas perninhas para cima e descansar o resto da noite sem pensar mais em Snape e memórias, e nem nada disso.

Os meninos seguiram para o dormitório masculino e eu segui com as meninas, Emme e Lilly estavam conversando alguma coisa que eu nem prestei atenção. Adentramos o dormitório e eu segui até meu malão, pegando uma calça de moletom e uma blusinha branca, regata, uma calcinha e uma toalha e disse as meninas que eu ia tomar banho porque estava estourando de dor de cabeça. Elas não disseram nada, se perceberam que eu estava mentindo, não disseram nada.

Eu aproveitei o banho para pensar, tranquilamente, tirei a roupa e entrei debaixo da agua quente, deixando ela escorrer por meus cabelos, por meu rosto, enquanto ficava lá, de olhos fechados, sentindo as gotas quentes e gostosas deslizando por meu corpo e me dando uma sensação gostosa de relaxamento. E então comecei a pensar em tudo, no Sirius bêbado, falando aquelas coisas, será que ele dissera tudo da boca para fora ou teria um fundo de verdade? Lembrei do quase beijo que demos no bequinho dos amassos, do jeito carinhoso dele comigo, segurando minha mão quando fomos na ala hospitalar, e então lembrei do olhar frio dele quando estávamos voltando para o dormitório e do beijo do Wood. Sentia um pânico na boca do estomago, e se o Sirius tivesse visto o beijo e ficado daquele jeito por causa disso? Será que eu perderia todas as minhas chances com ele? Mas ele sempre dissera que sabia que eu gostava do Wood, não que eu gostasse como ele pensava, então por que ele ficaria daquele jeito?

s pensamentos estavam me matando e decidi parar de pensar. Me concentrei no meu banho, me ensaboei, lavei meus cabelos com shampoo, depois passei condicionador, enrolei mais um tempo embaixo do chuveiro, por fim, desliguei o chuveiro e sai de debaixo dele, pegando a toalha e me secando, enrolando outra toalha menor nos cabelos e saindo, enrolada na toalha, em direção ao dormitório. Eu gostava de me trocar no dormitório, sempre saia morrendo de calor e não gostava de me secar e me trocar soando com o vapor do chuveiro. As meninas estavam rindo de alguma coisa enquanto arrumavam sobre a cama a roupa que iriam vestir. Segui até minha cama, onde minha roupa também estava jogada, a que eu vestiria, e tirei a toalha da cabeça, passando a secar os cabelos por cima com a toalha, observando as meninas.

Emme estava vermelha e rindo, sem graça, e Lilly estava rindo, então acho que saquei qual era o assunto e perguntei.

— O que você ficou fazendo com o Remus lá em baixo aquele tempão que ficamos lá em cima, Emme? – Ela instantaneamente ficou mais vermelha ainda e Lilly gargalhou, enquanto eu começava a rir.

— Ahhhhh sua sapequinha! – Eu disse e ela pegou o travesseiro da sua cama e jogou em cima de mim, que me desviei vendo o travesseiro caindo sobre a minha cama, e continuei rindo.

— Eu não fiz nada! – Ela disse, mas ninguém acreditava, né.

— Me engana que eu gosto. – Eu disse e Lilly concordou. – Anda logo, quero todos os detalhes sórdidos.

Emme me mostrou a língua, rindo e pegou a toalha sobre a cama.

— Eu vou tomar banho. – Ela disse apressadamente. Fugindo, né dona Emmelina Vance.

— Hey, nem pense nisso, senta essa bundinha aqui e me conta tudo. Anda! – Ela riu, negando com a cabeça, seguindo em direção ao banheiro, me virei para Lilly que deu de ombros e disse, alto o suficiente para Emme ouvir.

Ela vai ter que sair do banheiro uma hora ou outra. – Emme gargalhou e eu voltei-me para minha roupa, colocando a toalha que estava secando meus cabelos sobre a cama e puxando o travesseiro da Emme para pegar minha roupa. Joguei o travesseiro na cama ao lado e fui procurar minha calcinha ali em cima e então eu percebi uma coisa que eu sequer tinha notado antes. Tinha uma caixinha branca sobre minha cama, fechada, com um laçinho por cima.

Olhei para a caixa e franzi a testa, olhando para a Lilly que estava penteando os cabelos, como ela sempre fazia quando ia lavá-los.

— Você colocou isso aqui, Lilly? – Ela desviou os olhos do espelho da penteadeira e me olhou, olhando para a caixa em seguida e negando com a cabeça.

— Já estava aí quando chegamos, pensei que você tivesse visto antes de ir para o banho. – Neguei com a cabeça e fiquei olhando a caixa, tentando me lembrar de alguma coisa que eu sabia que era importante, mas tinha esquecido.

Por fim, peguei a caixinha e sacudi, próximo ao ouvido, para ver se ouvia alguma coisa, ouvi um barulho de alguma coisa colidindo na caixinha. Efetivamente, tinha algo ali dentro. Em pé, em frente a cama, puxei o laçinho rosa que tinha em cima, prendendo a caixinha e o joguei sobre a cama e então puxei a tampinha da caixinha a abrindo.

Quando a caixinha se abriu a minha frente, meu coração parou de bater no mesmo minuto.

Dentro da caixa tinha uma aranha.





— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!

Pensa num grito capaz de acordar o castelo inteiro.

Agora pensa numa pessoa pulando mais que um canguru.

Agora pensa numa pessoa desesperada, se coçando, se batendo, pulando, gritando, apavorada.

Multiplique isso por quinhentos, e essa sou eu.

Eu joguei a caixa para cima e vi, infelizmente, a aranha saltar da caixa e cair sobre a minha cama. Ela era... asquerosa, meu Merlin, piedade. Era negra, peluda, do jeito que eu mais tinha pavor.

Dei um pulo para trás e cai na cama da Emme, me ergui e corri para longe, os olhos pregados na cama, gritando, desesperada, passando a mão pelos meus braços, como se ela tivesse relado em mim e eu pudesse sentir aquelas patinhas nojentas subindo em mim.

Lilly veio correndo vendo meu histerismo, tentando entender o que estava acontecendo, Emme veio em seguida, enrolada na toalha, assim como eu.

— O que foi, Lene?

— UMA.... UMA... UMAA... AIIIIIIII... ALIIII. OLHAAA. – As meninas olharam para a cama e deram um pulo para trás, a coisa estava andando na minha cama, eu nunca mais ia ter coragem de dormir ali.

— TIRA ISSO DAQUI! TIRA ISSO DAQUI! TIRAAAA! TIRAAAAA!

Eu estava completamente apavorada, tão apavorada que nem vi dois meninos entrarem correndo no nosso dormitório, assustados.

— O que aconteceu? – Perguntou Sirius, entrando correndo no dormitório. James seguiu até a Lilly para ver se ela estava bem, a essa altura do campeonato já tinha outras meninas na porta do nosso quarto, olhando para ver o que estava acontecendo.

— Ouvimos o grito de vocês lá de baixo e ouvi alguém dizendo Kinnon. O que aconteceu? – James foi perguntando, olhando para Lilly para ver se ela estava bem.

— Lene? – Sirius se aproximou de mim, eu estava encostada na parede do outro lado do quarto, perto da janela, passando a mão nos meus braços, desesperada. Os cabelos molhados caídos sobre os ombros, e nem me lembrei que estava enrolada na toalha, sem nada por baixo.

— Aquilooo, aquilooo. – Eu tremia e lagrimas estavam descendo dos meus olhos, escorrendo por meu rosto.

— O que? – Sirius olhou para mim e para a frente, para onde eu estava apontando.

Eu gaguejei.

— Uma acro... acro... acroman...  aiiiiiiiiii – Coloquei as mãos no rosto, apavorada, e ele arregalou os olhos.

— Acromântula?

— Tira de lá, tira de lá, pelo amor de Merlin! – Eu tremia, James se aproximou da cama e viu a coisa andando sobre meu travesseiro e arregalou os olhos, a caixa estava caída na cama, ele pegou a caixa e com a varinha fez a aranhar cair dentro da caixa para fechar ela dentro.

— Quando chegamos a caixinha estava na cama da Marlene. – Disse, Lilly. James fechou a aranha dentro da caixa e ficou segurando a caixa nas mãos, fortemente, mantendo o bicho preso lá dentro.

Eu estava tremendo, vendo tudo pelo vão dos dedos que estavam sobre meu rosto, Sirius estava me abraçando, eu sequer tinha notado ele me abraçar enquanto soluçava, desesperada.

— Está tudo bem, está tudo bem. O Pontas prendeu ela. – Eu tremia e chorava. Como eu ia dormir ali, naquela cama, depois de ter visto aquela coisa andando na minha cama, no meu travesseiro? Eu ia imaginar aquilo no meio do meu cabelo se deitasse para dormir ali, e só de pensar nisso, já sentia um pânico desesperador.

A professora McGoonagall apareceu logo em seguida, entrando no dormitório em passos duros e as feições severas, como sempre.

— O que aconteceu aqui? Ouvi gritos e disseram que eram daqui. Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Senhorita Evans? Senhorita McKinnon? E, pelas Barbas de Merlin, o que vocês estão fazendo no dormitório feminino? Não sabem que é proibido virem aqui? Como conseguiram subir as escadas?

Todo mundo olhou para a professora, já sentindo o castigo que viria, mas Lilly, com todo o seu jeitinho foi defender a todos.

— Professora McGonnagall, colocaram uma aranha dentro de uma caixinha na cama da Marlene. E ela tem aracnofobia.

A professora arregalou os olhos e olhou para a cama, depois para a caixa na mão de James e depois para mim, que estava tremendo nos braços de Sirius.

— Nós ouvimos o pessoal falando que aconteceu alguma coisa com elas, viemos ver se podíamos ajudar. – Apressou James. A professora McGonnagal amava o James de paixão, se eu não conhecesse a família do James e soubesse que a mãe dele não era a professora eu ia pensar que era.

— Eu não vou... eu não vou... dormir lá, não vou dormir lá.. aquela coisa tava lá -  eu disse entre soluços. Não adiantava mudar as colchas, a fronha, o lençol, o colchão, eu não ia dormir lá nem que um hipogrifo aprendesse a lançar feitiços, ou a jogar quadribol ainda por cima.

— Nós vamos providenciar um lugar novo para a senhorita dormir. Sugiro que vista-se e vá até a ala hospitalar tomar uma poção calmante com a Madame Pomfrey. Leve ela, Black. – Sirius assentiu, a professora voltou-se para o James. – Potter, traga isso até a minha sala.

— Nós sabemos quem fez isso, professora. – Disse James e a professora assentiu, sem dizer nada.

— Venha na minha sala também, senhorita Evans. – A professora saiu, pisando duro, James e Lilly foram atrás e Emme pegou minhas roupas na cama, seguindo até próximo de mim e do Sirius e segurando meu braço, conforme Sirius me soltava.

— Vem, Lene, eu te ajudo a se trocar. – Segui com a Emme até o banheiro, meio tremula e no automático. Me troquei, ela penteou meus cabelos molhados, e sai do banheiro.

Sirius estava sentado na cama da Emme, olhando para a minha cama como se ainda estivesse vendo a coisa lá. Ele se levantou assim que apareci.

— Vem, eu vou te levar na ala hospitalar. Não se preocupe, não vou deixar nada mais acontecer a você. – Ele passou os braços ao meu redor e deu um sorriso a Emme, e saímos, com todo mundo nos olhando e vendo meus olhos vermelhos, pelo choro de minutos atrás.

Nem vi como chegamos na ala hospitalar, Madame Pomfrey veio correndo, como sempre, nos atender e me colocou numa cama. Sirius ficou ao meu lado enquanto eu tomava uma poção borbulhante quente e calmante, me sentindo melhor a cada gole. Ele puxou uma cadeira e ficou sentado lá, me observando.

— Você não se lembrou? – Franzi a testa diante da pergunta dele. – Da encomenda do Ranhoso?

Era isso. Que droga, eu tinha mesmo esquecido.

Sacudi a cabeça, negativamente.

— Me esqueci.

Ele assentiu e suspirou. Eu estava bem mais calma agora, as mãos não estavam mais tremendo e eu não estava mais apavorada como ficara.

— Eu fui burro também. – Ele disse, inesperadamente, me fazendo olhá-lo. – Devia ter subido antes e visto se tinha alguma coisa lá, mas estava muito... – Ele parou e desviou os olhos, olhando pela janela e vendo a noite escura do lado de fora, o som dos grilos era a única coisa entre nós, a Madame Pomfrey saíra e nos deixara ali, sozinhos.

— O que? – Eu perguntei. Mas depois continuei. – Acho que ninguém lembrou, né. – Ele sacudia a cabeça, de maneira negativa, como se discordasse de mim.

— Não, eu sabia, eu lembrava, mas estava... fiquei com... – Ele suspirou. – A culpa foi minha. Me desculpe.

— Hey. – Eu estendi a mão e segurei a mão dele, de maneira carinhosa. – A culpa não foi sua, foi daquele verme, nojento. – Ele assentiu, mas não parecia convencido. Abaixei o rosto, tentando ver os olhos dele que estavam agora olhando o chão. – Sirius, o que foi?

Ele não me olhou de imediato, ficou olhando para o chão por um tempo, respirando fundo. Então ergueu o rosto e me olhou.

— Eu estava com raiva, com ciúmes. – Ele disse e parou, eu não disse nada, fiquei olhando para ele, sem saber o que dizer. – Eu vi você beijando o Wood.

Engoli a seco e desviei os olhos, fechando os olhos em seguida, o que eu tinha feito? Eu sabia, sabia que ele tinha visto, soube disso no instante em que me aproximei daquela mesa e ele não me olhou nos olhos. Soube o tempo todo, quando a caixa caiu e eu vi a sombra de alguém. Eu estragara tudo.

— Desculpe... eu... não sabia o que estava fazendo. – Eu disse, baixinho, quase num sussurro, não sabia se era para mim ou para ele que eu estava dizendo, ele negou com a cabeça, novamente.

— Não. Você não tem que se desculpar de nada, eu que tenho, eu sempre soube que você gostava dele, e eu estou no meio, não tenho nem o direito de ficar no meio de vocês, pra quê eu tô no meio, afinal de contas? – Ele parecia dizer mais para si também do que para mim, eu franzi a testa e comecei a negar com a cabeça, freneticamente. Não, eu não gostava do Wood, o que ele estava dizendo?

— Sirius, eu não... – Comecei a dizer, mas ele me interrompeu, segurou minha mão com mais força e me olhou nos olhos.

— Olha, eu... eu te conheço há anos, não posso ser canalha com você, posso ser canalha com qualquer garota desse castelo inteiro, mas não com você, jamais com você. Você sempre foi uma amiga, uma boa amiga, me ajudava sempre sem nunca questionar, nos trabalhos, provas, fazendo trabalhos e pesquisas para mim sem nunca dizer nada, e daí só porque, de repente, eu percebi, tarde demais, o quanto você é linda, e incrível, realmente mil vezes melhor do que qualquer garota que eu já conheci, eu vou estragar tudo as coisas para você? Para quê? Por uma disputa entre homens? Por que você é a única que me nega e não se entrega sem pestanejar? Qual é, isso não é certo, não é justo, não é justo com você!

Fiquei olhando para ele com as feições de alguém meio apavorado e alguém que não acreditava no que estava ouvindo, o que ele estava querendo dizer com tudo aquilo?

Sirius... o que você está dizendo? – Eu sussurrei, incapaz de conseguir falar, a voz quase não saiu, um nó estava se formando na minha garganta.

— Eu sei que você gosta do Wood então... – Meu Merlin, o que ele ia dizer? Senti o nó aumentando na minha garganta. – Eu não vou mais ficar entre vocês.

Ele baixou os olhos e eu fiquei ali, sentindo a mão quente dele na minha enquanto sentia meu mundo desabando sobre minha cabeça.

Eu estragara tudo.

— Eu... – Ele não ergueu os olhos para me olhar, quando continuou. – Eu fiquei com ciúmes quando vi vocês juntos, eu... eu senti uma coisa que nunca senti antes, sei lá... Mas daí fiquei pensando e pensando, enquanto voltávamos para o salão comunal.

Para Sirius, para de falar! Eu não quero ouvir você dizer isso, não quero ouvir você dizer que eu gosto de outro quando a minha vida é você, é você, seu cego, burro e idiota!

— Fiquei pensando que... eu nem sei o que é isso que eu tô sentindo, e aquele dia você me disse, me disse para eu ter certeza do que eu queria e então ir atrás de você. Mas, Lene, eu não tenho certeza do que sinto.

Eu engoli a seco, meus olhos estavam se enchendo de lagrimas e eu desviei os olhos, para que ele não as vissem, para que as lagrimas malditas não me traíssem.

— Eu não sei, eu nunca fui bom com essas coisas de sentimentos, entende? E se você gosta do cara, eu vou ficar no meio atrapalhando?

— Eu não gosto... – Eu disse baixinho, mas acho que ele não ouviu.

Ele levou minha mão até os lábios dele e beijou, carinhosamente, enquanto dizia.

— Eu gosto de você, caramba, eu sei que gosto muito de você, mas não sou cara para você. Me desculpe atrapalhar sua vida e confundir você toda com isso.

Levei a mão livre ao rosto, secando uma lagrima que escorreu por meu rosto, e com a ponta do dedo, sequei as lagrimas que estavam nos meus olhos, embaçando minha vista, ele não podia me ver chorar, mesmo que por dentro eu estivesse quebrando inteira em mil pedaços e ele sequer pudesse ver.

Parecia que ele estava terminando o que nunca começamos. Mas, era mais ou menos isso mesmo e doía, doía tanto quanto se fossemos namorados.

— Você pode ficar com o Wood. Eu não vou atrapalhar mais, você merece um cara de verdade e eu sei que ele é esse cara.

Senti os lábios quentes dele na minha mão e engoli o choro que estava me esmagando por dentro.

O que eu tinha feito?


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