Os planos malucos
- O que toda mulher inteligente deve saber é que -
Se você deixar que ele faça tudo que deseja desde o início, vai perder a graça, ele vai pensar “certo, ela já está bem onde eu quero. Então vamos coloca-la na lista de reserva e ver quem mais está disponível”. Por isso, coloque-o no lugar dele.
Eu daria um milhão para quem pudesse parar o tempo e me deixar ali, só por mais uma hora inteira nos braços dele, nos lábios dele, no cheiro dele, no abraço forte dele, sentindo o corpo dele no meu quase como se fossemos um só, uma horinha, só isso, uma hora, sessenta minutos, três mil e seiscentos segundos, três milhões e seiscentos mil milissegundos, três bilhões e seiscentos milhões de microssegundos, enfim, acho que você já entendeu né? Uma horinha só de tudo aquilo e minha vida poderia acabar no minuto seguinte e eu nem me importaria, mas nada que nos afastasse naquele minuto, naquele segundo, naquele milésimo de segundo, por favor!
Só mais cinco minutos que seja.
— Cara! –Remus chegou arfante, ele nem sequer percebeu que eu e o Sirius estávamos assim, muito mais próximos do que a geografia permitiria num espaço nem tão pequeno quanto o corredor, mas nós não fizemos questão de comentar também, por mais que eu bem que quisesse dizer “ô Remus, veja bem, eu tô pouco me fodendo pro Snape e o que ele fez ou deixou de fazer, porque você não vai dar uma voltinha e só lembra do Sirius daqui uns quinhentos anos, por favor!” Mais ou menos isso. – Aquele filho da puta... você não vai acreditar!
O Sirius deu dois passos para trás me deixando respirar melhor sem o perfume dele me embriagando; disfarçadamente passei as mãos pelos cabelos, ajeitando-os e olhei a volta, vendo a touca cor de vinho do Sirius caída ao chão. Quase ri comigo mesma.
— O que aconteceu, Cara? – O Sirius nem reparou que eu, disfarçadamente, me abaixei e peguei sua touca, enquanto ele passava a mão pelos cabelos que estavam mais bagunçados do que antes de eu bagunça-los ainda mais.
— Vamos, eu conto no caminho. Cadê o Potter? – O Remus saiu caminhando pelo corredor, com o Sirius acompanhando ele, não sem antes se virar e olhar para mim, que sorri, sem graça, sentindo meu rosto inteiro esquentando e esticando a mão com a touca para ele pegar.
Ele sorriu e pegou minha mão, segurando-a por alguns segundos antes de puxar só a touca e enfiá-la na cabeça, ajeitando sobre os cabelos rebeldes.
— Potter? – Sirius voltou a si e encarou o Remus com uma das sobrancelhas erguidas e eu fiquei ali, meio que boiando na maionese, ué, o Sirius não sabe que o sobrenome do James é Potter? Eu heim.
— Isso ai, cara. – Foi o que o Remus disse e o Sirius bufou, como se fosse um assunto interno, ou um código secreto do qual eu não tinha acesso.
Oi, quando foi mesmo que ele disse que eu já fazia parte da turma? Isso significava ter acesso aos códigos secretos, certo?
— O que tá acontecendo? – Eu perguntei inocentemente, enquanto os seguia corredor adentro, em passos apressados, virando à esquerda, depois a direita, depois subindo mais um lance de escadas e chegando no segundo andar.
— O Snape armou pra gente, pelo que eu ouvi, ele pegou a lembrança de um dos comparsas dele e vai levar pro diretor.
— Como assim? – Eu disse exasperada. – E ele dando um empurrão na Lilly e quase quebrando a perna inteira dela? Isso ele vai mostrar?
Obvio que não. Aquele filho da mãe!
— Pois é, ele fez tudo planejado, era como se ele esperasse que nós nos vingássemos e chegasse no salão e ele fosse lá nos provocar para partirmos pra briga. – Remus continuou subindo, virando à esquerda e pegando outro acesso de escada que nos levaria ao terceiro andar.
— O James tá na ala hospitalar, vamos até lá e resolvemos isso. – Eu alcancei os dois no fim das escadas e seguimos pelo corredor onde no final ficava a ala hospitalar.
Seguimos pelo corredor, apressados e dessa vez calados, Remus na frente e o Sirius atrás, comigo ao seu lado; Quando chegamos na porta, paramos e Sirius me olhou, enquanto Remus empurrava a porta e entrava, me deixando do lado de fora com o Sirius.
Eu ainda me sentia quente, com o rosto fervendo, não sei se pela nossa pegação que me deixara totalmente sem ar e quente por dentro, mas alguma coisa me fazia ficar sem jeito e sem graça agora a frente dele. Abaixei o rosto, meio sem saber o que fazer ou para onde olhar, e ele segurou meu queixo, me fazendo erguer o rosto.
— Tá tudo bem? – Eu o olhei nos olhos e prendi a respiração por segundos. Até quando eu ficaria sem ar na frente dele, com o coração disparando no peito e pensando “Meu Mérlin, como pode ser tão lindo?”?
— Ahan. – Eu disse, simplesmente, balançando a cabeça, e ele arqueou-se para frente tocando meus lábios com os dele num selinho.
— Depois a gente continua aquela conversa. – E riu, se afastando de mim, me deixando mais vermelha e me fazendo dar um tapa brincalhão no braço dele. – Vem!
Ele me puxou pela mão e entramos na ala hospitalar de mãos dadas, o que me deixou ainda mais sem graça do que eu já estava.
A ala era grande, do lado esquerdo ficavam as camas, uma ao lado da outra com aqueles biombos para separar quem precisasse, e do lado direito ficava uma sala grande onde a Madame Pomfrey ficava. Eu só vira ali na ala hospitalar ela poucas vezes na minha vida ali, e todas elas foram traumatizantes, por isso, quando entramos, eu nem me atentei muito a sala da Madame Pomfrey ou a ela, não que ela fosse ruim, mas era bem severa e minhas lembranças de ossos quebrados e dores a noite inteira ali eram o suficiente para eu não gostar daquele lugar.
Lilly estava deitada numa cama ao final do lado esquerdo, perto da janela, não tinha nenhum biombo fechado na ala hospitalar e nem a volta dela, por isso pude ver a Emme e o James parados a volta, conversando com a ruiva que estava com parte da perna do joelho para baixo enfaixado.
Remus chegou primeiro próximo a eles e parou, disse alguma coisa que não ouvimos e logo eu e o Sirius nos aproximamos. Quando paramos à beira da cama, pareceu que todo mundo olhou para mim, para ele e depois para nossas mãos dadas, mas ninguém disse nada.
— Lilly, você tá bem? – Eu disse, meio sem jeito pelos olhares, mas ao mesmo tempo super preocupada com minha melhor amiga.
— Eu estou bem. – Ela sorriu, com carinha de doente, meio pálida e desviou os olhos de mim para James, parecia que o clima não estava bom só para mim e o Sirius, heim.
— Ela só virou o tornozelo, mas não chegou a torcer, o que foi uma sorte! – A Madame Pomfrey chegou por trás de mim e do Sirius, com uma bandeja prateada nas mãos. – Agora eu acho melhor vocês deixarem ela descansar. Amanhã ela estará novinha em folha.
— Não vai dar nem para surrupiar a aula, Lilly. – Brincou James e nós rimos, fazendo a Lilly rir junto e fazer uma careta.
— Que bom! Não gosto de perder aula. – Típico da Lilly. Esse comentário fez nós rirmos mais ainda. Quem gostaria de ir estudar ao invés de ficar de molho na caminha o dia todo? Só a Lilly mesmo.
— Vamos indo, todos vocês. – A Madame Pomfrey parou ao lado da cama da Lilly e virou um liquido num potinho transparente dando para Lilly tomar, enquanto ficávamos ali, meio que querendo ficar, preocupados com a Lilly, com o lance do Snape, querendo conversar e sendo expulsos sem querermos. – Andem, andem. Podem voltar à noite para uma visita se ela não tiver tido alta.
Nos viramos, vencidos, e caminhamos meio devagar para a saída da ala hospitalar, parando a porta e nos entreolhando.
Aqueles meninos parecem ter alguma coisa, algum código ou de tanto conviverem juntos já devem conhecer o olhar um do outro porque, assim que chegamos do lado de fora da ala hospitalar, o James já virou para o Remus e o Sirius e perguntou:
— O que foi? O que aconteceu?
— O Snape... – Começou o Remus.
— Aquele filho da puta me paga... – Foi dizendo o James, nervoso. Parecia uma pilha de nervos pelo que o Snape havia feito à Lilian.
— Ele armou pra nós, Potter. – James ergueu o rosto e encarou o Remus com as sobrancelhas erguidas, a mesma reação que o Sirius tivera, e eu comecei a ter certeza que ali tinha um código secreto. Mas no próprio nome do James? Que estranho.
James nem precisou perguntar o que Snape tinha feito, Remus nos puxou para um canto, um pouco afastados da porta da ala hospitalar, e descascou a lenha, que era bem pesada viu.
— Ele mandou alguém observar a cena que ele queria de você atacando ele no refeitório, depois tiraram a memória e colocaram num frasco, pelo que eu ouvi os amiguinhos dele dizendo. Parece que ele, meio que, já sabia que íamos armar para eles e ele ia lá nos provocar, para fazer um de nós partir pra briga.
— Que filho da puta esperto! – James olhou a volta, com o olhar perdido, como se estivesse pensando.
— Ele vai levar para o diretor, não é? – Remus balançou a cabeça, positivamente.
— Ele contou para o Filch que estava vindo atrás da gente quando eu sai para procurar o Sirius, acho que eles iam nos dormitórios.
— Droga! – Sirius fechou a mão em punho e respirou fundo. – A gente tem que fazer alguma coisa, James. E urgente.
— E tem mais, não acabou por ai. – Todo mundo virou-se e encarou o Remus, com medo. O que mais aquele garoto tinha armado? – Ouvi dizer que ele tem uma lembrança da gente invadindo o dormitório deles, no dia da bomba.
Todo mundo arregalou os olhos e ficou olhando para o Remus, esperando ele virar e dizer: “Pegadinha! Peguei vocês!”. Mas ele não fez isso, ficou ali, parado, com uma cara de: “Sim, estamos muito ferrados!”
— Aquele filho da puta! – Esbravejou James, não queria ver esses meninos bravos, eu nunca vi, mas o ‘filho da puta’ do James já foi suficiente.
— A gente tem que pegar essas memórias antes que chegue no diretor. – Sirius olhou para James, eu, Emme e Remus também, se alguém poderia dar uma ideia ou solução, esse alguém era o James.
Se um dia alguém me dissesse que esses meninos tinham um monte de ideias malucas e eram realmente malucos, eu não acreditaria, mas agora vendo com meus próprios olhos, eu não duvidava nenhum pouco do quanto eles eram malucos, aliás, malucos? Malucos é um apelido bobinho perto deles, eram completamente loucos, isso sim, e eu tinha certeza disso porque eu e o Sirius estávamos encolhidos dentro de um daqueles buracos na parede que tinham por todo o castelo; lembra que eu disse uma vez do corredor dos amassos e que era chamado assim porque tinha vários espaços entre as paredes onde antes haviam algumas estátuas, tipo homens de armaduras, e depois haviam tirado elas e mudado de lugar e ficou os buracos pequenos e vazios nas paredes? Pois então, estávamos num desses, mas não era no corredor dos amassos, era pior, era no corredor que dava para a sala do diretor Dumbledore, e lá não eram todos os buracos vazios, em alguns haviam mesmo armaduras prontas para o combate, eu e o Sirius não éramos de ferro e nem armaduras, mas estávamos prontos para o combate... Bom, antes do combate eu estava preocupada com outra coisa, talvez com o espaço mínimo para nós dois.
Em quantos lugares pequenos e fechados mais eu vou ficar com esse homem, Senhor Merlin? Não que eu esteja reclamando, só me preparando, mas continue assim, você está indo muito bem.
— E aqui estamos nós novamente. – Ele disse e eu ri. Ele estava encostado na parede lateral do bequinho e eu estava a sua frente, imagine um espaço de sessenta centímetros para nós dois, era mais ou menos assim, por isso era impossível meu corpo não ficar colado ao dele, não era atoa que os casaizinhos adoravam aqueles bequinhos, eram realmente ótimos para dar uns amassos, bem amassados mesmo. Eu nunca estivera num bequinho antes, por isso, apesar de já ter ficado fechada em lugares minúsculos com o Sirius antes, dessa vez eu estava bem sem graça. – Estou começando a achar que você arma essas situações só pra ficar grudada em mim em lugares pequenos e escuros.
Eu quase soltei uma gargalhada alta, mas como todas as vezes que ficávamos presos em lugares pequenos e escuros, não podíamos fazer barulho, por isso eu tapei a boca com a mão e lancei um olhar de “olha o que você fez” para ele.
— Muito engraçadinho. – Eu disse quando recuperei o folego. – Foi ideia sua ficarmos aqui, portanto, acho que é você que arma essas situações.
— Hey, quem me arrastou para um quartinho minúsculo da última vez foi você. – Ele foi dizendo e eu cortei o barato dele rapidinho.
— Quem me arrastou para o quartinho de limpeza da outra vez foi você! – Ele sorriu, derrotado e deu de ombros.
— Okay, estamos empatados. – Ele disse e eu ri, negando com a cabeça.
— Você faltou à aula que ensinava a somar dois mais dois? – Ele fez uma careta e foi a vez dele de dizer.
— Muito engraçadinha. – Eu fiz pose de engraçadinha e ele riu, pegando uma mecha do meu cabelo e colocando atrás da orelha. Fiquei sem graça e espiei para fora do bequinho, disfarçadamente, tentando não ser vista.
— Como é mesmo que vamos conseguir interceptar o Finch daqui? - Eu disse, meio temerosa com aquele plano, mas ele apenas sorriu, lindamente e passou a mão por cima da touca, acho que ele sentia falta dos cabelos livres ao vento, ou melhor dizendo, livres para ele passar a mão charmosamente.
— Relaxa e só me acompanha no processo que eu sei o que temos que fazer. – Lancei um olhar para ele de “desculpa ai, ô fodão”, e ele riu, me pressionando contra a parede apenas para se espremer um pouco pra fora e espiar o corredor, voltando ao seu lugar em seguida e me encarando. – Que tal aproveitarmos para continuar aquela conversa que o Remus atrapalhou?
— Sirius! – Fiquei vermelha igual um camarão e ele riu, tocando com a ponta dos dedos minha face, me deixando mais vermelha ainda, e quente, muito quente.
— Você já me perdoou? – Ele disse, baixinho, brincando com uma mecha do meu cabelo e eu o olhei, sem saber o que dizer. Era tão estranho ver ele falando comigo de coisas que antes eu nem sequer sonhava na vida que fosse acontecer.
— Não tenho porque o perdoar de alguma coisa, você não me fez nada. – Eu disse, simplesmente, tentando não entrar a fundo no assunto e ele ergueu os olhos, assentindo com a cabeça.
— Eu devo me preocupar com o Wood? – Ergui os olhos, observando aqueles olhos azuis acinzentados e congelei por dentro. Droga, por que é mesmo que estávamos tendo aquela conversa? Eu queria só entender o que afinal de contas o Sirius queria, mas tinha tanto medo de perguntar e estragar tudo. Ele parecia tão na minha, mas e se fosse só uma fase como era com as outras garotas?
— Eu queria só entender esse seu interesse repentino na minha pessoa. – Ele riu com a maneira que eu disse e sussurrou baixinho, antes de responder.
— Na minha pessoa. – Eu ergui a sobrancelha, enquanto ele ria ainda e então ele me encarou, dando de ombros. – Talvez eu nunca tivesse reparado no quanto você é diferente.
— Diferente? – Opa, essa era nova heim, diferente? Como assim? Por um acaso eu tinha cara de aborto ou alguma coisa parecida?
— É, sei lá, uma garota de opinião, corajosa, de atitude, meio marota...
— Meio marota? – Eu ri, mas ele continuou apesar de eu interrompe-lo.
— Linda... Acho que eu nunca tinha reparado no quanto você é linda. – Com o resto da frase eu sorri, ficando mais vermelha que um pimentão e me sentindo como se tivesse comido pimenta malagueta, meu Merlin, como eu estava quente.
— Nossa, desse jeito eu vou inflar como um peixe boi e sair voando. Segura a minha cordinha do ego.
Ele soltou uma gargalhada alta e eu olhei instintivamente para o corredor.
— Cordinha do ego? Além de tudo, você é louca, por isso que eu gosto de você. – Fiz uma careta e joguei os cabelos para trás, cheia de charme.
— Eu sei que sou irresistível.
— Uma verdadeira marota, melhor dizendo. – Eu sorri e neguei com a cabeça.
— Respondendo à sua pergunta, você não tem porque se preocupar com o Wood uma vez que eu e você não temos nada.
— Ai. – Ele levou as duas mãos ao coração e fez uma carinha de dor. Ele era cheio dos charmes também, viu, vou te contar. Como é difícil ser durona com ele. – Essa doeu.
Fiz uma careta e bati no braço dele, devagar e ele segurou minha mão, me puxando rapidamente e inesperadamente contra o corpo dele, fazendo ficarmos mais colados do que já estávamos, e eu senti minha respiração sumir dos pulmões e meu corpo esquentar como se eu fosse jogada sobre um vulcão em chamas.
— Está muito engraçadinha. – Eu olhei para o rosto dele, tão próximo e senti o ar sair com tudo dos meus pulmões enquanto eu ficava ofegante de repente.
— O que... O que você está fazendo, Sirius? – Ele sorriu, de lado, e apertou a mão nas minhas costas me prensando ao corpo dele, molhando os lábios com a ponta da língua enquanto meus olhos ficavam fixos nos lábios vermelhos dele, quase abrindo involuntariamente os meus. Aquilo estava perdendo o controle, eu tinha que parar de deixar ele me agarrar sempre que quisesse. Mas como eu faria isso? Não tinha forças para resistir.
— Você disse que não tínhamos nada, estou tratando de mudar isso. – Eu franzi o cenho e o encarei, tentando não pensar no rosto dele que ficava cada vez mais próximo do meu quando ele roçou o nariz no meu e beijou devagar minha bochecha, ele estava me provocando e eu estava enlouquecendo.
— Sirius... Isso não... isso não muda nada. – Consegui dizer afinal e afastei meu rosto para olhar para ele, respirando fundo e tentando manter o controle.
Se você estiver tentando conquistar um garoto e já passou da fase do primeiro beijo e ele estiver fazendo alguma coisa parecida com isso, com você, tipo, te beijando e te agarrando sempre que ele quer, quando ele quiser, trate de mudar isso, porque ele precisa saber que aqui não é a feira do peixe não, nem pastelaria, agora, como você vai ter forças para fazer isso amiga.... Bom, quando eu descobrir eu te aviso como, porque está muito difícil, mamamia!
Ele apoiou a mão, que estava no meu pulso, na minha nuca e me puxou contra ele fazendo meu rosto se aproximar mais dele, enquanto roçava os lábios nos meus.
— Shiuuu... você fala demais, sabia? – E então ele selou os lábios nos meus, e eu senti meu coração se transformar em geleia. A língua dele roçou nos meus lábios entreabrindo meus lábios vagarosamente e eu estava perdendo a noção de tudo, mas não podia deixar isso acontecer, não podia, por isso, respirei fundo e apoiei uma das mãos no peitoral dele, afastando-o de mim a muito contragosto.
— Melhor não. – Eu disse, ofegando e encostando minhas costas na parede, deixando ele me olhando, aturdido, com as sobrancelhas erguidas e a cara de quem não entendeu nada.
— É o Woo... – Começou ele e eu neguei com a cabeça, cortando-o.
— Sou eu, Sirius, eu não sou brinquedinho para você ficar pegando e brincando quando quer, e depois jogando no cantinho do quarto. Eu disse isso para você, não estou zangada, só não sou esses tipos de meninas que você fica até enjoar e depois dá tchau.
Ele continuou me encarando com a sobrancelha erguida, depois assentiu com a cabeça bem devagar.
— Tudo bem. – Ele disse, ainda me olhando e eu senti meu coração se partindo num trilhão de pedaços. – Eu sei que tem o Wood ainda, mas eu vou te provar que eu não sou como você pensa...
— Eu sei como você é, Six. – Eu disse, dessa vez com a voz delicada, gentil. – Eu te conheço há sete anos, esqueceu? Somos amigos.
Ele engoliu em seco e ficou me olhando.
— Amigos. – Ele disse e eu sorri, fracamente, assentindo com a cabeça, voltando a me aproximar dele e beijá-lo no rosto, carinhosamente.
Então me afastei e arregalei os olhos. Tinha ouvido alguma coisa.
— Acho que tem alguém vindo. – Eu me esquivei dele e espiei do lado de fora do bequinho com todo o cuidado do mundo, quase como se eu fosse uma espiã e então vi o Filch vindo ao longe, estava sozinho, mas tinha alguma coisa nas mãos. Estranhei o fato dele não estar com o Snape, mas com certeza ele estava com a prova que nos incriminava nas mãos.
— O Filch. – Eu disse, num sussurro, e o Sirius se espremeu contra mim para espiar também. – Ele tá sozinho. - Eu concluí, no mesmo tom de voz e o Sirius assentiu com a cabeça, observando o corredor ainda, antes de voltar a mim.
— Okay, o plano é o seguinte... – E sussurrou no meu ouvido.
Eu vou te poupar dos detalhes sórdidos... brincadeira. Eu estava com medo e tremendo, mas eu tinha entrado naquela no momento em que dei a ideia de nos vingarmos, agora era arcar com as consequências, até porque, se o Snape tivesse mesmo uma prova de nós invadindo o dormitório da Sonserina, eu estava inclusa na coisa toda, então bem ou mal, agora eu fazia parte daquilo e da turma.
Eu não sabia se o Filch tinha conhecimento de que eu estava metida nas coisas que o Snape disse a ele, mas eu tinha que arriscar aquele plano do Sirius, por isso, assim que o Filch passou por nós, sem sequer notar-nos, respirei fundo e o Sirius sussurrou um “Boa sorte”, antes de eu sair, e depois ir caminhando correndo atrás do Filch.
Comecei a correr, correr com toda a força e pulmão que eu tinha, corri com tanta pressa que meus sapatos ecoaram pelo corredor fazendo o Filch virar-se assustado e me encarar com os olhos arregalados. Quando ele começou a falar...
— Hey, você mocinha, não pode correr assim... pare! Pare! – Ele abriu os braços tentando fazer eu parar, mas eu estava no pique, não ia conseguir parar nem se quisesse, por isso freei meus pés no corredor e deslizei em velocidade máxima em direção a ele, já sentindo a dor da colisão e da queda antes mesmo de acontecer.
Trombei com ele com toda força e caímos, os dois, no chão duro de pedras, enquanto o que estava na mão dele voava para longe, pelo piso de pedra.
— O que você pensa... – Ele começou a dizer, mas eu estava em cima do corpo dele, prensando ele contra o chão, enquanto desajeitadamente tentava me erguer, sem sucesso.
— Meu desculpe, me desculpe, não consegui parar, não consegui... – Fui dizendo, desesperadamente, enquanto ele tentava me empurrar e eu continuava em cima dele, pressionando-o com o peso do meu corpo, tentando me erguer, mas sem “conseguir”. Na verdade, eu mal estava relando nele, apenas tinha lançado um feitiço para mantê-lo no chão e ele pensar que era o meu peso, afinal de contas, eu não teria forças suficiente para segurar ele por muito tempo sozinha.
Ergui o rosto e vi o Sirius silenciosamente com o rosto para fora do bequinho, enquanto erguia a varinha e conjurava para si o que de longe parecia um vidro, pegando-o e lançando de volta outro vidro parecido, ou parecido com o que achávamos que íamos pegar do Filch, com isso, fingi que ia tentar me levantar e estabanei-me novamente em cima do Filch, metendo a mão em seu rosto “sem querer”, fazendo ele virar o rosto para o outro lado e me desculpando um milhões de vezes, dizendo que eu estava tentando me levantar, mas não estava conseguindo.
Vi o Sirius voltar para o fundo do bequinho e um sinal de positivo antes dele sumir de vista e então, finalmente, consegui me levantar, esticando a mão para o Filch que estava nervoso e vermelho, não sei se vermelho pela queda ou porque tinha uma garota em cima dele, eu suspeitava que ele nunca tenha ficado com uma mulher em cima dele na vida, por isso, reprimi o riso e vi ele, reclamando e se levantando sem a minha ajuda.
— O que pensa que estava fazendo? Correndo assim, pode matar alguém, quase me matou, como pode? Não seguem uma regra sequer, esses alunos malditos... – Ele continuou dizendo, e eu fiquei ali, parada, vendo ele olhando a volta e vendo o vidro caído ao chão, se encaminhando até lá e pegando-o sem sequer conferir se era o mesmo que ele estava carregando.
— Quase me mata, correndo como um javali desengonçado, o que o diretor vai dizer disso? Heim? Heim? – Quando ele virou para me olhar, eu não estava mais lá.
Reprimi o riso a todo custo enquanto ele olhava a volta, perdido, girando e girando nos calcanhares me procurando e depois praguejando alto, virando e continuando o caminho até a sala da diretoria.
Eu estava embaixo de uma capa muito da hora do James que me deixava transparente, e sem o Filch me ver, eu caminhei o mais silenciosamente possível para o bequinho onde o Sirius estava.
Tinha vontade de rir da cara do Filch quando não me viu mais lá.
Eu encarei o Sirius a minha frente e sorrimos, tentando reprimir o riso de vitória, e permanecemos por mais alguns minutos no bequinho para garantir que o Filch tinha mesmo ido embora e para o caso do Snape aparecer atrás do Filch.
Ele sorriu, triunfante e chacoalhou a minha frente o vidro, eu rezei internamente para que esse fosse mesmo o vidrinho com as memorias que nos incriminava, e ficamos ali, respirando fundo com a adrenalina ainda pulsando forte no peito e nos olhando, sem dizermos uma palavra um ao outro.
Cerca de vinte minutos depois, eu e o Sirius corríamos meio escondidos pelo castelo debaixo da capa indo para o que o Sirius chamava de esconderijo secreto deles. Olha como esse mundo é, eu estudava com ele há sete anos, o conhecia bem, conhecia o James, sabia que eles aprontavam todas, que eram cheios dos segredos, mas jamais imaginei que eles tivessem um esconderijo secreto.
Caminhamos como se fossemos para o nosso dormitório, mas no meio do caminho subimos outra escada, e mais outra escada e chegamos ao sétimo andar, e no do corredor do lado esquerdo, tinha uma parte dali que eu nunca havia visto, onde ficavam umas estátuas de uns trasgos, eu sabia que aquele castelo tinha tantos andares quanto era possível, mas eu não era o tipo que saia desbravando tudo, por isso aquele lado era meio que novidade para mim; o Sirius parou em frente a uma parede e começou a andar de um lado para o outro e eu fiquei ali, com cara de tacho, olhando para ele sem entender nada, e dai, sem mais nem menos, apareceu uma porta imensa e ele abriu, me puxando junto com ele depois e eu me vi numa sala imensa e intacta.
A sala era toda azul, quer dizer, as paredes eram encobertas com um tipo de manta azul, que segundo os meninos, abafava o som e não permitia que ninguém do lado de fora ouvisse nada que acontecesse lá dentro, eles podiam tocar uma marcha com direito a tambor e tudo, que quem estivesse do lado de fora não ouviria nada. Haviam sofás macios no canto direito, quatro pares de dois lugares dispostos pela sala, alguns pufs, uma mesa cheia de coisas gostosas para comer e beber, como se ali fosse a cozinha, um instrumento musical parecido com uma bateria trouxa e um violão trouxa no outro canto, estantes de livros, tinha de tudo ali.
Era o quartel general deles.
— Meu Deus, não é possível que ninguém nunca tenha descoberto esse lugar!
James estava sentado na bateria, batucando devagar, distraído. Emme estava sentada em um sofá ao lado de Remus, pareciam estar entretidos antes, conversando, e eu fiquei parada no meio da sala, olhando tudo embasbacada.
— Na verdade descobriram. – Disse Sirius, caminhando até a mesa e pegando dois copos de suco e passando um para mim, que peguei, meio surpresa. – Nós descobrimos. – Ele deu um sorriso enorme e sentou em um dos sofás, virando um grande gole do suco. – Mas não tinha tudo isso que tem hoje, elas foram aparecendo com o passar dos anos.
Me encaminhei até o mesmo sofá, com o copo de suco na mão e virando um gole também enquanto via Emme, Remus e James agora nos olhando. Mas foi o James quem disse primeiro.
— E ai? – Ele parou de batucar a bateria, mas continuou lá, sentado, olhando de mim para Sirius. Sirius sorriu, exultante e puxou o vidrinho do bolso, agitando-o a frente.
— Não tivemos tempo de ver, então...
— Tomara que seja dele mesmo. – Eu concluí enquanto o Sirius deixava o copo no chão e voltava sua atenção total ao vidro.
Ele virou e revirou-o na mão, antes de dizer:
— Alguém sabe como fazemos para ver as memórias? – Eu olhei para Sirius e ergui os olhos para Emme, depois James e Remus. Então o Sirius jogou o vidro no ar, sem mais nem menos, na direção de James que o pegou, ligeiro, como se fosse o goleiro de Hogwarts. Acho que o Wood está com o cargo comprometido no time se o James quiser mudar de posição. – Vê ai, Pontas.
O James virou o vidrinho nas mãos percebendo algo que eu não tinha sequer reparado, não era um simples vidrinho que você conseguiria abrir e de alguma maneira ver as memorias, tinha uma espécie de parte lisa e cor de violeta na tela, como se fosse para digitar uma senha ou coisa parecida.
— Precisa de um feitiço para ter acesso a memória. – Todo mundo ficou olhando para o James meio embasbacado.
Mas que droga.
— Mas como o Filch ia mostrar para o diretor sem saber o feitiço que abre isso? – Indagou Emme e eu pensei a mesma coisa, portanto, assenti com a cabeça.
— Ou o Snape falou o feitiço para o Filch passar ao diretor, ou o Snape ia para a sala do diretor depois e ele mesmo iria abrir e mostrar para o diretor. – Começou Remus, mas as cartas estavam jogadas e todo mundo começou a opinar.
— Se o Snape ia depois, por que ele deixou o vidro com o Filch? Não faz sentido. – Eu disse, já com milhões de coisas se passando na minha cabeça.
— E se o vidro não for do com as memórias que o Snape pegou? – Perguntou Remus e eu olhei assustada para o Sirius, que apenas parecia pensativo, e depois para James, que negou com a cabeça.
— Tem o símbolo da Sonserina no vidro, é do Snape.
— Ou de alguém da Sonserina. – Concluiu Sirius.
Ficamos ali, olhando de um para o outro, pensando como poderíamos abrir aquele vidro, enquanto via James conjurando baixinho todos os feitiços possíveis, e nada.
Precisávamos de alguém muito bom com feitiços. Alguém aí conhece se arrisca?
A ideia me veio tão de repente que eu dei um pulo de susto, me levantando do sofá rapidamente e dizendo, mais para mim do que para todo mundo.
— Eu sei! – Todo mundo me olhou e eu me dei conta que tinha pensado alto e empolgadamente demais. Sorri amarelo e sentei novamente, me recompondo. – Eu sei quem talvez possa ajudar com o feitiço.
O Sirius olhou para mim com as sobrancelhas erguidas e James ficou me encarando sem entender. Olhei pra Emme e ela me olhou de volta, coisas de amigas, ela assentiu, e de repente todos os homens daquele ambiente ficaram olhando de mim para Emme.
— A Lilly. – Emme disse, e James arregalou os olhos, encarando a Emme de um jeito que era como se ela tivesse dito que a Lilly e o Snape tinham um caso de amor, ou coisa assim.
— Eu sei que é uma ideia bem horrível, mas... não podemos esquecer que a Lilly era muito amiga do Snape antigamente, ela provavelmente saiba algum feitiço ou alguma coisa que ele tenha dito para ela. – Eu concluí meus pensamentos e Sirius concordou, enquanto James parecia irritado, e passara a batucar com uma força inesperada a bateria.
Coitada da bateria.
— Temos que ir na Ala hospitalar. – Disse Sirius, e eu fiquei sentada, pensativa.
— Acho que... – Sirius me encarou e James também, esperando eu dizer mais alguma coisa, já que eu estava cheia das ideias. – Acho que talvez fosse melhor eu e a Emme fazer isso, sozinhas.
Emme assentiu e James levantou-se com tudo da bateria.
— De maneira nenhuma. Eu quero saber o que mais a Lilly sabe sobre aquele... – Ele engoliu o palavrão. – Aquele sujeitinho. O que eles tiveram, afinal de contas?
O ciúme está no ar.
— Eles eram amigos. Eram vizinhos quando eram crianças e cresceram juntos, só isso. – Eu comecei e a Emme concluiu de maneira mais polida e delicada, tentando não ferir os sentimentos do James, não que tivesse algum motivo para isso, Lilly de fato nunca tivera nada com Snape, mas eu e a Emme desconfiávamos desde sempre que ele, com certeza, queria ter muito mais com a Lilly, ela que nunca percebera. Bem típico da Lilly, alias.
— Depois, estudando aqui, o Snape começou a ficar estranho e a Lilly parou de andar com ele, foi só isso.
— Mas eles ainda eram amigos quando estudaram aqui. – Não era uma pergunta do Sirius, mas uma afirmação, e eu assenti com a cabeça.
— Até o quarto, ou quinto ano, depois disso eles brigaram e pararam de se falar.
— Ele sempre foi esquisito. – Continuou a Emme. – Mas a Lilly insistia que era só má companhia, que ele era legal, bom, eu nunca achei isso.
— Me dá arrepios pensar na Lilly sendo amiga daquele cara. Ele é mais do que esquisito, ele é nojento. – Disse Sirius e James bateu a baqueta com tudo na bateria, antes de colocá-la de lado e se levantar nervoso.
— Me dá raiva pensar na Lilly perto daquele verme. – Ele enfiou o vidro do Snape no bolso. – Vamos logo acabar com isso.
Eu olhei para o James, depois para o Sirius e depois para Emme. Okay, era melhor mesmo acabar com isso, mas antes...
— É melhor eu ficar com o vidro. – Eu disse, e James me olhou erguendo as sobrancelhas. – Quando o Snape descobrir que o vidro de memórias que o Filch está não é dele, vai pensar em vocês imediatamente. Talvez ele demore para pensar em mim.
Sirius exibiu um sorriso estupendo e eu o olhei sem entender nada.
— Eu disse que ela era uma marota! – Ele riu, e eu revirei os olhos, enquanto James assentia, derrotado.
Eu entendo que ele queria andar com o vidro de memórias como um prêmio daquela guerra toda, mas era arriscado demais, O Snape ia com tudo atrás dele quando descobrisse que o vidro havia sumido, eu e as meninas estávamos protegidas por enquanto.
James me deu o vidro e eu olhei para o objeto em minhas mãos, caminhei até Emme e entreguei a ela, que o pegou o vidro e enfiou no bolso do shorts que ela usava.
— Para o caso do Filch lembrar de uma garota de cabelos pretos que o atropelou... – Eu disse e ela assentiu.
O James saiu na frente do esconderijo, seguido por Remus e Emme. Eu me virei para sair, mas senti a mão do Sirius puxando meu braço e me virei para encará-lo. Ouvi o barulho da porta se batendo.
— Por que você está fazendo tudo isso? – Eu franzi o cenho e fiquei olhando para ele sem entender.
— Eu também estou naquelas lembranças, Sirius, além do mais, somos amig...
— Amigos, eu sei, eu sei. – Ele disse impaciente, como se não tivesse gostado da palavra ‘amigos’. – Mas vocês estão se arriscando demais. Você tem noção de que, se nada disso der certo, se os nossos planos não derem certo, poderemos ser expulsos?
Eu fiquei olhando para ele sentindo o peso das palavras caindo em mim como uma bomba, ou uma rocha de cem quilos. Meus pais me matariam e jogariam meus restos mortais para os dragões do Egito me comerem se eu fosse expulsa daquela escola de magia, o orgulho da vida deles era dizer que tinham uma filha que estudava na escola de magia e bruxaria de Hogwarts, o que fariam se tivessem que dizer que tinham uma filha expulsa de Hogwarts? Sem contar que eu perderia todas as chances do meu futuro.
— Não vamos ser expulsos. – Eu disse, com a voz rouca, e Sirius assentiu, soltando minha mão.
— Só estou te alertando para os riscos. Talvez fosse melhor deixarem eu e os meninos assumirmos daqui para frente e vocês saírem da jogada. Antes nós arruinados do que vocês.
— Não! – Nem pensar, se ele fosse expulso, eu iria com ele. Engoli essas palavras exatas. – Ninguém vai ser expulso, Okay? Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos descobrir o feitiço e ver o que mais precisamos recuperar e então vamos nos vingar daquele filho da mãe de um jeito que ele não vai mais se esquecer.
Sirius sorriu, um sorriso largo e imenso, e eu entendi o termo ‘maroto’, ele era um verdadeiro maroto.
A Lilly ainda estava na ala hospitalar, por isso sabíamos que levaríamos uma bronca caso a Madame Pomfrey nos visse chegando lá no horário do almoço, mas precisávamos arriscar.
Paramos todos na porta da ala e nos entreolhamos pensando: Quem vai fingir que está doente para dar um motivo para entrarmos?
Parece que todo mundo.
— Aí, estou com uma dor de cabeça que não passa. – Eu comecei dizendo.
— Meu estomago está doendo, acho que comi alguma coisa errada. – Disse Emme.
— Tive um mal jeito danado nas costas no jogo de sábado. – Disse Sirius
— Meus olhos estão ardendo, acho que me lançaram algum feitiço. – Disse Remus.
— Puts, acho que estou com dor de barriga. – Olhamos todos para James que deu de ombros, e nós rimos, empurrando a porta da ala hospitalar, e reclamando, todos de uma vez só, o que fez a Madame Pomfrey que estava na sua salinha dar um pulo e vir correndo, já prestes a nos dar uma bronca, mas sendo pega de surpresa por tantas reclamações.
— Minha nossa, o que é isso? Vocês decidiram ficar doentes todos juntos? – Ela indagou, inocentemente, e saiu apressada para a salinha de medicamentos, deixando cada um numa cama, reprimindo uma risada.
Lilly, que estava na última cama, olhou assustada para nós, sem conseguir entender nada.
— O que aconteceu? Todos vocês pegaram uma virose, do nada? – Ela lançou um olhar “Lilly de ser”, toda desconfiada e todos nós rimos.
Estávamos exatamente assim: A cama da Lilly no fundo, ao lado da parede, de frente para ela do outro lado estava Emme, do lado de Emme estava eu, do lado da Lilly estava o James, ao lado do James o Remus e do meu lado o Sirius.
A Madame Pomfrey parecia que ia demorar com tantos medicamentos, por isso aproveitamos a chance. Emme tirou o vidro do bolso e jogou em direção ao “goleiro” James, que pegou o vidro no ar, já descendo da cama e seguindo até a cama da Lilly, já dizendo.
— Se eu borrar as calças a culpa é sua, Lilly. – Todo mundo riu, baixo e a Lilly arregalou os olhos, sem entender.
— O que? – James riu e parou ao lado da cama dela, erguendo o vidro e mostrando a ela, que olhou para o objeto sem entender.
— Você sabe de quem é isso? – Ele colocou o vidro de memórias na mão da Lilly que o segurou, curiosa, virando o objeto dos avessos, depois chegando ele bem perto do rosto para ver o símbolo da Sonserina
— Seu eu tenho certeza que não é. – James fez uma careta e não disse nada, enquanto ela continuava mexendo. – É um vidro de memórias. – Ela disse, e então ficou com o vidro na mão, olhando. Olhou, virou, tocou, mexeu, cutucou, tudo que você imaginar.
Eu achei que o James fosse dizer alguma coisa nessa espera toda, mas de repente, a Lilly parou de mexer e olhou para nós e depois para o James.
— É do Snape. O que vocês estão fazendo com um vidro de memórias do Snape? – Eu vi o James fechar a mão em punho e respirar fundo. Ele odiava tanto o Snape, ver a Lilian, sua amada, saber tanto sobre o cara que ele mais odiava parecia enlouquece-lo. Eu não conseguia nem imaginar como ele se sentia, e nem queria saber de fato como era a sensação.
— Eu peguei. – Eu disse, tirando o peso de cima de James para que a Lilly não brigasse com o coitado, ele já estava tendo muita coisa na cabeça com essa história toda, mais o lance da Lilly com o Severus. – Achamos que ele armou para a gente, pegou a memória de alguém que viu a briga no salão principal e ia mostra para o professor Dumbledore.
Lilly arregalou os olhos e olhou para James ao seu lado.
— Mas ele me empurrou, o James só me defendeu... De um jeito meio agressivo, mas... – Ela abaixou os olhos e James olhou para o teto da ala hospitalar, sem jeito, sussurrando em seguida.
— Me desculpe, Lilly, é culpa minha você estar assim.
— O que? Não! Claro que não. A culpa é toda dele que me empurrou. – Sem dizer mais nada ou perguntar mais nada, Lilly puxou a varinha e lançou um feitiço no vidro no mesmo instante em que a Madame Pomfrey vinha com uma bandeja bem cheia de medicamentos.
James olhou para a Lilly, sem dizer mais nada e pulou rapidamente na sua cama, ao lado da Lilly, enfiando o vidro no bolso.
— Aposto que foi aquela comida do café da manhã. – Veio dizendo a Madame. – Eu já disse para eles que o café da manhã tem que ser leve, mas aqueles elfos nunca me escutam.
Ela parou ao lado do James e pegou um copinho com um liquido espesso e verde e entregou a ele, que fez uma careta e o engoliu, de uma vez só. Depois ela foi até a cama do Remus e fez a mesma coisa, caminhou até a cama do Sirius, dando outro copinho para ele, e em seguida veio até a minha cama, nessa altura do campeonato eu já estava doente de verdade de medo de tomar aquele troço, por isso peguei o copinho com as mãos tremulas, e o virei, sentindo o gosto amargo e nojento de uma poção estranha em minha boca e engoli rapidamente, ficando com uma ânsia de vomito em seguida. Pronto, eu ia vomitar por causa daquele troço ruim e estava doente de verdade, nem precisava mais fingir.
Deitei na cama com tudo, engolindo a ânsia que vinha e vi a Madame Pomfrey me estender um copo de agua em seguida, o qual eu peguei e virei numa golada só, enquanto ela sorria, solidária, como se soubesse que aquela poção era ruim pra cacete. Ou talvez ela desconfiasse que não estávamos doentes nada e dera a pior poção possível para se vingar de nós.
Eu estava quase acreditando nisso, a poção era ruim demais.
Vi a Madame Pomfrey voltar para a salinha e ergui a cabeça, vendo a Lilly deitada, olhando para nós, pensativa, e então olhei para James, pensando que ele estaria já com o vidro nas mãos, desvendando aquele mistério e descobrindo o que de fato o Snape tinha contra nós, mas não, ele estava deitado olhando de lado, olhando para a Lilly, tão pensativo quanto a própria ruiva parecia estar.
Olhei para o lado e vi o Sirius olhando para o teto, distraído e então voltei os olhos para a Emme que me fez um sinal e mostrou a Madame na salinha, mas da onde eu estava não conseguia ver o que ela estava fazendo.
Emme me fez um sinal para esperar, como se quisesse dizer para esperarmos mais um pouco, ia dar muito na cara se saíssemos agora, do nada.
Fechei os olhos e fiquei deitada, com os olhos fechados, pensando em mil coisas quando ouvi um sussurro. Tentei não abrir os olhos.
— Lilly. – Era o James. – Por que você sabe tanta coisa do... dele?
Acho que ele não conseguia nem dizer o nome do Snape de tanta raiva que ele sentia do garoto, ou de imaginá-lo com a Lilly.
Acho que eles queriam ter uma conversa em particular, mas estávamos todos em volta fingindo não ouvir o que obviamente estávamos ouvindo, por isso continuei com os olhos fechados, torcendo para que o Sirius estivesse ainda olhando para o teto e a Emme e o Remus também.
— Porque crescemos juntos. Ele era meu melhor amigo, Potter.
— Era?
— Sim, era.
Um silencio reinou por algum tempo, antes de James continuar, ainda meio sussurrando.
— Só amigos ou...
— Você está querendo saber se eu tive alguma coisa com o Severus? – James não respondeu, mas acho que ele nem precisava. – Não! Éramos só amigos, Okay?
James não respondeu nada de imediato, talvez estivesse olhando o teto agora, pensativo.
— Essa semana temos visita a Hogsmead. – Ele disse, e eu me lembrei imediatamente de algo que eu nem lembrava mais. A visita ao vilarejo. Era no sábado que vem. Remus “havia convidado” a Emme, e eu disse ao James que a Lilly iria com ele, consequentemente a Emme me jogou para cima do Sirius. Parecia que isso tinha acontecido há tanto tempo.
— Eu não vou com o Snape. – Lilly disse, brincalhona, e eu ouvi o James bufando enquanto a Lilly ria baixinho.
— Eu mato ele se chegar perto de você.
— Adoro esse cavalheirismo assassino. – A voz dela ainda era risonha.
— É que eu pensei que... aquela vez você disse que... eu não tenho certeza se você realmente vai querer, mas...
— Sim, James. – Ela disse e o James se calou, antes dela continuar depois de um suspense. – Eu vou com você a Hogsmead.
Outro silencio reinou no ambiente e eu imaginei o James sorrindo de orelha a orelha. Eu mesma senti vontade de sorrir por ele.
— Lilly. – Ele disse depois de um longo tempo. – Eu... eu te... eu gosto muito de você. – A voz dele saiu quase inaudível dessa vez, eu tive que parar de respirar para ouvi-lo e ouvir a resposta da Lilly em seguida.
— Eu... também gosto de você.
Um barulho de algo caindo me fez dar um pulo na cama e abri os olhos com tudo, vendo que a Madame Pomfrey do lado de dentro da salinha xingava alguma coisa, e então olhei a volta, tentando não olhar pra Lilly e deixa-la sem graça.
— Temos que ir. – Eu disse, me virando para Emme que se ergueu e foi descendo da cama. James também desceu, mas caminhou até a cama da Lilly e se inclinou sobre ela, selando seus lábios aos dela, delicadamente, pegando a ruiva e todo mundo de surpresa.
Sorri e me virei para olhar para Emme que também olhava a cena, sorrindo. Tentando respeitar o momento do casal, me virei para Sirius que estava tentando descer da cama, mas parecia meio diferente. Andei até ele e parei ao seu lado.
— Tá tudo bem? – Eu estendi a mão para ele que a segurou e desceu da cama meio trôpego.
— Sei la, tô meio grogue. Acho que foi a poção. – Ele apoiou a mão em meu ombro e eu o ajudei a andar, enlaçando sua cintura grande.
— Eu volto depois. – Eu ouvi o James dizendo a Lilly antes de vir apressado para perto da gente e seguir em direção a porta da ala hospitalar, de olho na Madame Pomfrey que parecia distraída demais lá dentro e sequer ergueu os olhos para nos olhar, se ela fizesse isso, nos pegaria no pulo.
Remus e James se juntaram a mim e a Sirius que se soltou de mim e dizia que já estava melhor, percebi que eles queriam conversar, sei lá, coisas de homens, talvez, por isso me apressei a frente, caminhando ao lado de Emme.
Ela me olhou e olhou para trás rapidamente, antes de voltar-se para frente e continuar andando.
— Quem diria, heim. – Ela disse, se referindo a James e Lilly, eu ri baixinho, concordando com a cabeça.
— Bem que minha mãe sempre disse que os quietinhos comem primeiro. Ela foi mais ligeira que nós duas juntas. – Emme soltou uma risada alta e eu ri, junto. Eu com meu plano todo de conquistando SB e a Lilly quietinha na dela, já estava garantida com o James. Apesar que o James sempre fora apaixonado pela Lilly e ela que nunca dera bola para ele, mas eu sempre suspeitei de que no fundo, ela sentia alguma coisa, agora todo mundo sabia disso.
Estávamos voltando para o esconderijo dos meninos, precisávamos descobrir o conteúdo do vidro de memórias do Snape, agora que já sabíamos o feitiço, por isso eu e a Emme continuamos na frente, deixando os meninos para trás e seguimos direto para o sétimo andar. Quando entramos no corredor que daria no sétimo andar, ouvi uma risada alta e conhecida e virei-me para trás para olhar os meninos. Emme parou mais à frente também para olhar, Sirius, ao lado de Remus e James, gargalhava a plenos pulmões como se eles tivessem contado uma piada sensacional.
Eles me alcançaram e eu arregalei os olhos. James segurava Sirius de um lado e Remus o segurava do outro enquanto ele ria quase convulsivamente, ele gargalhava tanto que sua voz grossa ecoava pelas paredes e me dava a sensação de que o castelo inteiro podia ouvi-lo e que logo estariam atrás da gente.
— O que aconteceu? – Eu perguntei, franzindo a testa e o James deu de ombros, se aproximando de mim, eu encarei Sirius para perceber que ele parecia um bêbado, estava vermelho e meio mole nos braços dos amigos. O rosto estava soado.
— A cara dele.... hahahahahahaha... ele estava fedendo... cocô KAKAKAKAKAAKAKAKA. – Olhei para o rosto do Sirius, com a testa franzida e vi que a Emme também olhava para ele sem entender nada. Ele estava soando, gotas de suor escorriam pelo rosto dele enquanto ele ria, enlouquecidamente. Meu Merlin, ele pirou de vez.
— Acho que a poção deu algum efeito colateral nele. – Remus disse, me vendo observando o Sirius, enquanto ele e James passavam por mim e Emme, caminhando pelo corredor do sétimo andar, em direção a área dos trasgos. Como deixa, Sirius virou o rosto e olhou para mim, dando um grito meio estranho de reconhecimento.
— LENE! LENE! Ah minha Lene, cara você é tão linda, eu já te disse isso? KAKAKAKAKA. Ela é tão linda, você não acha Jayymes. – Eu arregalei os olhos e olhei para Emme que segurou o riso. A voz do Sirius estava arrastada e histérica. Ele parecia uma menininha bêbada.
O James e o Remus pareciam querer rir, mas o peso do Sirius deveria dificultar isso, ou eles ficaram sem jeito por mim, por isso, sorriram e tentaram não me olhar.
— O Jayymes estáaa apaixonadooo, cara! Você viu só, aquela liiiliian é mesmo moiito bonita, mas olha, a Lene é linda, cara! Eu ficaria com ela se fosse você. KAKAKAKA
Hãn? Olhei para James e ele me olhou erguendo a sobrancelha e fazendo cara de riso, para em seguida dizer para o Sirius:
— Mas você vai deixar eu roubar sua garota? – JAMES! Eu arregalei os olhos e James viu a minha reação, rindo a seguir.
— QUEEEEE? Nãaaoooo caraa, minha garoutaaa nãooo, ela é minha, sai fora seu pilantra, jáaa basssta aqueleee filinhio de umaa vacaatussa do Woodr querendo ela, é porque ela é moito sensacional cara, todo mundo quer ela, mas ela é minha, vai pegarrrr suaa roiva lá, ô.
James caiu na risada, arrastando Sirius, enquanto Emme ria junto, eles estavam rindo da minha cara.
— Cala a boca, Sirius. – Eu disse e ele olhou para mim por cima dos ombros enquanto os meninos arrastavam ele, ele não parecia nem sequer ter notado que eu estava ali antes.
— LENE! Minha mais linda flor do campo! – Revirei os olhos e todo mundo riu. Alguém tem um sonífero aí para fazer ele dormir e parar de me fazer passar vergonha?
Chegamos na área dos trasgos enquanto o Sirius continuava falando, agora pegara o Remus para penitencia, e estava dizendo o quanto o Remus era um maravilhoso amigo para todas as horas. Ele estava bêbado, com certeza.
James soltou o Sirius para o Remus segurá-lo enquanto andava de um lado para o outro tentando abrir a porta, e eu percebi que o Remus bambeou com o peso do Sirius e corri para ajuda-lo, segurando o Sirius do outro lado, passando o braço pesado dele por meus ombros e abraçando a cintura larga dele.
Ele parecia todo mole, como um bêbado ou como se tivesse tomado uma injeção sonífera que tirara todas as forças do corpo dele.
James abriu a porta e ficou segurando-a enquanto eu e o Remus entravamos e caminhávamos até um dos sofás, soltamos Sirius sobre um sofá e desabamos em outro, eu só carreguei ele alguns minutinhos, mas ô homem pesado!
Ele caiu sentado e ficou olhando a volta, falando sem parar.
— Cara esse lugar é incrível, eu adoro esse lugar. Sabia que foi aqui que eu dei meus primeiros pegas KAKAKAKAKA naquele sofá. – Ele apontou para o sofá onde o Remus estava sentado e eu olhei torto para o Remus, voltando a olhar para o Sirius. – Com a Elizabeth Monnnteirio, como era mesmo que você chamava ela? A rainha do gelo, mas ôoo era queeeente aquelee geelo KAKAKAKAKA ela me fez um boquet...
— SIRIUS! – Gritou James que estava próximo à mesa pegando um copo d’água, e agora virava-se para olhar para o Sirius que gargalhava, James olhou sem graça para mim e para Emme, eu nunca havia visto ele vermelho na vida. Eu estava muito interessada na minha unha naquele momento.
O que? Aquela maldita Elizabeth, do segundo ano, tinha feito um.... Aí minha nossa senhora, quantos anos será que ele tinha quando ela fez isso?
Melhor eu parar de pensar, eu não quero imaginar a cena, não pense, Marlene, não pense, não pense, olha só, sua unha quebrou a pontinha, que droga, vai ter que lixar ela inteira por causa de uma maldita... filha de uma vaca parideira, rainha do gelo, vai ser uma rainha detonada muito em breve.
— Não tem uma garrafinha de cereja amanteigada aí? Aiiii como ia bem uma cerveja quente... e uma loira quente KAKAKAKAKA aiii não Lene, descuuuulpa, desculpa, eu prefiro as morenas viu KAKAKAKAKA
Todo mundo se entreolhou pensando a mesma coisa.
Como é que tira a pilha?
— A gente devia dar alguma coisa para ele. – Disse Emme.
— Tipo um sonífero? – Respondeu Remus, e todo mundo olhou para ele, para rir em seguida, enquanto Sirius continuava matracando sem parar.
— Eu gosto de loira, mas você, meu deus do céu, você é como uma lua cheia brilhando no céu no meio das estrelas brilhantes como vagalumes... minha bellinha flor do campo...
— Pode ser só um esparadrapo mesmo. – Eu disse, fazendo James, Remus e Emme gargalharem enquanto eu enfiava a mão no rosto, ficando vermelha igual um pimentão.
— Puts. – Disse James, rindo, e eu enfiei a almofada na minha cara enquanto ouvia o James falando enquanto ria. – Você tá apaixonado, heim Almofadinhas?
Remus, James e Emme riram... de mim, de novo!
Que droga, o que deu nele? Ele estava bêbado, certo? Ele nem sabia o que estava falando. Eu só queria que ele dissesse tudo aquilo são, para eu acreditar.
— Ele tá bêbado. – Eu disse, vendo ele lá, agora largadão no sofá, olhando para o teto e matracando, meio molengo com a voz arrastada.
— Eu vouuu de marte até a luuua por você, ... Se o sol não apareceeer, mas você já é o sool e eu vou cantaaar para vocêee... – Ele soltou uma risada quando terminou de dizer isso como se tivesse feito uma coisa muito extraordinária.
— Okay, quem vai voltar na ala hospitalar para pagar um sonífero? – Eu disse, com cara de choro e James riu, estava jogado num sofá. Emme estava sentada ao lado de Remus e ria, baixinho.
— Você sabe que bêbados falam a verdade, né, Lene. – Ela disse e eu ergui uma sobrancelha, olhando para ela sem entender o que ela queria dizer exatamente, mas não disse nada.
— Acho que vamos ter que aguentar ele delirando até o efeito disso passar. – James disse, puxado o vidrinho do bolso e olhando para ele, sem dizer nada e sem mexer nele ainda. Eu me inclinei para a frente para olhar para o James, Emme e Remus fizeram o mesmo, enquanto o Sirius agora misturava o sol com o mar.
James percebeu que nós olhávamos para ele e ergueu os olhos.
— Esperamos o Sirius voltar ao normal ou...? – Ele começou, mas ele mesmo respondeu. – Que se foda. – E lançou o mesmo feitiço que a Lilly tinha lançado no vidro que pareceu abrir sozinho, todo mundo parou de respirar, exceto o Sirius, que continuava matracando.
— Por vocêee eu enfrento os dragõooeees, eu coloco eles numa jauuula e pego eles de estimaçãaao KAKAKAKA ele pode ser nosso filinho KAKAKAKA cê topa, meu amorzinho? – Sirius olhou para mim e sorriu, bêbado, e eu suspirei, levando um susto com as palavras do Remus.
— E ai? – Quase respondi... “Se eu topo?”, mas voltei a mim vendo o James com o corpo para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos e os olhos fixos no vidro, e o Remus agora do lado dele e a Emme se levantando, curiosa.
Também me levantei e me aproximei do sofá onde o James estava.
Ele ficou quieto mais um tempo, olhando o vidro, até parar, erguendo os olhos para nos olhar.
— Vamos logo olhar isso na penseira. – Senti a respiração saindo do meu peito e vi ele levantando, eu mal tinha percebido que agora que voltamos tinha uma penseira ali na sala, mas sem perguntar nada me encaminhei ao lado dele, para ver o que ele ia assistir.
Ele despejou o liquido na penseira e de repente começamos a ver, no meio do liquido, a imagem do salão principal no momento em que o James pulava nas costas do Snape e começava a socar o rosto do menino ao chão. Fiquei olhando e pensando: “Caramba, ele é agressivo heim, isso deve ter doido.”
Ele ficou assistindo por um tempo e eu ergui os olhos, vendo o Sirius agora deitado no sofá olhando para o teto e falando coisas desconexas que eu nem estava mais prestando atenção.
James ficou olhando distraído, antes de falar.
— Será que aqui tem também o dia da bomba? – Ele continuou assistindo enquanto eu pensava, será que dava para fazer uma cópia de lembranças?
— Essa memória do salão principal... – Eu comecei, e Emme ergueu os olhos para me olhar, mas James continuava assistindo tudo na penseira. – Tem como ele ter outra dessa ou, sei la, uma cópia ou coisa parecida.. – James me cortou.
— Não, não dá para ficar tirando memórias várias e várias vezes da mesma mente, e também, depois que você tirou e colocou num lugar, ela vai ficar só lá.
Ele parecia entender do assunto, fiquei surpresa.
— Só podemos tirar da penseira depois de assistir, e ninguém mais vai ter acesso. – Concluiu Remus e eu assenti. Fazia sentido.
— Olha... – James ia dizer alguma coisa quando ouvimos um barulho do lado de fora e pulamos de susto.
Um silencio imperou, quebrado apenas pela voz do Sirius:
— Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela e quem gosta dela sou eu.
Olhei torto para ele, franzindo a testa.
Meu Merlin amado, ele enlouqueceu de vez.
Ouvi outro barulho do lado de fora e caminhei devagar em direção a porta, parecia que tinha alguém do lado de fora, se tivesse, com certeza estava sendo atraído pela voz do Sirius, mas daí me lembrei das paredes azuis que abafavam o som e respirei aliviada.
Se tinha alguém do lado de fora, então não era por causa da voz esganiçada do Sirius cantando pirulito que bate-bate.
James arregalou os olhos e fez um sonoro barulho com a voz, pigarreando, como quem diz que era para eu não me atrever a abrir a porta, mas meu coração martelava no peito e eu queria muito saber quem estava lá fora. Como tinham chego ali? Será que nos seguiram?
— Não tem como a gente ver quem está do lado de fora? – Ouvi a Emme sussurrando e me virei para ver o James negando com a cabeça.
Segui até a porta e coloquei o ouvido no colchão almofadado que cobria também a porta, não parecia estar tão perto o barulho. Girei a maçaneta e ouvi a voz urgente do James.
— Lene, não!
Tarde demais, eu já tinha aberto e saia rapidamente, fechando a porta atrás de mim e olhando a frente, constatando que não havia ninguém ali.
Talvez fosse só impressão nossa.
Caminhei temerosa pela área dos trasgos e do Barnabás.
Aquelas estátuas eram feias que dói, mas não fiquei olhando muito, sai andando por ali, olhando a volta, agora tendo a certeza que não tinha mais ninguém ali, quando me virei e levei um susto imenso.
Parado no final corredor, olhando a volta, meio perdido, estava Olívio Wood.
O que ele estava fazendo ali, afinal de contas?
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